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quarta-feira, 28 de junho de 2017

3 CONVERSAS PARA O POEMA DO AMOR POSSÍVEL

1
Tatuámos o desejo
nas algemas da ternura
e o amor possível
não as abriu.

2
Drive me!
Drive me baby!
I like the way you do.
Take me!
Take me baby!
I wanna do bad things with you.

3
As promessas indicadas
no código de barras
abrangem a pequenez
da nossa intenção.

CONCLUSÃO FINAL

Por ti,
neste encontro nunca acontecido,
entonteço na sombra do candeeiro
que sempre me engana,
quando tento abrir a tua porta.

2017,jun_aNTÓNIODEmIRANDA

O BAPTISMO


Naquele domingo

3000 jeovás

entraram no Tejo.

3 peixes,

a muito custo,

atingiram a salvação

na

Trafaria

2017,jun_aNTÓNIODEmIRANDA

CONVERSA SÉRIA


Não consigo ter uma conversa séria comigo.

Tenho no mesmo lugar 2 pensamentos.

Nenhum deles,

considera

essa

possibilidade.

2017,jun_aNTÓNIODEmIRANDA

TEMPO DE ORIGEM DUVIDOSA


Corro sempre depressa demais

para a espera

que tanto me cansa.

Não paro.

Não escuto.

Não olho.

Apenas tento fintar

um tempo de origem

duvidosa.
 
 




2017,jun_aNTÓNIODEmIRANDA

 

SE UM PATETA VOASSE


Se um pateta voasse

aqui para perto do meu lado,

era melhor que pensasse

antes de ficar quilhado.
 
 


2017,jun_aNTÓNIODEmIRANDA

 

PIQUENIQUE

As formigas sentaram-se à volta da toalha
e olharam com desconforto o que ela mostrava.
Todo o ano a trabalhar,
sem um dia descansar
e esta treta poisada em quadrados
com berros desmesurados,
arrotos e peidos dados.
Maldita cigarra!
Trocaram-se beijos e abraços.
Promessas de amizade para sempre.
E no meio dos catarros,
as formigas
leram
um discurso
ausente.

2017,jun_aNTÓNIODEmIRANDA

EXTRACTO

Encontrámo-nos numa tela enrugada,
pintada com culpas de insolvência.

Nada poderá restar desta falta de senso
 
 
para sempre carimbada nas paredes que
 


nos escutavam.

O extracto da nossa vivência,

é uma prenha minuta

com todos os erros

que juramos nunca iriam acontecer.


2017,jun_aNTÓNIODEmIRANDA


FALAR AGORA DE ROSAS

Por certo não haverá tempo
para colher todos os desejos
do jardim das delícias.
Beijo ante beijo,
antes de o sol acordar
a loucura da última noite,
dormirei a teu lado,
desapertando
com o lamber da minha língua,
as asas do teu sutiã.
Guardo no peito,
o deslizar de lânguidos olhares,
toques húmidos
e um sonho tardio,
depois do sussurro que nos amainou.
Falar agora de rosas,
não vem a propósito.
O que é que achas?


2017,jun_aNTÓNIODEmIRANDA

O CARTEIRO

Correm no meu lado carícias não entregues,
quando me julguei carteiro
e adulterei o código postal.
Não sei que ideia me cegou neste desvão
de núpcias previamente anunciadas.
Sento-me num amor em vão,
a única possibilidade de pensar
que algo seria possível.
No meio do nada que não conheço,
finjo-me que aconteço,
metido em multidões encenadas
por um coreógrafo que ainda não me encontrou.
O amor é sempre uma solução hipotética,
que por vezes se encosta
a uma porta difícil de abrir.
Temos as chaves erradas,
o que até não é mau,
pois se houvessem as correctas,
não as saberíamos usar.
Isto dirão com certeza os filósofos,
coisa que não me apraz registar.
Outros dirão que quase todo o amor,
salvo nenhuma excepção,
é um acto de solidão.
Mas eu faço como a minha mãe dizia:
ama meu filho!
De manhã até ser dia.



2017,jun_aNTÓNIODEmIRANDA

 

PANTERAS COR DE ROSA


Prometemo-nos um
silêncio envolvente
e panteras cor de rosa,
aquelas que só existem nos filmes, ensaiaram passos de dança
aplaudidos efervescente-mente
pelo senhor Peter Sellers.
Isto foi no tempo
em que as salas de cinema
não eram micro-ondas.

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SESSÃO MATINAL DAS FEZES


A perspectiva que me querem vender

é uma vacina bacteriologicamente infectada.

Uso-a na sessão matinal das fezes.

Carimbo no papel higiénico

assinaturas de concordância.
 
 
2017,jun_aNTÓNIODEmIRANDA
 

TALVEZ O MUNDO FICASSE MELHOR




Cuidar dos mortos

&

Enterrar os vivos.

 

2017,jun_aNTÓNIODEmIRANDA

PROPÓSITO INVIÁVEL


Satisfazer-me a mim próprio,

Continuará a ser um propósito

Inviável.

POST SCRIPTUM


Não subestimo a admiração.

Mas admiro muito mais o respeito.






2017,jun_aNTÓNIODEmIRANDA

domingo, 25 de junho de 2017

COMO É DIFERENTE O CHEIRO DESTE MIJO!

 Nada sei disso!
Daquilo que dizem fácil.
Mas não enxergo na minha horta existencial o difícil.
Visto os dias com outros pormenores
que me desenham um Basquiat sempre hábil.
Pinto o meu gosto encharcando um grafiti movimentado pela vontade de ser quem sou.
Sentado nas escadas, enroscado nos degraus que me marcam, arranjo ½ quilo de feijão verde para uma sopa com todos os desejos permitidos.
E tempero esta malícia com o suave sangue que molha os golpes dos meus medos.
Em boa verdade, ainda não sou um exímio afiador de angústias.
Poderei tentar outra alegria mas a minha tristeza é muitas vezes o mais importante.
Jean Michel sorri com um osso que roubou ao cão que confiadamente frequentava a # factory #.
Joe Dallesandro com pénis desenhados nos ténis descalços, pinta na seringa delinquências # gourmet #.
Irei mudar de sopa e afastar educadamente as pevides com as cores do Miró.
Também já não sinto os degraus.
& alguém roubou a minha roupa!
Coisas dos artistas.
Mas é só neles que eu confio.
A guia do museu tirou-me a fotografia.
Neguei-lhe o autógrafo.
Já nada estranho nestes tempos.
Fui jantar à Trindade!
Como é diferente o cheiro deste mijo!

   2016,10aNTÓNIODEmIRANDA

 
 
 
 

sexta-feira, 23 de junho de 2017

SE ISTO FOSSE UM POEMA

Se isto fosse um poema, beijava a oração do descrédito dos poetas do fim do longe. Enlatava os erros de palmatória, queimava a tristeza absurda que assola as perspectivas e barrava todos os naufrágios deste mar que só lavra a terra do desperdício. Se isto fosse um poema, as horas que me roubam teriam outro tempo e a exactidão dos ponteiros não se aproximaria tanto da fatalidade. Se isto fosse um poema, não teria nojo de toda esta mentira, que tudo me tira nestes dias cortados em fatias envenenadas. Se isto fosse um poema, não lamberia esta gelatina de destroços que me congela os ossos em alguidares de menosprezo. Se isto fosse um poema, queimava o mundo que me vira as costas e a dignidade significada em formas de postas, que me oferece a mais pobre afinidade. Se isto fosse um poema, não seria menos que o resto, e o que de mim dizem faltar, oferecido em festins nus numa festa definhada. Se isto fosse um poema,diria que ler certa poesia, é por vezes um hobby nojento. Se isto fosse um poema, na sombra da árvore sagrada dos versos, sentir-me-ia existir agradecido às folhas que pousavam no meu firmamento, pintava assim as horas amigas, soletrando prazeres com abraços de poetas companheiros, que pisam o mesmo chão.

2017,jun_aNTÓNIODEmIRANDA

LIFESTYLE

Afixação proibida.
Reservado o direito de intromissão.
Todas as taxas incluídas.
Todas as rachas tapadas.
Visite o nosso standard.
Sessão especial de boas-vindas.
Vistas teleguiadas.
Oferta surpresa debaixo da mesa.
Menus à medida.
Orações ligeiras feitas no momento.
Recauchutagens desenhadas pelos mais conceituados estilistas.
Livros e revistas sem nada de útil para ler.
Parqueamento armadilhado.
Wi-fi a condizer.
Mudança automática do perfil.
Promoções fictícias.
Tv sem notícias.
Estágios mal-frequentados.
Diplomas falsificados.
Sessões contínuas de pesadelo.
Curso intensivo de patetice usual.
Introduções não dolorosas.
Instruções bilingues.
Imposto único de circulação não cobrado.
Corpo docente não acreditado.
Presente infectado.
Futuro nunca assegurado.
Inscrições limitadas.
Seja feliz,
que ninguém se importa.

2017,jun_aNTÓNIODEmIRANDA

quinta-feira, 15 de junho de 2017

A TENDA DOS MILAGRES

Gestos amnistiados por
vinte mil pulsações por desgosto.
Ali é o longe de todas as coisas
achadas no absurdo
que talha as facadas da vida.
A lógica do amor
é uma ternura sem nexo algum,
que embrulha delicadamente
as noites das borboletas inquietas.
Há um ruído escusado,
abandonado no canto da velha história
farta de ser contada.
Esperamo-nos ao fundo da rua
agitando soluços empobrecidos
pelo nosso despertar.
Não saberemos nunca onde ficará
a tenda dos milagres.

2017,jun_aNTÓNIODEmIRANDA

O CÉU NO OLHAR

Tinhas o céu no olhar e um sorriso quase total,
que reconheço, embrulhava todas as dúvidas.
Mas o tempo nem sempre corre para o lado certo,
conforme está desenhado nos mapas.
O barco que apanhamos
muitas vezes é um furioso vilão,
atrapalha as boas marés sem costa possível.
Fiquemos pela corda que nos aproxima
e deixemos qualquer nó para outras hipóteses.
Riscamos na proa sem destino
e quilhamo-nos no leme
que dirige o nosso abandono.
Temos na mão uma bússola com varicela,
um termómetro exaltado
e a vontade pintada numa vela.
Atira-te ao fundo,
mas não magoes nunca o teu sentido.
Salva-te onde puderes.
Para isso,
foge daqui.

2017,jun_aNTÓNIODEmIRANDA