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domingo, 31 de outubro de 2021

COUNTRY CLUB

 No golfe, não basta o taco se não vemos o buraco onde com toda a veemência gostaríamos de acertar no gajo que anda a comer a nossa confrade. 
Mas, não é só aí, diz-nos o padre na confissão domingueira. 
Mau! Este gajo sabe muito. 
Mais do que aquilo que devia. 
Convém não exagerar. Tenho que tentar o “hole in one”. Não é para o calar, mas as más-línguas chegam sempre longe demais. 
Desta vez, só lhe enfiarei a luva no ânus sagrado. Louvado seja o meu treinador. 
Ajudou-me na perícia e a minha mulher, segundo dizem, gosta da sua carícia. 
O “caddy” não se mostra muito interessado e isso deixa-me descansado. 
No clube, onde não falho uma noite, 
socializo com o whisky habitual. 
Não sei porque olham para mim! 
Só estou a fazer tempo para não chegar a casa a horas inconvenientes. 
Somos alguns assim! 
Cumprimentamo-nos olhando disfarçadamente para os rolex.

,2016,06aNTÓNIODEmIRANDA


Wynton Marsalis & Eric Clapton - Layla

GIGI

 Gigi
 Foi a minha
 Primeira namorada.
 Vivia numa casa
 Detrás da cadeia
 Que tinha um letreiro :
GATINHA 
 MANSA:
 VENDE-SE!
Ela
 Ria-se
 &
 Vinha-se
 Quando
 Eu
 Lhe dizia
 Ao ouvido:
 ARRANHAS
 MELHOR
 QUE
 A
 TUA
 MÃE.

Jul,2,79aNTÓNIODEmIRANDA






ESTRELAVA NO CÉU BEIJOS AGRADECIDOS

 

Não passo de um ruído espalhado pela vida que
mesmo no paraíso precisa de amigos.
E no alarido de um coração picado há um cavalo que foge da sela que o quer trair. 
Subtrai a ternura suicidante que lhe apaga a chama efémera e num grito desenfreado salta a angústia como se fosse arte poética. 
E agora cansado chora o libelo da maldição que o fez prender. 
Saltou o mais que pode a cerca que lhe toldava o horizonte e só agora pode beber num gole total a imensidão que lhe vendaram. 
Feito poeta e na ausência do juízo normal aquece no galope sonhos há muito guardados. 
Aparece de quando em vez nas quintas-feiras da poesia possível e fingindo que não chora, abraça qualquer presença. 
Na forja que lhe derrete a alma espalha todos os poemas que cabem no seu mundo. 
Apenas um sossego aqui na terra depois deste deus louco irmão de todas as morfinas e crítico apreciável dos benefícios da marijuana, longe da masturbação das agulhas beijando na fornicação a cara sem sangue que desliza pela parede riscos indolores de uma salvação com doses para uma semana. 
Pedaços que exibe na mão foram um poema nunca sujo, escrito em moedas que mancharam a carne que pensava o amava. 
E agora não consegue saltar os muros do sonho neste cenário de bêbados circuncisados. 
Nesta escrita de raposa com a permanente promessa de não ganhar qualquer grammy, 
perde-se nesta sensata e inútil razão que se perpetua na pele. 
Deus não existe! 
O diabo é que às vezes se esquece de ser mau! 
O inferno é aquecido por um micro-ondas. 
E as formigas diligentes lêem notícias sem sabor. Dizzy e Parker sabem do que fala. 
E eu não minto tanto assim. 
Naquele tempo Nina Hagen vagueava pelo Harlem e beijava todos os pretos que tinha no coração. 
Miles tinha escrito nas bochechas que a infância nem sempre é um acto saudável. 
Berry no seu duck walk olhava docemente para certas teenagers que fingiam ter sexteen.
Ás vezes sentia no corpo um fato que pertence a outro, quando o dia lhe corria tal mal contrariando a mais optimista previsão do relatório do tempo. 
Era quando o vento fugia da morte e empurrava esta mania de pensar que sabia quem foi. 
E molhado por esta invenção, entregava ao deus- trará protocolos falsamente assinados da sua presença. 
O gato de Ferlinguetti poderá testemunhar a afluência inaudita na agência de turismo onde costumava urinar. 
O calor do seu orgasmo aumentou a temperatura do deserto que foi a cama que nunca cheirou a sua solidão. 
Eram noites sem janelas onde a memória acaba por fugir. 
E assassinam gemidos de guitarra sangrando o ventre até aos dedos que só a queriam acariciar. Agarrava os blues do Mississipi e snifava o pó dos velhos vinyls que podaram a sua juventude. Retornava á velha casa e beijava o som roufenho que chorava naquele velho gira-discos, só para voltar a escutar de novo aquela música.
No caminho de volta encenava estrelas e falava com todas as palavras possíveis. 
Estrelava no céu beijos agradecidos.   

,2017,abr_.aNTÓNIODEmIRANDA

quarta-feira, 20 de outubro de 2021

O TEMPO DA CANÇÃO FELIZ

 

Guardava sempre no bolso aquela ideia que constantemente lhe fugia da cabeça. _Encostado à parede das sensações saborosas, enroscava o carinho que vestia os seus passos. _Depois, sentado na espera habitual, mirava a própria sombra que lhe mostrava o caminho. _Serrava o olhar num assomo de respeito, e desenhava na memória a estrada que lhe apetecia. _Nunca olhava para trás._ Seguia página a página, a estrela que um anjo, há muito tempo pintara._ Leu de relance os livros que lhe forraram a vida, e num ápice majestoso, abraçou os blues que lhe vestiam a pele._ Pegou em si, com toda a precaução, e seguiu na companhia do tempo que tanto o estimou.


,2018jan_aNTÓNIODEmIRANDA

19 de Outubro_2018 . Tibornada em casa do Abílio e da Fátima, em S. Geraldo. SEC'ADEGAS e concertinas. Adoramos.

 





segunda-feira, 18 de outubro de 2021

BAGUETES DE ATUM

 

Sombra pequena,
está na hora de fugires.
O sonho já não te espera,
no canto das histórias de embrulhar.
Quando deus dorme,
as ovelhas abençoam baguetes de atum,
enquanto o diabo,
esfrega a maionese.
Sentados à mesa,
os apóstolos da clandestinidade,
amassam poemas distribuídos ao domicilio
pelos anjos da fé não doente.
E no choro celebrado na carestia da vida,
entregam-se lágrimas no bueiro dos escrotos 
não 
inflamados.

2018Out_aNTÓNIODEmIRANDA

BON APPÉTIT!

 

Estamos sempre longe. 
Este entendimento desenhado numa proposta gourmet, prato grande enfeitado com riscos sem qualquer feitio, hostilizados num traço pintado de mentiras, um cínico sorriso crocante acabado de fugir da sanita, um filet mignon apressado para apanhar o autocarro da angústia, e um plaisir discretamente copiado da gare de Montparnasse, envergonhado pelo mau hálito do chef.
Para a sobremesa um Michelin 205 R14, 
em estado tão deteriorado como a puta da sorte 
que ainda não se fartou de nos falir.
Bon  Appétit!
Mon imbecil ami.


2018Mar_aNTÓNIODEmIRANDA


sexta-feira, 15 de outubro de 2021

NÃO RECICLÁVEL!

 

Não sei mentir como nos filmes.
A intuição é uma lâmina que me seduz.
Rasgo todas as folhas do diccionário das rimas, 
e no intervalo da minha humilde possibilidade, poderei congenitamente admitir, algumas nuances do meu pseudo-falhanço.
Gosto daquilo que imagino, de alguns abraços mesmo apressados,para o que de mim sobeja.
Admiro a indefinição inerente à minha condição de mero ilusionista.
O nada daquilo que sou, é naturalmente ensacado, e, cuidadosamente metido no contentor do lixo não diferenciado.
NÃO RECICLÁVEL!

2018Nov_aNTÓNIODEmIRANDA

Do livro # FALAR DELE NO CÉU DE UMA PAISAGEM" poemas para Mário Botas volta Volta D Mar Biblioteca da Nazaré

 








quarta-feira, 13 de outubro de 2021

SEM FUTURO À VISTA

 Judas ninguém traiu! 

Só queria comprar uma guitarra baixo, 

publicitada a óptimo preço no “olx”! 

Mas,11 bêbados incorrigíveis, 

só gostavam do som dos urinóis... 

sem futuro à vista, 

Judas, montou uma loja de câmbios. 


2019set_aNTÓNIODEmIRANDA

ERA UMA VEZ...

 Gosto das histórias que não acabam.
Daquelas que não têm um final previsível 
e estupidamente feliz.
Gosto do sapo que comeu a princesa,
do principelho desencantado,
do algoz mascarado de subtileza,
do capuchinho vermelho travestido de ferrari,
das mamas da duquesa,
do João ratão malandrão
e daquela gaja sempre distraída
que perdeu o Lobotin,
no baile da Associação Benemérita “Os Amigos do Alheio”.
Também gosto do rei sem rock,
da sereia emplumada,
da fada marinha mostrando-se no iate,
da Dama do Pé-de-Cabra no engate. 
Era uma vez,
um gato maltês,
não gostava de peixe,
mas dizem que falava inglês
.

2017,jun_aNTÓNIODEmIRANDA

SILICONE

 







Adoro bacalhau frito.

 




Gostamos muito.


 

Exposição "Múltiplo Leminski" na Casa da América Latina: Entrevista com ...

Allen Ginsberg Reads Howl - Holy Holy Holy

sábado, 9 de outubro de 2021

ABRAÇOS & AFINS

 

Não sei se chegarei a tempo de tocar o céu.
Já não consigo pintar este cansaço, 
desesperado pela mentira 
de tentar os abraços escondidos
no conta-gotas.

(Estão cada vez mais secos,
e, este gostar,
já se tornou um fardo 
com sabores demasiado amargos).

Não passa de um risco mal apagado 
nas entrelinhas da minha disposição.

Fico só.
Ainda não farto de assim 
Estar.
Tardam as horas para angústia feliz.


,2021Outubro_aNTÓNIODEmIRANDA


A ÚLTIMA SESSÃO (Elementar_Algés)

 


Na mesa do fundo, 
procurava o olhar estrelado 
na toalha bordada com velhas nódoas, 
companheiras fiéis da solidão das noites.
A música passeava-se num ritmo insinuante, 
mas, 
dessa vez, 
os fantasmas não dançaram.
Smokings fartos da naftalina 
mostravam nos sorrisos, 
a cor do desânimo mais dorido.
Nuvens amargas,
escondiam sabores de vozes enlutadas.
Abandonados,
os poemas voltaram a ser lágrimas.
Guitarras tristes deitaram-se 
no sonho dos anjos vagabundos.


,2021Outubro,9_aNTÓNIODEmIRANDA


sexta-feira, 8 de outubro de 2021

“PEACEMAKER”

 

Gostaria de mostrar que não há nenhuma marca de pedra no meu coração. O “peacemaker” estava errado, o aparelho cansado e a prova de esforço correu desenfreada. Tive todo o cuidado, a educação atempadamente esmerada, mas como sabes, há muitas coisas a que não ligo nada. A morte é a única divindade que me atende. Não quero desventrar anjos inocentes. Até porque há ainda tanto filho da puta para morrer.
Para esses, tenho para entrega imediata, 
arritmias em óptimo estado de conservação.

Atenção: não há final feliz.

(Portes pagos pelo destinatário).

nb: não atendo números privados.



,2015aNTÓNIODEmIRANDA


CANSEIRA

 

Não me associo a nada.

E isso já me dá muita canseira.


2016,03_aNTÓNIODEmIRANDA

quinta-feira, 7 de outubro de 2021

QUANDO A BELEZA BATE

 

Quando a beleza bate,
é justo falar de pétalas doridas,
dos despojos da falência total,
de todos os desvios sangrentos
e da denúncia amarrotada com efeitos aplicados.
Quando a beleza bate,
o nosso fabrico próprio não gera uma só qualidade
e tem o gosto da eficácia dos incapazes.
Nuances recheadas de presunções imbatíveis
enquanto cada minuto fere mais que o anterior.
Quando a beleza bate,
leva-nos à próxima paragem
onde apanhamos a ternura desnudada
para as horas arrendadas
que sofremos na escola preparatória dos desejos.
Quando a beleza bate,
faz de nós gente sem pés na alma
e oferece-nos a vitrificação das lágrimas
que agora se refugiam  
na avenida da gentileza absurda.


2016,11aNTÓNIODEmIRANDA


A TENTAÇÃO

 Fia-te na virgem
E não morras.
Não cuspas 
No muro das lamentações.
Rasga o véu
Queima a burka
Não resistas às tentações.
Reza de joelhos
Se te aprouver
Nada é pecado
E eu por acaso
Poderei ensinar-te bonitas orações.
Se te apetecer,
Há tantas coisas boas
Que poderemos fazer.


aNTÓNIODEmIRANDA

A SECRETA ESPERANÇA

 

Tinha na mão o poema.

Dobrou-o em forma de avião

E lançou-o ao vento

Com a secreta esperança

De algum pássaro o ler.


,2016,07aNTÓNIODEmIRANDA

A SORTE DO POETA

 

Pariu-se o poema

E logo o rasgaram

Em mil pedaços

Para que houvessem

Mil poetas.

Por isso,

Diz-se que dos ricos,

O poeta é o mais pobre.



.2014aNTÓNIODEmIRANDA

sexta-feira, 1 de outubro de 2021

NA BARCA VELHA

 

Esperar por ti

Na barca velha 

Sereia bêbada

Do canto tonto

Não me julgues pronto

Para te endeusar

Já não encantas o mar

E o teu perfume 

Nada escreve no nevoeiro

Da minha espera.


,2021Setembro_aNTÓNIODEmIRANDA