Cá estamos!
Eu e a habitual espera,
riscada neste desencontro com vista
marcada para o abismo.
“Os grandes poetas morrem
em fumegantes tachos de merda”.
Bukowski continua a ter razão!
Uma conversa tranquila com palavras
molhadas no hálito de uma garrafa
de whiskey, livre como um tiro
saído do meu olhar,
será sempre um alibi perfeito.
E isto é proibido,
segundo o regulamento
da delinquência conformada.
Se as pessoas do costume não aparecerem,
é sinal que a minha coerência
não é limpa numa lavandaria.
Descongelar gatafunhos,
amaciá-los numa cozedura a vapor,
parir um vomitado decente,
e embebedar o céu com restos de ternura.
Pagar o que dizem que devemos,
em suaves prestações mentirosas,
agitar o olfacto, cortar o cinto, embelezar
a noite com nuvens de fumo distraído,
fincar os pés no chão
e agradecer educadamente
a hipotética conveniência
de não conseguir tirar as calças.
Esperar qualquer coisa que me surpreenda,
e nunca bajular o tempo sujo com
o laivo da saudade.
2018Abr_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com