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quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

NÃO HÁ CÁ NINGUÉM A NÃO SER ESPANTALHOS

Labirinto da saudade.
A ausência enche as ruas.
Magoo-me.
Tenho o cinto no aperto da vontade.
Uma misericórdia inoperante.
O que pretendes, pecador infalível desordeiro das orações que ensinámos?
Império das mentiras, princesas maquilhadas no trono dos tropeços.
Não consigo um diferente começar. 
NÃO HÁ CÁ NINGUÉM A NÃO SER ESPANTALHOS.
Oceano afogado nas sombras - uma corrente de murmúrios - negação contínua que conforta o autismo pulsos atados num remo à deriva -  barca velha cansada da adega - e há um sol teimoso que finge o nascer -  e oferece-nos um perder agasalhado nas pulseiras.
NÃO HÁ CÁ NINGUÉM A NÃO SER ESPANTALHOS.
Neste palácio borrado de medo pela curiosidade de janelas indiscretas. O existir não passa de uma circunstância inconveniente. Os palhaços abandonaram o palanque.
Este sítio é suspeito. Sobrevive com nuances de sanguessuga. Doida autópsia rasurada, escondida num asilo ignóbil mija decências nos muros encharcados de peçonha. Glorificado seja o nojo de cada dia, a toda a hora, aqui na terra mas nunca no inferno. Queimo as respostas que hipoteticamente endereço a mim. Não ouso pintar ausências, até porque o mais perto que estive da felicidade, foi uma vírgula sem o ridículo das palavras. Estou sempre pronto para o que de mim eu quiser. Atento e venerando, o optimismo conservado numa solução fictícia cada vez mais longe deste lugar que tanto me cansa. (não estou a falar de mim. Eu sou outra coisa). Se calhar até podia ser assim, mas esta maldita fé enferrujada por néctares alucinados, pregou-me a esta ilusão roubada numa caixa de esmolas. Despejei o cabaz dos imbecis. Há alguém por aí? Alguém que me possa matar? Tenho dores para a troca, sorrisos fáceis para vender, um coração habitado na mentira, olhos que nada entendem, boca obediente, consumo mínimo do zero à morte, 7 chicotadas. Ofereço um diamante louco abençoado pelo Syd Barrett. Se não for do agrado, tenho átomos congelados, embebidos numa salada russa, antes de o Putin começar a levar no ânus. Candy dizia ao corpo que a estranhava, que só queria um dia perfeito. Só me queixo da sorte quando o azar se esquece de mim. Até porque não gosto das bebedeiras diluídas em contrafacção. Tenho um gosto distinto entendido por um tinto de reserva conceituada. De cada vez que me penso, esqueço o que de mim presta, ainda não queimo o que resta, mas isto vai ter cura. 
Relembro-me em leituras sonâmbulas e caminho nas nuvens da ilusão. Colo a tristeza numa manta amiga, e espremo a esperança com dedos manchados pela crença que me impregnaram. Recordo quando era jovem, mas não encontro os segredos que escondi.
NÃO HÁ CÁ NINGUÉM A NÃO SER ESPANTALHOS.
Tenho a pele empilhada por aplausos que nunca ouvi. 
Opções divorciadas dos flashes fedorentos.



,2020Nov_aNTÓNIODEmIRANDA


terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Eu e a Ana .

 


O MEU CHÃO

 Amo 

    todas 

        as 

         pátrias. 

Embora 

     elas 

        nunca 

             sejam 

                  o 

                    meu 

                        chão.


2016,08aNTÓNIODEmIRANDA

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

OFERTAS DE NATAL

 O tempo está a cair.
Espera no varrer das folhas, 
os conselhos da solidão aprazível.
Aqui, 
no lugar que foge, 
há memórias embrulhadas para ofertas de natal.
Fala-se agora uma estranha linguagem, 
caiada numa indiferença 
que nunca nos abandona.



,2020Nov_aNTÓNIODEmIRANDA




AGRADECIMENTO

 Obrigado a todos pelas calorosas massagens de Boas Festas  que enviaram.
Humildemente peço desculpa pela omissão de resposta, mas tenho estado num período de reflexão sobre o orgasmo da Virgem Maria.
E, acreditem, isso tem-me dado Whiskey pela barba.


,2020Dez25_aNTÓNIODEmIRANDA


quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

A VIDA, DIZEM OS QUE MORRERAM…

 
Alinhavo o amor em lume brando, 
no tempero do meu cérebro, 
todos os dias nas manhãs que me apetecem.
Roubo-te o pijama, 
para a auspiciosa intenção que quero 
não desista de nós. 
Escondo os nomes do nosso acontecer, 
abafando num orgulho tolo as palavras 
que erravam os ouvidos naquelas noites 
com fingimentos dos amantes mais promissores do mundo. 
Agora que conforto estrelas pendentes no relógio do teu olhar, alcanço lágrimas vestidas com roupa que não conheço. 
Escrevo recordações absurdas 
da nossa mentida possibilidade. 
Ouço um trombone que tenta riscar no céu 
nomes estranhos, relâmpagos a iluminar um qualquer néon esquecido na nossa falta de comparência. 
Como é triste este rastro transmitido 
em directo na realidade que arriscamos ignorar. 
Resta a subtileza nesta forma de confundir. 
A vida, dizem os que morreram, 
outros dias terá de esperar.

,2020Dez_aNTÓNIODEmIRANDA


sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

RESTA-ME UM SACO ROTO

 

Era com flores
que te desenhava.

O cheiro da tua lembrança,
perfumava o mais puro
do meu mentir.

Resta-me um saco roto,
abrigo de memórias
que ainda consigo arquivar.


,2020Dez_aNTÓNIODEmIRANDA

NO ALVOROÇADO ARFAR DA VÉNUS

 


Assim não dá


!


Tira 

A

Camisa



,2020Dez_aNTÓNIODEmIRANDA

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

AGUARDAR A VEZ NO LUGAR DO TEMPO


 Ainda não sinto a falta de mim.
Não quero repetir o cansaço nem respirar 
o erro da inútil espera.
Mostrei-lhe no olhar 
um desejo inequívoco de animar outras andanças.
Tenho na cabeça muitas portas do céu, 
mas ninguém em mente.
Portanto, desta vez tudo leva a crer 
que o passado vai correr bem. 
Pelo menos é o que  o teclado escreve 
na folha de papel sem jeito 
para crónicas de embuste.
Sou um clandestino a navegar 
nas ideias deste cenário.



,2020Dez_aNTÓNIODEmIRANDA

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

O USO DOS ANOS


Adoro os dias sem tempo.

Há quem diga

que é o modo mais eficaz

para mascarar

o uso

dos 

anos

.

,2020Dez_aNTÓNIODEmIRANDA

domingo, 13 de dezembro de 2020

Lou Reed - See That My Grave Is Kept Clean (Live)

ABRAÇO ESTIMADO

 

Caro amigo:
Tudo normal dentro desta carapaça.
Continuo a naufragar nesta salada de bibelots, embora não deixe de estranhar o seu sabor.
De vez em quando, ouço falar de liberdade, conquanto ela nunca disse que existe. 
Ou melhor, aparece esporadicamente num qualquer poema abusivamente afastado da memória.
Na capoeira ensaiam-se sorrisos patéticos para celebrar o raquitismo das ideias sem qualquer interesse.
O escorbuto, contrariando as expectativas mais optimistas, não se mostra eficaz na contaminação dos cretinos.
Há que dar tempo ao tempo, 
dizem os filósofos da boa-fé.
Na lixeira repousam cocktails de sonhos.
Celebro a nossa amizade com um 
Abraço Estimado.


,2020Dez_aNTÓNIODEmIRANDA


sábado, 12 de dezembro de 2020

A VÉNIA

 

Pus um sorriso nas veias

e quase toquei o céu.


Alguém invejou

a vénia 

que o tempo

me entregou.


Eu,

Só tentei

Outro

Lugar




,2020Nov_aNTÓNIODEmIRANDA


quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

ENFERRUJAR HORAS

 

Que merda de dia,

dizem aqueles que gastam 

o tempo a enferrujar

horas.


Passo ao lado dessa indignação.

Para esses,

é só mais um

para a colecção.



,2020Nov_aNTÓNIODEmIRANDA

quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

O CAMINHO DA FELICIDADE

 

Disseste um dia
Que mais tarde 
Ou menos cedo
Iria encontrar
O caminho da
Felicidade
Perante 
Tamanha convicção
Ajoelhei

O que me valeu
Foi
O
REUMON Gel 50 mg/g


,2020Dez_aNTÓNIODEmIRANDA

domingo, 6 de dezembro de 2020

NÃO HÁ CÁ NINGUÉM A NÃO SER ESPANTALHOS

 Labirinto da saudade.
A ausência enche as ruas.
Magoo-me.
Tenho o cinto no aperto da vontade.
Uma misericórdia inoperante.
O que pretendes, pecador infalível desordeiro das orações que ensinámos?
Império das mentiras, princesas maquilhadas no trono dos tropeços.
Não consigo um diferente começar. 
NÃO HÁ CÁ NINGUÉM A NÃO SER ESPANTALHOS.
Oceano afogado nas sombras - uma corrente de murmúrios - negação contínua que conforta o autismo pulsos atados num remo à deriva -  barca velha cansada da adega - e há um sol teimoso que finge o nascer -  e oferece-nos um perder agasalhado nas pulseiras.
NÃO HÁ CÁ NINGUÉM A NÃO SER ESPANTALHOS.
Neste palácio borrado de medo pela curiosidade de janelas indiscretas. O existir não passa de uma circunstância inconveniente. Os palhaços abandonaram o palanque.
Este sítio é suspeito. Sobrevive com nuances de sanguessuga. Doida autópsia rasurada, escondida num asilo ignóbil mija decências nos muros encharcados de peçonha. Glorificado seja o nojo de cada dia, a toda a hora, aqui na terra mas nunca no inferno. Queimo as respostas que hipoteticamente endereço a mim. Não ouso pintar ausências, até porque o mais perto que estive da felicidade, foi uma vírgula sem o ridículo das palavras. Estou sempre pronto para o que de mim eu quiser. Atento e venerando, o optimismo conservado numa solução fictícia cada vez mais longe deste lugar que tanto me cansa. (não estou a falar de mim. Eu sou outra coisa). Se calhar até podia ser assim, mas esta maldita fé enferrujada por néctares alucinados, pregou-me a esta ilusão roubada numa caixa de esmolas. Despejei o cabaz dos imbecis. Há alguém por aí? Alguém que me possa matar? Tenho dores para a troca, sorrisos fáceis para vender, um coração habitado na mentira, olhos que nada entendem, boca obediente, consumo mínimo do zero à morte, 7 chicotadas. Ofereço um diamante louco abençoado pelo Syd Barrett. Se não for do agrado, tenho átomos congelados, embebidos numa salada russa, antes de o Putin começar a levar no ânus. Candy dizia ao corpo que a estranhava, que só queria um dia perfeito. Só me queixo da sorte quando o azar se esquece de mim. Até porque não gosto das bebedeiras diluídas em contrafacção. Tenho um gosto distinto entendido por um tinto de reserva conceituada. De cada vez que me penso, esqueço o que de mim presta, ainda não queimo o que resta, mas isto vai ter cura. 
Relembro-me em leituras sonâmbulas e caminho nas nuvens da ilusão. Colo a tristeza numa manta amiga, e espremo a esperança com dedos manchados pela crença que me impregnaram. Recordo quando era jovem, mas não encontro os segredos que escondi.
NÃO HÁ CÁ NINGUÉM A NÃO SER ESPANTALHOS.
Tenho a pele empilhada por aplausos que nunca ouvi. 
Opções divorciadas dos flashes fedorentos.


,2020Nov_aNTÓNIODEmIRANDA


sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Abílio Augusto Gonçalves de Miranda 4 Dez_1927| 3 Nov. 1987 Gaveta 2678 Cemitério da Amadora. 93 anos…

 

Sentado na paragem do autocarro, relembro esse fim de tarde onde desoladamente percorri as ruas que me levariam pela última vez até si. Ruas estranhas, pisadas por mim, vezes sem conta. Tempo sem tempo, aquele que demorei a chegar. Estava cansado duma forma absorta, vazio de uma esperança que julguei, nunca me abandonaria. Invejoso de todos os sorrisos. Assassino de qualquer alegria. Acompanhava-me a mais vil das tristezas, embora soubesse que agora era para sempre. Saboreava  todos os paladares da angústia. Sabia agora, a hipótese exacta da perda. São 19 horas e mais vinte e sete anos. Correu demasiado depressa o seu tempo. Longo, exaustivamente longo, foi o tempo que levou a sofrer. Nada era tão real á minha frente, como o cenário real da sua morte. O Tomás estava no quarto ao lado, ele que também esteve para morrer. E a mãe com passagens para a outra realidade. Mas havia um abutre! Um abutre abusivamente mascarado de palhaço, que não conseguia respeitar a sua partida, gozando porca e despudoradamente com a situação da minha mãe. Eu bem o avisei, que ele não valia nada. Tal como fiz dois dias antes, com uma das suas irmãs, que depois da sua morte, não haveria a mínima hipótese de qualquer relacionamento entre nós. Compreendemos  os dois, que essa foi a última conversa.

VIVA LA MUERTE ! Irei abraça-la como um cavalo louco.

04 de Dezembro de 2014.

aNTÓNIODEmIRANDA

segunda-feira, 30 de novembro de 2020

SERVIÇO NACIONAL DA SAUDADE

 

5 avenidas no meu choro, 
enviam “sos” ao serviço nacional da saudade.
A linha de atendimento está contaminada. 
Aconselha um recolhimento sigiloso. 
Avisa que o importante é não alarmar. 
Pode tornar-se contagioso.
Não panique!
Não se danifique!
Obedeça às instruções, 
e, sobretudo não tente compreendê-las.
Cumpra os preceitos.
Cuidamos de si.
É para a sua morte
E o nosso bem-estar.
Dignifique o país!
Contamos consigo!
(+ uma vez
obrigado pela sua
submissão). 



,2020Nov_aNTÓNIODEmIRANDA


domingo, 29 de novembro de 2020

Sona Jobarteh & Band - Bannaya

Rory Gallagher - Shadow Play 1979 Live Video


RORY GALLAGHER
1948-1995



A minha tristeza tem gente demais.
Não quero passear
neste jardim de memórias,
observado por vozes gravadas
na pedra.
Claro que estás longe
Nesse andar de choros nos lábios,
Que fugiu para o bar.
Eu continuo à espera.
Peço sempre dois whiskies.
O outro,
Será sempre para ti.



,2020Nov_aNTÓNIODEmIRANDA





ISTO AQUI NÃO É O PARAÍSO

 


Não te iludas!

Disse o céu

Quando a morte chegou.

Isto aqui

Não

É

O

Paraíso.

,2020Nov_aNTÓNIODEmIRANDA

LOU REED - Venus In Furs

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

DUELO PROMETIDO

 
Não percebes!
Não podes contar estrelas.
Nada sabes dos meus desencontros, 
do meu caminho às cavalitas da vida, 
deste constante contrariar a sina do destino, das mentirosas certezas que escrevo, 
deste cavar no presente um futuro ardilosamente prometido.
Não entendes o desigual que me conforta, 
o nojo com que delicadamente me golpeio, 
neste mostruário de sugestões desleais.
Ignoras as mortes que escrevem nesta memória exausta de tanta fraqueza.
Nunca aceitarás o punhal que guardo para escrever o teu nome.
Tu e eu, 
nunca passaremos da composição mais imperfeita.
E isso,
continuará a ser o duelo prometido.


,2020Nov_aNTÓNIODEmIRANDA


quinta-feira, 26 de novembro de 2020

CONFESSO QUE ROUBEI A MAGNUM DO ROBERT LONGO

 Sentado no “Jardim das Oliveiras”, Lisboa estende a toalha das nuvens tristes. 
Amo o rio, gosto das gaivotas que nele escrevem poemas. O mesmo gostaria de dizer deste tempo estranho, mascarado do amanhã duvidoso. As marés estão diferentes, sempre prontas para ludibriar a “volta d' mar”.
Vou por aí acariciando uma velhice não raivosa, ignoro o aviso do semáforo que alerta que faltam meia dúzia de segundos, mas educadamente não informa o que poderá acontecer. A cidade fugiu do mapa, escondeu as sombras auspiciosas, e elaborou um plano tão secreto que não tenho onde me esconder.
Não sou digno de tanta estima, mas está gravado nos editais que é somente uma enorme prova de consideração.
Eu gostava era da outra cidade!
Daquelas noites de bebedeiras no “Ritz Clube”, descer aquelas ruas, das conversas das amigas da “Avenida da Liberdade”, e mesmo do olhar invejoso dos curiosos.
Ah pois! Tudo mudou!
A calçada adaptou-se aos stiletto, os cheiros sopram aromas da futilidade, os relógios escondem as horas diferentes.
Tenho saudades.
É verdade que para nada valerá este desabafo. Continuo abusivamente cansado de exibir o passe da minha desavença social.
A sabujice espera no banco do jardim.
(Como de costume, recusei o convite).



,2020Nov_aNTÓNIODEmIRANDA


Por aí... Em Lisboa.

 








terça-feira, 24 de novembro de 2020

O ACONCHEGO DA NOITE MALDOSA

 

Nada mais do que o desespero 

estava escrito naquela esperança. 

Inchou a taça das agonias 

com a vontade restante. 

Caminhou para o céu 

como se a estrada existisse.

Deitou-se na cama da poeira,

escutou o sino com os berros 

dos últimos pássaros.

Embrulhou-se no cartão 

para o aconchego da noite maldosa.

Não tenho lugar para ti,

disse mais uma vez,

o raiar do dia.


,2020Nov_aNTÓNIODEmIRANDA


sexta-feira, 20 de novembro de 2020

A VIDA É UMA PUTA VAIDOSA

 

Não tenho muito a dizer.

O cansaço afasta as horas do tempo sincero.

Deito-me num sossego que não me pertence, desfloro o jornal com a patética ideia de conseguir a ementa para o jantar.

Retiro um livro da estante, mato uma cebola para a salada da minha disposição. 

Está cada vez mais difícil respirar esta amálgama de .

Nada me apetece dizer.

Acendo o calendário usurário dos dias felizes, lavo as mãos na fogueira das desilusões, sempre que  a vontade o permite.

A vida é uma puta vaidosa!

Felizmente não me apetece falar disso.



,2020Nov_aNTÓNIODEmIRANDA


TEMPOS MAL PASSADOS

 O lustro dos anos oferece-me memórias camufladas, dedos que tocaram a morte, sinais que não cumpri, ajustes que não me sensibilizaram. 

Parado nesta esquadra, não tenho qualquer interesse em cumprimentar o sinaleiro das normas socializáveis. 

Aqueço certos momentos na lentidão da frigideira, enquanto o tempo o vai permitindo. 

Olho-me com um desdém habituado à repulsa, que não consigo fingir. 

No lado escuro da lua, leio o obituário que por enquanto não me diz respeito.

Aceito o findar dos dias, iluminado pela matreirice de uma vela benemérita, que dizem, purifica todas as urgências. 

Há muito que vivo na pressa que reza nas horas vagas pela minha salvação. Continuo encostado na fila com fim completamente indefinido. 

Contudo não confio na fiabilidade desta hipótese. 

Tudo é possível no esgoto da 

previsibilidade.

Orar por mim, será sempre um verbo com tempos mal passados.



,2020Nov_aNTÓNIODEmIRANDA

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Almoço

 


Mariana Gomes : 23 ! 18/11/2020

 




LEVEM-ME ATÉ À BELEZA MAIS PRÓXIMA

 

Satisfaçam a minha alma.

Deixem uma agonia perfeita, os sonhos que me roubaram, o nome com que me engano, só um dia bom embrulhado nos abraços verdadeiros, mesmo um momento que me faça esquecer de mim mesmo.

Um desassossego, para fingir que não escuto uma consciência apodrecida.

Um sopro que afaste esta tristeza sem luar para desaguar.

Leio nas veias um apelo que não conheço indicado pela sombra dos passos que perdi.

Estúpida memória que aperta os braços, fazendo de mim o mendigo dos afectos que há muito deixaram de me impressionar.

Percorro-me nesta corrente de lágrimas, agarrado ao laço da angústia, enquanto choro versos à deriva.

Ergo para o céu todas as iras, esfrego no peito cheiros de nojo, ajoelho e entrego com a nulidade da fé, a bênção dos dias felizes.

No conforto deste canto nada mais me apetece pensar.

E também não quero falar disso!

É sempre o mesmo pecado que teima em deitar-se comigo.


,2020Nov_aNTÓNIODEmIRANDA

domingo, 15 de novembro de 2020

SEGUNDAS NÚPCIAS

 

Até que a sorte nos separe.

Diziam um para o outro,

Relegando a morte,

Para segundas núpcias



,2017dez_aNTÓNIODEmIRANDA

sábado, 14 de novembro de 2020

SEC`ADEGAS NA LAGOA DE SANTO ANDRÉ (RESTAURANTE DO CHACAL)09AGO2019





2

 

Como poderei beijar o teu corpo 

tão ateu como o meu? 

Ai meu amor estamos tão perdidos 

que não nos deixam morrer como deve ser. 

Agora não sei como esperar outras luas 

mesmo com significados traiçoeiros. 

A verdade é que fomos dois números 

com hipotenusas nem sempre mentirosas. 

Beijo-te os seios 

sempre como se fosse um desejo 

que virá tardiamente depois da nossa aparição. 

Esperaremos o dia 

para que violetas agradecidas

embelezem os  desesperos 

escondidos em lençóis 

que mancham o nosso encontro. 

Tanto nos amamos 

e ardemos numa febre 

que queima a indiferença que nos difama.

,2016,03aNTÓNIODEmIRANDA

terça-feira, 10 de novembro de 2020

Muddy Waters - All Aboard

Muddy Waters - You Don't Have to Go - ChicagoFest 1981

Muddy Waters - Walking Thru the Park - ChicagoFest 1981

A IMPORTÂNCIA DE SER “LOURA” Com uma vénia para “paula teixeira da cruz”

 As louras têm mais graça, mesmo quando não compreendem a chalaça, e, riem desabrigadamente como se fosse meio dia, lá em  Adis Abeba. As louras julgam que às vezes pensam e ninguém lhes tira esta presunção. Convém não exagerar na sua apreciação. Podem acreditar. Mesmo no seu normal estado de distração. Conduzem com o seu próprio código, convictas da sua inabalável beleza. Agarram o copo com delicadeza, nas outras coisas, às vezes com subtileza. E geralmente nunca têm uma pergunta inteligente na ponta da língua. É sabido que utilizam este órgão para certas operações. Aqui não há excepção. Têm um radar sempre a funcionar, que lhes permite ousar serem admiradas. Algumas para a brincadeira, são danadas. Normalmente têm uma vaga ideia da coerência, não ligam à decência e confundem a falta de apetite com uma qualquer greve de fome. Não há que abusar. Um passo de cada vez. Não vão elas tropeçar. Fazem algumas queixas, sobretudo da má coloração das madeixas. E mostram indignação.

2015aNTÓNIODEmIRANDA

sábado, 7 de novembro de 2020

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

AMBIÇÕES CALAFETADAS


Sou um homem triste na cidade dos caminhos perdidos 

- Navego na deriva dos anúncios que anunciam o amanhã sempre longe de mais

- Apago mais uma esperança neste circo de lugares vazios 

- O órgão encena um Bach tão desafinado como o som da garrafa que pouco a pouco, desafia a lucidez que não desejo 

- Farto - me facilmente dos talentos fabricados 

- A minha oficina de defeitos continua em laboração continua 

- Os operários da inútil salvação foram desviados para o batalhão das boas vontades 

- Saúdo com veemência a sua importância 

- Que ninguém proteja os incapazes!

- Ambições calafetadas fugiram para o pântano

- Todos sabiam que não havia caminho para casa.


,2020Nov_aNTÓNIODEmIRANDA

Miraflores. À espera do 748.

 


quarta-feira, 4 de novembro de 2020

MARINE BAND BLUES HARP

 

Dá-me horas tempo que corres, 

para a pressa da minha ausência. 

Senta-te à espera da sombra que quero amolgar. 

Já não queima a tua voz, 

nem sequer a memória que tento lembrar. 

Dá-me tempo, para pintar o relógio dos passos perdidos. 

Esquece o momento, 

eu preciso da alegria maior, 

talvez para voltar a tocar na minha ferrugenta “Marine Band”, 

enquanto me perco neste amargo compasso, 

enojado por tantos insultos.


,2020Mar_aNTÓNIODEmIRANDA




segunda-feira, 26 de outubro de 2020

ALTIFALANTE

 

Atenção senhores 

passageiros: 

a desolação     procedente     da realidade, efectua paragens em     todos     os     destinos.



,2020Out_aNTÓNIODEmIRANDA

Diane Di Prima

 MEMÓRIAS DE UMA BEATNIK

Eu e a Diane Di Prima

Num quarto escuro

E com a televisão apagada.

Não me lembro!

Será que foi mentira?

Queimámos artifícios de poemas,

e com a ajuda das barbas do Allen,

escalámos uma parede do Chelsea Hotel.

Lá para os lados de Brooklyn,

Timothy Leary procurava fósforos ungidos,

para aquecer a neve que lhe fugia dos pés.

Em Central Park,

esquilos simpáticos ofereciam rugas do velho jazz,

embrulhadas em papel de amendoim.

O sol acordou tarde naquele dia.

Tinha estado numa jam com Charlie Parker.

Eu e a Diane Di Prima

Num quarto escuro.

Há invenções

que me permitem

o sonho.

,2017mai,aNTÓNIODEmIRANDA




domingo, 25 de outubro de 2020

AMANHÃ,SE FOR SEXTA-FEIRA

 mOLDES _sOMBRAS

lATIDOS a fUGIR

sOU uM cÃO pENDURADO.

O mARTELO dO bATE-cHAPAS

aNUNCIA o úLTIMO pLESBICITO 

cREDÍVEL.

fALA cOM aS nUVENS nO cENÁRIO dOS oPOSTOS.

aMANHÃ,

sE fOR sEXTA-fEIRA,

uM pOETA cOMO dEVE sER,

eSPERARÁ oUTRO dIA.

&

oS pOETAS sABEM 

qUE eSTAS hORAS,

dORMEM sEMPRE

aTÉ mAIS tARDE.

2018Abr_aNTÓNIODEmIRANDA

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

No blog do Miguel Martins.

http://cachimbodemilho.blogspot.com/2020/10/margarida-vale-de-gato-no-publico-de.html 

O ANJO AZUL

 Não sei que dias têm estas horas.

Há muito que detesto a imposição do tempo.  

No orvalho que vivo, aqueço sempre que posso 

a fugaz presença do pretenso lamento. 

Agradeço amiúde a possibilidade 

de continuar a ser eu, 

malgrado todas as ausências 

do mais sentido de mim. 

Corro com o momento 

no passo por nós permitido. 

Às vezes sem sentido. 

Quase sempre desafinado. 

São só músicas minhas a mania deste meu fado. Não procuro nada de novo. 

Tenho de conhecer aquilo que ignorei. 

Gosto da solidão amigável. 

Houve momentos em que estive na minha cabeça 

e logo pensei que não envelheceria. 

Abafava os egos com quezílias de canela 

e limpava a memória com esfregões impregnados do mais audaz after shave. 

O creme de barbear cansado de tanto esperar, 

não falhava um único conciso golpe, 

roído de ciúmes pela importância de uma lâmina desconhecida. 

Era sempre pela manhã que partia perene 

para a viagem habitual. 

O anjo azul fumegava na velha tv. 

Lampiões com asas pregadas no chão 

agarrando películas do metro 

antes da meia-noite. 

Era no tempo em que fingia telefonar, 

visitando as cabines envidraçadas 

só para afugentar o frio.

,2017jan_aNTÓNIODEmIRANDA

sábado, 10 de outubro de 2020

REQUIEM POR TODOS OS POETAS DESCALÇOS

 

Nada

Para além

De um bolso 

Repleto de sonhos

Uma prática 

Quotidiana

Abusivamente

Condicionada

A um certo 

Ritmo de consumo

De posições 

Motivadas

Pelo próprio sistema

Ou

Uma traição consciente

Mas sempre

Traição a mim mesmo.

Não !

Não quero ser 

Dos que ficaram pelo caminho.


O poema ...

O poema é a pena

De eu não ter pena

De escrever o poema.

Mas ...

Não te chateies :

Eu

Sou 

O único poeta

Que 

Pode mijar

Na tua algibeira.


, aNTÓNIODEmIRANDA


quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Ó GLÓRIA, QUE SONHOS ME PROMETESTE?

 Deixaste a saudade nos meus ombros, quando pensei que irias aquecer as ausências que me ofereces.

O amor não terá que ser um caminho sujo, nem o desejo um sentimento mudo.

Plantamos a árvore das mágoas.

Resta-nos esperar nas curvas do vento as palavras que julgamos, não nos enganariam, e colher martírios no nevoeiro malicioso. 

Rastejamos na morte lenta, as bebedeiras que taparam os caminhos.

Quando dizem que não te amei, talvez seja uma mentira maior do que a minha certeza. 

As coisas boas da vida, rapidamente não querem nada com ela.

As nossas intenções nunca serão tocadas nas noites do boogie-woogie.


,2020Set_aNTÓNIODEmIRANDA


sábado, 3 de outubro de 2020

A BATOTA JÁ NÃO FUNCIONA

 Entrega-me o tempo o álbum dos sorrisos esquecidos,

a alegria efémera do prazer engarrafado.


Para onde fugiste música triste,

cansada da espera dos tempos alegres?

Sinto saudades dos abraços enleados 

nas promessas que juravam 

nunca iriam separar-nos.

Tudo foi embalado na alcofa dos sonhos feridos.

Eis-me aqui,

enrolado num velho blues. 

Amacio o choro desta noite,

sem um sopro qualquer para me enlouquecer.

A batota já não funciona,

mesmo que os dedos finjam beijar a guitarra.

Cada vez para mais longe,

corre o tempo…


,2020Set_aNTÓNIODEmIRANDA


AMPULHETA

 Vou aquecendo a vida em morte 

branda.

Cintilam no vento orelhas de alumínio 

escondendo segredos enferrujados.

O tempo brinca à batota 

com as horas desavindas, 

enquanto a esperança frita malabarismos 

na feira da infâmia.

No cabide das calúnias, 

penduro todos os pedaços da tristeza, 

e aperto nas mãos, 

um nada sempre inquieto, que encharca o chão 

com rastos de hálito de taninos de fígado 

transplantado.

Já não me resta tempo para a paciência.

2018Dez_aNTÓNIODEmIRANDA

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

No 5 de Outubro

 


Manuel A. Domingos e Miguel Martins, dois dos maiores poetas persas do séc. XI (embora sempre preteridos pela crítica, em prol desse bebedolas dissoluto chamado Omar Khayyām), ler-nos-ão poemas de sua autoria.
A seu lado, à guitarra, o também poeta António de Miranda interpretará alguns dos mais belos temas do cancioneiro servo-croata.
Quem não aparecer é porque acha que o Trump e o Bolsonaro não ficavam lindos empalados pelo corno de um rinoceronte.


domingo, 27 de setembro de 2020

Cançó del Matí Encalmat - Salvador Espriu





El sol ha anat daurant

el llarg somni de l'aigua.

Aquests ulls tan cansats

del qui arriba a la calma

han mirat, han comprès,

oblidaven.

Lluny, enllà de la mar,

se'n va la meva barca.

De terra endins, un cant

amb l'aire l'acompanya:

"Et perdràs pel camí

que no té mai tornada".

Sota la llum clement

del mati, a la casa

dels morts del meu vell nom,

dic avui: "Sóc encara".

M'adormiré demà

sense por ni recança.

I besarà l'or nou

la serenor del marbre.

Solitari, en la pau

del jardí dels cinc arbres,

he collit ja el meu temps,

la rara rosa blanca.

Cridat, ara entraré

en les fosques estances.

A ABSURDA ESPERANÇA DO TEU REGRESSO

 Já não nos vemos.

Resta-me um álbum de fotografias para falar contigo. Já não tenho companhia para a cabeça de garoupa, nem o olhar cúmplice para construir com sorrisos aquele puzzle de espinhas.

Tenho saudades das nossas gargalhadas, das mãos besuntadas, e dos copos do tinto bebido com amizade especial.

Não gosto das traições que a vida vai pendurando no meu capote.

A sombra da nossa árvore, despeja-me lágrimas que não conseguem adoçar este pudim com molho de dor.

Onde estás?

Eu não sei como procurar.

Engano-me neste caminho sem encontro possível.

Só quero adormecer nas esquinas que não prometem a tua presença.

Estou farto dos fantasmas que ilustram os meus desejos, das angústias que nunca resolverei.

Mas, o certo, é que não me apetece tocar as nossas músicas.

Estou cansado de mim.

Dos elogios para a tua ausência.

Vou desligar esta mania, que pensa falar connosco.

Não quero mais carimbar

a absurda esperança do teu regresso.

,2019mar_aNTÓNIODEmIRANDA