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quarta-feira, 17 de novembro de 2021

ORA PRO NOBIS

 


ORA PRO NOBIS (1)


Aquele pastor falava muito bem.
Estendia no condão que deus lhe entregou palavras que os ajoelhados gostavam de ouvir.
A importância dos seus gestos coincidia alegremente com a via-sacra, transpirada nas paredes do confessionário, 
assim como uma Cama Sutra animada em silêncio eclesiástico. 
Os pedintes, trajados de cinzento cerimonial, agradeciam a fome que vergonhosamente ostentavam.
Na última ceia, servida com comida vegetariana, os lobos ficaram lá na tenda
& comentavam entre si:
maldita fé que tanto nos atropela.

ORA PRO NOBIS (2)

O dó da piedade enforca tanto
como o nó da indiferença.

ORA PRO NOBIS (3)

Nunca pedi nada ao pai natal.
Os meus pais não tinham dinheiro
para comprar as suas mentiras.

ORA PRO NOBIS (4)

De boas intenções
continua o céu
à espera.


ORA PRO NOBIS (5)


Se sofreres de artroses nos joelhos
e de outros males congénitos,
evita a genuflexão no confessionário.
Nestes casos, e sem receita prévia, 
é permitida a felação.
A via-sacra,
na sua imensa aflição,
ofertará produtos de limpeza.


ORA PRO NOBIS (6)


Não tenhas medo
de contar o teu mais pecaminoso segredo
àquele que com o crucifixo na mão
ansiosamente aguarda a tua chegada.
Dá-lhe tempo,
porque ele 
en-
verga 
uma sotaina
com demasiados botões.

ORA PRO NOBIS (7)

Não ajoelhes
se isso te fizer doer.
Na sua imensa bondade
ele colocar-se-á
num nível adequado.


ORA PRO NOBIS (8)


Deus não dorme!
& se existisse
não teria tempo
para isso.
O seu ocioso rebanho
ocupar-lhe-ia
todos os 
milagres.


ORA PRO NOBIS (9)

A mão que te afaga
nunca pensou
que gemesses tão alto.
Pediu desculpa
por não ter desligado
o microfone.
Também é verdade
que a “glória in excelsis deo”,
de súbito, ficou com um som
estranhamente
roufenho.


ORA PRO NOBIS (10)


É tanta a fé
com que me querem entregar
outro aspirador
que terei de comprá-lo.


ORA PRO NOBIS (11)


Naquela ceia
faltou o rosé,
nem mesmo 
Ele
soube porquê.


ORA PRO NOBIS (12)

A minha conexão com deus
é feita através de um cabo
umbilicalmente
afectado.


ORA PRO NOBIS (13)


Velas a 50 sêntimos
são muito caras
para os meus centimentos.


ORA PRO NOBIS (14)

Deitado nas palhas,
no meio do cheiro
a merda,
não achei nada engraçadas
as mensagens com votos
de uma felicidade
eventual.

ORA PRO NOBIS (15)

Não sei porque
Te
louva
este bando de imbecis
que
só quando tem medo
tenta respeitar a tua
vontade.


ORA PRO NOBIS (16)


O que fizeste ao incenso
e à mirra?
O ouro,
é sabido,
navega,
tranquilamente,
numa off-shore.


ORA PRO NOBIS (17)


As tuas
beatas
são mais nocivas
do que os malefícios
do tabaco.


ORA PRO NOBIS (18)

Não levo a mal
que te confundam
com o
nenuco.


ORA PRO NOBIS (19)


Pai nosso,
vai chamar 
filho
a
outro.


ORA PRO NOBIS (20)


Só um deus
mentiroso
pode absolver
criaturas tão
indecorosas.


ORA PRO NOBIS (21)


Amai-vos
uns aos outros
&
de uma vez
por todas
deixai
de me 
incomodar.


ORA PRO NOBIS (22)


Olhai
para o que eu digo
e nunca para o que faço.
Não gosto de imitações.


ORA PRO NOBIS (23)


Ide em paz
&
que o meu
IBAN
vos acompanhe.


ORA PRO NOBIS (24)


Não posso 
queixar-me do meu padrasto.
Mas não é de bom pai
abandonar um filho
com um futuro tão auspicioso
nas mãos de um simples carpinteiro.



ORA PRO NOBIS (25)

Aquela vaca do presépio
pregou-me uma valente
brucelose.


ORA PRO NOBIS (26)

O burrinho até era simpático
Mas, quando começava a ficar nervoso,
tinha de me afastar
para não ficar com um andar esquisito.


ORA PRO NOBIS (27)


A minha mãe,
com o seu inocente cruzar de pernas
à Sharon Stone,
conseguiu a reforma antecipada
sem qualquer penalização.


ORA PRO NOBIS (28)

Resta-me agradecer
a maneira como fui recebido.
Em verdade vos digo:
não pedi
para ter
aparecido.








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