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quarta-feira, 30 de julho de 2025

NECROLÓGIO DOS DESILUDIDOS DO AMOR - Carlos Drummond de Andrade (31 Out 1902 // 17 Ago 1987)

 

Os desiludidos do amor
estão desfechando tiros no peito.
Do meu quarto ouço a fuzilaria.
As amadas torcem-se de gozo.
Oh quanta matéria para os jornais.

Desiludidos mas fotografados,
escreveram cartas explicativas,
tomaram todas as providências
para o remorso das amadas.

Pum pum pum adeus, enjoada.
Eu vou, tu ficas, mas nos veremos
seja no claro céu ou turvo inferno.

Os médicos estão fazendo a autópsia
dos desiludidos que se mataram.
Que grandes corações eles possuíam.
Vísceras imensas, tripas sentimentais
e um estômago cheio de poesia...

Agora vamos para o cemitério
levar os corpos dos desiludidos
encaixotados competentemente
(paixões de primeira e de segunda classe).

Os desiludidos seguem iludidos,
sem coração, sem tripas, sem amor.
Única fortuna, os seus dentes de ouro
não servirão de lastro financeiro
e cobertos de terra perderão o brilho
enquanto as amadas dançarão um samba
bravo, violento, sobre a tumba deles.


Carlos Drummond de Andrade, in 'Brejo das Almas'





segunda-feira, 28 de julho de 2025

MARIA JOSÉ PALLA (30 de julho de 1943 Falecimento: 27 de julho de 2025). LisboaTive o enorme prazer de conhecer esta Senhora!

 



Maria José Palla.
 Académica e fotógrafa. É professora jubilada da Universidade Nova de Lisboa. Viveu muitos anos em Paris como exilada onde se doutorou na Universidade de Sorbonne e se diplomou na École du Louvre. É autora de numerosos livros e artigos sobre Gil Vicente e a pintura portuguesa do Renascimento.

sábado, 26 de julho de 2025

HARAKIRI SINCRONIZADO

 



Desço num compasso atrasado 
a avenida da adolescência, 
nesta saudade abraçada a velhos blues 
e palavras escorridas dos livros 
que me ensinaram o caminho. 
Junto perspectivas nesta gamela, 
e misturo fermento crescente 
com a precisão que fui adquirindo. 
Disparo certeiro nesta bala descaída 
que beija o tiro que continua a ferir-me.
Free like a shot from my gun.
Rosas retardadas para os dias sempre hipócritas, 
descansam num jazigo à toa escolhido, 
onde apresento o mais infiel dos bluffes
Há coisas para que não tenho jeito algum. 
E lubrificar cãibras é uma arte que a mim me falha. 
Que deus me valha!
Ok! Não atirem todo o bónus para cima de mim. 
Aprendi a jogar poker num SPRECTRUM ressabiado 
que com todas as vírgulas caluniava a minha batota. 
E eu até pensava que era bom. 
Claro está, menos nos desenhos a tinta-da-china. 
Borrava sempre a pintura e o MAO nunca achou lá grande piada. 
Apresentei-lhe um novo álibi para a grande muralha, 
mas infelizmente embebedou-se com um certo vinho de MONÇÃO
Águas passadas enferrujam qualquer canalização, 
e o seguro, de tanto reumático, 
já não cobre todos os riscos.
Ok! Desisto!
Vou voltar para o império das mentiras, 
afiar a Muramasa e derramar um carpaccio 
com a pele do teu desejo. 
Perfumado com KENZOimprimirei em photo paper gloss
HAIKUS banhados no tinteiro das palavras bonitas.
Claro que não é o fim. 
Ainda resta o estrangular dos teus lábios 
no meu ossário defeituoso. 
Viveremos felizes para sempre, 
desde que um qualquer deus curioso 
não inveje a nossa cumplicidade.
A avenida da minha adolescência não está programada no GPS
e o tacógrafo da minha esperança, foge da animosidade 
da brigada dos costumes sonolentos. 
Corto as pontas das setas, escondo os alvos 
e escrevo certas palavras ao contrário, 
só para inglês ver.
Embalo com todo o cuidado, 
estes cacos etiquetados com proveniências duvidosas 
para vender na feira da ladra.
É bem verdade que não têm tido muita procura.
Mas deus nasce, o homem sonha e a obra dorme.


,2017,abr_.aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com

quinta-feira, 24 de julho de 2025

24JULHO_1981 COISAS DO TEMPO (1)

 


Claro que os anos passam!

Mas o tempo,

Que muitas vezes é nosso amigo,

Faz o favor de parar

Para assim melhor admirar

As pessoas especiais.


.2014antóniodemiranda
poemanaalgibeira.blogspot.com




sexta-feira, 18 de julho de 2025

NAQUELA JANELA VIRADA PARA O BAR

 


Fora do sonho, os anos humedecem a vida 
numa ligação preciosa para o particular infinito.
O tempo ainda permanece exibindo nas teias 
lembranças gravadas nos destroços.
Despedem-se na esperança, de que a realidade ofereça outras visões.

            Naquela janela virada para o bar,
o alento passo-o muitas vezes num delírio de mortalhas.
(A minha fama ficará gravada numa pedra abençoada onde os cães da Irmandade da Boa Escolha poderão fornicar). 
Não importa a idade!  
            (Actividade não sujeita ao IMI - Imposto Miserável da Inteligência). 

            Naquela janela virada para o bar, 
deslizo nas cenas do filme repetido, performances alheias à minha vontade.
(Quantos modos cabem na estátua dos medos semeados nos degraus do desânimo)?
Sobreviver muitas vezes deveria ser considerado uma coincidência malparida.

    Naquela janela virada para o bar,
ignoro as colagens de ignorância sobre práticas untadas com crença acidental
Ei, pesadelo, canta outro sonho. 
Já não sou o adolescente dos lençóis de ketchup
Há muito que acordo abraçado ao banco das folhas caídas.

            Naquela janela virada para o bar,
é monstruosamente sublime o diálogo que me conduz ao ninho.
                    (A beleza é um simples atrevimento, costumam grunhir os maldizentes).

Naquela janela virada para o bar, 
há um sopro que me escreve  lágrimas de sargaço. 
                (O que foi feito de mim, pergunta a adolescente saudade espalhando no seu esquecido saber espumas de água e sal).
Quando a circunstância que vivemos 
é o fiel espelho daquilo que só fingimos no papel, olhamos com desdém um teclado farto de aturar as nossas feridas.

                                            Pois não há que ter medo! 
                                                Alguém se lembrará do segredo…





2025Jul_aNTÓNIODEmiRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com

JANTADO_17JUL2025

 






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