Esta varanda não tem mar, mas deslumbro o tropel das suas ondas. O quarto crescente da lua para mim sempre nova, observa-me indignado pela minha curiosidade. Conto as estrelas, cem de cada vez. Mas não tenho cabaz para as guardar. Lá longe, rasguei a cidade, e sinceramente não tenho saudades dos seus pornográficos outdoors. Gosto deste tempo amigo, que me desafia a discordar dos relógios sem alma. Tardam a chegar a Jaqueline e o Rodolfo Vila Chã, que nunca falham a visita nocturna, para açambarcar os restos que espalhei. Um de cada vez. O respeito é fundamental. E disto, eles percebem muito mais do que eu. Passo os dias tranquilos, (o senhor Lawrence Ferlinghetti, sabe do que falo), neste patamar ancorado na gratidão de nada ter de justificar. As coisas simples só se tornam grandes, quando honramos a memória de quem as tornou possíveis.
E o que dizer destes sons que iluminam o silêncio para nos deitar? Uma leira de couves apontadas para o Natal, a vindima sem uvas por onde se lhe pegue, a inocência das oliveiras despidas do tempo que as abrasou. Escuto um lamento resignado à vontade de não viver, um olhar perdido no cheiro bravo-de-esmolfo.
A vida do campo é bela, o carago!
Provem a angústia da esperança ofendida, metam os olhos na enxada, a indiferença dos inquéritos dos não entendidos na matéria.
Este país é só para as Alices.
As maravilhas só acontecem na televisão.
Nuvens cinzentas?
Já foram prenúncio de chuva.
2018Set_aNTÓNIODEmIRANDA
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