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quinta-feira, 31 de agosto de 2017

ESTÁ-SE BEM NO CAMPO

A buzina do peixeiro precisa de ser afinada.
O padeiro mudou de viatura e disso se ressente
a qualidade do pão.

Faltam passar 2 dos 7 carros

para o fluído do trânsito ficar normalizado.
A escola há muito que fechou.
A venda também e os idosos são cada vez menos.
A net é demorada.
Tão lenta com as horas tocadas no aparelho

a imitar o som do sino há muito tempo fugido.
Às 5ªs, lá para o final da tarde,
há-de chegar a carrinha da carne.
Poucos a compram, que agora esta coisa
dos supermercados, abanou e de que maneira,
o negócio.
O vinho já poucos o bebem.
Maldita coca cola!
O complexo desportivo dos matraquilhos
continua com os jogos adiados.
Tem chovido muito pouco

e a terra mostra nas suas rugas,
a sede que tanto a magoa.
A saúde vai faltando cada vez mais,
e a médica quando aparece,
fala uma língua que não se entende.
A requisição dos exames está deitada no gavetão.
Custam quase tanto como os remédios,
e do pré nem vale a pena lembrar.
Está-se bem no campo.
Dizem o galo e a gato sem ração.
Lá na minha aldeia não se pode namorar.
De dia, são cães ao sol.
À noite toda a gente a ladrar.
Está-se bem no campo.
Dizem por aí aqueles

que nunca se deitaram
com a solidão.

,2017ago_aNTÓNIODEmIRANDA

  
Vila Chã_2016Setembro

FEIJOADA DE CHOCOS

Atelier Tomás Miranda


Era meia-noite
dizia o filho pr`a mãe:
a puta da feijoada
não me caiu nada bem.

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

UNTIL YOU DRIVE MY BLUES AWAY

Ama-me minha querida.
Gosta de mim nesta ferida
conspurcada pelos abraços, ...

que jurámos iriam acontecer.
Nesta galeria
pintada com ilusões,
ofereço-te um amanhecer
com as cores de um ketchup abandonado.
Com beijos de banda desenhada,
retocarei o teu rímel com os traços
da beleza ausente.
E prometo,
penhorar a tua lingerie não desembrulhada,
numa lavandaria conceituada
com tratamentos alheios à nossa injúria.
Só temos o tempo que nos mente,
isto é, o suficiente
para o mais que não merecemos.
Ama-me pela manhã.
Deixa um bocadinho para o resto do dia.
Irei caucionar o beijo desta breve mania.
E no instante onde nos deitámos,
é possível que um blues desassossegado,
cante o triste fado
com que teimámos adormecer.
“Love me in the morning
Just a little bit for the day
I want you love me baby
Until you drive my blues away”

,2017ago_aNTÓNIODEmIRANDA

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

JACK KEROUAC_TRISTESSA (TENHO ESTE LIVRO)


7) 'The Ocean' - Jack Kerouac Jazz and Prose - Beat Poetry Vol 2


VÁ JOHN, SALTA AGORA

Vá John, salta agora.
Eles só querem acabar contigo. Já têm um número reservado. Escreverão na autópsia que eras um gajo chanfrado que sempre estiveste em mau estado. Para ti estiveram sempre esgotadas as vagas do albergue. Nem sequer descontavas um cêntimo que fosse para a normalidade social. Vá John, salta agora. Não tens que hesitar. Ninguém vai reparar. Despacha-te John, não alongues o directo, não desiludas a notícia. Confiámos na tua perícia, mas sabes bem que é só desta vez. Está tudo a espreitar. Salta John. Fá-lo com destreza, não estragues a surpresa desta gente que te empurra. Lá em baixo nunca será pior do que a miséria que te gastou o tempo. Dizem os que nunca voltaram. Atira-te agora. Está na hora. Nunca nos doeu a insignificância do teu arrastar. Atira-te John. Nós que juntamos os teus erros, e as lágrimas corridas em segredos de sangue com farpas oferecidas para que o teu choro não incomodasse o nosso bem estar. Vá lá John. Encharcamos-te as veias, temperamos a tua cabeça com um caldo para te acalmar. Não te queixes da fortuna. Nós oferecemos-te uma sorte mentida, mas tu só querias uma nuvem que nos molhava. E apontavas na ponta do desespero uma triste canção. E nós só pretendíamos desperdiçar o teu tempo e nunca te deitaste na cama que oferecíamos à tua atrevida diferença. Que coisa estranha, John. Adiares a morte foi uma traição. Pensas que não nos custou cantar a mentirosa balada para adormecer os nossos filhos? Não foste agradecido. Nós, os que cuidamos do envenenamento dos teus sonhos.
Salta John.
Lembra-te da pomada do charlatão. Nunca perguntaram o que sentias quando abafavas a tempestade asilada na tua cabeça. E aquele santo de barro que bebia o vinho das noites frias, rezava-te orações sempre mentirosas. Embrulhava em massa folhada os recados que escrevias nos sacos de plástico que te forravam a pele. Disseste que a nossa heroína te enganou. Será verdade? Nós só tentámos trair-te sempre que possível. E se bem me lembro, prometemos um velório auspicioso, musicado por um orgão Hammond enfeitado com papoilas perfumadas do mais genuíno ópio. Só para te lembrares que celebraremos condignamente a tua ausência. Vá salta. Salta John. Ninguém está á tua espera. Como pensas que nos sentimos neste filme parado? É certo que não és tido nem achado e a tua solidão é agora falada numa língua dobrada que ninguém entende. Canções metidas na colher, carne branca acendida numa luz insidiosa. Foi assim que te fizeram passar os dias quando pensavas ser o dono das tuas decisões. Não te incomodava a espuma no canto da boca nem os olhares que mijavam em cima de ti. A vida é uma canção de rock`n´roll. Mas o resto, o que de ti importava, sempre passou ao lado. Mas a tua alma chorava. Ninguém respeitava o teu silêncio e riam do personagem que encenavas. Salta John. Agora que já sabes aonde ir. Agora que a tristeza infectada não obedece à direcção indicada pelo sinaleiro, agora que na encruzilhada todos se esquecem de ti, John o teu único sonho partiu para um céu sem o teu nome. Deixou para sempre tatuada uma pressa que não sabes parar. Adiantaste a corrida. Apertaste a correia errada. Não há estrelas que contem o teu segredo, um táxi qualquer que fale de ti, uma linha que lembre a maneira como não sabes o teu nome.
Salta John. Não largues a corda que te estendi.
Eu sei que pensavas ter um anjo sempre ao teu lado. Ninguém te informou que a misericórdia é uma anomalia que não funciona.
John, a compaixão é uma call girl que nem sempre está de serviço. Sempre te desonraram. A tua namorada chorava quando dizia que eras o homem da sua vida , dizia ser a rainha de um reino só teu. Sou a tua fada à deriva neste céu banhando este oásis de desejos apodrecidos. Diz que me amas. Pediam as lágrimas espalhadas no colchão. John, tu dizias que não sabias a cor do sangue que enchia as ruas da tua dormida. As teias dos sonhos que te chicoteavam eram dores menores nos dias estragados. Que dor podias sentir? Gritos escondidos na ambulância e tu sem nada conhecer. O que fizeram de ti. Uma vaga ideia escondida numa salada de putas.
Vá, salta agora John. Leste o livro errado. És o único culpado. Rejeitaste este mundo viciado.
Salta agora John!
Não abales a nossa consideração.

,2017ago_aNTÓNIODEmIRANDA

MÃE

Sentado na sua campa teso como de costume
Lembro-me de muitas conversas e do modo como aceitava as minhas mudanças de humor eu sei o que vale uma flor agora que só posso falar com a sua ausência passo o tempo numa peneira plena dos seus sorrisos e de alguns planos para o futuro sou o que sou e mais que ninguém você o sabe alguma coisa a morte levou mas lembro-me perfeitamente quando se despediu de mim com um olhar apressado para a viagem sentado no frio do mármore não consigo chorar tudo o que pretendo mais que ninguém você conhece o que poderão significar as palavras que me levam até si desta vez não vou mentir a verdade é que não me tenho portado bem talvez porque saiba que já não se pode preocupar hoje vou ler-lhe um poema daqueles que por vergonha minha nunca cheguei a mostrar sentado na sua campa teso como de costume ainda não consigo lembrar tudo o que pretendo
Não sei quando me vou libertar mas já vi o arco-íris na minha janela eu sei que todos os prognósticos são reservados e as funções vitais são uma grande treta respeito a coragem mas você sabe como odeio a resignação e o tentar terá de ser sempre uma obrigação sentado na sua campa juro que não tenho vontade de abraçar o mundo este silêncio tem o som da conveniência e a minha melancolia não é obrigatoriamente triste o céu é um lugar onde nada acontece embora toda a gente acredite na sua festa sentado na sua campa só como de costume revejo imagens que me vestem e você sabe que eu sou um optimista descaradamente teimoso mãe você sabia que o cheiro dos meus cigarros era diferente e eu nunca toquei em nada que me fizesse mal á cabeça nem mesmo os cogumelos e quando eu ficava a ouvir todos aqueles blues você desligava o aspirador para escutar a música triste mãe eu continuo a ouvir essa música e dou-lhe inteira razão uma perda nunca é alegre sentado na sua campa olho o tempo do tempo soletro horas com hábitos de felicidade que já só têm o cheiro da despedida mãe continuo maluco daquela maneira que você sabe mãe continuo à espera daquele modo que você entende agora deixo-lhe os meus poemas
Esperarei por si no clube dos poetas mortos
Até logo
setembro12.2006_aNTÓNIODEmIRANDA

 
 
 

Hazmat Modine: Bahamut - CLARO QUE GOSTO. & MUITO !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!


terça-feira, 22 de agosto de 2017

O CÉU NÃO É LUGAR QUE ME ESPERE

O céu não é lugar que me espere.
30 cêntimos na algibeira,
uma harmónica enferrujada,...

guitarra velha companheira
de uma alma envergonhada
& Blues que choram comigo.
Estou no caminho da tristeza.
com curvas sexy
e doces olhos cor de fel,
escorrendo numa escala atrevida
o olhar que de mim se vai despedindo.
Noites enroladas em bancos de jardim,
um saco pesado com nomes,
um quadro escrito que pensava
que tinha o tempo na mão,
e memórias alisadas com folhas
de lixa de água.
Eram os meses com manhãs obrigatórias
em que encharcava a barba mal parida
com ternuras de Old Spice.
Risca ao lado para disfarçar o enfado,
gravata com nó elástico,
e um caminhar absolutamente absurdo
para encher de frustrações
o depósito diário de 7,35h.
O céu não é lugar que me espere.
Repito nestes velhos acordes,
um voo para nenhures
até que não sobre um osso desta tristeza.

2017,ago_aNTÓNIODEmIRANDA

sábado, 19 de agosto de 2017

VISIONS OF GERARD (para JACK KEROUAC)

Gerard antes de se tornar anjo,
acendeu todos os candeeiros do caminho 

e meteu-se no autocarro que só pensava
em fugir da paragem.
Embrulhou os poemas da sua memória,
alisou a mala dos sonhos e deslizou na auto-estrada
que lhe tinham entregado.
Rodou sobre si próprio para não ficar entontecido
e riscou no pára-brisas o último desejo.
Aconchegou o desconfortável nó na garganta
e timidamente mirou-se no retrovisor.
Tudo estava prestes a acontecer
e o seu sorriso prazenteiro não enganava.
Lá fora as dunas acenavam às bermas de um destino qualquer. Beatas controlavam a azáfama do trânsito

e polícias com sotaques malabaristas
pintavam a passadeira do azul do céu.
Gerard acendia estrelas tímidas

e começava a despedir-se da vida que o traiu.
Elevou-se educadamente para fora do alcance das pessoas
e num assomo de derradeira simpatia,
rasgava cartões-de-visita

onde estava escrita a sua antiga morada.
Poisou as lágrimas na varanda,
despiu-se de si próprio e começou a voar.
Chegou ao recinto pela porta dos fundos
e só porque é mentira, dizem que estava feliz.
Gerard disto nada sabendo, escreve agora poemas
com as penas das asas caídas.
Sempre que se sente alcançado,
liga o purificador das vontades inócuas.
Diz-se que o céu morre de inveja

e quem o habitava,
já lá não mora.
Gerard antes de se tornar anjo,
pensou seriamente no assunto.
E concluiu que nada mais havia a fazer.


2017,jun_aNTÓNIODEmIRANDA

Lawrence Ferlinghetti - #11 aka The World Is A Beautiful Place

The world is a beautiful place
to be born into
if you don't mind happiness
not always being
so very much fun...

if you don't mind a touch of hell
now and then
just when everything is fine
because even in heaven
they don't sing
all the time

The world is a beautiful place
to be born into
if you don't mind some people dying
all the time
or maybe only starving
some of the time
which isn't half bad
if it isn't you

Oh the world is a beautiful place
to be born into
if you don't much mind
a few dead minds
in the higher places
or a bomb or two
now and then
in your upturned faces
or such other improprieties
as our Name Brand society
is prey to
with its men of distinction
and its men of extinction
and its priests
and other patrolmen

and its various segregations
and congressional investigations
and other constipations
that our fool flesh
is heir to

Yes the world is the best place of all
for a lot of such things as
making the fun scene
and making the love scene
and making the sad scene
and singing low songs and having inspirations
and walking around
looking at everything
and smelling flowers
and goosing statues
and even thinking
and kissing people and
making babies and wearing pants
and waving hats and
dancing
and going swimming in rivers
on picnics
in the middle of the summer
and just generally
'living it up'
Yes
but then right in the middle of it
comes the smiling


Lawrence Ferlinghetti

https://youtu.be/VSJbuHLa7j0

domingo, 13 de agosto de 2017

O CAMINHO DE VOLTA

Deslizou o olhar no abraço
da ternura há tanto procurada.
Deixou-se ficar,
pendurado na curiosidade
da lua,
e como se isso fosse
possível,
pensou na ínfima hipótese
da felicidade.
Sentia cada vez mais
o aperto do nó
e um ligeiro
aumentar do desconforto.
Nada que o afastasse
da sensação de estando lá no alto,
ver a luz com cores diferentes.
Pensou.
Tentou descer do candeeiro.
Mas há muito
que lhe tinham roubado
o caminho de volta.



2017,ago_aNTÓNIODEmIRANDA

AS PESSOAS DIFERENTES

As pessoas diferentes devem morrer cedo.
Caso contrário, os estúpidos continuarão a admitir a possibilidade

de aprender qualquer coisa com elas.

2017,ago_aNTÓNIODEmIRANDA

QUANDO DIZES QUE MINTO

Quando dizes que minto,
eu logo digo que não.
E se tu sabes o que sinto,
talvez tenhas razão.
Agora que nos perdemos
neste tempo desavindo,
foi tal coisa sem destino
que da rosa ficou o espinho.
No amor que nunca ardemos,
ambos sabemos do beijo
da paixão desencontrada,
tão velha como a ideia que não vivemos.
Olhaste para mim no baile
como quem quer fazer ciúme.
fingi que não percebia o teu azedume.
Agora que somos sós
num amparo enganoso
lustrando a memória do não
do meu eu não mentiroso.
Segues o teu caminho
por uma porta
que não conheço
e eu agora sozinho
para aquilo que mereço.
Digo-te adeus desta janela 
que não vê o teu olhar.
Sonho sempre com ela.
Mas sei que não vai voltar.



2017,ago_aNTÓNIODEmIRANDA

INPUT/OUTPUT

Leva-me até à beleza
embora eu não tenha a certeza
de a poder tocar.
Tenho esgotado
o saldo das pretensões
ignoradas.
Avariado
o medidor de emoções.
Desacertado
o controlador de afectos.
Só me pertence
o gostar até depois,
nesta sede que bebe
as tuas lágrimas.
Prometo
que fico bem
na tua pele.


2017,ago_aNTÓNIODEmIRANDA

FALTA DE MANUTENÇÃO

As molas
e os varões enferrujados,
deixaram cair os cortinados?
Ora!
Que admiração!
Falta de manutenção.


2017,ago_aNTÓNIODEmIRANDA

SANTIFICADOS

Santificados sejam os ignorados.
Os portadores das boas intenções.
Os autores das boas notícias.
Os mentirosos não habilidosos.
E também os crédulos da absolvição
do mundo que os engana.
Santificados sejam os inocentes.
Os ausentes e os que se julgam presentes.
E também aqueles que continuam à espera
daquilo que não sabem.
Santificado seja eu!
E permitam que vos diga:
a culpa não é minha.

2017,ago_aNTÓNIODEmIRANDA

 

PLANO SIMPLIFICADO

Terei de começar a chorar por mim.
Alguém me entregou uma alma complicada

e eu mantive a inteligência

num plano simplificado.


2017,ago_aNTÓNIODEmIRANDA

TOMATES



Que

-
los

Para

Lambê
-
los



2017,ago_aNTÓNIODEmIRANDA

A MINHA MAIS IMPORTANTE AJUDA

Sentado no paraíso imagino conversas
de pé de orelha.
Tocam-me nas mãos folhas com poemas.
Sorrio satisfeito para as palavras
e deixo que o meu desaparecer aconteça
para melhor as entender.
É este paraíso a minha fuga preferida.
Bebo-a delicadamente
ao mesmo tempo que esfrego os olhos
para um destino sem direcção.
Percorro certos livros nesta música
cantada através da luz do candeeiro
que acende a minha caneta.
Imagino sem pensar
e escorrego em contramão
para todos os vazios que me consomem.
Acho-me nesta quietude
juntando peças repetidas
de um puzzle que me entregaram.
A vida é demasiadas vezes um acto ignóbil.
Dá-nos a pressa roubando aquilo
que julgamos ter juntado.
Sentado não sei aonde,
nada me apetece pensar.
Embora isso não seja suficiente,
é a minha mais importante ajuda.


2017,ago_aNTÓNIODEmIRANDA


 

BEBEMOS LONGOS WHISKIES E NÃO ME IMPORTO SE DIZES QUE É PECADO

Fala com ela pela noite fora,
mas ninguém acredita
nas palavras que pinta,
neste passar do tempo
que foge pelas suas mãos.
Não há voz nem presença
neste espremedor de paciências.
Puxa o lustro à pele tisnada
e num assomo de lealdade,
aconchega-lhe a fotografia
e sorri-lhe histórias daquele filme
onde sempre estiveram de mãos dadas.
Mas este sentir agora mentido
nada pode prometer.
As portas já não escondem segredos
e a luz que as entreabre,
é agora uma linha ténue
que balança teias
tão velhas como estas ausências.
Bebemos longos whiskies
e não me importo se dizes que é pecado.


2017,ago_aNTÓNIODEmIRANDA

HÁ SIMPATIAS INÚTEIS

Mais do que dizemos neste silêncio,
é o nevoeiro que ilumina os sorrisos

que espalhámos na brisa do caminho.
Todos estes medos medidos em segredos,
todos estes olhares entristecidos

por uma rouquidão que queima o céu.
E este andar tantas vezes repetido,
tem agora o sentido de uma pele ausente.
Todas estas lágrimas enrolando memórias,
gritam aflitas, os apertos que me acordam
a serenidade.
Vagabundo neste estendal de vazios,
escrevo no peito areias movediças.
Sou uma fenda,
uma cicatriz emoldurada num rumo entontecido,

uma muralha absurda
e uma suposição brevemente disponível.
Podes ouvir-me na fogueira das estrelas perdidas,
eu,
aquele facilmente reconhecível pela mania

demasiadamente falhada.
Neste sol que me vai carregando os ombros,
tenho circunstâncias que já começam

a cansar-me.
Há simpatias inúteis que inundam a vontade

com que aprecio o desenrolar da vida.  

2017,ago_aNTÓNIODEmIRANDA

OUTRA PERSPECTIVA

Um cão a ladrar
poderá pensar
na eventualidade
de alguém escutar
o poema que está a recitar.
Não é humano.
Por isso tem outra
perspectiva.

2017,ago_aNTÓNIODEmIRANDA





A CULPA MAIS PEQUENA

Falava sempre das estrelas
que lhe liam as notícias
e elogiava a espera
do seu aparecimento.
Escondido na hora habitual,
desligava a realidade
e entrava no templo dos sonhos.
Arregalava os olhos,
arrastando as pernas
no soalho das aparições.
Estendia a música
no caminho prometido
e sorria, até que a primeira
de todas as estrelas
o abraçasse.
Depois,
deitava-se com a angústia,
a culpa mais pequena
da sua não existência.


Melides,2017,jul_aNTÓNIODEmIRANDA

AMAR-TE AO QUADRADO

Amar-te ao quadrado
Não significa que estou bêbado.
É uma mera equação matemática
Que gostaria de tentar
Solucionar.

Melides,2017,jul_aNTÓNIODEmIRANDA

BICARBONATO DE FÓDIO

A luxúria sempre o atraiu.
Era o seu sonho maior.
Mas o seu preço estava pela hora da morte.
Assim pensando...
dedicou-se á lixívia,
que como quem não quer a coisa,
se tornou na sua pinga preferida.
Dizem que morreu
anonimamente conhecido.


Melides,2017,jul_aNTÓNIODEmIRANDA

COURO/PICHA/&OSSOS

Couro/picha/& ossos.
Estou incendiado neste quarto imundo, hotel de todas as classes, ouvindo velhos carecas de púbis nojentas, tentando convencer a puta da EN1, que pouco antes os fitava com olhares de perdição.
Vamos mentir!
Pouco sobra nesta carteira e a outra vida, aquela escondida, já teve melhor maneira.
Sozinhos, encostados á árvore dos bicos, assobiam para o lado melodias desamparadas para disfarçar a falta de vaselina.
E fingem quando chegam a casa, um ar cansado. A criada está à espera.
A vaca disfarça apressadamente, beijo na testa, sorriso maquilhado, limpa a vagina ao toalhete, que bem lhe soube o minete.
Veja, há muito que estou à sua espera.
Ó querido, porquê tanto stress? Um dia vamos fazer amor. Não se apresse! A mim também não me apetece.
Recebeu o cheque, conferiu o numerário, olhou ternamente o dromedário e disse: ó tio, não fique triste. Em você isso sempre acontece. Não fique assim, não. Olhe, vou chamar o Tadeu, aquele que me fodeu até furar o colchão.
Querida! Como você é compreensiva.
Obrigado.
Sinto-me aliviado.
 

Melides,2017,jul_aNTÓNIODEmIRANDA

 

POR VEZES MULHERES BONITAS

Por vezes mulheres bonitas
olham-me com um modo empardecido.

Sorrio
-
Lhes
Poemas
Que
Ainda
Não
Escrevi.
Não exijam
mais
do
poeta.


Melides,2017,jul_aNTÓNIODEmIRANDA

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

TODA A GENTE DEVIA ANDAR PEDRADA E MÃE NÃO ME DIGA QUE É UMA IDEIA ERRADA

Estou a perder a cabeça.
Já não calco os passos que me levavam até mim. Danço os sons da floresta nesta amálgama de incúrias lambidas suavemente pela língua da minha aparência. Percorro-me de lés a lés num golpe estranho ao batuque do coração. Visto-me com a vontade congelada aguardando o seu degelo para nela naufragar. Esta é a fé que não pode ser salva pelas trompas gloriosas da ventura insaciada. Há um desejo repetido tantas vezes sem conta um soluçar de esperança atrevido e um não estar orado nas preces sem deuses. Estou vivo no modo contrário da normalidade narcotizada embora assuma a plenitude da minha falta de defeitos. Tenho uma tranquilidade adversa uma vontade dizem que perversa e um juramento infiel bailando a valsa dos arrependidos que estão por chegar. Guardo num saco azul quezílias bolorentas sediadas num paraíso artificial que ainda não encontrei. Não digas não sussurra a velha canção. Olha que amanhã também poderá ser um dia como deve ser.
Mudar de rumo também não me apetece.
Perco-me facilmente nas propostas indecentes.
Passam um milhão de medos pela minha cabeça. Não tenho desculpas para todos. Frito as tristezas nos sorrisos sem futuro mas não tenho pele para tantos golpes. Nada está calmo nesta nuvem com sons cada vez mais desavindos onde estranhos que já conheci acenam com bandeiras da última meia noite. Mas eu quero mais : o sonho que não dormi! Quero um cocktail de luas maliciosas. Um sono não amolgado.um outono sossegado. Um velho blues sincopado. Um abraço não ocupado. Uma aleluia sofisticada com berros dos cordeiros sobreviventes e cútis fora das hóstias e histórias sem morais inóspitas e uma vontade sempre a arder. Um relógio fora de horas um tempo sem demoras e uma ideia sempre pronta para acontecer.
Estou a perder o coração.
Não digas isso que me dá dó. Diz-me a minha fralda madrinha. Coitadinha, não sabe que está só. Todas as mães deveriam estar no céu. Refiro-me unicamente às boas mães.
Que poderei eu fazer se nada pretender?
Vi aquele cogumelo naquele lugar estava vivo tive de o abraçar. Vou oferecer todo o meu desejo. Talvez sim provavelmente não. Só quero uma noite de cada vez na minha lista de espera. A minha porta já pouco se abre. Todas as cores morrem sem me avisarem. Ninguém chora a orfandade das tintas. A palete desmaiou a espreitar a fechadura a carpete foi aniquilada como obra de arte gongos ao longe disfarçam o seu choro.
A minha cabeça entrega-me a chuva dos dias de prata onde dormem as primaveras amistosas. Sonhos voam nas ravinas dos murmúrios para enconderem as lágrimas. Estou no meio da sopas dos ninhos das borboletas dos sorrisos multicores. Guinchos de ambulâncias queimam as esponjas do fim do dia. A brigada dos choros convulsivos recolhe dissimuladamente alguns poemas. A angústia é uma colher onde nunca tudo caberá.
A minha cabeça diz-me que estou certo. Hoje preciso da sua ajuda. Quero o seu amor esta noite. Agora ouço as suas palavras que me prometem as imagens que quero. Preciso da sua ajuda. Hoje quero que o seu amor me ofereça as folhas do outono prometido.
Sinto-me tão preguiçoso. Vou dedicar-me a pintar o teu sorriso vestido com as nuvens do teu olhar. Podes ouvir-me querida amiga neste absurdo da vida com que celebro a tua presença num TANGO WHISKEYMAN.


2017ago_aNTÓNIODEmIRANDA

terça-feira, 8 de agosto de 2017

SEC`ADEGAS - BARCELOS; ALDEIA DE LiJÓ e PAREDES DE COURA.

Fim de semana inesquecível com família boa.
Gente de alma grande.
Obrigado, aos meus tios Sofia e Serafin Simoes, Zeza e Jorge Rodrigues, Graça e Francisco, e primos :Anabelle Simões, Kamel, Ilan e Mehdi ,Sofia Miranda, Tavares e Gonçalo.