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quinta-feira, 21 de novembro de 2024

EU ESTIVE LÁ

 


Santos alternativos 
procuram outras opções.
O resto é melhor do que nada, 
diz a fome para o desperdício.
Busco um abrigo, 
mas os tempos já pesam demasiado. 
Vivo numa tempestade que contempla 
o futuro estagnado num cais do metropolitano
 pejado de sorrisos injectados. 
Ignoro o painel de azulejos com nomes 
cuspidos pela indiferença. 
Eu estive lá, 
nos lugares agora sujos. 
Eu vi as palavras que mancharam. 
Eu cheirei na pele a agonia 
da mais ínfima probabilidade. 
Eu ouvi as façanhas dos cobardes 
relatando a mutilação da dignidade.
Mas, 
Eu só tinha 14 anos, 
e, 
assim aprendi, 
que o nojo não deverá nunca ter idade.






,2020Julho_aNTÓNIODEmIRANDA
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NÃO TENHO LÁ MUITAS SAUDADES DE MORRER

 

_Estou à espera que o Jeff Koons 

acabe o meu retrato

_Quero assistir ao 150º aniversário

do senhor Ferlinghetti

_Ainda não perdi a esperança de ser 

rico, embora não procure esse tipo

de fortuna

_Além disso, desejo uma realidade 

decente, mesmo que isso implique um drástico equilíbrio populacional

_Anseio pelo glorioso bacanal com as virgens desanimadas.

_Organizar um happening redentor 

com os apóstolos arrependidos

_Aguardo a clemência para os 

desastres que não cometi

_Só quero tatuar o pensamento 

com a certeza dos dias felizes


,2020Mar_aNTÓNIODEmIRANDA
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INQUIETAÇÃO

 


Dói-me 

A

Esperança

De

Tanto

Tentar

Trilhar

O

Futuro




,2020abr_aNTÓNIODEmIRANDA
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GENTE FELIZ COM LÁGRIMAS

 


Já não tenho queda para cair
neste sentir naufragado
enrolado nos farrapos fora da caixa.

Guardarei na imensidão do meu delírio
toda a memória 
da gente feliz com lágrimas.

Só tenho para fugir
um saco de segredos escondidos 
numa rede ansiosa.









,2020Mar_aNTÓNIODEmIRANDA
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FRATERNIDADE

 


Os que nada têm 

Nunca poderão ajudar aqueles 

A quem tudo falta.  




,2020Set_aNTÓNIODEmIRANDA
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ESTA É A NOITE DO ROCK`N`ROLL



 Que tal morrer hoje?
Amanhã as vagas estão esgotadas.
Ainda estamos presentes neste concerto de zombies.
Enrolo-te no Rock do Chuck Berry, 
e escrevo poemas obscenos 
no decote da ousadia. 
Estonteia-me a silhueta do teu arfar. 
Estou pronto para te oferecer 
a mais ousada dança.
Despir-te num sonho de papel, 
dourar-te os seios e embrulhar
a ilusão em mortalhas de cetim.






,2020Nov_aNTÓNIODEmIRANDA
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FEED-BACK DA AUSÊNCIA CONSOLADA

 


Solteiros & Cansados

Mãos Calejadas

Fantasias Avariadas

Gemidos Secretos

Sexos Obstipados

Imagens Prometedoras

Sonhos Embrulhados

no cetim da timidez





,2020Mar_aNTÓNIODEmIRANDA
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The Jolly Boys - Rehab

quarta-feira, 20 de novembro de 2024

NÃO HÁ CÁ NINGUÉM A NÃO SER ESPANTALHOS

 


Labirinto da saudade.
A ausência enche as ruas.
Magoo-me.
Tenho o cinto no aperto da vontade.
Uma misericórdia inoperante.
O que pretendes pecador infalível desordeiro das orações que ensinámos?
Império das mentiras, princesas maquilhadas no trono dos tropeços.
Não consigo um diferente começar. 

NÃO HÁ CÁ NINGUÉM A NÃO SER ESPANTALHOS.
Oceano afogado nas sombras - uma corrente de murmúrios - negação contínua que conforta o autismo pulsos atados num remo à deriva -  barca velha cansada da adega - e há um sol teimoso que finge o nascer -  e oferece-nos um perder agasalhado nas pulseiras.
NÃO HÁ CÁ NINGUÉM A NÃO SER ESPANTALHOS.
Neste palácio borrado de medo pela curiosidade de janelas indiscretas. O existir não passa de uma circunstância inconveniente. Os palhaços abandonaram o palanque. Este sítio é suspeito. Sobrevive com nuances de sanguessuga. Doida autópsia rasurada, escondida num asilo ignóbil mija decências nos muros encharcados de peçonha. Glorificado seja o nojo de cada dia, a toda a hora, aqui na terra mas nunca no inferno. Queimo as respostas que hipoteticamente endereço a mim. Não ouso pintar ausências, até porque o mais perto que estive da felicidade, foi uma vírgula sem o ridículo das palavras. Estou sempre pronto para o que de mim eu quiser. Atento e venerando o optimismo conservado numa solução fictícia cada vez mais longe deste lugar que tanto me cansa. (não estou a falar de mim. Eu sou outra coisa). Se calhar até podia ser assim, mas esta maldita fé enferrujada por néctares alucinados, pregou-me a esta ilusão roubada numa caixa de esmolas. Despejei o cabaz dos imbecis. Há alguém por aí? Alguém que me possa matar? Tenho dores para a troca, sorrisos fáceis para vender, um coração habitado na mentira, olhos que nada entendem, boca obediente, consumo mínimo do zero à morte, 7 chicotadas. Ofereço um diamante louco abençoado pelo Syd Barrett. Se não for do agrado, tenho átomos congelados, embebidos numa salada russa, antes de o Putin começar a levar no ânus. Candy dizia ao corpo que a estranhava, que só queria um dia perfeito. Só me queixo da sorte quando o azar se esquece de mim. Até porque não gosto das bebedeiras diluídas em contrafacção. Tenho um gosto distinto entendido por um tinto de reserva conceituada. De cada vez que me penso, esqueço o que de mim presta, ainda não queimo o que resta, mas isto vai ter cura. Relembro-me em leituras sonâmbulas e caminho nas nuvens da ilusão. Colo a tristeza numa manta amiga, e espremo a esperança com dedos manchados pela crença que me impregnaram. Recordo quando era jovem, mas não encontro os segredos que escondi.
NÃO HÁ CÁ NINGUÉM A NÃO SER ESPANTALHOS.
Tenho a pele empilhada por aplausos que nunca ouvi. 
Opções divorciadas dos flashes fedorentos.




,2020Dez_aNTÓNIODEmIRANDA
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A PONTUALIDADE DA TUA AUSÊNCIA JÁ NÃO ME SURPREENDE



 A memória já não bate a esta porta 
e a fragância que lhe ofereci 
também não está disponível.

O fascínio mora ao lado. 

Assim está escrito na cicatriz da mágoa.
Vai sem voltar 
este secreto desejo 
de teimosamente ainda te sonhar.


,2023Nov9_aNTÓNIODEmIRANDA
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quinta-feira, 14 de novembro de 2024

A SENHA DA ESPERA

 


É aqui que me acho
na desordem das palavras
que escorrem dos livros.
É aqui que falo
e combino a fuga
para as asas que me podem salvar.
É aqui, neste silêncio vomitado 
que calco todas as tonalidades do nojo 
que pretende lavar a minha indignação.
É aqui que decoro labirintos
desenho os cenários da contradição
e morro na impossibilidade
habitualmente tentada. 
É aqui, neste alforge desabitado
que debito soluços 
que, 
pensei, 
já não me pertenciam.
É aqui,
que retiro da vida 
a senha da espera.






,2019nov,10_aNTÓNIODEmIRANDA
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2

 


Como poderei beijar o teu corpo 
tão ateu como o meu? 

Ai meu amor estamos tão perdidos 
que não nos deixam morrer como deve ser. 

Agora não sei como esperar outras luas 
mesmo com significados traiçoeiros.
 
A verdade é que fomos dois números 
com hipotenusas nem sempre mentirosas. 

Beijo-te os seios 
continuamente como se fosse um desejo 
que virá tardiamente depois da nossa aparição. 

Esperaremos o dia 
para que violetas agradecidas
embelezem os nossos desesperos 
escondidos em lençóis 
que mancham o nosso encontro. 

Tanto nos amamos 
e ardemos numa febre 
que queima a indiferença que nos difama.



,2016,03aNTÓNIODEmIRANDA
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Yesterday Morning

JIM MORRISON & JOHN LEE HOOKER

domingo, 10 de novembro de 2024

FOGE-ME DE REPENTE O ALENTO

 


Correm as memórias no assassino voar 
do tempo.
    Sei que a vida é um sequestro permanente 
pairando no tempo que nunca esperamos 
acontecer, porque abandona maliciosamente 
a noite dos sonhos pré comprados 
nas eleições do último céu.
    É sempre uma lide desigual na 
nuvem onde repousam o júbilo e a tristeza. 
    Quem poderá cuidar da solidão do 
mundo? 
    Onde se terá escondido a 
benevolência?
    É tão triste esta música solfejada 
no rosário das súplicas como se a esperança 
    não fosse a mais espancada das palavras. 
Sinto que não tenho todo o tempo e as 
condolências que cortejam a angústia 
cada vez mais atrevida, tentam disfarçar 
a insensatez de um qualquer porvir.
    Triste razão que teima o afastamento 
que necessito. 
    Bagatela perfumada que queima 
o azedume onde não me quero deitar. 
    Ó paraíso das memórias interditadas, 
que fogo é este que me entregas?
    Quem te falou deste desejo? 
    Quem te mentiu quando disse que 
o credo que exibo não passa de uma 
trapaceira mania? 
    Habito uma solidão que renego descrever. 
    Continuo teimoso que nem um raio 
sempre pronto para incendiar 
a inquietação que me castiga. 
    Sentado no patamar da tristeza 
a celebrar o reportório das vontades 
que perdi. 
    A minha alma é um declínio em constante 
ebulição.
Quantas verdades a vida terá de iludir? 
Quantas vezes os tiranos deverão morrer? 
Revolta refractária, 
pensamento errando na auto-estrada. 
Agora um tapete de gritos alisa a cara 
na almofada dos medos e rouba 
a inocência que tanto me custou a ganhar. 
Efémero recluso, desafiando o
 acordar contrariado, ferida constante 
no desarranjo que escolhi. 
Na única coisa que posso mentir 
há uma dor adormecida pelo canto da agulha. 
        Vou apanhar-te e oferecer este meu 
sofrimento. 
A coragem nunca poderá morrer.




,2024Nov_aNTÓNIODEmIRANDA
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ABENÇOADO CÂNTICO FINAL

 


Mudei todo o sentido.
Inventei outras vidas mas nunca perdi 
o meu nome.
Furacão de emoções retirando poesia das 
estantes enquanto emocionados anjos 
estendem a magia das palavras… 
Ó delírio celestial, por onde tens fugido? 
Aguardo com a esperança possível 
o enlace da tua chama. 
Ó beleza que sei jamais serei capaz 
de compor, porque teimas em não acampar 
na minha vontade? 
Sou unicamente um amigo da tua velha 
solidão. 
Vagabundo dos sons do silêncio 
que nos cercam. 
Nada é razoável nesta jornada 
de desencontros adiados. 
O “casting” conformista viajou 
para os intensivos cuidados da 
atrapalhação. 
A carruagem segue outro caminho. 
Alguém dormiu para longe do nosso 
acordar. 
Deslumbramento sabiamente ignorado. 
E no permanente conflito, 
o mundo da ignóbil humanidade 
espalha a vergonha sobre o sombrio 
abismo. 


,2024Nov_aNTÓNIODEmIRANDA
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FUTUROLOGIA

 


A.M.

    What

    I

    Am


(simplesmente
uma razão 
com a permanente vontade 
de ser esclarecida)






,2024Nov_aNTÓNIODEmIRANDA
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SECÂNCIA

 


E se um dia o poema 

deixar de viajar na tua 

rima

A preponderância da 

inoperância

não será somente 

Uma     questão     de 

ignorância 



,2024Nov_aNTÓNIODEmIRANDA
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TENHO UM DEUS ACAMPADO NA ASNEIRA

 


Um mal maior num dó sem fim. 

Tudo escrito num 
sermão enviado pelo mais
mentiroso dos filhos da puta.

Não sou de pedra
Nem de cal.

            &
                    Isso 
                                Até não me faz 
                    mal.









,2024Nov_aNTÓNIODEmIRANDA
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NEM SEMPRE A SOLIDÃO ADORA COMPANHIA

 


Fica-te mundo para cada vez mais 
longe do meu estar.

Este uivar de palavras mordidas, 
entalha na pele todo o nojo.
 
E nem os passos do solidário sorriso 
conseguem consolar a miséria do 
quotidiano.

Tenho saudades das pessoas 
felizes!

Nunca invejei aquelas gargalhadas.

Descalços, assim sempre 
caminharão os lamentos do tardio 
arrependimento ao encontro da 
derradeira despedida.





,2024Nov_aNTÓNIODEmIRANDA
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DESCARADAMENTE A LIMPAR O AZEDO DAS MINHAS VIRTUDES

 


Despejei os macaquinhos do sótão.

Aluguei a paisagem à mentira.

Mudei as fraldas da fama, 
e ao terceiro tiro não falhado, 
comuniquei à assembleia das angústias
 previamente danificadas, os dados 
para o juramento a favor do divã 
da salvação celestial 
sabiamente diluída numa aquosa solução 
de ómega 3, comprovadamente infectada.

Dizem que Deus é grande. 

A estupidez ainda maior é. 

E este mundo nunca deixará 
de rodar num tempo cada vez mais 
ameaçador.



,2024Nov_aNTÓNIODEmIRANDA
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MEMÓRIA RALADA

 


Um fantasma impresso no meu
Sonho
Regista nos anos o gastar da
Lembrança.

Maldito mentiroso.

(Nem sequer desconta o tempo
Do desgosto que lhe entrego).

A vida não é fácil.

Mas sonhar será sempre o meu
Desígnio preferido.







,2024Nov_aNTÓNIODEmIRANDA
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A POESIA ADORMECE

 


Anjos vazios à boleia.

Liguei os ouvidos para a longa 
conversa.

Saquei palavras da velha cítara,
entrapei a pressa,
contando estrelas
na enseada da poesia.

À roda da fogueira,
onde a amizade não arde,
esperamos calmamente 
a brisa dos versos felizes.

Ainda há diálogos para iluminar 
caminhos.

Então a poesia adormece,
abrigada nos nossos corações.






,2020Jan_aNTÓNIODEmIRANDA
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FALAM DE TI COMO SE FOSSES ALGUÉM

 


Tratam de ti como um animal tinhoso. 
Ajoelham-te para melhor conferir 
aquele número que nada vale. 
Chamam-te como se fosses alguém.
Enfiam-te no cu a esperança que
 nunca te ajudará.
Ai!
Que saudade deverias ter da coleira 
que tanto te amansou.
A ira medrosa abandonou a revolta, 
a troco de um formulário indecente 
que só a miséria prometia.
Navegas ondas de choro. 
Cavas lágrimas gritadas num compasso 
que já não tem dias para ti.
Obedeces a uma conveniência 
que encharca com morbidade, 
o lixo em que foste transformado.
Teclas no telemóvel da última geração 
a morte partilhada na rede social 
que aplaude o teu desespero.
Pensa nisso!
Mas, 
não percas tempo se não fores capaz.



,2020Out_aNTÓNIODEmIRANDA
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COSMÉTICA DOS ORGASMOS

 


Embebedo-me com gotas do desespero 
na cidade dos exílios. 
Visto as cicatrizes
do penoso arrastar do passado.
Mandem-me um anjo rebelde
que acenda a luz da solidão.
Uma última brisa
um verso não farsante
mesmo uma lâmina na palma da mão.
Fugir sem rasto
para abraçar a noite que falta
à espreita nas ruas que não conheço.
Ofereçam-me um ramo de raízes obscenas 
Uma bandeira sem a cor da pele
um sorriso nunca esquisito 
um ouvido interessado 
poi, há longo tempo  
que nem comigo converso. 
A minha cabeça já não funciona. 
(dizem que tenho a mentalidade 
de um cogumelo fora de prazo). 
Neste caso
convém não agitar.
Bem-vindos à cosmética dos orgasmos




,2019nov,10_aNTÓNIODEmIRANDA
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DARK CLOUDS ROLLIN`


#DARK CLOUDS ROLLIN`#

Cá ando
Onde nunca aconteço
Oleado num desamparo 
Escondido
Como se a vida
Ainda fosse um
Dado adquirido.
Qual pássaro
  De andar sempre perene
Longe do voar
Dos dias felizes.
Nada sei daquele cartão sagrado
Onde os poetas costumavam
Ousar.
Que alma poderá habitar-me?
Não entendo
A voz que me escuta.
Não sei o que retribuir
A este abraço teimoso
Como se fosse 
Sempre honesto
O incómodo de ficar.
(dêem-me uma garrafa de “Bourbon”
para depois da meia-noite)






,2024Nov05_23,25h_aNTÓNIODEmIRANDA
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sexta-feira, 8 de novembro de 2024

RECOLHENDO PÉROLAS NO JARDIM DOS ESCOMBROS

 


Nenhuma esperança nesta barbárie 
sequiosa de tormentos
Onde se morre entre as bombas 
Bramindo de mãos abertas
A agonizante consolação
Para um 
Deus 
Sempre 
Vazio








,2024Out12_aNTÓNIODEmIRANDA
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quinta-feira, 7 de novembro de 2024

ATÉ PORQUE DOS GRANDES NEM SEMPRE REZA A HISTÓRIA

 


Somente desejo cuidar da minha alma

Ronronar momentos calmos 
para perturbar o meu sossegar

Até porque…

Vai curta a vida 
muitas vezes iludida 
num chanfrado juízo 
 
E assim vai gingando o tempo 
fintando o quebra-cabeças da memória













,2024Out12_aNTÓNIODEmIRANDA
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A LEI DE ISRAEL

 


Rende-te
Se queres continuar a 
morrer.

(Alguém lava a tristeza  
com o sangue do último filho).

Sons da desilusão 
observam a fria mortalha 
pendurada na porta do paraíso 
a entregar a derradeira valsa.

Nada mais importa!

A morte não precisa de heróis.

A morte recusa os mártires.






,2024Out_aNTÓNIODEmIRANDA
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quarta-feira, 6 de novembro de 2024

A MESMA LÉRIA DE SEMPRE

 



Noites de cetim a pintar a espera.
Mas o sol, sempre escondido,
tardava tal acontecer.

A esperança sobrevive,
qual maldição,
nos títulos dos jornais.

Asas tristes continuam reféns 
do manto da miséria.

Expectativas traiçoeiras carpiam 
a morte da infalível partida.

Mas a esperança só tinha 
adormecido
numa tenda de papelão.









,2024Out_aNTÓNIODEmIRANDA
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A LEMBRANÇA DA TUA AUSÊNCIA

 


Cada vez nos entendemos 
menos.

Será esta a verdadeira 
pronúncia do fim.

Nada tens a dizer.
 
Compreendo o significado 
desse silêncio.

Está a chegar o tempo
de guardar na memória 
a lembrança da tua ausência.

Gostar de ti foi uma verdade 
que chegou 
a apaziguar-me

Mas...

Já nada encontro nessa 
importância.




,2024Out_aNTÓNIODEmIRANDA
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segunda-feira, 4 de novembro de 2024

PALAVRAS DE SABEDORIA

 


Talvez um poema abraçado
e Evidentemente um sorriso 
decorado com laços de ternura

Obviamente um beijo sempre 
elevado ao desejo 

Naturalmente um gesto sem 
artifícios 

Ocasionalmente aquele até logo sem 
o aroma da despedida ingloriamente 
danificado 

Possivelmente o tempo sem as horas 
conservadas na desilusão 

(Inegavelmente devastado)







,2024Out_aNTÓNIODEmIRANDA
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domingo, 3 de novembro de 2024

QUE RAIO DE FADÁRIO ME CALHOU

 


A indecisão sufoca o atrevimento
O medo ferra o pensamento
A angústia trucida a alma
A fome golpeia a vida
A morte não recomenda o azar

E nós por aqui 
virados de patas para o ar
à espera do costumeiro enganar

        Má sorte porque me 
saíste?
        Era para ser um 
acontecer irreprovável
        Sem ladrões nos 
governos
        E com o caldeirão a 
abarrotar de ministros 
        Era só uma ideia 
contente
        Pendurar aqueles 
matreiros 
        Na mais longínqua lua
        Até porque a corja da 
justiça
        Não quer escumalha 
dessa igualha



,2024Out12_aNTÓNIODEmIRANDA
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TALHO E DELICADEZAS

 


Ser calista foi meu sonho 

Mas não foi esse o meu fado 

Fui parvo e só por isso 

Entreguei-me ao imprevisto 

E comecei a andar desconfiado

Não chorem por mim, não chorem 

E também não tenham dó 

Ao princípio custou um bocado 

Mas agora que estou habituado

Nunca mais me senti só




,2024Nov_aNTÓNIODEmIRANDA
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LÁPIDE PREMATURA...

 




sábado, 2 de novembro de 2024

COM QUE ENTÃO DIZES QUE SOU POETA!

 


E eu aqui, sentado na despedida da memória, a desviar o degrau da desilusão. Tenho nos dedos todas as palavras que não quero. Uma ardilosa ferida salpica os passos que penteiam o inconveniente convite. Falo-lhe deste cansaço num envergonhado supor, só para disfarçar a dor que me despede. Não acredito nas promessas oferecidas pela sombra desconfiada.
Mereço outro tipo de indignação.
COM QUE ENTÃO DIZES QUE SOU POETA!
Esta alma já não me habita. Um velho caminho acompanha o meu alento. Uma fúria inconsolável sacode o coração de pedra que não pára de chorar gotas de zombies caídas dos crucifixos mal-educados.
COM QUE ENTÃO DIZES QUE SOU POETA!
Todas as possibilidades fora de mim não têm de ser um filme. Eu apenas tento sobreviver fora da aberrante léria cultural dos nomeados pelos ministérios reguladores do narcisismo literário.
(herança apodrecida no corredor dos ornamentos contaminados do museu da pobreza poética).
Nunca renego a lucidez insubmissa que celebra a contrafacção dos propósitos inúteis.
COM QUE ENTÃO DIZES QUE SOU POETA!
Agora arranho sonhos vazios que só falam mentiras.



,2024Nov_aNTÓNIODEmIRANDA
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sexta-feira, 1 de novembro de 2024

O EPITÁFIO PREFERIDO

 


Mais de 3800 coisas escritas

(que 
Bela 
Incineração 
Me 
Espera)...








,2024Nov_aNTÓNIODEmIRANDA
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DENTRO DO MEU TEMPO

 


Há um sangue de côdeas,
e a réstia da esperança
escondida na almofada dos
pesadelos.
Uma conta com saldo duvidoso,
um punhal que estripa migalhas,
um aceno sem fim - 
para aquilo que  teima em não desaparecer.
Há uma glória de origem falsificada, 
um quebra-horas abandonado, 
um cubículo semeado de estrelas 
que nunca acontecem.
Dentro do meu tempo,
fico indeciso no agitar da bandeira 
que me ignora.
Dentro do meu tempo,
cabem os restos do nada
com que me
multipliquei.
Dentro do meu tempo,
há um catavento que singra
gotas de desespero.



2019out_aNTÓNIODEmIRANDA
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DIZEM QUE SOU UM GAJO COMPLICADO

 
Dizem que sou um gajo complicado,
mas, eu afirmo convictamente, que os deuses não são os meus únicos inimigos.
    Dizem que sou um gajo complicado, mas, a grande verdade, é que não tenho a memória fraudulenta.
    Dizem que sou um gajo complicado, mas, o que não dispenso mesmo, é o boogie do senhor John Lee Hooker. 
    Dizem que sou um gajo complicado, mas, entreguei-me todo a cristo, e, nunca mais fui o mesmo.
    Dizem que sou um gajo complicado, mas, estar sempre de bem comigo é uma preocupação que já não me aflige.
    Dizem que sou um gajo complicado.
Será porque guardo o meu mundo num porta-moedas?
    Dizem que sou um gajo complicado, mas,
ainda não agasalho o cérebro com um capachinho.
    Dizem que sou um gajo complicado, mas, não sou fã da paciência fumegante.
    Dizem que sou um gajo complicado, mas,
não consigo aplaudir uma banda de não fumadores.
    Dizem que sou um gajo complicado,
mas, não enrolo lenços com palavras escondidas.
    Dizem que sou um gajo complicado, mas,
embrulhar adornos, será sempre um passatempo inútil.
    Dizem que sou um gajo complicado, mas,
condicionante nunca será a opinião com que me observam.


,2019nov,10_aNTÓNIODEmIRANDA
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GERIATRIA

 


A idade


Não


Deveria


Ter 


Velhice




2019out_aNTÓNIODEmIRANDA
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VOAR CONTRA O DESTINO

 


Elevar o veneno. Traço para aspirar. Encher o balde. Sujar até atingir o zero. Entrelaçar genitais burgueses. Sentado num charro de erva com um índio que parece um anjo cujo primeiro acto de traição foi o ter nascido. Estou em guerra com toda a contemplação e contento-me em fumar a minha alma nesta alucinação não odiosa. Quebrar o estado de sítio estampado numa frigideira com banha de porco. Corpos fritos atados com arame no anexo da podridão. E aterrar sempre fora da pista numa capotagem perfeita. Saquear os fornos do pão sangrento. Ungir a loucura e santificar todos os beijos no altar dos enlevos não mentirosos. Ó cogumelo celestial estou louco por chegar até ti e sair deste voo de excrementos pisados. Descalço ao som da bateria do Max Roach curvo-me perante toda a ousadia e carrego no botão do gancho do umbigo uma dose anímica de alegria em conserva. E procuro na pedreira a esmeralda preferida da primeira dor que pretendo esculpir. Estrondo paralisado no rabo da sombra imaginação de veludo pregada com laços. Abandono a faixa da rodagem correcta e distribuo autógrafos escondidos nas sandwiches da realidade confrangedora. Princípios rígidos desdenhosos, atirados à poeira. Rendição agachada, zombies maltratados com anúncios encharcados na testa amontoam-se na prateleira dos delírios prontos para o banho da guilhotina. É chegado o tempo de esmaltar as orações recolhidas 
e voar contra o destino. 



,2019_ jan_aNTÓNIODEmIRANDA
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UM PUNHAL LAVADO NUM VALE DE LÁGRIMAS

 


Tocam na minha memória
sons de muitas ausências.
Caras que perfumam este vício
absorvido em tragos amargos,
amarelecidos  em cascos de solidão.
Nunca é fácil arquivar partidas 
sem a desejada chegada, mesmo que o faça 
só para disfarçar a infinita tristeza.
Difícil é enforcar esta dor, continuar 
a tentar agarrar um abraço, 
um simples aperto de mão, 
mesmo uma frase com palavras 
que ingenuamente penso nunca irei esquecer.
A memória, logo que me apanha distraído,
oferece-me um punhal lavado 
num vale de lágrimas que encharca 
todas as recordações. 
Dá-me um deitar combalido, 
um vazio para juntar ao resto, 
que nunca quero que aconteça.
O meu olhar curvado, coitado, 
mostra-me um alibi cansado de ser mentiroso.





,2019abr_aNTÓNIODEmIRANDA
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UM AZAR DOS DIABOS

 



1_

Tinhas o diabo no corpo, 
mas eu desconhecia esse acordo.

2_

Já não penso no dia em que juraste 
abraçar a minha alma.

3_

Queimei a cama dos lábios bordados.

4_

Trocaste-me pelo uivo das estrelas
que abanavam presentes 
que eu não podia oferecer.






,2019nov,13_aNTÓNIODEmIRANDA
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CASTIDADE

 


No 

        Meio 

                Da 

                        Rara 

                                Beleza



Só 

Me 

Resta 

Brilhar



2019mai_aNTÓNIODEmIRANDA
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CHICOTADA PSICOLÓGICA

 


As substituições que tanto treinamos não foram 
bem-sucedidas, apesar da palestra metafórica 
do nosso anormal mentor.
O público não gostou, 
mas educado como sempre, mostrou-se 
preocupado com a nossa obstipação.
E foi lindo!
Atiraram rolos de papel higiénico para nos limparmos.
Os mal dizentes falaram em contestação.
O presidente foi ao balneário, 
queixou-se do calcário, 
(palavra que leu no dicionário), 
e naquele tom que deus lhe deu, 
disse:
aqui não há culpados!
A única vítima sou eu.








,2019_ jan_aNTÓNIODEmIRANDA
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AS CINZAS QUEIMAM. AS FERIDAS ARDEM!



 Não é preciso ter calma.
A pressa não é, necessariamente uma má conselheira, 
e, enxotar moscas, será sempre um desperdício 
mal quotizado. 
Não é importante sentirmos melhores do que os outros, 
mas é primordial evidenciar a cada momento, 
a plenitude da nossa diferença. 
Também a indiferença é fundamental, 
para não nos etiquetarem de desatentos. 
Convém enviesar certos olhares, trejeitos faciais, 
só para não alimentar uma proximidade 
com consequências indevidas.
Os parâmetros normais, 
nunca devem ser julgados como essenciais 
para a condição normalizada, 
daqueles que estupidamente,
ousam dizer que apostaram em nós.
A absolvição da incoerência continua a ser 
um pecado supostamente original.
Há que ter cuidado!
As cinzas queimam.
As feridas ardem!





,2019mar_aNTÓNIODEmIRANDA
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ADORO A BATOTA DA NOITE

 


Sou um batoteiro da noite. 
                                        Inebrio-me 
no seu perfume de noiva atrevida,
 e ensaio a mais ousada dança 
do “Jumping Jack Flash”. 
                                Não resisto 
ao seu véu de núpcias escaldantes. 
                                A joelho-me 
para saborear o cinto de ligas, 
e desperto lentamente o desejo. 
                                Adoro 
a batota da noite. 
                                Entrego-lhe 
sem remetente 
o meu sonhar. 







,2019mai_aNTÓNIODEmIRANDA
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ALMA DE PAPEL

 


Tenho tanto medo
mas é segredo
não sei como contar
esta forma de não chorar
que ás vezes
torna a vida
num cozinhado de ampolas
                        Alma de papel
sonhos pendurados
em câmara ardente
neste peito
nunca pronto
para facadas
                        E eu quieto
neste rastejar sem coragem
que  me leva a lado nenhum
                        Alma de papel
cravada na parede traiçoeira
como se fosse este
o jeito de me ausentar
                        Desliguem a curiosidade
quero partir
em sossego


2019jun_aNTÓNIODEmIRANDA
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UM TÍMIDO AUTO_ELOGIO

 


Nunca encenei quaisquer expectativas em relação ao desempenho no panorama musical.

Até porque…

Quanto muito, nunca passaria de um conceituado optimista vendedor de cassetes.








,2024Nov_aNTÓNIODEmIRANDA
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