Pesquisar neste blogue

domingo, 25 de fevereiro de 2024

A ÚLTIMA NOITE

 


Sentado numa poeirenta poltrona de cabedal 
a imitar napa, lia jornais atrasados com notícias 
da última hora. 
A melancolia cheirava a loção de barbeiro, 
a pele tingida com cor de shopping
iluminava a calma de um sol desanimado. 
Bebia aquele silêncio morto com passos ocos, 
que enchiam os corredores encharcados de lixívia. 
Sonhos mudos embalados em cartão, 
retardando a lentidão da solicitude 
de uma vontade há muito tempo escapada. 
Chovia sempre que escolhia aquele caminho, 
onde pássaros atrasados buscavam o ninho. 
Rasgava com toda a raiva poemas, e
nquanto ouvia Leadbelly cantar:
my girl, my girl, don´t lie to me”.
E dizia para si próprio: 
também não quero saber, 
onde ela passou a última noite.
O musgo dormia abençoadamente na lareira.



2015aNTÓNIODEmIRANDA


Sem comentários:

Enviar um comentário