Ainda sou do tempo em que as irmãs dos amigos eram intocáveis.
À sexta-feira íamos até á Damaia para a sessão de terror no cinema D. João V.
No “Recreios da Amadora”, (o piolho), víamos grandes filmes acompanhados por simpáticos charros.
Naquele tempo o cinema era acolhedor.
Na Brasileira do Chiado era normal esconder no cabelo a colher da bica (mais tarde transformada em pulseira), ou até um simples pires.
Aos Sábados, (que gloriosas noites) embebedava-nos na “Nau”, e para acalmar o stress, partia alguns copos de imperial com os dentes.
Era frequente pôr um ou outro empolgado “madié” a contar os buracos da rede de pesca pendurada no tecto da cervejaria. Bastava pronunciar a palavra mágica “Ai-Xi-Kúrú. A bem da verdade ainda hoje não descobri o seu significado.
Em Agosto, aparecia o Jimmy com o seu capote alentejano, e o tal lenço que glorificava a sua trunfa. A colecção dos meus colares assim como a guedelha com alguns anos de existência, acompanhada pelo cumprimento de um amigo (2 cintos, suspensórios e luvas de cabedal), apreciavam este tipo de ocorrências.
Inundávamos o jardim Delfim Guimarães com pétalas de bem-querer.
Ainda sou do tempo em que as irmãs dos amigos eram intocáveis.
No “convívio” jogávamos matrecos e vendíamos bicos de lápis de cor devidamente embrulhados em fita-cola como se fossem ácidos.
Com o pecúlio apurado organizávamos bacanais de bitoque na Minabela da Mina. O Ilídio era um ás a descongelar garrafas de Gatão.
Nas matinés do Pigalle (o nosso café preferido) para além de azucrinar a cabeça ao Barnabé, assim que notávamos um olhar curioso, aproveitávamos para depositar macacos do nariz nos pires do café. Também era frequente o impedimento da nossa presença, por comportamentos não adequados. Isto na óptica do gerente. O Alves, a quem amorosamente tratava-mos por zarolho.
Na Ninfa, aparecíamos nas tardes de domingo para beber carioca de limão com 2 pedras de gelo.
Algumas vezes íamos em digressão até ao “Quartier Latin”, um bar na Óscar Monteiro Torres. Gente boa, e uma tal Lena Águas atendia-nos com uma sorridente simpatia.
Nunca falhamos uma rusga da polícia. (Ocorrência habitual nas noites de Sábado).
E bem pedrados, derrotámos num improvável jogo de futebol, uma das turmas do liceu. (a nossa equipa, um misto de gajos e raparigas, era praticamente intragável).
Ainda sou do tempo em que as irmãs dos amigos eram intocáveis.
E, com toda a educação, tinham a nossa companhia até às portas das suas casas.
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