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segunda-feira, 23 de maio de 2022

DIZ-ME O TEU NOME

Eu sei que não é fácil quando a tua história está impressa numa tampa de esgoto feita de ferro dúctil como a vontade inútil que foste vomitando neste tempo que sempre te venceu. 
E o caminho que pensas que escreveste com palavras floridas não é mais do que um lugar raras vezes desentupido por uma máquina que sempre  prometeu iria secar a tua dor. 
Nada disto foi possível até porque a verdade nunca quis saber de ti. 
Eu também penso que não é fácil dar as costas a quem só te quis enganar. 
Menos fácil ainda, é sentir a desigualdade da importância que te penhoraram. 
E os sonhos que pintavam a felicidade são agora chorados por pássaros de plástico, num quarto forrado com grades que nunca conseguiste abrir.
Eles dizem-se admirados.
Contrataram o melhor pintor, mas nunca se lembraram de ti.
Eu sei que não é fácil tentar libertar um sonho constantemente vigiado que impede momento após dia, tocar a hipótese de contares unicamente contigo.
Estás fora!
Até mesmo do zero.
Escondem-te numa cama de percevejos e fazem-te querer que nada mais poderá haver.
Só te posso dizer
que aqui,
ainda se encontram algumas estrelas.

Diz-me o teu nome.
Falarei com elas.
  
2017marçoaNTÓNIODEmIRANDA

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