Correm as memórias no assassino voar
do tempo.
Sei que a vida é um sequestro permanente
pairando no tempo que nunca esperamos
acontecer, porque abandona maliciosamente
a noite dos sonhos pré comprados
nas eleições do último céu.
É sempre uma lide desigual na
nuvem onde repousam o júbilo e a tristeza.
Quem poderá cuidar da solidão do
mundo?
Onde se terá escondido a
benevolência?
É tão triste esta música solfejada
no rosário das súplicas como se a esperança
não fosse a mais espancada das palavras.
Sinto que não tenho todo o tempo e as
condolências que cortejam a angústia
cada vez mais atrevida, tentam disfarçar
a insensatez de um qualquer porvir.
Triste razão que teima o afastamento
que necessito.
Bagatela perfumada que queima
o azedume onde não me quero deitar.
Ó paraíso das memórias interditadas,
que fogo é este que me entregas?
Quem te falou deste desejo?
Quem te mentiu quando disse que
o credo que exibo não passa de uma
trapaceira mania?
Habito uma solidão que renego descrever.
Continuo teimoso que nem um raio
sempre pronto para incendiar
a inquietação que me castiga.
Sentado no patamar da tristeza
a celebrar o reportório das vontades
que perdi.
A minha alma é um declínio em constante
ebulição.
Quantas verdades a vida terá de iludir?
Quantas vezes os tiranos deverão morrer?
Revolta refractária,
pensamento errando na auto-estrada.
Agora um tapete de gritos alisa a cara
na almofada dos medos e rouba
a inocência que tanto me custou a ganhar.
Efémero recluso, desafiando o
acordar contrariado, ferida constante
no desarranjo que escolhi.
Na única coisa que posso mentir
há uma dor adormecida pelo canto da agulha.
Vou apanhar-te e oferecer este meu
sofrimento.
A coragem nunca poderá morrer.
,2024Nov_aNTÓNIODEmIRANDA
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