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quarta-feira, 20 de novembro de 2024

A PONTUALIDADE DA TUA AUSÊNCIA JÁ NÃO ME SURPREENDE



 A memória já não bate a esta porta 
e a fragância que lhe ofereci 
também não está disponível.

O fascínio mora ao lado. 

Assim está escrito na cicatriz da mágoa.
Vai sem voltar 
este secreto desejo 
de teimosamente ainda te sonhar.


,2023Nov9_aNTÓNIODEmIRANDA
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quinta-feira, 14 de novembro de 2024

A SENHA DA ESPERA

 


É aqui que me acho
na desordem das palavras
que escorrem dos livros.
É aqui que falo
e combino a fuga
para as asas que me podem salvar.
É aqui, neste silêncio vomitado 
que calco todas as tonalidades do nojo 
que pretende lavar a minha indignação.
É aqui que decoro labirintos
desenho os cenários da contradição
e morro na impossibilidade
habitualmente tentada. 
É aqui, neste alforge desabitado
que debito soluços 
que, 
pensei, 
já não me pertenciam.
É aqui,
que retiro da vida 
a senha da espera.






,2019nov,10_aNTÓNIODEmIRANDA
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2

 


Como poderei beijar o teu corpo 
tão ateu como o meu? 

Ai meu amor estamos tão perdidos 
que não nos deixam morrer como deve ser. 

Agora não sei como esperar outras luas 
mesmo com significados traiçoeiros.
 
A verdade é que fomos dois números 
com hipotenusas nem sempre mentirosas. 

Beijo-te os seios 
continuamente como se fosse um desejo 
que virá tardiamente depois da nossa aparição. 

Esperaremos o dia 
para que violetas agradecidas
embelezem os nossos desesperos 
escondidos em lençóis 
que mancham o nosso encontro. 

Tanto nos amamos 
e ardemos numa febre 
que queima a indiferença que nos difama.



,2016,03aNTÓNIODEmIRANDA
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Yesterday Morning

JIM MORRISON & JOHN LEE HOOKER

domingo, 10 de novembro de 2024

FOGE-ME DE REPENTE O ALENTO

 


Correm as memórias no assassino voar 
do tempo.
    Sei que a vida é um sequestro permanente 
pairando no tempo que nunca esperamos 
acontecer, porque abandona maliciosamente 
a noite dos sonhos pré comprados 
nas eleições do último céu.
    É sempre uma lide desigual na 
nuvem onde repousam o júbilo e a tristeza. 
    Quem poderá cuidar da solidão do 
mundo? 
    Onde se terá escondido a 
benevolência?
    É tão triste esta música solfejada 
no rosário das súplicas como se a esperança 
    não fosse a mais espancada das palavras. 
Sinto que não tenho todo o tempo e as 
condolências que cortejam a angústia 
cada vez mais atrevida, tentam disfarçar 
a insensatez de um qualquer porvir.
    Triste razão que teima o afastamento 
que necessito. 
    Bagatela perfumada que queima 
o azedume onde não me quero deitar. 
    Ó paraíso das memórias interditadas, 
que fogo é este que me entregas?
    Quem te falou deste desejo? 
    Quem te mentiu quando disse que 
o credo que exibo não passa de uma 
trapaceira mania? 
    Habito uma solidão que renego descrever. 
    Continuo teimoso que nem um raio 
sempre pronto para incendiar 
a inquietação que me castiga. 
    Sentado no patamar da tristeza 
a celebrar o reportório das vontades 
que perdi. 
    A minha alma é um declínio em constante 
ebulição.
Quantas verdades a vida terá de iludir? 
Quantas vezes os tiranos deverão morrer? 
Revolta refractária, 
pensamento errando na auto-estrada. 
Agora um tapete de gritos alisa a cara 
na almofada dos medos e rouba 
a inocência que tanto me custou a ganhar. 
Efémero recluso, desafiando o
 acordar contrariado, ferida constante 
no desarranjo que escolhi. 
Na única coisa que posso mentir 
há uma dor adormecida pelo canto da agulha. 
        Vou apanhar-te e oferecer este meu 
sofrimento. 
A coragem nunca poderá morrer.




,2024Nov_aNTÓNIODEmIRANDA
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ABENÇOADO CÂNTICO FINAL

 


Mudei todo o sentido.
Inventei outras vidas mas nunca perdi 
o meu nome.
Furacão de emoções retirando poesia das 
estantes enquanto emocionados anjos 
estendem a magia das palavras… 
Ó delírio celestial, por onde tens fugido? 
Aguardo com a esperança possível 
o enlace da tua chama. 
Ó beleza que sei jamais serei capaz 
de compor, porque teimas em não acampar 
na minha vontade? 
Sou unicamente um amigo da tua velha 
solidão. 
Vagabundo dos sons do silêncio 
que nos cercam. 
Nada é razoável nesta jornada 
de desencontros adiados. 
O “casting” conformista viajou 
para os intensivos cuidados da 
atrapalhação. 
A carruagem segue outro caminho. 
Alguém dormiu para longe do nosso 
acordar. 
Deslumbramento sabiamente ignorado. 
E no permanente conflito, 
o mundo da ignóbil humanidade 
espalha a vergonha sobre o sombrio 
abismo. 


,2024Nov_aNTÓNIODEmIRANDA
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