MEMÓRIAS SEM FUTURO

Apoiado no candeeiro,
limpo os olhos do lamento 

das notícias.
Ainda não sei
ensinar as lágrimas
a desenhar silhuetas,
e afagar a pele,
que só quer voltar à felicidade
perdida.
Admito uma
vaga taxa de disponibilidade
para cativar memórias sem futuro.
Nada tenho para levar.
Somente deslizar sem ir 

a encontro nenhum.
E esconder-me nos arbustos 

vestidos de púrpura, 

de onde jorram faíscas 

do mais perfumado desespero

,2019_ jan_aNTÓNIODEmIRANDA

O TEMPO, O BOM, O MAU, E AQUELE QUE FUGIU

Procuro manter uma habilidade inapta
para não me preocupar antes do tempo.
O tempo,
o bom, o mau e aquele que fugiu,
são lençóis que cobrem,
esta minha passagem,
sempre com o fim a aparecer.

Nunca me apeteceu
uma perspectiva negativa
de mim próprio.

,2019_ jan_aNTÓNIODEmIRANDA

AS ASAS DO INFINITO

Posso amar o que tens para 

oferecer. 

Caminhar com o destino na 
algibeira,
sobre uma ponte de rosas,
entregues pelo vermelho do 
céu.
Cruzar as pernas embalado 
neste baloiço, ao som do 
tropeçar em sonetos malucos.
Deixei para sempre naquela 
encruzilhada,
o embrulho dos medos,
e na jarra das cinzas que doem,
plantei uma borboleta
com as asas do infinito.

,2019_ jan_aNTÓNIODEmIRANDA

A FALA DO ANJO ESCONDIDO

Deixo-me cair no teu umbigo
num vaivém de paciência
que só quer
a manhã entontecida.
Abandonar de vez
toda a inútil esperança
e desenhar no nevoeiro
do teu sexo
os sonhos húmidos
que ainda me restam.
E,
depois,
continuar a chorar
ás escondidas
a memória do esperma
nunca em vão
derramado.

,2019_ jan_aNTÓNIODEmIRANDA

GRAÇAS MEU DEUS (Lido ontem TERÇA, 29/01 Poesia à Deriva - Estrofe I - 2019 Elementar · Algés)

Graças meu deus
pela disponibilidade que me dás
para aguentar tanta beleza.
Para aqueles que dizem que não és perfeito...
Afirmo que a fome é uma invenção.
Afirmo que a injustiça é uma incorrecção.
Afirmo que a riqueza é uma má interpretação.
Afirmo que a miséria é um embuste.
Afirmo que a guerra é uma mentira.
Afirmo que a honestidade é uma calúnia.
Afirmo que futilidade poderá ser um modo de vida.
Afirmo que a angústia é coisa fingida.
Afirmo que o desespero é uma fraude.
Afirmo que a solidão é uma pantomina.
Afirmo que a diferença é uma intrujice.
Afirmo que a vida é um enredo.
Afirmo que a fidelidade também é uma Cª. de seguros.
Afirmo que a fantasia é um desacerto.
Afirmo que a aparência é uma finta.
Afirmo que a intriga é um estratagema.
Afirmo que a ilusão é uma minúcia.
Afirmo que a subtileza é um dolo.
Afirmo que a astúcia é uma patranha.
Afirmo que o lapso é uma constante.
Afirmo que a esperteza é uma peta.
Afirmo que a malícia é uma cilada.
Certifico que a invenção é uma mentira.

,2017,abr_.aNTÓNIODEmIRANDA

UBER EATS

Chegou ao céu
&
ordenou
que pintassem outro
azul.
Mandou
alcatifar
o lado direito,
usou
o ambientador
dos cheiros esquisitos,
&
encomendou pela
UBER EATS
uma salada de preces
com molho despreocupado.
Sentou-se
na poltrona da paciência
e começou a jogar
aos milagres cruzados.
Mais tarde,
ceou uma sopa de letras
não purificadas.
Como sempre,
antes de se deitar,
desligou o chuveiro
das notícias incómodas.

,2019_ jan_aNTÓNIODEmIRANDA

The Rolling Stones- Undercover Of The Night (B Version)

Sniff 'n the tears - Driver's seat (full song H.Q.)

Mud - Tiger Feet (Live TOTP 1974)

The Kinks Lola Top of the Pops 1970

The Rolling Stones - Gimme Shelter (Live) - OFFICIAL PROMO

The Dead South - In Hell I'll Be In Good Company [Official Music Video]

Sparks - This Town Ain't Big Enough For Both Of Us

T. Rex - Get It On (1971) HD 0815007

Jimmy Page's Chopin Prelude n.4 - Arms Concert New York 1983

Steve Harley - Make Me Smile (Come Up and See Me)

VOAR CONTRA O DESTINO

Elevar o veneno.
Traço para aspirar.
Encher o balde.
Sujar até atingir o zero.
Entrelaçar genitais burgueses.
Sentado num charro de erva, com um índio que parece um anjo, cujo primeiro acto de traição foi o ter nascido.
Estou em guerra com toda a contemplação,
e contento-me em fumar a minha alma nesta alucinação não odiosa.
Quebrar o estado de sítio estampado numa frigideira com banha de porco.
Corpos fritos, atados com arame,
no anexo da podridão.
E aterrar sempre fora da pista,
numa capotagem perfeita.
Saquear os fornos do pão sangrento.
Ungir a loucura e santificar todos os beijos no altar dos enlevos não mentirosos.
Ó cogumelo celestial, estou louco por chegar até ti, e sair deste voo de excrementos pisados.
Descalço ao som da bateria do Max Roach, curvo-me perante toda a ousadia, e carrego no botão do gancho do umbigo, uma dose anímica de alegria em conserva.
E procuro na pedreira, a esmeralda preferida da primeira dor que pretendo esculpir.
Estrondo paralisado no rabo da sombra, imaginação de veludo pregada com laços. Abandono a faixa da rodagem correcta, e distribuo autógrafos escondidos nas sandwiches da realidade confrangedora.
Princípios rígidos, desdenhosos, atirados à poeira.
Rendição agachada, zombies maltratados com anúncios encharcados na testa, amontoam-se na prateleira dos delírios prontos para o banho da guilhotina.
É chegado o tempo de esmaltar as orações recolhidas,
e voar contra o destino.

,2019_ jan_aNTÓNIODEmIRANDA

CHICOTADA PSICOLÓGICA

As substituições que tanto treinamos, não foram bem-sucedidas, apesar da palestra metafórica do nosso anormal mentor.
O público não gostou, mas educado como sempre, mostrou-se preocupado com a nossa obstipação.
E foi lindo!
Atiraram rolos de papel higiénico para nos limparmos.
Os mal dizentes falaram em contestação.
O presidente foi ao balneário, queixou-se do calcário, (palavra que leu no dicionário), e naquele tom que deus lhe deu, disse:
aqui não há culpados!

 A única vitíma sou eu.

 

,2019_ jan_aNTÓNIODEmIRANDA

ATÉ Á PRÓXIMA

até á próxima.
&
foi assim
que a distância
se
despediu
do
 infinito


,2019_ jan_aNTÓNIODEmIRANDA

CELOFANE

Cachorros quentes não abanam o rabo.
Piças na brasa nem sempre funcionam.
Continuam grandes,
as saudades da tua outrora voluptuosa anatomia.
 Eu sei que gostas de mim,
mas não era necessário embrulhar
o nosso amor em celofane industrial.
Aceito falar,
de vez em quando,
dos beijos com sabor a chamuças,
da jarra que murchou as flores,
e, porque não,
da táctica que ditou a derrota

dos momentos mais importantes.
Fomos,e há que enaltecer, um fora de jogo legal, assinalado indecentemente pelo estrabismo do fiscal da sina. 
,2019_ jan_aNTÓNIODEmIRANDA

SANTOS PARADOS NÃO FAZEM MILAGRES

Disse-me:
ando numa fase
um bocado em baixo.
Respondi:
há que utilizar
o elevador.
A auto-estima…
a opinião dos outros só me interessa
quando eu estou de acordo com ela.
Percebo que nada percebo.
De vez em quando é suficiente.
Não deixe que lhe façam mal.
Eu também não sou santo.
Santos parados não fazem milagres!
O futuro promissor
fugiu de cima
do andor!
Depende da complicação.
Mas sempre lhe digo que
há coisas muito melhores para serem feitas.
Não me preocupo
em compreender a natureza humana.
Até porque me falta o manual de instruções.
Se se viver uma vez como deve ser,
facilmente constataremos
que embora dê muito trabalho,
é plenamente suficiente.
Não me elogiem assim tanto!
Até “deus” pode ficar com inveja!
Lamento que todos os beijos
não sejam como o de Judas!
Está escrito
que esse ao menos
só enganou num.
Quando se está parado
e se precisa
que nos dêem corda…
cuidado com os nós.
Pessoa está morto?
Antes ele do que eu.
Nunca gostei da concorrência.
A sofisticação
é o meu desodorizante
favorito.,

2017,abr_.aNTÓNIODEmIRANDA

BEIRA MAR

1º - Não gosto da concorrência!
Tenta sempre obrigar-me a ser tão mau, 
quanto ela.

2º - Nem deus, nem chefes!
Ok! Mas quem manda, sou eu.

3º - Onde todos se ajudam, 
ninguém deve trabalhar.

4º – Claro que não quero ter toda a razão.
… a minha tem-me bastado.

Gosto das ondas que prometem a viagem.
O resto fica à beira mar.

.

,2015aNTÓNIODEmIRANDA

toze salomao.mpg * Uma Grande Pessoa*

Lawrence Ferlinghetti ! Um dos poetas que mais leio.

TODO O CUIDADO É MOUCO

Não me relaciono facilmente.
Reservo-me em pensamentos demasiado rápidos, que fogem sempre da minha caneta. Sou diverso na minha divagação, construo em mim, todos os cenários que me apetecem. Queimo entre os dedos hipóteses sem interesse, e afago num gargalo qualquer, ficções. Já não me deito com a preocupação do relógio para a manhã seguinte. Engravidei o despertador com uma rouquidão vitalícia. E, calmamente dispo o pijama da próxima desilusão. Depois, cumprimento os blisters com o código 192398, que comprei na farmácia do bairro. Então, hoje não quer medir a tensão? Hoje, não. Ontem portei-me mal. Claro, mas tem que ter cautela.
Botei-lhe um olhar à Peter Falk, e com voz de cotonete, atirei um assobio:
não tenha dúvidas!
Todo o cuidado é mouco.

,2019_ jan_aNTÓNIODEmIRANDA

CREPÚSCULO INEVITÁVEL

Guardas o silêncio
deste nome descarnado,
na lâmina que pune
a ferida da hora quebrada.
Está frio,
e cada vez mais vazio,
o sonho antigo.
Envelhecemos acidamente
de mãos enrugadas,
sempre à espera do guarda-jóias
da esperança tardia.
E no meio do solo do Coltrane,
que nos abraça,
apertamos memórias
escondidas na algibeira.
O resto,
que de nós se vai afastando,
permanecerá intacto.
Celebramos o contrário dos dias,
para que a velhice não nos cace,
antes do crepúsculo inevitável.


,2019_ jan_aNTÓNIODEmIRANDA

2014PORTUGAL como se fosse poema leitura de Miguel Martins

Lawrence Ferlinghetti on the old San Francisco, his new novel, and his first 100 years

http://www.documentjournal.com/2018/12/lawrence-ferlinghetti-on-the-old-san-francisco-his-new-novel-and-his-first-100-years/?fbclid=IwAR2C_w9u3CXbD0uWs13snVkN06KSCYiJxrKPKoTDZh4RgPGJIQ1m39xk2nM#

THE DOORS _ Cars Hiss By My Window *GOSTO! & MUITO!

TRAGAM-ME O BASQUIAT !

Na máquina de escrever
dormem palavras que não quero pintar
Espalho o seu cheiro
pelos livros sossegados
e invejo o ronronar do seu perfume
Sento-me no chão
à espera que me cantem as suas histórias
Músicas filmes capas de revistas
a branco & preto
harmónicas ferrujentas
&
Este farejar ansioso
para tocar em todos os anos
desta vida que amo
Olho de relance para os sorrisos fugidos das fotografias que deslizam pelas paredes e pedem agora
que com eles dance
Abro o olhar
Soletro na cabeça sprays com as cores que vão acordando
Tragam-me o Basquiat!
Quero que ele pinte
este Alfabeto.

2018Jun_aNTÓNIODEmIRANDA

Do Senhor Levi Condinho _ BASIN STREET BLUES

Porque não vens daí comigo
Lá abaixo ao Mississipi
Canta Ella Fitzgerald
Respondo
Vou contigo
Se me levares aos bares
De Basin Street
E me mostrares tudo
O que fez na tua voz um vinho acre
Sexo nimbado de folhas silvestres
Para eu poder
Proclamar
de pé
do alto do Empire State Building
que a tua raça
se vingou
criando uma flor
em cada golpe de chicote

ALEXANDRE SALDANHA DA GAMA

Saio sozinho para ir ao Sounds beber um copo
Noite de merda para ir beber um copo sozinho
Mas esta noite não suporto o silêncio da casa
A presença da ausência da Sylvie é pesada
Cada vez que ela aparece com as suas fanfarronadas
Faz de mim um ser miserável que precisa de beber para esquecer
Ela tem vergonha da minha companhia
é por isso que só vem à
noite e desaparece de manhã
Quando saio à noite para beber um copo sozinho
Debaixo da chuva sou eu que tenho vergonha da minha companhia.

Do Senhor Paulo Freire.

AMPULHETA

Vou aquecendo a vida em morte
branda.
Cintilam no vento orelhas de 

alumínio escondendo segredos 

enferrujados.

O tempo brinca à batota
com as horas desavindas,
enquanto a esperança 

frita malabarismos
na feira da infâmia.
No cabide das calúnias,
penduro todos os pedaços 

da tristeza, e aperto nas mãos,
um nada sempre inquieto, 

que encharca o chão
com rastos de hálito de taninos 

de fígado
transplantado.
Já não me resta tempo para a 

paciência.


2018Dez_aNTÓNIODEmIRANDA

RONRONAR

Estou escondido no espelho 

das horas lentas, 

como aquele gato, 

que de pinote em pinote, 

tenta apanhar as borboletas brancas. 

Era só para brincar, 

miava ele no meio de tanta desilusão. 

Voltava todas as manhãs, 

e estendido na penugem da árvore habitual, ilustrava nos passos sem dança, 

a doce esperança de um dia 

divertir-se com elas. 

Mas, 

as borboletas eram somente anjos 

caídos do céu,
e,
desavindas pelo abandono, 

voavam desconfiadas.
O gato voltou para o meu colo, 

e, 

dizia-se cada vez mais cansado.
Vou ter que deixar de brincar. 

Lambeu-me a pata.
Deitou-se no estirador do meu sonho.
Ficou feliz com o meu ronronar.


2018Dez_aNTÓNIODEmIRANDA

Do blog do Henrique Manuel Bento Fialho

https://universosdesfeitos-insonia.blogspot.com/

Obrigado, Madalena Ávila

 

 

 

 

 

 

 

In #QUIÇE MI LÁ BUCHE#