_ Almirante Reis_ Cais do Sodré
Morre.
Morre depressa.
A tua vida é um empecilho.
Só te prometo uma bala rápida
para alegria do gatilho.
Desaparece.
A tua pena enoja-me.
Nada do que quero podes oferecer.
Vives na tenda dos milagres encardidos.
Morre.
Não me faças perder tempo. Não me interessa o teu lamento, nem esse olhar agradecido pela miséria que te ofereço. Nada pagaste das mentiras que vendi. Serás sempre aquilo que não presta. Uma oração falida, nunca ouvida pelo deus que comprei. A tua mão estendida não vale um cêntimo de compaixão. Tens a fome que mereces. De nada adiantaram as preces enroladas no teu desespero. Eu sou agora o teu único deus. O prometido. Chevrolet rompante - jantes douradas no prazer que te roubei.
Morre.
Só pode ser essa a tua última vontade. Não desiludas a ideia. Farei de ti um oásis farpado, embrulhado na bandeira que te pariu. Morre como quiseres. Mas, sempre de acordo com a minha necessidade. Morre. Ergue as lágrimas para o meu céu estrelado. Arfa na forca o último orgulho. Ajoelha para as chicotadas que te ensinaram a falar. Sê discreto. A sobriedade é uma das qualidades que aprecio.
Se me vou lembrar de ti?
Se calhar, não me apetece.
Morre!
“desobedecer é uma declaração de humanidade”
,2020Jan_aNTÓNIODEmIRANDA
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