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quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

#DEZEMBRO E OS OUTROS TEMPOS#_COM GREGORY CORSO NUMA CADEIRA PERTO DO CÉU (abençoados por um cogumelo cósmico)

 





COSTUMAVA SER MINHA, ESTA MANIA POR VEZES HÁBIL DE EVITAR SONHOS

 


Talvez o céu sacuda a poeira que me 
calca os ossos, escorra do tempo 
o cansaço e afaste todos os escolhos 
deste teimoso caminhar.

Santa misericórdia dos urinóis,
não me deixes fugir das tentações.

Embrulha - me só nos pecados 
originais,
leva os sonhos para além do céu.

Diz qualquer coisa que me tire deste 
contrário. 

Pinta aquele sorriso, que leva o convite 
para o banquete das iguarias imponentes.

Ajuda - me a sair deste grito.

Costumava ser minha, 
esta mania por vezes hábil de evitar 
sonhos.



,2021Novembro_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com



O TEMPO PASSA, A MERDA ACONTECE

 


Há uma longa mentira entre mim e aquilo que querem que veja.
Podemos construir castelos e banhá-los nas memórias da areia, e na fronteira da tonta espera, continuar sem encontro marcado para o afago da guilhotina. 
Odores de um bairro operário aguardam a chegada dos imaculados enquanto a morte é carpida em vivos soluços. 
O vagabundo encostado à porta, veste a alma que um dia alguém animou. 
A tentação foge sem destino e uma fala estranha ladra o terrível desapontamento. 
Deuses cor de carne apodrecida, exímios predadores, oferecem fortunas perversas para que a realidade proposta não seja contestada. 
Lâminas de propaganda abençoam a estupidez com que te enganam, levando-te a pensar que és o crente mais importante. 
(Enquanto isso, o atropelo continua). 
De repente descobres que o medo é o único conforto que te entregaram. 
A dúvida aloja-se nos vómitos. 
Mas sabes que não há resposta certa para te impedir de desistir. 
A vida nunca nos pertencerá. 
Não passa de um exército de órfãos. 
E o pintor das palavras vazias, recolhe as lágrimas da colher de prata para desenhar outros sonhos. 
Quem irá nesse caminho ardiloso, qual destino matizado com enganos espalhando nas ogivas da baixeza as últimas orações perfumadas pelas flores de urânio? 
Nada melhor do que uma bomba para lamentar a incapacidade. 
Deus é grande. 
Maior será sempre a minha indignação. 
Muitas vezes a princesa dos sonhos acorda angustiada por tanto fingimento. 
(A inutilidade da nojenta existência, qual desfile de óvulos mal mexidos,
colectora de vontades incorrectas enxertadas em troncos de auto-ajuda). 
E no bar das insónias, voos falidos procuram sugestões para incendiar o repetido pedido de desculpas. 
Um dia quando for regar o Jardim das Delícias tentarei o prazer em pequenas doses, entregue por uma qualquer estrela rebelde rebocada com subtis micoses eclesiásticas. 
Nunca admitirei ser algemado pelos convites dos profetas asilados na estação das desamparadas promessas. 
Não me apetece lamber cinzas na crueldade do herbário dos falhados.
Porque bordar sonhos à pressa nos lençóis da procurada ternura, não é senão uma fantasia.
 
Não fede nem cheira.
  (como a minha mãe costumava dizer).

2025DezaNTÓNIODEmiRANDA
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SANGRO EMOÇÕES PARA ASSASSINAR IDEIAS COM PALAVRAS

 


Pois é, caro Leminski!
Vivemos o tempo em que 
qualquer pateta 
se ousa dizer poeta.

E o verdadeiro poeta, 
no desconsolo de tanta palermice, 
morre à pressa 
antes que chegue a chalaça 
do reino da chatice.

E não há procedimento estético 
que disfarce tamanha agonia!

(afinal aquilo que o poeta tanto 
queria).





2025DezaNTÓNIODEmiRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com


terça-feira, 2 de dezembro de 2025

MANCEBO

 


        Encostado na esquina, ouço partir os olhos vazios, neste passar do tempo, que teimam em dizer que perdi. Mas eu continuo a acender este fogo, como se fosse um cantor de uma banda de rock`n`roll, onde nunca toquei. Poderia contar outras histórias, se o blush na minha face, não mostrasse que isso não passa de uma mentira. És doce como aquela canção que já não me espera. Continuo longe desse sapateado, ensaiado na escala do baixo, que amorosamente quer levantar o chão que me insulta. Por vezes, tudo me parece tão difícil, malgrado as desculpas de ocasiões mal desagravadas. Tenho saudades das velhas lojas, onde muitas vezes entrei para nada comprar, apesar das boas intenções. Os velhos amigos continuam comigo, mitigando a recordação das gajas que não chegamos a comer. Era só um supor malandro, que enchia uma pose com que fingíamos vender a alma. Estamos aqui, como provam estas gargalhadas emolduradas nos cabelos brancos, que só nos fazem sorrir. Naquelas noites tocadas nos jardins, fomos os mais felizes astronautas. Nas ondas do medo, iluminadas pelos faróis dos carros da polícia, enfeitávamos em segredo a nossa diferença. E no quarto das paredes sem sonho, adiávamos o sono, com todo o pavor da farda que nos esperava. Nunca perdemos a cabeça neste horizonte selvagem, ainda que as notícias dos amigos mais velhos deixassem de ser escritas. A lua sonhava então, com cores bonitas, o pequeno-almoço era animado com ácidos sem estricnina, e lá fora, a realidade mentirosa, felizmente não estranhava esta mania. Acariciava os anjos no duche, e compreendia que o seu olhar, só procurava o amor, num abraço que nunca ignorei. Entregavam-me sempre uma fotografia, com uma nuvem que tentava agarrar todas as coisas que fugiram do meu caminho, quando deus não estava feliz com a minha aparição, nas manhãs do ódio que tanto me sujava. Olhos sem luz, sorrisos maltratados, assaltavam a minha cabeça, neste princípio da procura de uma só escada divertida.


,2017nov_aNTÓNIODEmIRANDA
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MARÉS MORTAS

Ando
A
Amar-e-ar
Pelas
Paredes.
&
Marés
Mortas
Não
Me
Tiram
Dos
Rodapés.


,2017out_aNTÓNIODEmIRANDA
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INCONTINÊNCIA ERVANÁRIA

 


Não te resisto

Nunca me abandones

Continuarei 
a enrolar-te 
com toda a fé 
que prometi 
na última 
tentação


,2022Nov_aNTÓNIODEmIRANDA
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