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quinta-feira, 27 de abril de 2017

terça-feira, 25 de abril de 2017

25

Beijar o cravo,
Sorrir a esperança,
e nunca perder a vontade dos dias felizes.
Que nos fique para sempre
na lembrança
que o medo que nos amarrava
foi sendo vencido
com coragens
que nem sempre respeitamos.

,2017,abr_.aNTÓNIODEmIRANDA

EU BEM TE AVISEI!

Eu bem te avisei!
Os poetas escrevem com palavras mentirosas.
Pensam enquanto riem
e nesse riso fingido,
não têm tempo para emendar
o que não foi sentido.
Desenham a tristeza em folhas frias
e limpam lágrimas escondidas
nas caixas de pó de arroz.
Avermelham os olhos
pintados cirurgicamente
em frente de espelhos convenientes.
Acendem o cigarro
com voz de catarro,
e entram no filme
levando no braço a gabardine
do HUMPHREY BOGART.
Num olhar pretensamente descomprometido,
imaginam a amplitude
da costura daquelas meias de renda.
Os poetas escrevem as palavras possíveis
dos poemas mentirosos.
E a sua almofada preferida
é forrada com papel mata-borrão,
para que os sonhos que não querem ter,
não incomodem a sua fantasia.
Os poetas não têm culpa
Da inveja de deus.
Eu bem te avisei!
Vou desligar esta chamada
Com número anónimo.
 

,2017,abr_.aNTÓNIODEmIRANDA

HARAKIRI SINCRONIZADO


Desço num compasso atrasado
a avenida da adolescência,
nesta saudade abraçada a velhos blues
e palavras escorridas dos livros
que me ensinaram o caminho.
Junto perspectivas nesta gamela,
e misturo fermento crescente
com a precisão que fui adquirindo.
Disparo certeiro nesta bala descaída
que beija o tiro que continua a ferir-me.
Free like a shot from my gun.
Rosas retardadas para os dias sempre hipócritas, descansam num jazigo à toa escolhido,
onde apresento o mais infiel dos bluffes.
Há coisas para que não tenho jeito algum.
E lubrificar cãibras é uma arte que a mim me falha.
Que deus me valha!
Ok! Não atirem todo o bónus para cima de mim.
Aprendi a jogar poker num SPRECTRUM ressabiado
que com todas as vírgulas caluniava a minha batota.
E eu até pensava que era bom.
Claro está, menos nos desenhos a tinta-da-china.
Borrava sempre a pintura e o HỒ CHÍ MINH
nunca achou lá grande piada.
Apresentei-lhe um novo alibi para a grande muralha,
mas infelizmente embebedou-se com um certo vinho
de MONÇÃO.
Águas passadas enferrujam qualquer canalização,
e o seguro, de tanto reumático,
já não cobre todos os riscos.
Ok! Desisto!
Vou voltar para o império das mentiras,
afiar a Muramasa e derramar um carpaccio
com a pele do teu desejo.
Perfumado com KENZO, i
mprimirei em photo paper gloss,
HAIKUS banhados no tinteiro das palavras bonitas.
Claro que não é o fim.
Ainda resta o estrangular dos teus lábios
no meu ossário defeituoso.
Viveremos felizes para sempre,
desde que um qualquer deus curioso
não inveje a nossa cumplicidade.
A avenida da minha adolescência
não está programada no GPS,
e o tacógrafo da minha esperança,
foge da animosidade
da brigada dos costumes sonolentos.
Corto as pontas das setas,
escondo os alvos e escrevo
certas palavras ao contrário,
só para inglês ver.
Embalo com todo o cuidado,
estes cacos etiquetados
com proveniências duvidosas
para vender na feira da ladra.
É bem verdade que não têm tido muita procura.
Mas deus nasce, o homem sonha e a obra dorme.
,2017,abr_.aNTÓNIODEmIRANDA

SONHAR PEQUENO


Sonhar pequeno

 É remar para a tempestade.
 
,2017,abr_.aNTÓNIODEmIRANDA
 
 

sexta-feira, 21 de abril de 2017

quinta-feira, 20 de abril de 2017

NUNCA SORRIO PARA MIM DESCONFIADO

De onde saio?
Do tempo infame ou terei de continuar no corredor das fintas curtas e golpes de rins vendidos em qualquer talho?
Mastigo sem gosto a sopa de letras que não sei ler e nos passos em cima da linha, alinho contradições que só a mim dizem respeito.
Longe, naquele lugar que às vezes encontro e que de tanto o achar, o desencontro, procuro uma lucidez que não me dê muito trabalho.
Sento-me na paragem da espera do tempo, agarro o fôlego e envio para o céu códigos escritos com a nuvem dos cigarros que fumo.
É sempre necessário admitir que nem tudo o que me seduz é ouro. Já tenho a pele com a certeza do couro e demasiadas pulseiras antagónicas para soletrar penas nunca cumpridas.
O bom filho a casa rouba e a mais não é obrigado.
Sou um desalinhado com algum jeito para centrar exacto o esférico em direcção à cobiça adversária.
Como dromedário,
os estúpidos não compreendem
o meu contrário,
e assumo quando me apetece
que a minha aspiração na vida nunca foi central.
Gosto do que sou
amo o que gosto
mas isso é tão banal que nem importância lhe dou.
Finjo que não ouço mas nunca me esqueço.
Aqueço o espelho para que o vapor
não mude a risca do meu penteado.
Nunca sorrio para mim desconfiado
e não confio absolutamente nada
num relógio que admita enfeitar o meu pulso.

,2017,abr_.aNTÓNIODEmIRANDA

PATAMAR DO ALENTO

Sonhos riscados.
Núpcias cruzadas em finas tiras.
Um oxalá soltado no instante breve
da possível aparição.
Bodas de ouro ferrugento
abrigam um pranto salpicado
pelas lembranças sem fé.
A necessidade aguçada
num engenho avariado
não conseguiu soprar para longe,
um sequer dos murros
que encheram o saco.
Nem um desejo se encontra
nesta órbita infeliz
doidamente à volta
de uma rota desaparecida.
Uma serena contrição
chorada nos decibéis
do estúdio da embriaguez absurda.
E os espinhos desta rosa enjeitada
procuram agora abrigo
no bolso das estrelas
que há muito perderam o olhar.
Naufraga apressada,
agita os braços cansados
nesta melodia desafinada.
Choram lágrimas no oceano
prontamente amparadas
por golfinhos com asas.





,2017,abr_.aNTÓNIODEmIRANDA

CAHIERS DU CINEMA

Tenho o sono no filme errado. Talvez um erro de casting tenha ocorrido. Lamentamos a testosterona mas o organigrama segue dentro de momentos. Gosto deste realizador sentado numa cadeira sem alvíssaras. Tem na pala um olho decente e na cabeça uma câmara oculta de filmar sonhos. Pé ante pé tropeça no guião e desenrola acções de suspense com CLOSE UP de ketchup. Fica deleitado nas cenas de sexo emitidas com sons das paredes almofadadas. _Corta! Diz o aprendiz anão convenientemente depilado e com ares de óculos de feiticeiro. No seu pénis forrado a cabedal, preto de preferência, o 47x24x15, isto é o grande chavalão grita desalmadamente que não aguenta tanta realização. Impotente de merda, gritava a actriz especialmente convidada para a introdução.
Valha-me Cristo, o Cristóvão e porque não o Evaristo.
O realizador,
homem experimentado,
mijava no megafone desligado
e dizia para quem não o ouvia:
take 69.
Luzes!
Câmaras.
Acção.
Até que enfim,
declamava o óscar suplente
no seu fato de arlequim.




,2017,abr_.aNTÓNIODEmIRANDA

SANTOS PARADOS NÃO FAZEM MILAGRES

Disse-me:
ando numa fase
um bocado em baixo.
Respondi:
há que utilizar
o elevador.
A auto-estima…
a opinião dos outros só me interessa
quando eu estou de acordo com ela.
Percebo que nada percebo.
De vez em quando é suficiente.
Não deixe que lhe façam mal.
Eu também não sou santo.
Santos parados não fazem milagres!
O futuro promissor
fugiu de cima
do andor!
Depende da complicação.
Mas sempre lhe digo que
há coisas muito melhores para serem feitas.
Não me preocupo
em compreender a natureza humana.
Até porque me falta o manual de instruções.
Se se viver uma vez como deve ser,
facilmente constataremos
que embora dê muito trabalho,
é plenamente suficiente.
Não me elogie assim tanto!
Até “deus” pode ficar com inveja!
Lamento que todos os beijos
não sejam como o de Judas!
está escrito
que esse ao menos
só enganou num.
Quando se está parado
e se precisa
que nos dêem corda…
cuidado com os nós.
Pessoa está morto?
Antes ele do que eu.
Nunca gostei da concorrência.
A sofisticação
é o meu desodorizante
favorito.


,2017,abr_.aNTÓNIODEmIRANDA

INQUÉRITO

Boa tarde.
Tenho o prazer de estar a falar com o senhor
aNTÓNIODEmIRANDA?
Sim, é possível.
E o senhor, sente-se bem?
Sim! Mas devo dizer-lhe que o papa anda preocupado.
Bom, senhor António, qual é a sua profissão?
Reformado & mal pago.
Então e antes, o que fazia?
Era um drogado incorruptível
embora anonimamente conhecido
Tem hábitos de leitura?
Tinha, até ser apanhado a roubar livros.


,2017,abr_.aNTÓNIODEmIRANDA


APENAS UM CONSELHO

Não cobices o alheio com receio!

Culpas arrependidas

nunca têm fodas cumpridas.
 




,2017,abr_.aNTÓNIODEmIRANDA

PALAVRA DO SENHOR

Não é preciso

Estares de joelhos

Para me fazeres

Feliz!
 
,2017,abr_.aNTÓNIODEmIRANDA

NÃO TENHO TEMPO

Às vezes não tenho tempo de escrever
aquilo que penso.
E isso é uma miserável falta para a humanidade!
Contudo, não peço desculpa
Pela ausência da minha urbanidade.


,2017,abr_.aNTÓNIODEmIRANDA

SOBRESSALTO

Cingi a linha mais curta
neste compasso que ultrapassa
o desenho da minha ilusão.
Outras mãos apertam esta vontade
nos breves segundos que me circundam.
Cansado desta mania,
tento sorrir como os raios de sol
que outrora iluminavam esta ideia.
E nesta pausa cada vez mais usada,
mesmo acariciando os meus tempos,
muitas vezes penso
que quero admitir a sua ausência.
Verdes anos
numa cor cada vez mais diluída,
encaminham-me para um sobressalto
sem lugar para morar.


,2017,abr_.aNTÓNIODEmIRANDA

A RAZÃO

A razão, mesmo vivida de trás para a frente,
Nunca deixará de ter sentido.


,2017,abr_.aNTÓNIODEmIRANDA

PATOLOGIAS

Estamos cá para o que der e houver.
Outras patologias
Serão perfeitamente dispensadas.





,2017,abr_.aNTÓNIODEmIRANDA

MORTE

Estou escrito na fila.
Aguardo
que a espera
apague
o
nome.




,2017,abr_.aNTÓNIODEmIRANDA

14_53_62

Só tinha 14 anos e a idade madura para imaginar o mundo como um lugar quase imperfeito.
Sorvi naquela altura “Uma Educação para a Liberdade” do senhor Paulo Freire, livro que comprei na livraria do meu pai.
E em 69, o ano em que comecei a trabalhar, no fim de Setembro no meu primeiro recibo de ordenado, imitei timidamente a assinatura do Che.
Ninguém ligou importância, nem perigoso foi, até porque os outros sabiam outro tipo de histórias.
E passados tantos tempos, em que só tentei que aquilo que gostava não me escapasse, hoje com 62, recuso-me a não achar qualquer sentido neste verbo que me foi enchendo a alma.
Só sou verdadeiro naquilo que gosto!
As modas passam mas não deixo que danifiquem a minha memória.
Tenho caminhos diferentes que me conduzem a vontade, visto tantas peles, por vezes largo escamas mas resisto e continuo com aptidão total para não me escalarem nem ser comido de cebolada.
Não morro nas vésperas do adormecimento.
Mas hoje, e porque talvez seja feriado, ofereço-vos uma excepção:
choros arrependidos poderão ser servidos no pátio dos lamentos.
Temos frango avariado sushi marado caril de corrimão lulas com molho de varão, e verão, é minha suposição que as asinhas do kfc, são previamente depiladas de acordo com as normas da cee.
Voltando ao princípio, que não me lembro, digo-vos que Lisboa já tem mais hotéis e serviços similares do que o número de estrelas da Ursa Maior.
A outra (Ursula Andress não permitiu a utilização do seu carácter nesta missiva).
E aviso-vos: tende cuidado com o congestionamento do tráfego das escadinhas do Duque.
Há por lá gente boa, mas nenhuma é de confiar.
Voltando ao cerne da questão, que também não recordo, digo-vos então, talvez seja melhor em inglês, francês, alemão, porque não (?)
que as ementas escritas nestas línguas dão-me cabo do apetite.
Pronto!
Sou um mero provinciano, minhoto com 53 anos de Lisboa e 7 voltas de Inter-Rail (que saudades), que mesmo com passe social previamente pago, cada vez tem mais dificuldade em percorrer esta cidade.
O que verdadeiramente me magoa é a faca com que afio estas memórias.

,2017,abr_.aNTÓNIODEmIRANDA

BOLEIA

Escorre-me um suor inteiro com os cheiros de todas aquelas partidas onde dizia á minha mãe, até logo. No bornal o habitual pão escuro e a inevitável lata de atum, fiéis companheiros da minha boleia. Tinha na cabeça a bíblia sagrada dos viajantes solitários sem a falta de nenhum parágrafo. Longe esses tempos do mp4, mas a música que sempre me acompanhou também nunca sentiu essa ausência. Guardado pelo candeeiro da auto-estrada via horizontes que abençoavam a contínua esperança de um qualquer assento. Às vezes tardava. Tardava em demasia e eu fingia que adormecia só para não ficar cansado. Nunca desisti da esperança embora muitas noites tivessem sido passadas com a solidão dos poetas descalços.
Estrela amiga,
aquela que tardava no deitar
só para ser a minha companhia.

,2017,abr_.aNTÓNIODEmIRANDA

NOTÍCIAS DA RAIVA


Neste pedaço gelado todas as noites dormiam
com a avareza das gaiolas amarelas.
Aproveitando uma aberta, as virgens do sol nascente prometeram uma greve presencial contra a contrafacção das promessas inocentes.
E os crédulos dementes das paixões avassaladoras, ergueram as vassouras em sinal de protesto.
Nefasta intenção mais tarde secada a seco
na roda-viva do concurso das sete da tarde.
Não há montra que resista
neste patrocínio da estupidez continuada
Nasci com todos os defeitos que vou conservando
no passar dos meus anos.
E isso é muita filosofia para a minha panela

,2017,abr_.aNTÓNIODEmIRANDA

SERRIM


Nódoas traçadas na toalha bordada
horizonte peneirado
névoa de manhas retardadas
um fugir lento sem situações confiáveis.
Nada faz sentido
neste monte de cavacas
brevemente arrastadas em tons e cinza.
O vento empurra o serrim
alçando nuvens que alcançam
a espuma dos dias.
Nada restará deste pó
tantas vezes crucificado na vã glória
do sonho nunca acontecido.
Os retratos fugiram das molduras
habitando agora um hábil desleixo
que enche estas mãos sem nada para abraçar.
E esta perseverança repetida
assobia aos ouvidos as canções
do serrim vagabundo
que jura nunca nos abandonar.
No chão da lareira ardem todos os prenúncios
deixando um cheiro angustiado que suja a solidão.
E depois há um soalho velho e gasto
por tantos passos que tantas vezes
nos levaram a lado nenhum.
E o sol oculto nas janelas
demasiado apressado na longa caminhada
para acordar os dias.
E um torpor gélido
que ponto por ponto
sublinha as palavras da circunstância
que nos pariu.

,2017,abr_.aNTÓNIODEmIRANDA

MISERY DAYS

De cada vez que me lembro de voltar de mim,
há abraços perdidos neste tempo
às vezes desconfiado.
Junto todos os restos num bouquet desenfreado
onde transbordam sabores enfeitados
que enrolam estas memórias.
Nestas linhas inclinadas
desce uma sombra conselheira
para os maus bocados
vividos em tons de prazer.
Encosto-me a folhas caídas
no doce odor desta erva
que perfuma o meu olhar.
Amasso os passos que me fogem,
arredo as cortinas da janela
com vistas para outras coisas,
e beijo a alma da ausência com lábios carnosos.
Continuo a desconfiar desta conta
que me confere sempre um saldo miserável.


,2017,abr_.aNTÓNIODEmIRANDA

Poesia às Quintas – com Miguel Martins – 231ª sessão – Bar a Barraca – 20 de Abril – 22.30h – sessão – Bar a Barraca – 20 de Abril – 22.30h –

Bar a Barraca – 20 de Abril – 22.30h
MM lê-se. LULA PENA encanta.

sábado, 15 de abril de 2017

REBECA e o Kefir.


Obrigado, Graça Lopes * Eastwood da Silva #535 Máximas#


Obrigado, Miguel Martins.


Obrigado, Ana Gomes da Costa


Comecei a ler.

 
 
 

SUSHI WOMAN

Enrolar-te-ei suavemente
para te comer no sofá das carícias,
no meio de uma fogueira, ...

onde já não arde a nossa vaidade.
Poderá ser, logo pela manhã,
depois de nos termos atropelado
num sono cheio de despedidas.
Importas-te?
Deixaremos como memória futura
flores com o aroma
da nossa debilidade.


2015aNTÓNIODEmIRANDA

quarta-feira, 12 de abril de 2017

TESTÍCULOS SOFISTICADOS

Lamber os restos da sobremesa e deixar escorrer as relíquias deste festim magoado até á medula de um fim sempre anunciado.
Taças com champanhe desenfreado e uma visão
simpática de ligas negras que mostram as nódoas da pele.
Tudo é possível neste quebra-luz que esconde o vermelho dos lábios de Judas aquando num assomo de personalidade indefinida marcou para sempre a pigmentação do sexo on line.
Ligações sujas afagam o chão com paredes impróprias para consumo e nos auscultadores da realidade ausente ouve-se a respiração curiosa daqueles que sempre faltam.
Toca-se a valsa dos renitentes e o maestro consternado dirige uma pauta ébria com sabor a barroco amarelecido pela humidade dos tocadores sintonizados em estantes curiosas.
Lá fora onde a mentira derrapa na curva, salmos misteriosos são devorados em uníssono pela mais hábil comunidade de abelhas.
Esfaqueados sem a dor da piedade pilham linhas espalhadas no alcatrão e rezam ao deus arrependido uma bênção amaldiçoada para a viagem que os atropela.
O serpentear das buzinas emplumadas cheira a restos de ar condicionado regado pelo jejum escrito nos cintos sagrados.
E agora que os relógios deixaram fugir as horas percorrem os sentidos proibidos ilustrados nos pequenos calendários sem os dias seguintes.
Cortam a meta antes do último nesta corrida sem jeito algum para o futuro.
E lêem narrativas incompletas á procura da absolvição possível como nunca costumavam fazer.
E dos olhos sem ver acreditam piamente nos pecados que nunca cometeram.
E aqui no lugar sem tempo nas esquinas do esquecimento abraçam garrotes como se fossem gravatas.
Mas os nós apertam tanto e doem com demasiadas cores.
Lamber os restos da sobremesa e deixar escorrer as relíquias deste festim magoado com o mosto do sangue para que a brevidade aconteça num sopro de lâmina com que se afiam trindades imperfeitas.
A liberdade há-de chegar assim rezam as profecias dos poetas do fim do mundo e o deleite poeirento será distribuído gratuitamente em todos os lagares da água-santa.
E no arco-íris mais perfumado irão pousar as tristezas sem fim embrulhadas em mealheiros de longa duração.
E nos epitáfios anónimos escritos com letra decente será definitivamente canonizada a férrea vontade pintada com raios de ocre.
Estão há muito esgotadas as vagas para esta nau embora terços exaustos continuem a acreditar nas diligências das marias bem comportadas.
Vilipendiado seja o vosso nome e a presunção com que julgais o próximo que não vos compreende.
Portas douradas com mecanismo automático afastam os excluídos da decência e mostram uma felicidade anodizada servida em bandejas breves.
Testículos sofisticados sobrevoam a minúcia habitual.
Instantes putrefactos oferecem a virgindade testada nos simulacros da realidade virtual.
Gestos repetidos nesta cirrose simpática carente de logaritmos de nexo enjeitado.
A inocência vendida em réstias na feira anual dos verbos mal conjugados.
Tudo seca nesta rosa onde os ventos chegam trazidos pelo buraco da braguilha.
Salve-nos uma tempestade adquirida num leasing com amortecedores nas taxas adormecidas num qualquer sapateado de centopeia.

 
,2017,abr_.aNTÓNIODEmIRANDA

California Dreamin' - The Mamas - Só porque me lembrei!


quinta-feira, 6 de abril de 2017

SALVADOR ESPRIU “Cançó Del Matí Encalmat” (RAIMON - Cançons De La Roda Del Temps - LP 1967 (França)

El sol ha anat daurant
el llarg somni de l'aigua.
Aquests ulls tan cansats
del qui arriba a la calma
han mirat, han comprès,
oblidaven.
Lluny, enllà de la mar,
se'n va la meva barca.
De terra endins, un cant
amb l'aire l'acompanya:
"Et perdràs pel camí
que no té mai tornada".
Sota la llum clement
del mati, a la casa
dels morts del meu vell nom,
dic avui: "Sóc encara".
M'adormiré demà
sense por ni recança.
I besarà l'or nou
la serenor del marbre.
Solitari, en la pau
del jardí dels cinc arbres,
he collit ja el meu temps,
la rara rosa blanca.
Cridat, ara entraré
en les fosques estances.

Slade - Hear Me Calling (Live) HQ - De repente...Lembrei-me!


quarta-feira, 5 de abril de 2017

ESTRELAVA NO CÉU BEIJOS AGRADECIDOS

Não passo de um ruído espalhado pela vida que
mesmo no paraíso precisa de amigos.
E no alarido de um coração picado há um cavalo
que foge da sela que o quer trair.
Subtrai a ternura suicidante que lhe apaga
a chama efémera e num grito desenfreado
salta a angústia como se fosse arte poética.
E agora cansado chora o libelo da maldição
que o fez prender.
Saltou o mais que pode a cerca que lhe toldava
o horizonte e só agora pode beber
num gole total imensidão que lhe vendaram.
Feito poeta e na ausência do juízo normal
aquece no galope sonhos há muito guardados.
Aparece de quando em vez nas quintas-feiras
da poesia possível e fingindo que não chora,
abraça qualquer presença.
Na forja que lhe derrete a alma espalha
todos os poemas que cabem no seu mundo.
Apenas um sossego aqui na terra
depois deste deus louco irmão
de todas as morfinas e crítico apreciável
dos benefícios da marijuana,
longe da masturbação das agulhas
beijando na fornicação a cara sem sangue
que desliza pela parede riscos indolores
de uma salvação com doses para uma semana.
Pedaços que exibe na mão foram um poema
nunca sujo, escrito em moedas que mancharam
a carne que pensava o amava.
E agora não consegue saltar os muros do sonho
neste cenário de bêbados circuncisados.
Nesta escrita de raposa com a permanente
promessa de não ganhar qualquer grammy,
perde-se nesta sensata e inútil razão
que se perpetua na pele.
Deus não existe!
O diabo é que às vezes se esquece de ser mau!
O inferno é aquecido por um micro-ondas.
E as  formigas diligentes lêem notícias sem sabor.
Dizzy e Parker sabem do que fala.
E eu não minto tanto assim.
Naquele tempo Nina Hagen vagueava pelo Harlem
e beijava todos os pretos que tinha no coração.
Miles tinha escrito nas bochechas que a infância
nem sempre é um acto saudável.
Berry no seu duck walk olhava docemente
para certas teenagers que fingiam ter sexteen.
Ás vezes sentia no corpo um fato que pertence a outro, quando o dia lhe corria tal mal contrariando
a mais optimista previsão do relatório do tempo.
Era quando o vento fugia da morte e empurrava
esta mania de pensar que sabia quem foi.
E molhado por esta invenção, entregava ao deus- trará protocolos falsamente assinados da sua presença.
O gato de Ferlinguetti poderá testemunhar a afluência inaudita na agência de turismo onde costumava urinar.
O calor do seu orgasmo aumentou a temperatura do deserto que foi a cama que nunca cheirou a sua solidão.
Eram noites sem janelas onde a memória acaba por fugir.
E assassinam gemidos de guitarra sangrando o ventre até aos dedos que só a queriam acariciar.
Agarrava os blues do Mississipi e snifava o pó
dos velhos vinyls que podaram a sua juventude.
Retornava á velha casa e beijava o som roufenho
que chorava naquele velho gira-discos,
só para voltar a escutar de novo aquela música.
No caminho de volta encenava estrelas
e falava com todas as palavras possíveis.
Estrelava no céu beijos agradecidos.  
 

,2017,abr_.aNTÓNIODEmIRANDA

Raimon - Cançons De La Roda Del Temps - LP 1967 (França) Como gosto disto!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!


Allen Ginsberg (Versión de Ana Becciu*14 alforja 44 | PRIMAVERA 2008)

Con impunidad virtual Clinton consiguió fondos para su campaña de los chinos rosa
Con impunidad virtual los peones de la Contra CIA vendieron Cocaína y enfermedad en L.A. y Minneapolis
Con impunidad virtual el FBI incendió Waco apocalíptico
Con impunidad virtual el gobierno empezó a aplicar matrículas enormes en los colegios públicos
Con impunidad virtual la FCC y el Congreso dieron su OK a la censura fundamentalista en la Radio
Con impunidad virtual los Valores de la Familia insultaron a las damas,los gays y los afroamericanos
Con impunidad virtual el Papa prohibió en el planeta el control de la natalidad
Con impunidad virtual Carolina del Norte prohibió la sodomía en el agujero equivocado
Con impunidad virtual los chinos prohibieron el nuevo linguaje eléctrico
Con impunidad virtual los capos de la lotería albanesa compraron y vendieron elecciones

terça-feira, 4 de abril de 2017

O QUE NOS RESTA ? DEITAR FORA O QUE NÃO PRESTA !

A aceitação sistemática de uma perspectiva empobrecedora, não surge por mero acaso ! Injectam-nos a todo o momento com situações convidativas a para esta “reali...dade”. Isto é uma preparação intencional para a fatalidade que nos estão a impor. A “PROPAGANDA”, e é disso que estamos a falar, nunca poderá ser vista como um mal necessário. O QUE NOS RESTA ? DEITAR FORA O QUE NÃO PRESTA ! E o que não presta é exactamente qualquer tipo de GOVERNO. Nunca aplaudirei aqueles que celebram o seu próprio fracasso.

,2013abr_aNTÓNIODEmIRANDA,

sábado, 1 de abril de 2017

CONVERSA COM GINSBERG

Naquela tarde depois de as manhãs se cansarem, tinha na garganta o “uivo” para tomar o pequeno-almoço.
Pedi então açúcar mascarado tal era a pena de o ter conhecido.
Concentrei-me num cosmos surpreendido pela minha curiosidade.
Lembro-me que era muito novo e mesmo assim já lamentar o facto de não poder falar consigo.
Nasci adiantado e isso foi-me dando muito trabalho.
Mas tinha a sua ideia da América e li o “on the road” na altura exacta.
Diziam no escritório onde era paquete, que era excêntrico.
O irmão e irmãs do meu pai, comentavam que passava a hora do almoço nos bares das putas do  Cais do Sodré.
Coisas da ignorância, como poderiam testemunhar o Madeira Luis e o Hipólito da então bela Opinião.
Senhor Allen: não é culpa sua que os quatro psiquiatras, tinha eu 14 anos, que me escutavam, achavam que eu falava diferente dos outros.
Nunca fiquei e o mesmo acontece agora, indiferente áquilo que quero gostar.
Mas as máquinas IBM não operavam aquilo que a PATSY SOUTHGATE tinha escrito no poema.
Cresci nos corredores do escritório o que convenhamos são copiosamente iguais aos dos supermercados onde ninguém oferece nada em troca da nossa beleza.
Tantas vezes fui alvejado a tiro nas costas por uma vontade não conseguida.
E tanto roubei num supermercado longe da sua Califórnia.
Não visitei a campa de Apollinaire.
Mas estive lá perto.
E publicaram um poema meu sobre esse senhor.
Não poderei enviar-lhe um sequer registo de um sonho, só porque de tanto sonhar a memória fica tão chateada que nem a mim me oferece um só.
E voltámos á América.
E você sabe que é uma palavra em vias de extinção.
E eu sei que você até tentou ser bondoso.
Mas como diz o FRANK O´HARA, a indústria pornográfica está em crise.
Nunca estive em Nova Yorke, mas não me custa admitir que no verão em que a beijou ela estaria magnífica.
Depois disso, vermes devoraram esse lago.
2017,mar_.aNTÓNIODEmIRANDA