Pesquisar neste blogue

domingo, 3 de novembro de 2024

TALHO E DELICADEZAS

 


Ser calista foi meu sonho 

Mas não foi esse o meu fado 

Fui parvo e só por isso 

Entreguei-me ao imprevisto 

E comecei a andar desconfiado

Não chorem por mim, não chorem 

E também não tenham dó 

Ao princípio custou um bocado 

Mas agora que estou habituado

Nunca mais me senti só




,2024Nov_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com

LÁPIDE PREMATURA...

 




sábado, 2 de novembro de 2024

COM QUE ENTÃO DIZES QUE SOU POETA!

 


E eu aqui, sentado na despedida da memória, a desviar o degrau da desilusão. Tenho nos dedos todas as palavras que não quero. Uma ardilosa ferida salpica os passos que penteiam o inconveniente convite. Falo-lhe deste cansaço num envergonhado supor, só para disfarçar a dor que me despede. Não acredito nas promessas oferecidas pela sombra desconfiada.
Mereço outro tipo de indignação.
COM QUE ENTÃO DIZES QUE SOU POETA!
Esta alma já não me habita. Um velho caminho acompanha o meu alento. Uma fúria inconsolável sacode o coração de pedra que não pára de chorar gotas de zombies caídas dos crucifixos mal-educados.
COM QUE ENTÃO DIZES QUE SOU POETA!
Todas as possibilidades fora de mim não têm de ser um filme. Eu apenas tento sobreviver fora da aberrante léria cultural dos nomeados pelos ministérios reguladores do narcisismo literário.
(herança apodrecida no corredor dos ornamentos contaminados do museu da pobreza poética).
Nunca renego a lucidez insubmissa que celebra a contrafacção dos propósitos inúteis.
COM QUE ENTÃO DIZES QUE SOU POETA!
Agora arranho sonhos vazios que só falam mentiras.



,2024Nov_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com

sexta-feira, 1 de novembro de 2024

O EPITÁFIO PREFERIDO

 


Mais de 3800 coisas escritas

(que 
Bela 
Incineração 
Me 
Espera)...








,2024Nov_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com

DENTRO DO MEU TEMPO

 


Há um sangue de côdeas,
e a réstia da esperança
escondida na almofada dos
pesadelos.
Uma conta com saldo duvidoso,
um punhal que estripa migalhas,
um aceno sem fim - 
para aquilo que  teima em não desaparecer.
Há uma glória de origem falsificada, 
um quebra-horas abandonado, 
um cubículo semeado de estrelas 
que nunca acontecem.
Dentro do meu tempo,
fico indeciso no agitar da bandeira 
que me ignora.
Dentro do meu tempo,
cabem os restos do nada
com que me
multipliquei.
Dentro do meu tempo,
há um catavento que singra
gotas de desespero.



2019out_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com


DIZEM QUE SOU UM GAJO COMPLICADO

 
Dizem que sou um gajo complicado,
mas, eu afirmo convictamente, que os deuses não são os meus únicos inimigos.
    Dizem que sou um gajo complicado, mas, a grande verdade, é que não tenho a memória fraudulenta.
    Dizem que sou um gajo complicado, mas, o que não dispenso mesmo, é o boogie do senhor John Lee Hooker. 
    Dizem que sou um gajo complicado, mas, entreguei-me todo a cristo, e, nunca mais fui o mesmo.
    Dizem que sou um gajo complicado, mas, estar sempre de bem comigo é uma preocupação que já não me aflige.
    Dizem que sou um gajo complicado.
Será porque guardo o meu mundo num porta-moedas?
    Dizem que sou um gajo complicado, mas,
ainda não agasalho o cérebro com um capachinho.
    Dizem que sou um gajo complicado, mas, não sou fã da paciência fumegante.
    Dizem que sou um gajo complicado, mas,
não consigo aplaudir uma banda de não fumadores.
    Dizem que sou um gajo complicado,
mas, não enrolo lenços com palavras escondidas.
    Dizem que sou um gajo complicado, mas,
embrulhar adornos, será sempre um passatempo inútil.
    Dizem que sou um gajo complicado, mas,
condicionante nunca será a opinião com que me observam.


,2019nov,10_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com