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quinta-feira, 17 de outubro de 2024

NO BECO DAS INTRUJICES

 

Nem tudo o tempo rouba embora não se canse de sujar os caminhos do nosso conforto.
E nas ondas que conduzem a única viagem bastas vezes tentamos ignorar tal convite.
O desassossego é o nosso número permanente.
Há um som escrito na derradeira palavra perante o olhar defeituoso sempre pronto para desrespeitar a vontade final.
Ninguém escreverá nos restos que nos tornam assim. 
E esta nuvem, que só ausências consegue anunciar? 
Esta morte, traçada em rabiscos de infortúnio ampara a inacabada troca de desaires com a inconsolável salvação. 
A espera é a mais ultrajante perspectiva para os duelos que nos esperam. 
Não é de todo estranha a escassez de respostas para apaziguar a realidade. 
A colina está cada vez mais próxima.
A gentileza das sombras aplaude o já lento acontecer. 
Várias vezes choramos o desapontamento, cheiramos o perfume errado, barramos a cabeça com cortes escritos na pele. 
Julguei-me o tal Deus com futuro duvidoso, sempre mal cotado na bolsa das conveniências, qual triste “entertainer” assiduamente mal pago. 
Atrevidamente clandestino na Santa Casa da Lástima. 
A Junta da Freguesia da Piedade poderá testemunhar tal desempenho. 
Orações controversas pintaram na areia a possível beleza das palavras sem ressentimentos bafientos.

Que poderei fazer com este convite? 

Jogar às escondidas no antro das irremediáveis desilusões? 

Continuar a distração no beco das intrujices...




,2024Set03_Vila _aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com

LONGOS DIAS PODERÃO TORNAR OS ANOS MAIS CURTOS

 


Assim poderá o sol atender outras vozes 
e entregar o requintado bem-estar 
na retrosaria menos manhosa.

E no beco que encobre a noite,
convidar para o sagrado piquenique,
O Hálito dos Deuses.

Há muito que nisto deixei de acreditar.

Se tenho saudades?

A memória já não mora comigo.

Sabes eu ainda passo muitas noites a latir.





,2024Set03_Vila _aNTÓNIODEmIRANDA
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NEM TODOS OS RIOS ME SECARAM

 


Já só consigo ser
o nefasto apetecer
do que resta da memória.


                    Quando bastava um desenho
                    colorido pelas ideias felizes
                    um abraço com sabor 
                    a uma qualquer colectânea de boas 
                    maneiras




,2024Set30_aNTÓNIODEmIRANDA
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NÃO ANDO COM O COLAR DOS MEDOS AO PESCOÇO

 


À noite a sorte dança ao lado da minha 
sina.
            Segui-a até ao paraíso 
            com uma estrela escondida na viagem.
O letreiro anunciava “admissão esgotada” 
             É difícil acertar o calendário das ausências 
            entorpecido no almanaque da penitência. 
Da sorte do futuro do mundo está tudo escrito. 
            Coisas da morte. 
                        (estes sorrisos para adornar 
                                                os passos do fim).


,2024Set16_Vila Chã _aNTÓNIODEmIRANDA
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MEMÓRIA REVISITADA

 


Por vezes

Lembro-me

E

Afasto

Tal

Inquietação 

Até

Que A

Memória


Me

Visite



,2024Set08_Vila Chã _aNTÓNIODEmIRANDA
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NA VARANDA DOS OCASOS

 


Adeus ó vida. Vou fugir.
Já não conto os passos. É só isso. 
Nada mais tenho para falar.
Desejaria amar-te mais do que a verdadeira possibilidade, mas este assassinato resgatado da desilusão, rouba dia após dia pingos da esperança restante. Rasguei a rendição da dor. Nada já sou naquilo que atrevi ousar. Nem sequer a simples ideia das possíveis opções. Já não atendo a audácia do voo que até então adormecia na inocência que supostamente me baptizou. E na valsa da tristeza, amada nos sonhos de areia, gentis abraços da guitarra amiga mostravam espelhos do mais autêntico alento.
Não! Não! Não!
Não fui eu quem traiu a generosidade.
A ignorância, bordada na almofada da contagem final, segura a mão do anjo clandestino erguendo um ronco para anunciar o prognóstico dos dias que nunca mais conseguirei abraçar. Já só sobra o cheiro do sonho prometido. 
A porta está aberta. Mas o pesadelo dorme no infinito tempo dos perdedores. Não posso sentar-me e simplesmente esperar.
Na varanda dos ocasos desfila o ramalhete da agonia a caminho do vale do silêncio habitado pela crueldade infligida.


,2024Set03_Vila Chã _aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com

NADA É SIMPLES NESTA ILUSÃO

 


Para quem atravessa a vida com o tímido passo 
na espera do comboio dos sonhos do oásis.

Onde dormirei esta noite perguntou 
a estrela desencantada
à traição do serpenteado emplumado. 

Acamparás onde o luar das noites secretas te acomodar.

E o relento vadio velará a alcofa do teu fado.

Alguém escreveu que o cemitério é o descanso da vida.

Agora todos os caminhos traíram a escada do paraíso. 
Há um falar que recusa ouvir a colecção dos fracassos para desculpar o rosário de dramas. 

Despejados na cama dos abraços desalmados, nós desavindos toldam o adormecer. 
Nada é simples nesta ilusão.



,2024Set_Vila Chã _aNTÓNIODEmIRANDA
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