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segunda-feira, 26 de outubro de 2020

ALTIFALANTE

 

Atenção senhores 

passageiros: 

a desolação     procedente     da realidade, efectua paragens em     todos     os     destinos.



,2020Out_aNTÓNIODEmIRANDA

Diane Di Prima

 MEMÓRIAS DE UMA BEATNIK

Eu e a Diane Di Prima

Num quarto escuro

E com a televisão apagada.

Não me lembro!

Será que foi mentira?

Queimámos artifícios de poemas,

e com a ajuda das barbas do Allen,

escalámos uma parede do Chelsea Hotel.

Lá para os lados de Brooklyn,

Timothy Leary procurava fósforos ungidos,

para aquecer a neve que lhe fugia dos pés.

Em Central Park,

esquilos simpáticos ofereciam rugas do velho jazz,

embrulhadas em papel de amendoim.

O sol acordou tarde naquele dia.

Tinha estado numa jam com Charlie Parker.

Eu e a Diane Di Prima

Num quarto escuro.

Há invenções

que me permitem

o sonho.

,2017mai,aNTÓNIODEmIRANDA




domingo, 25 de outubro de 2020

AMANHÃ,SE FOR SEXTA-FEIRA

 mOLDES _sOMBRAS

lATIDOS a fUGIR

sOU uM cÃO pENDURADO.

O mARTELO dO bATE-cHAPAS

aNUNCIA o úLTIMO pLESBICITO 

cREDÍVEL.

fALA cOM aS nUVENS nO cENÁRIO dOS oPOSTOS.

aMANHÃ,

sE fOR sEXTA-fEIRA,

uM pOETA cOMO dEVE sER,

eSPERARÁ oUTRO dIA.

&

oS pOETAS sABEM 

qUE eSTAS hORAS,

dORMEM sEMPRE

aTÉ mAIS tARDE.

2018Abr_aNTÓNIODEmIRANDA

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

No blog do Miguel Martins.

http://cachimbodemilho.blogspot.com/2020/10/margarida-vale-de-gato-no-publico-de.html 

O ANJO AZUL

 Não sei que dias têm estas horas.

Há muito que detesto a imposição do tempo.  

No orvalho que vivo, aqueço sempre que posso 

a fugaz presença do pretenso lamento. 

Agradeço amiúde a possibilidade 

de continuar a ser eu, 

malgrado todas as ausências 

do mais sentido de mim. 

Corro com o momento 

no passo por nós permitido. 

Às vezes sem sentido. 

Quase sempre desafinado. 

São só músicas minhas a mania deste meu fado. Não procuro nada de novo. 

Tenho de conhecer aquilo que ignorei. 

Gosto da solidão amigável. 

Houve momentos em que estive na minha cabeça 

e logo pensei que não envelheceria. 

Abafava os egos com quezílias de canela 

e limpava a memória com esfregões impregnados do mais audaz after shave. 

O creme de barbear cansado de tanto esperar, 

não falhava um único conciso golpe, 

roído de ciúmes pela importância de uma lâmina desconhecida. 

Era sempre pela manhã que partia perene 

para a viagem habitual. 

O anjo azul fumegava na velha tv. 

Lampiões com asas pregadas no chão 

agarrando películas do metro 

antes da meia-noite. 

Era no tempo em que fingia telefonar, 

visitando as cabines envidraçadas 

só para afugentar o frio.

,2017jan_aNTÓNIODEmIRANDA

sábado, 10 de outubro de 2020

REQUIEM POR TODOS OS POETAS DESCALÇOS

 

Nada

Para além

De um bolso 

Repleto de sonhos

Uma prática 

Quotidiana

Abusivamente

Condicionada

A um certo 

Ritmo de consumo

De posições 

Motivadas

Pelo próprio sistema

Ou

Uma traição consciente

Mas sempre

Traição a mim mesmo.

Não !

Não quero ser 

Dos que ficaram pelo caminho.


O poema ...

O poema é a pena

De eu não ter pena

De escrever o poema.

Mas ...

Não te chateies :

Eu

Sou 

O único poeta

Que 

Pode mijar

Na tua algibeira.


, aNTÓNIODEmIRANDA


quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Ó GLÓRIA, QUE SONHOS ME PROMETESTE?

 Deixaste a saudade nos meus ombros, quando pensei que irias aquecer as ausências que me ofereces.

O amor não terá que ser um caminho sujo, nem o desejo um sentimento mudo.

Plantamos a árvore das mágoas.

Resta-nos esperar nas curvas do vento as palavras que julgamos, não nos enganariam, e colher martírios no nevoeiro malicioso. 

Rastejamos na morte lenta, as bebedeiras que taparam os caminhos.

Quando dizem que não te amei, talvez seja uma mentira maior do que a minha certeza. 

As coisas boas da vida, rapidamente não querem nada com ela.

As nossas intenções nunca serão tocadas nas noites do boogie-woogie.


,2020Set_aNTÓNIODEmIRANDA


sábado, 3 de outubro de 2020

A BATOTA JÁ NÃO FUNCIONA

 Entrega-me o tempo o álbum dos sorrisos esquecidos,

a alegria efémera do prazer engarrafado.


Para onde fugiste música triste,

cansada da espera dos tempos alegres?

Sinto saudades dos abraços enleados 

nas promessas que juravam 

nunca iriam separar-nos.

Tudo foi embalado na alcofa dos sonhos feridos.

Eis-me aqui,

enrolado num velho blues. 

Amacio o choro desta noite,

sem um sopro qualquer para me enlouquecer.

A batota já não funciona,

mesmo que os dedos finjam beijar a guitarra.

Cada vez para mais longe,

corre o tempo…


,2020Set_aNTÓNIODEmIRANDA


AMPULHETA

 Vou aquecendo a vida em morte 

branda.

Cintilam no vento orelhas de alumínio 

escondendo segredos enferrujados.

O tempo brinca à batota 

com as horas desavindas, 

enquanto a esperança frita malabarismos 

na feira da infâmia.

No cabide das calúnias, 

penduro todos os pedaços da tristeza, 

e aperto nas mãos, 

um nada sempre inquieto, que encharca o chão 

com rastos de hálito de taninos de fígado 

transplantado.

Já não me resta tempo para a paciência.

2018Dez_aNTÓNIODEmIRANDA

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

No 5 de Outubro

 


Manuel A. Domingos e Miguel Martins, dois dos maiores poetas persas do séc. XI (embora sempre preteridos pela crítica, em prol desse bebedolas dissoluto chamado Omar Khayyām), ler-nos-ão poemas de sua autoria.
A seu lado, à guitarra, o também poeta António de Miranda interpretará alguns dos mais belos temas do cancioneiro servo-croata.
Quem não aparecer é porque acha que o Trump e o Bolsonaro não ficavam lindos empalados pelo corno de um rinoceronte.