Pesquisar neste blogue

sábado, 29 de fevereiro de 2020

No blog do Henrique Manuel Bento Fialho * Obrigado Madalena Ávila

http://universosdesfeitos-insonia.blogspot.com/2020/02/um-poema-de-antonio-de-miranda.html


SENTIDOS FALIDOS

Vou por aqui abaixo.
Aos soluços.
Tenho os passos encharcados
com ilusões que não me dizem respeito.
Devagar,
tento pensar em soluções
previamente improvisadas.
Mas continua sujo o meu lugar.
Sei que tenho gemidos
embutidos no breve reinado,
império dos sentidos falidos,
onde vivem os monstros
que me escrevem cartas, que nunca vou ler.
Tenho um coração tolo e malvado,
abraçado por ossos frios
autopsiados por uma medicina,
que não pode curar.
Foi só um erro meu,
não fiz as coisas como devia.
Pensei que não era pecado.
Vou por aqui abaixo.
Aos soluços.
Soletrando vaidosamente
teorias desconsideradas.

2016,02
aNTÓNIODEmIRANDA

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Gunsmoke blues - Muddy Waters, Big Mama Thornton, Big Joe Turner, George...

APTIDÃO INAPTA PARA FAZER CONVENIENTEMENTE NADA

O coelho falante com botas panamá jack
era um anónimo traficante
que bondosamente entregava
comprimidos que espelhavam
a curiosidade da Alice.
A Alice fugiu do cenário.
Consta-se que agora dança num tabuleiro de xadrez
e entrega enxaquecas climatizadas
a um rei cansado de ser branco,
que escreve poemas breves
em folhas de waffles codificados.
Cogumelos espreguiçam contos de fadas
numa praia só vista por eles.
Lewis pendura pergaminhos num estendal
e é agora correspondente anónimo do jornal
da terra que o viu fugir.
Nas horas vagas é amolador,
mas toda a gente diz
que não tem jeito para a profissão.
Comenta-se que é dono de uma aptidão inapta
para fazer convenientemente nada.

,2017jan_aNTÓNIODEmIRANDA

domingo, 23 de fevereiro de 2020

DATAS MENTIROSAS

Talvez seja tarde
para enviar a estima que quero
oferecer-te.
O tempo,
vai definhando
estes dias em contramão.
Rasgarei atempadamente
todos os cadernos
com datas mentirosas.

,2020Fev_aNTÓNIODEmIRANDA

POUCAS VISTAS

Tinha uma vida tão singela
Que 
Cabia 
Numa
Panela


,2020Fev_aNTÓNIODEmIRANDA

SAUDEMOS COM ELEVADA TERNURA A SOLIDÃO DOS ECZEMAS

Louvados sejam
os consolos das viúvas,
e, as jovens que desesperadamente    
ambicionam um igual atributo.
Santifiquemos os confessionários ansiosos,
as absolvições maliciosas, as celas do gemer silencioso, a madre, o padre, o santo do saco dos milagres rotos. 
Estimados sejam os futuros, nascidos de mãos erguidas para um céu que nunca os abençoará.( O futuro estará demasiado ocupado na correcção das deficiências bíblicas ).
Imaculados sejam os pecadores do último dia, os corretores das obras da Santa Engrácia, os difusores da abundância, mesmo que a fome seja o pecado infamemente perdoado. 
Malvados sejam os crentes na esperança que os destrói.
Bem queridos lá no reino dos véus, serão todos os imbecis. 
Saudemos com elevada ternura, a solidão dos eczemas.
Louvados sejam os que morrem, antes do tempo os tornar inúteis. 
Que para sempre sejam recordados, os que tentam sempre a discordância.
Ao fim
E ao Cabo
O ser
É
Ser-se
Diferente.


,2020Fev_aNTÓNIODEmIRANDA

NÃO É GRAVE!

Várias vezes ao dia,
abano a vida.
É só um sinal de respeito
para enfeitar o não senso.
Muitas vezes,
ausento-me do meu sentir.
É só porque
geralmente não me pertenço.
Abano o lenço,
com febris sinais de despedida.
Não é grave!
Até porque desconheço
o
seu
significado.



,2020Fev_aNTÓNIODEmIRANDA

THEY CALL ME A STRANGE FOOL

Wake up in the morning
I get the blues on my mind
You say you don't love me no more
A girl like you I can't find
Now I'm walking through the sad day
Looking for my bleeded soul
Nobody cares about my pain
They call me a strange fool



,2020Fev_aNTÓNIODEmIRANDA

REPARAÇÕES AO DOMICÍLIO


Quando terminará 
esta mania 
de me 
enganar 
na 
morada?



,2020Fev_aNTÓNIODEmIRANDA

sábado, 22 de fevereiro de 2020

SONETO DO AMOR AUSENTE

De ti me fica a lembrança
Do amor por nós não entendido
Do tempo sempre sofrido
Passado nas ausências da esperança

Nesta estranha forma de dança
Mais do que eu, triste é o meu fado
Que se perde no beijo desesperado
Escorrendo do tempo a mudança

Foi-se a hora da paixão
Gasta nos abraços clandestinos
O que nos uniu foi o fracasso

Feito no engano da ilusão
Nos abusados desatinos
Num amor tão breve e escasso

jul03/2006 aNTÓNIODEmIRANDA

The Beat Generation - Poetry Reading - Royal Albert Hall 1965 . Obrigado Miguel Martins.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

johnny cash - hurt (Quando deixar o inferno, irei ter uma grande conversa com ELE)

SAUDEMOS COM ELEVADA TERNURA A SOLIDÃO DOS ECZEMAS

Louvados sejam
os consolos das viúvas,
e, as jovens que desesperadamente    ambicionam um igual atributo.
Santifiquemos os confessionários ansiosos,
as absolvições maliciosas, as celas do gemer silencioso, a madre, o padre, o santo do saco dos milagres rotos. 
Estimados sejam os futuros, nascidos de mãos erguidas para um céu que nunca os abençoará.( O futuro estará demasiado ocupado na correcção das deficiências bíblicas ).
Imaculados sejam os pecadores do último dia, os corretores das obras da Santa Engrácia, os difusores da abundância, mesmo que a fome seja o pecado infamemente perdoado. 
Malvados sejam os crentes na esperança que os destrói.
Bem queridos lá no reino dos véus, serão todos os imbecis. Saudemos com elevada ternura, a solidão dos eczemas.
Louvados sejam os que morrem, antes do tempo os tornar inúteis. 
Que para sempre sejam recordados, os que tentam sempre a discordância.
Ao fim
E ao Cabo
O ser
É
Ser-se
Diferente.


,2020Fev_aNTÓNIODEmIRANDA

terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

SIM!

Sim!
Sim!
Tudo é sangue nas palavras 
que nos banham.
Sal escrito nos versos,
acenos magoados
correm para a alma
da solidão.
Sim!
Obedecer,
procurar fingir não sofrer,
e, embrulhar o futuro,
na habitual covardia.
A ilusão é um verbo manhoso,
mostrando o convite mafioso,
para a vida liquidada com créditos
malparados.
É esta, a única sensatez
da nossa impossibilidade.
Oferecem-nos refugos para tudo!
Há que desconfiar de tanta
deficiência.
Sim!
Há sempre um sim,
vergonhosamente escondido,
à espera do fim.



,2020Jan_aNTÓNIODEmIRANDA

VITAMINA ÉBRIA

Só me chateio comigo. 
E modéstia à merda, 
exijo de mim, que 
cada vez mais isso 
não aconteça. 
As desilusões duram a 
mágoa estritamente 
desnecessária. 
Resolvo-as com uma 
qualquer vitamina 
ébria.















,2020Jan_aNTÓNIODEmIRANDA

NADA ESCREVO

Dizes que sei muito.

Tudo eu desconheço

dessa pretensão.

Nada escrevo!

Apenas registo palavras.



,2020Jan_aNTÓNIODEmIRANDA

O PUNHAL DA FOME

Fere-me a vida.
Não a ideia de partir.
Eu,
que cada vez mais tropeço,
na dúvida da sensação parida,
na reciclagem legalmente
organizada.
Sentado à secretária das convicções 
erradas,
espalho sandes de penas,
tentando ensanguentar
o punhal da fome.





,2020Jan_aNTÓNIODEmIRANDA

PUZZLE

Andar por aí,
evitar os abraços incómodos,
sentar-me num andaime conciliador,
lembrar a gratidão das palavras,
olhar para o lado certo,
escutar o fugir das horas sem tempo,
enrolar poemas nas folhas do sorriso,
excitar-me no ginásio dos sonhos.
esperar,
esperar,
o instante.

Pensar seriamente em desmanchar 
O tal puzzle.




,2020Jan_aNTÓNIODEmIRANDA

NA RODA DO TEMPO

Até ao último osso,
foram desfeitas 
todas as vontades.
Só tinha a fúria
para dormir.
Até ao último osso,
Infectaram 
com todo o desdém,
a ousadia da
diferença.

Já não canta
na roda do tempo,
a árdua obsessão
de tentar
ser
feliz.


,2020Jan_aNTÓNIODEmIRANDA

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

SEC`ADEGAS _ Sábado, 15 Fevereiro_ 22 h. ASSOCIAÇÃO FÁBRICA DE ALTERNATIVAS Rua Sofia de Carvalho 1495-122 Algés



# do livro 66 Poemas_Hans Magnus Enzensberger# Edições do Saguão.


DEBAIXO DAS MINHA LÁGRIMAS

Suicídio?
Logo que o viver se farte de mim.
Doí-me o peito, onde já não cabe a felicidade.
Corpo partido, enviado pela angústia à espreita, no 6º andar para o passeio, que, juro, não quero voltar a pisar.
E o choro do irremediável abandono, 
corta a recordação das saudações que trocávamos. 
Não sei os seus nomes. 
Pensei que mais tarde os iria escrever. 
A vida, demasiadas vezes oferece-nos farrapos, e eu, já tenho idade quanto baste para não ser apanhado desprevenido. 
Confesso, não tive coragem para amparar o desespero daquele que tanto dela gostava. 
A existência tem como única certeza a caminhada pela solidão do mais triste sobrevivente. 
Vale a pena o quê, neste sonho vazio? 
Nestes passos que não ultrapassam a tristeza, sobra a alegria conservada em lágrimas. 
Não quero que cuidem de mim. 
Estou com raiva! 
Merda de cólera que corrói a ternura. 
Estou cansado de estar farto. 
E, desta vez é mesmo a sério. 
A saudade não deveria doer tanto assim!
Já perdi o ninho onde escondia as nossas histórias.



,2020Fev_02_aNTÓNIODEmIRANDA

Creedence Clearwater Revival: Run Through The Jungle

Creedence Clearwater Revival: Down On The Corner

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

SE UM DIA PUDESSE

Se um dia pudesse evitar o que acontece - olhar para o céu sem cair de costas - acariciar lagostas no silo da Trafaria - ir a nado até ao delírio – cumprimentar golfinhos – voltar a saborear o peixe grelhado no António Francisco da Praia de Melides - se pudesse e a vontade acontecesse - ouvir o roufenho sax na brasa da noite que tanto me esperava - se eu ainda pudesse desviar estrelas - chorar sem vergonha de ser visto - caminhar mesmo de gatas - até á cama das atracções sem fim - se eu ainda pudesse acreditar em pelo menos 200% das mentiras que imagino - se eu ainda pudesse que o desejo aparecesse...



,2020Jan_aNTÓNIODEmIRANDA

# do livro 66 Poemas_Hans Magnus Enzensberger# Edições do Saguão.


domingo, 9 de fevereiro de 2020

LISBOA, QUE TRISTE FADO TE ABALROA

Até quando permitiremos que nos mandem à merda com sorrisos patetas? O Pessoa do Chiado está farto, cansado & chateado. Merda para tanta fotografia de quem dele nem sequer leu um verso. Isto é uma porra, diz a velhota sem lugar no autocarro. Os pastéis de Belém já não são lugar para ninguém e o pasteleiro batoteiro sorri contente por enganar tanta gente. O de Santa Justa, sempre acima e abaixo, aguarda consulta e está com um feitio filha da puta. O Castelo de icterícia amarelada, acha isto uma chachada e já não tem sexo com a namorada.
O pastel de bacalhau com queijo enjoa o Tejo.
O tuk tuk é um preservativo com rodas e espia sem vergonha as travessas de Lisboa. E as Colinas estafadas brincam às escondidas no cemitério dos Prazeres. Imbecis com mapas na mão e mochilas anti-refugiados, perguntam em espanholês, e nipónicos atónicos vomitam sushis digitais com ténis de alta cilindrada, made numa Alemanha com incoerências nas emissões de CO2.E Tintins e Milous com pele vermelha tipo camarão do Lidl, com os testículos a abanar, bebem Stella Artois e fingem que são cães a mijar. E Asterixes e Obelixes “avec alors cependant” nas calçadas da Graça, sujam a sombra do Limoeiro, intrigam o cruzamento e o sinaleiro, e uma santa que dantes Luzia. Santiago Alquimista, muralha com triste vista e o fado amestrado no clube de Alfama. Lisboa, não digas mal de quem te ama, nem daquele que não te magoa, que chora por ti na Madragoa, e lava uma saudade sempre suja, estendida na noite, disfarçado nos abraços do cacilheiro que só a ti podem pertencer. Despeço-me de ti sem adeus num entardecer que arrefece e vai enfeitando esta morte anunciada com que te sonho.
Adeus meu amor.
Está escrito numa velha bóia.

,2016aNTÓNIODEmIRANDA

DESCANSAR SEM SOSSEGO

Não tens que me sangrar.
Já me basta este tempo quezilento, teimosamente covarde para apunhalar 
a minha agenda.
Gostaria de desenhar dias felizes num qualquer calendário sem finados inúteis.
Alvejar os anos sem rosto,
e,
desafinar de uma vez para todas,
as promessas do roto contentamento.
Desaguar ideias atrevidas num argumento
do Jim Jarmusch.
Descansar sem sossego,
numa maré de pêssegas.
Abrir os subterrâneos da liberdade,
afundar-me no auge mais baixo,
navegar contra a corrente,
e banhar na maré da esperança não ardilosa,
a espuma da amizade duradoura.


,2020Jan_aNTÓNIODEmIRANDA

SILÊNCIOS COMPANHEIROS

Tomei qualquer coisa saborosa.
Gosto de ver, mas não me lembro.
Nem sei a quem perguntar.
Não confio neste rei sorridente, e a malvada da rainha não pára de me piscar o olho. Saio da prisão do corpo, pulo a varanda, mas ninguém aplaude. Só quero abraçar a Alice, embora no filme digam que já não mora aqui. Tenho na cabeça um chapéu que me esconde do mundo. Nada melhor que o “boogie” dos Canned Heat (Woodstock 1969), para me acompanhar.
Quando a manhã chegar, só quero lembrar  instante  dos silêncios companheiros.


,2020Jan_aNTÓNIODEmIRANDA

Comprados Sábado_08Fev_Poesia Incompleta.


Edições do Saguão

Edições O Homem do Saco






sábado, 8 de fevereiro de 2020

SONHOS ESCONDIDOS

Enrolado no velho costume,
escrevia no musgo histórias 
da infâmia,
das tantas noites que se metia na cama,
barriga vazia,
disfarçada na canção do adormecer.
Fingia que ria,
enquanto a mãe chorava
a fome da manhã seguinte.
À escola não ia,
nem livros havia.
Só sonhos escondidos nas imagens
que fugiam dos medos.


,2020Jan_aNTÓNIODEmIRANDA



A VISITADORA

Entrou discreta no hotel.
Bateu ao de leve na porta do quarto com o sinal combinado. Mostrou o sorriso a condizer com o à vontade, e, o primeiro beijo, confirmava aquele momento que combinaram ao telemóvel.
Se não se importar gostaria de receber já. Não leve a mal, mas, já tive clientes que se esqueceram. Dizia, enquanto despia com olhar malicioso o desejo do freguês. Abriu a boca, fez dele chupa-chupa, revirando mecanicamente os olhos. Pôs-se de quatro, respeitando as instruções recebidas, e, esperou o enfianço. 
Nada sentiu, mas, como sempre, fingiu.
Estou a foder bem querida?
Dou-te prazer?
As perguntas do costume.
Os gemidos habituais.
Limpou-se.
Completou o cenário com um afago aligeirado.
No elevador, respondeu à mensagem que propunha mais uma visita.





,2020Jan_aNTÓNIODEmIRANDA

AS SIRENES DA MISÉRIA

Anjos escondidos nas cores dos fantasmas, flutuam no naufrágio dos sonhos estrangulados.
O velho farol acendeu as ruínas, 
e canta qualquer coisa, como se o mar 
fosse o possível amigo.
Barcas velhas,
cansadas da inutilidade da reforma,
oferecem ânforas com crédito recompensado, para a indecência que nos alvejou.
É tarde, grita o infame infante, 
lá na ponta, 
onde a areia acabará por nos atraiçoar.
Todos à proa!
Que se foda Lisboa, 
o aquém e além mar!
Fomos marinheiros estupidamente destemidos, franzinos no corpo, 
broncos no ousar.
Lá vai a nau da treta, 
que só merda tem para contar.
Todos em sentido!
Ó vento impiedoso, 
porque ainda nos queres enganar?
Terra à vista!
Nas cidades roubadas, 
esconde-se a fome, 
abafam-se as sirenes da miséria. 


,2020Jan_aNTÓNIODEmIRANDA

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

domingo, 2 de fevereiro de 2020

BUKOWSKI. Obrigado, Sara Veiga e Tiago Costa


BUKOWSKI _ Então queres ser um escritor?

se não sai de ti a explodir
apesar de tudo,
não o faças.
a menos que saia sem perguntar do teu
coração, da tua cabeça, da tua boca
das tuas entranhas,
não o faças.
se tens que estar horas sentado
a olhar para um ecrã de computador
ou curvado sobre a tua
máquina de escrever
procurando as palavras,
não o faças.
se o fazes por dinheiro ou
fama,
não o faças.
se o fazes para teres
mulheres na tua cama,
não o faças.
se tens que te sentar e
reescrever uma e outra vez,
não o faças.
se dá trabalho só pensar em fazê-lo,
não o faças.
se tentas escrever como outros escreveram,
não o faças.

se tens que esperar para que saia de ti
a gritar,
então espera pacientemente.
se nunca sair de ti a gritar,
faz outra coisa.

se tens que o ler primeiro à tua mulher
ou namorada ou namorado
ou pais ou a quem quer que seja,
não estás preparado.

não sejas como muitos escritores,
não sejas como milhares de
pessoas que se consideram escritores,
não sejas chato nem aborrecido e
pedante, não te consumas com auto-devoção.
as bibliotecas de todo o mundo têm
bocejado até
adormecer
com os da tua espécie.
não sejas mais um.
não o faças.
a menos que saia da
tua alma como um míssil,
a menos que o estar parado
te leve à loucura ou
ao suicídio ou homicídio,
não o faças.
a menos que o sol dentro de ti
te queime as tripas,
não o faças.

quando chegar mesmo a altura,
e se foste escolhido,
vai acontecer
por si só e continuará a acontecer
até que tu morras ou morra em ti.

não há outra alternativa.
e nunca houve.

Tradução: Manuel A. Domingos ( retirado da revista Bula)

INCAPACIDADE

Aprender com certas pessoas
é uma possibilidade, 
que a sua incapacidade
não permite.




,2020Jan_aNTÓNIODEmIRANDA

sábado, 1 de fevereiro de 2020

PORQE NÃO TEMOS TEMPO A PERDER


Beijo-te na lua,
aquele lugar do pretérito perfeito,
onde olhares enamorados
são pintados
sem códigos espaciais.
Aguardo a tua chegada
vestida na mais fina chita
e o teu andar de flor.
E então,
levantarei o teu sorriso
que unicamente tocará o nosso
céu.
Eu prometo,
portar-me mal
para despir o teu
véu.
Mandei pintar a calçada
com o rosa mais conseguido,
avançar o trânsito
no sentido proibido,
anular os risos patéticos
e oferecer um repasto
feito com as ervas da nossa paixão.
Soletro o teu nome numa via aberta,
porque não temos tempo a perder.

2017,jun_aNTÓNIODEmIRANDA