Sou aquilo que de mim nem sempre me apetece. Assim como uma salada de ossos momentaneamente desocupados. Perspicaz imolador de anúncios, repetidamente a amassar o descalabro para o arrecadar num cântaro de cinzas. E, numa piscadela furtiva, saúdo a velha pele, cúmplice de parábolas nem sempre bem-intencionadas. [Assinámos um pacto anti tirania]. Dizem que anda por aí a surfar numa padiola perante uma quadrilha de olhares invejosos. O terceiro segredo jaz num apocalipse intervencionado por lápis de cera. O tempo não o deixa mentir! Ameaça- o com uma enérgica tempestade de pó dos livros. A alameda da felicidade foi raptada, segundo o relatório das notícias da raiva. E no lugar onde o nada não termina, estende-se a toalha para o manhoso piquenique onde é proibido ler poesia. Não nasci para dormir com a tristeza nem uso no pescoço o terço das penitências. Sei que a traição do silêncio se esconde na varanda dos ocasos. Na esquina da impossível espera, tenho na mira o nojo delicadamente calibrado apesar da miopia entregue por anos maus conselheiros. Enviadas pelos mensageiros da sagrada esperança, memórias agradecidas desaguam no cais da minha gratidão. Então, ergo para o céu desgostos sem fim. Mãos sujas que nomes poderão chamar? Na certeza de todos os enganos, longos dias poderão tornar as horas mais desalentadas. Até porque na dor do desejo, a beleza será sempre uma actividade inflacionária.
2025Mai._aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com
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