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quarta-feira, 9 de março de 2022

A DIVA DA MEIA-NOITE

 

A diva da meia-noite, 
enroscada na echarpe 
entornava o caldo da voz ensaiada 
para mostrar que sabia de poesia. 
Pobre poeta que tanto sofria, 
naquele ronronar de gata fria 
em telhados de zinco ferrugento.
E aquilo que se ouvia 
era tudo menos o poema, 
enquanto a lua borralheira 
encenava um novo folclore 
que ninguém entendia. 
Estendidas no sofá da virtude adormecida,
a folha e a caneta desconfiavam 
desta anomalia assim surgida. 
O poeta na sua cara de silêncio entupido, 
solta um mudo gemido 
e um ai surdo nesta fala de absurdo 
elegantemente pretendida. 
E conversa animadamente 
com o copo com vinho que o irá confortar. 

,2017mai,aNTÓNIODEmIRANDA

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