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quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

O TEMPO PASSA, A MERDA ACONTECE

 


Há uma longa mentira entre mim e aquilo que querem que veja.
Podemos construir castelos e banhá-los nas memórias da areia, e na fronteira da tonta espera, continuar sem encontro marcado para o afago da guilhotina. 
Odores de um bairro operário aguardam a chegada dos imaculados enquanto a morte é carpida em vivos soluços. 
O vagabundo encostado à porta, veste a alma que um dia alguém animou. 
A tentação foge sem destino e uma fala estranha ladra o terrível desapontamento. 
Deuses cor de carne apodrecida, exímios predadores, oferecem fortunas perversas para que a realidade proposta não seja contestada. 
Lâminas de propaganda abençoam a estupidez com que te enganam, levando-te a pensar que és o crente mais importante. 
(Enquanto isso, o atropelo continua). 
De repente descobres que o medo é o único conforto que te entregaram. 
A dúvida aloja-se nos vómitos. 
Mas sabes que não há resposta certa para te impedir de desistir. 
A vida nunca nos pertencerá. 
Não passa de um exército de órfãos. 
E o pintor das palavras vazias, recolhe as lágrimas da colher de prata para desenhar outros sonhos. 
Quem irá nesse caminho ardiloso, qual destino matizado com enganos espalhando nas ogivas da baixeza as últimas orações perfumadas pelas flores de urânio? 
Nada melhor do que uma bomba para lamentar a incapacidade. 
Deus é grande. 
Maior será sempre a minha indignação. 
Muitas vezes a princesa dos sonhos acorda angustiada por tanto fingimento. 
(A inutilidade da nojenta existência, qual desfile de óvulos mal mexidos,
colectora de vontades incorrectas enxertadas em troncos de auto-ajuda). 
E no bar das insónias, voos falidos procuram sugestões para incendiar o repetido pedido de desculpas. 
Um dia quando for regar o Jardim das Delícias tentarei o prazer em pequenas doses, entregue por uma qualquer estrela rebelde rebocada com subtis micoses eclesiásticas. 
Nunca admitirei ser algemado pelos convites dos profetas asilados na estação das desamparadas promessas. 
Não me apetece lamber cinzas na crueldade do herbário dos falhados.
Porque bordar sonhos à pressa nos lençóis da procurada ternura, não é senão uma fantasia.
 
Não fede nem cheira.
  (como a minha mãe costumava dizer).

2025DezaNTÓNIODEmiRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com


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