Quando olho em volta e sinto-me longe do lugar onde gostaria de estar, não perco tempo a pensar se esse lugar na realidade existe. Foda-se! Não tenho culpa que o meu esperma originasse um saco de viagem. Na verdade, embora esteja apaixonado pela auto estrada 64, não vejo nisto uma solução. Tudo começou quando cheguei a casa para jantar e vi pessoas estranhas sentadas à mesa. Elas tinham flores na cabeça, eu sentei-me numa lata de sardinhas & disseram: está louco, temos a certeza. Olhei para o prato e vi que alguém estava lá a acampar. Tirei um macaco do nariz & ele satisfeito, disse: uff! (até que enfim!). Senti-me aliviado, arrotei. Olhei para o chão : o boneco do mosaico estava a engraxar-me as botas! Pelo seu olhar, logo percebi: que bem que arrotas.
Mas eu, algumas vezes sinto-me como um arco-íris ou como um cogumelo & quando olho em volta e sinto-me longe do lugar onde desejaria estar, logo penso que nem todas as pessoas se deviam ejacular. Bolas! Não tenho culpa que o meu esperma originasse um saco de viagem. Forniquei a família depois da sua primeira masturbação colectiva. Sinceramente irritou-me o cheiro do esperma então derramado. Demasiadamente! Abusivamente igual ao cheiro da merda. Além disso, é sempre tempo de partir. Recuso a paragem porque a sombra acabará por me trair. Cago nos contratos da única maneira possível: adiando-os.
Corri os quatro cantos do mundo (é esta a prova de que ele realmente não é redondo), escrevi á rommy schneider (da qual ainda hoje espero resposta),forniquei nos wc`s dos comboios, passei tardes em victoria station a conversar com um índio mexicano que me ofereceu um cogumelo sagrado. Lavei os pés em muitos jardins de renome e importância histórica. Lembrei-me amiúde do conforto de uma cama. Evitei muitas vezes a lembrança da saudade.
& foi então que tu apareceste.
Sinceramente duvidei que fosses tu, embora nunca te tivesse visto. Mas havia qualquer coisa no ar, inclusive as pessoas ficaram admiradas por terem a possibilidade de admirar um arco-íris em plena estação. Fiquei louco, muito louco & por isso beijei-te loucamente. Sim! Cago perfeitamente que me chamem machista ou homossexual, mas apaixonei-me por ti! Como pode alguém apaixonar-se por uma auto estrada? Conhecendo-a!
Não acredito no valor relativo das palavras, (aliás o único que podem possuir). Odeio a palavra possessão!
Bem sei que caminhamos de mãos dadas através destas florestas de betão armado, provas evidentes de um urbanismo paranóico, onde raramente o pôr do sol acontece. Paris Bruxelas Amesterdam Colónia Hamburgo Copenhague Estocolmo Oslo Londres Belfast Biarritz Vitória Barcelona Lisboa, onde o sexo se vende em garrafas, (o de qualidade superior, enlatado), os dentes dos caracóis estão expostos nas conferências e servem para coçar os cornos das pessoas que se sentem com capacidade para os possuir. Todos! Burocratas, políticos, capitalistas, imperialistas artistas e poetas a fingir! As mãos das crianças têm muita procura no mercado : ajudam a tirar a merda dos narizes. Para a merda da cabeça, ainda não há cura, apesar do esforço de um qualquer champô despudoradamente publicitado.
Vá lá… enrabem-se com os vossos poderosos canhões! Dêem às bombas a mesma utilidade que os supositórios vos oferecem! Se tal fizerem, verão que isto ficará um pouco melhor. Quem julgam que são! Onde pensam que estão? Superstars! Estou farto, mesmo muito cansado de vocês. Sei muito bem que as oportunidades que mentirosamente me oferecem, têm um único objectivo : o meu falhanço. Também sei que irei cair. Mas será de um modo diferente.
… da invenção do homem
Depois do homem, o único ser abominável que conheço, é exactamente o homem.
Inteligência? Estupidez? Honestidade? Moral? Trabalho? Escola? Educação? Família? Posição social? Deus?
Vegetem, vegetem, vegetem. Mastiguem à vontade os vossos complexos. Experimentem, experimentem, cada vez mais e mais. Vocês nunca se fartam, tenho a certeza. Ser controlado? Recenseado? Etiquetado? Notado? Tarimbado? Selado? Normalizado? Isso vocês não admitem nem saber porquê. Construam! Construam cada vez mais e mais hospitais manicómios escolas, porque num futuro cada vez mais presente, serão essas as únicas instituições que terão alguma utilidade. Adorem! Adorem, idolatrem cada vez mais e mais o poder. Coloquem-no numa estante e limpem-lhe o pó todos os dias : poluindo, limpa-se a poluição. É esse o vosso lema.
Que me interessa ler jornais que me sujam as mãos e tentam fazer o mesmo à minha cabeça?
Estou farto! Cada vez mais cansado e não me dirijo a vocês com qualquer réstia de esperança.
Sou porco! Suficientemente porco para mijar na vossa merda.
Mas tu nunca mais chegas e eu continuo a pensar. Aliás, é aquilo que me faz hesitar. Vem! Vem depressa, pois embora acredite que o suicídio não tenha dor, sou demasiado covarde para o tentar. Toca-me apalpa-me penetra-me. Faz com que eu te sinta. Nunca disse isto a ninguém, mas a verdade é que estou apaixonado por ti. Mas, tu nunca mais chegas, lembras-te? Então demos as mãos, apertamos o coração e beijamos sítios que depois nos proibiram de pisar. Como vês, aquilo que eu te disse, confirmou-se. Ser diferente implica estar sujeito a duas atitudes: marginalizam-nos ou tentam devorar-nos. Não me perguntes porquê, bem sabes que não suporto perguntas banais,
Era mesmo necessário a separação? Disse-te para me veres quando desejasses, mas merda! Tu nunca mais chegas.
… não vi monstros coloridos, mas senti-me apertado, farto banal. Desejei-te da maneira que tu ainda não compreendeste, ou talvez ainda não sentiste & posso dizer que foi a primeira vez que isto me aconteceu. Senti a crueldade a estupidez a futilidade da existência das distâncias e isso foi o suficiente para me fazer pensar que tu realmente existias. A morfina como sempre ajudou-me, pelo menos da maneira que eu desejei. Surgiste mais calma, exactamente como quando julguei ter uma alucinação ao olhar-te pela primeira vez. Fecha os olhos. É melhor que não me vejas. Não! Não é que esteja com mau aspecto mas acima de tudo neste momento estou fodido. O desejo não deveria existir!
Então eles entraram. Porcos palhaços, justamente como porcos palhaços porcos. Aí senti que não me podia masturbar. Inútil! Tudo é inútil quando sentimos a necessidade da coerência, quando perguntamos a nós mesmos o que fazer quando vemos um monte enorme de trampa e nem sequer temos uma pá impregnada de batota para a destruir. Quando temos uma prova da inutilidade do pénis e da vagina, quando olhamos para uma pessoa, (sim pessoa!) e sentimos a sua dentadura beliscando o nosso corpo, quando estendemos um cigarro com o intencional desejo de uma bala, quando nos olham e sinceramente somos obrigados a sorrir todo o nojo, quando nos dizem adeus & logo pensamos que eles nunca ali estiveram presentes, quando somos obrigados a abrir os arquivos da puta da memória em busca de recordações susceptíveis de nos fazerem ausentar, mesmo que seja por um só momento.
Mas o que é isto? Não, não é uma formula 1. Odeio descaradamente a publicidade. Isto? Ou aquilo, foi uma bad. Vocês são todos uns filhos da puta. Mas eu tive consciência de que isso tinha de acontecer.
Bad trip, fizeste desaparecer o cogumelo que até então tinha no estômago, o arco-íris que há muito tempo contornava o meu corpo. É isso tudo o que lamento. Yah! Mete-o no cú.
Continuamos de mãos dadas. Não sei por quantos quilómetros, mas…
Vamos desejar ser odiados! Imediatamente!
Quando olho em volta e sinto-me longe do lugar onde gostaria de estar, não perco tempo a pensar se esse lugar na realidade existe. Que o meu esperma dê origem a um saco de viagem!
…Do chuto
Cocaína nas minhas veias, sol espreguiçando-se no parapeito dos meus olhos, speed nas minhas mãos o brilho reflecte-se no meu cérebro. Acontece o silêncio. Ó único que aceito. Mas o ruído torna-se audível embora eu queira acreditar que daí nada poderá surgir. A hora do lobo. O gesto não foi consequência do pensamento e sinto que dum momento para o outro, estou cercado de espelhos que não me mostram o personagem que eu quero. O delírio deixa de sofrer alterações e tudo volta à normalidade. Uma normalidade que acima de tudo continua a limitar-me. Ámen!
O arco-íris é a alucinação dos pobres!
Daqueles que apelidam de loucos, os que se apaixonam por uma auto estrada. Daqueles que tomando dietilamida do ácido lisérgico, pensam poder sentir o pôr do sol na cabeça, comunicar com seres extra ou não terrestres, utilizar nas suas deslocações sempre denunciadas pela sua própria limitação, naves espaciais & depois desiludidos porque nada disto acontece, atiram-se do rés do chão e geralmente conseguem fisicamente não morrer, ou formam normalmente a nova polícia. Oferecem-me um prazer indiscutível: a banhada.
Que faço eu aqui?
Estou no intervalo de um filme. Recusei ser mais um artista nesse elenco.
É duro! Bem sei que é duro de dizer, mas nunca amei em vão. Tão pouco poderei colher os frutos dum possível fracasso. Continua-se a dar demasiada importância às palavras & por isso mesmo as contradições continuam a existir. Eu acabei agora mesmo de ler as instruções referentes ao uso do tampax: sinto-me menstruado e continuo a queimar as etiquetas dos cigarros & o telefone teima em acordar-me todas as manhãs.
Não é preciso ser meteorologista para saber de que lado sopra o vento. Não sei se alguma vez te disse isto, mas continua a não te importares.
Depois! Bem, depois uma beata apagada um charro na boca uma grande pedrada & logo pensas que a solução está na química. Também costumas politifalar, mas estás certo: comunismo, e fascismo afinal são duas formas de poder & o poder só serve para nos foder. Eu? Bom, eu continuo a querer matar-te.
… drogo-me, drogo-me não! Fico porreiro sempre que tenho oportunidade & meter-te o dedo no ânus, já não me dá prazer! Bem sabes que não te posso dizer o que acontece quando um homem ama uma mulher, tal como considero nula a existência de todos os poetas & não me agrada nada que os submarinos soviéticos continuem na minha banheira. & porque te beijei e nos meus lábios nasceu uma borbulha, a partir de então prometi não beijar nunca mais o teu corpo, excepto na...boca. Além de mais que interesse me dá o acordar todos os dias, se vejo paredes nuas ou miseravelmente enfeitadas, com uma única saída: a futilidade do quotidiano.
… De um país por mim lamentado
Aqui perco-me com dias iguais descoloridos aqui a alegria dá lugar a um lamento constante aqui a ânsia da liberdade é a sucessão das horas dias anos aqui o grito de revolta á mudo aqui o sorrir é mecânico como mecanizados são todos os gestos aqui o obedecer é o contestar silencioso, nas costas de quem nos manda, com um sorriso nos lábios, aqui o estudar é futuro como posição social, aqui a esperança é sempre uma palavra agredida pela futilidade dos homens, aqui o amor é o jogo de cama inventado pela sociedade num momento de ócio, aqui não haverá memória para dias felizes.
Não me sigas! Eu também estou perdido. E vocês não digam que estou errado! Era jovem quando saí de casa.
… Da negação do existir
Sou filho da guerra do ódio da miséria e do pecado que não fiz minha irmã é a noite que nunca mais termina é a dor inventada a boca asquerosa que não pensa nem sabe aquilo que diz minha vida são as grades que eu como os covardes não consigo quebrar os meus braços são tenazes que apertam os meus desejos e destroem a minha ânsia de amar os meus olhos são a alegria simulada de uma ambição frustrada que eu teimo ainda em pensar os meus beijos são despejos manias fumo exibição o meu pensamento é tempo é o vento da vida que eu não vivi sou homem objecto sou produto para consumir sou futuro sem presente sou a negação do existir.
… O tempo morreu, mas o cerco aperta-se a fuga é eminente a ambição desapareceu. Merda é o poema! Contudo é urgente libertar o sol para que as estrelas possam de novo dançar. Que os pássaros ensinem o mundo a amar.
… amor às 6 da tarde
Ela Movia-se como um anjo Levei-a ao restaurante chinês E comemos amor.
Com a face Bastante rosada Falei-lhe do Nevoeiro de Lisboa Contrastando fortemente Com o sol radioso de Londres Ela riu-se E eu Perguntei-lhe Se já tinha visto algum santo Cortar as unhas. Chamou-me doido E foi à casa de banho Tirar o penso higiénico Tirei a bota do pé esquerdo Para ver as horas Ela, admirada Perguntou-me porque não usava O relógio no pulso. Disse-lhe que não tinha braços.
Levei-a ao restaurante chinês E comemos amor.
Gostas de mim? Gosto. Porquê?
Ezra Pound é fantástico
Amas-me? Amo-te. Porquê?
Os estados unidos estão em decadência
Queres-me? Quero-te. Porquê?
Na Rússia não há páginas amarelas
Desejas-me? Desejo. Porquê?
Sou parvo.
Mas Ela movia-se como um anjo
E dizia que odiava o sistema Mas prazer e amor
Continuavam a ser esquema.
…Mas
A vida é bela, passada à janela vendo a manela chupando um pau de canela olhando para a panela, no mar: uma caravela e a prima da manela também é bela. Olha, lá vem ela. Como é bela a vida a manela vista de uma janela.
… A desculpa
Não tenho o direito de vos chamar porcos estúpidos e maus. Nem lamento sentir que são isso tudo & muito mais.
… De um happening sobrenatural em Lisboa
3 três Submarinos Soviéticos
Juntaram-se No Aqueduto Das Águas Livres
Para Fazerem 1 um Piquenique
& Devoraram 1 um Destroyer Americano
… De um requiem por todos os poetas descalços
Nada! Para além dum bolso repleto de sonhos. Duma prática quotidiana abusivamente condicionada por um certo ritmo de consumo, de posições motivadas pelo próprio sistema. Ou uma traição consciente mas sempre traição a mim mesmo. Não! Não quero ser dos que ficaram pelo caminho. Poema é a pena de eu não ter pena de escrever o poema.
Mas, não te chateies : eu sou o único poeta que pode mijar na tua algibeira.
,1976_aNTÓNIODEmIRANDA
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