Porque hoje colhi
Todas as lágrimas do céu
E o vento finalmente levou
Todas as promessas mentirosas
Olho só os que os outros olhos querem ver
Porque hoje continuam todas as ausências
E já ninguém ouve os gritos mudos
Porque hoje continuam todos os desesperos
E alguém sem saber
Vai a caminho do cemitério
Perante a indignação fingida
De quem ainda não foi convidado
Porque hoje continuam todas as indiferenças
Todas as fomes
Todas as guerras
E alguém como sempre
Mentirosamente preocupado
Lê homilias cínicas
Tentando lembrar o rei dos palhaços
Porque hoje alguém continua sozinho
Apesar de toda a boa vontade
Porque hoje continuam todas as impotências
E não há bomba que acabe com elas
Porque hoje pintaram-se
Todas as memórias
Embrulharam-se
Todos os manicómios
Porque hoje iluminaram-se
Todas as angústias
Confundindo-as com as luzes da cidade
Porque hoje é um dia chamado natal
Porque hoje não se preenchem formulários
Para o desemprego
Porque o filho da puta permanece igual
A minha autópsia pode esperar
E a brigada de trânsito
Dizem, controla o perigo
Porque hoje também não vou dormir descansado
Porque hoje alguém ainda vive com medo
Porque hoje há o natal do hospital
Mesmo com taxa moderadora
Nota-se mais o sorriso da doutora
E a compreensão da assistente social
E a menina do guichet
Dizem que lavou os dentes no bidé
Está muito solícita
E a cretina das informações
Com muito boa vontade
Mas como sempre nada explícita
Porque hoje
Também não consigo enganar o meu sorriso.
NUNCA SERÁ MINHA A ANGÚSTIA DO VOSSO DEUS!
2006dez17aNTÓNIODEmIRANDA
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