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quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

25DEZEMBRO2016

D. ISAURA

JOSÉ GOMES DA COSTA
 

TIAGO COSTA  |                                           LUÍSA TAVARES

MARIANA GOMES

TOZÉ SALOMÃO | TOMÁS MIRANDA
 

ANA GOMES DA COSTA | MARIANA GOMES










terça-feira, 27 de dezembro de 2016

SUITE 17

O que faço aqui?
- Está a falar comigo?
Bom, pensava que era um bom tema para início de conversa.
- Talvez. Ainda não nos apresentámos, e isso já diz muita coisa.
- Está a falar comigo?
Não quero abusar, mas não se fie lá muito na minha curiosidade. Infelizmente tive meio gato que morreu dessa mania. Fugiu inesperadamente do guisado.
- Sabe, sinto-me só. Não comigo mas com aquilo que me falta.
E pensou…
- Pensar é uma falta de respeito. A mais odiosa pretensão.
Não me venha com palavras difíceis. Até porque raramente acerto na lotaria.
- Não leve a mal. Eu só queria incomodar.
Desculpe o atrevimento, mas eu sou as suas hipóteses falhadas.
- Estão aqui as chaves do meu conhecimento. Pode informar o enfermeiro que o autorizei a ficar
na suite 17


2016,12aNTÓNIODEmIRANDA

 

MEDIDA

O

Meu estritamente

Necessário

É

Desmesuradamente

Enorme
2016,12aNTÓNIODEmIRANDA

ARTIGO 68

Só queria um pouco do que deitamos fora, não o resto da hora nem o perfume do segundo que tanto nos enganou. Talvez bastasse um taxímetro lisonjeiro para taxar as memórias da nossa ausência. Iremos esconder no cacifo a pétala da rosa traçada pelo destino que tanto nos encalhou. Somos um amor ferido aquecido em mantas compradas com desconto especial nos saldos da nossa ilusão. Meu amor, como vem escrito na página do livro que nunca tivemos, o fastio destes dias amarga um folclore com danças cortejadas por simpatias ocultas.
Abraça-me com a tosse que tolhe a maneira peculiar com que me sonhas. Mascarado de cavaleiro negro ou cego andarilho, montado no teu medo, capa e espada tipo justiceiro, eu que de mim nem soube ser primeiro, em golpes de espada à cinta, espirro assim esporas medrosas entornando toda a angústia, como se fosse o final para sempre, num qualquer canal da tv, reclamação pendurada na antena enferrujada e uma box tão mentirosa como a previsão do horóscopo garantindo o 2º prémio da latoaria nacional. As bolas do sorteio não estiveram à altura das minhas necessidades, e o júri ignorando a minha indignação, mandou-as passear e na sua benevolência ilimitada ofereceu-lhes o acesso ao artigo 68 do código viril da estrada


2016,12aNTÓNIODEmIRANDA

DIGITALIZAÇÃO

Caiu-me 1 anjo na cabeça.
Digitei-lhe
Um efeito contrário
À sua intenção.
Tenho regras
Tão fora de jogo
Que
Continuo
A
Não
Perdoar.

2016,12aNTÓNIODEmIRANDA

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

MEDICINA

Espetou-lhe o
catater na veia
...

O carécter
nunca mais
foi
o
Mesmo


2016,12aNTÓNIODEmIRANDA

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

MIGUEL MARTINS

O Único Verdadeiro Deus Vivo:

De lápis na boca,
sentia na língua a porosidade ...
: De lápis na boca, sentia na língua a porosidade da madeira, esquecida desde a adolescência. Posto isso, só poderia escrever sobre fl...

SOLIDÃO

Acordava com o chiar dos pneus do camião da recolha do lixo.
Deitado no passeio do seu infectado e frio destino,
olhava aquelas luzes penduradas na vidraça riscando sons
que há muito deixara de ouvir.
Sossegava o pacote de vinho, já vazio,
com a secreta esperança dos dias com menos azar.
Já não tinha tempo para sonhar.
Há tanto que lhe perdera a memória.
Enrolado em trapos sem qualquer desejo,
tentava ajeitar o sono naquele livro que o deixou tão só.
Já não conseguia chorar,
Nem lembrava a esperança que um dia julgou o iria tornar gente.
Benzeu as meias tão rotas
como as botas que agora calçavam o mundo.
Tanto tempo que ele esperou pelo seu remendo!
Não há conversa neste espaço sempre tão longe
daqueles que fingem não se sentir sós.
Espera a sopa solidária com aquelas palavras
que lhe aconchegam uma tristeza sempre sentida.
Ninguém repara em si, nem
na etiqueta que orgulhosamente sustenta,
nada de saldos, nem promoções, nem ocasiões especiais
e nunca oportunidades únicas para desfazer a diferença.
Nada cabe neste seu mundo!
Guardou o recheio da carcaça,
como sempre, para oferecer ao seu companheiro.
Uma lambidela,
Um bafo abraçado, A única de todos os tempos,
Aqueceu as lágrimas que nunca foram culpa sua.
Agora que vou morrer,
Quem é que vai amar o meu amigo?
Era esta a sua mágoa!
O único medo da sua
SOLIDÃO.



2016,12_20aNTÓNIODEmIRANDA

Look What They've Done To My Song, Ma | GOSTO!

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

O PRESÉPIO


HOJE TEMOS PARA SI:

Bem-vindo ao self-service!
Hoje temos para si:...
Sonhos enrolados em nenúfares da mais singela proveniência.
Atitudes mal pensadas enterradas num licor coq au vin.
Seduções panadas em pó de arroz cor-de-rosa.
Subtilezas assinadas pelo fotógrafo oficial.
Comentários jocosos no banho com a Maria.
Capas de revistas sociais com o toque original do forno do presidente.
Um par de pés com meias em perfeito estado de perfuração.
Vol-au-vent de aparas de unhas roídas.
Chalotas picadas sem dor nem piedade.
Pizza na brasa parada.
Fino carpaccio de línguas coscuvilheiras.
Canja de palavras com sílabas trocadas.
Canapés deitados fora de horas.
Cabidela à moda da Octapharma.
Croquetes de fígados maus arrasados em chantilly.
Suspiros abafados em beijos de absinto.
Coalhada de bagas de bacon enfeitadas com banana passa.
Batata-doce energicamente golpeada com chicote de beldroegas.
Vergamota hirta e facilmente insuflável.
Bobó com final de camarão e paródia de farófias.
Brioches na caçarola agilmente temperados em caldo de cálcio.
Empadas embutidas com molho húmido de rabo de boi.
Escabeche assiduamente envinagrado.
Escalopes escamados com toda a decência.
Estofado de obscenidades.
Estrugido cínico de elogios gelatinosos.
Gemadas aromatizadas em açúcar pernicioso
batido sempre à mão.
Digestões bêbadas com preparado de enxofre.
Charros de erva-doce.
Sirva-se por favor
2016,12aNTÓNIODEmIRANDA

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

O Único Verdadeiro Deus Vivo: Can - Live 1972

O Único Verdadeiro Deus Vivo: Can - Live 1972: (Obrigado, António).

O PÓ DOS LIVROS

Uma lágrima sortuda
desviou-se do seu pranto
ainda o prognóstico não era reservado....
O desgosto era inequívoco
e a malvadez
maldosamente dissimulada.
Quieto,
o rio remava
um desconforto
sem fio nem navio.
Lá fora, queriam trocar abraços
mas ninguém se mostrou interessado.
Os mais fiéis,
de joelhos espremiam orações,
porque tinham aprendido
que era assim que as borbulhas
eram tratadas.
Não era fácil qualquer caminho
e as possibilidades aritméticas
tinham todas as fórmulas erradas.
Os factores já não eram comuns
e nos seus voos tontos
desenhavam logaritmos nas vidraças.
Cálculos irracionais
desconfiavam da constante diferencial.
Nuvens enevoadas
iluminavam o pó dos livros.
… Algumas palavras sentiram-se envergonhadas.


,2016,06.aNTÓNIODEmIRANDA

Eric Burdon and The Animals

Eric Burdon and The Animals

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

MÁRIO BOTAS _

 

A biografia de Mário Botas

Fundação Mário Botas

fundacaomariobotas.pt | 22 de Março de 2016

Mário Ferreira da Silva Botas nasceu em 23 de Dezembro de 1952, na Nazaré, terra dos seus pais e onde fez os estudos primários e secundários. Aluno brilhante no ensino primário, terminou o secundário com altas classificações e foi dispensado do exame de admissão à faculdade de Medicina de Lisboa, onde ingressou em 1970. Licenciou-se com distinção em Julho de 1975, mas quase não chegou a exercer a medicina. Surpreendido por uma leucemia em 1974, e sabendo-se com os dias contados, decidiu dedicar-se exclusivamente à pintura que há muito o seduzia, e o levava nas férias a conviver com pintores estrangeiros. Essa decisão, mas também a nunca perdida esperança da cura, levou-o a Nova Iorque, onde fez em 1978 uma exposição individual, na galeria Martin Summers. Regressado a Lisboa em 1980 entregou-se à criação, à preparação de exposições e outras actividades artísticas, e em 29 de Setembro de 1983 viria a falecer no Hospital da Cruz Vermelha.

1998 Junho-Julho
exposição Mário Botas auto-retratos, no Centro Cultural da Nazaré.
1989 Exposição Mário Botas - Spleen  primeiro em Lisboa, na Fundação Calouste Gulbenkian e posteriormente no Centre Culturel de Paris da mesma Fundação.
1988
Exposição Fernando Pessoa - Mário de Sá-Carneiro, na Biblioteca Nacional, em Lisboa.
1987 Março exposição MÁRIO BOTAS en français, na Alliance Française de Lisboa.
1984 Fevereiro - Março
Primeira exposição póstuma da obra de Mário Botas, na Cooperativa Árvore, organizada por esta cooperativa e pelo Centro de Estudos Pessoanos, com o patrocínio do Ministério da Cultura e da Fundação Calouste Gulbenkian. Em Setembro, realizando a vontade expressa pelo pintor, no seu testamento, é instituída a Fundação Casa-Museu Mário Botas, que será presidida pelo pai do Pintor, até à sua morte em 1997. De Outubro a Novembro, exposição de Mário Botas (1952/1983), na Galeria Almada Negreiros, do Ministério da Cultura.
1983 29 de Setembro
conduzido para o Hospital da Cruz Vermelha, morreu no final do dia. Tinha 31 anos incompletos. Está sepultado no cemitério da Nazaré.
1982
Exposição Fernando Pessoa - Mário de Sá-Carneiro, no Centro de Estudos Pessoanos e Delegação da Secretaria de Estado da Cultura (Norte) - Casa de Ramalde, no Porto e Biblioteca Nacional, em Lisboa e posteriormente na Bibliotheque des Sciences Humains - Vrije Universiteit Brussel, em Bruxelas. Exposição Temas Alemães e Portugueses na Obra de Mário Botas, realizada primeiramente no Instituto Alemão - Goethe Institut, em Lisboa e posteriormente em Erlangen, na Alemanha, com o apoio da Secretaria de Estado da Cultura, do Instituto Alemão de Lisboa e da Comissão Organizadora do Festival de Teatro Internacional Erlangen.
1981
Exposições Catorze desenhos de viagem e três de meter medo, no Círculo de artes Plásticas, em Coimbra e Desenhos por Mário Botas, na Galeria Ana Isabel, em Lisboa.
1980
Regressa a Lisboa em Agosto, entregando-se intensamente à pintura, ao desenho, à ilustração e a diversas outras actividades artísticas, entre as quais a direcção da peça O Marinheiro, de Fernando Pessoa. Exposição Os Passeios do Sonhador Solitário, na Fundação Eng. António de Almeida, no Porto.
1979
Exposição Drawings, na Aeolian Palace Gallery, Pocopson, Penn.
1978
Trava conhecimento com o compositor John Cage, com quem viria a relacionar-se depois do seu regresso a Portugal. Faz uma exposição na Galeria Martin Sumers Graphics, intitulada Recent Drawings.
1977
Exposição PORTUGAL, último quartel do Século XX, na Galeria do Jornal de Notícias, no Porto e também na Galeria de Arte Moderna da Sociedade Nacional de Belas Artes.1975 31 de Julho
licencia-se em Medicina, com alta classificação, não tendo chegado nunca a exercer, embora tenha frequentado um estágio de Psiquiatria.
1973
Conhece Artur Cruzeiro Seixas e faz a sua primeira exposição individual na capital, na Galeria S. Mamede, com o título Seis Contracções de Matrimónio seguidos de 18 ilustrações profundamente autobiográficos.
1971
Faz uma primeira exposição individual de 20 quadros, na Comissão Municipal de Turismo da Nazaré.
 
© 2016 Fundação Mário Botas

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

APENAS SONHAR

Apenas sonhar.
Com 1 verbo diferente.
Uma perspectiva aderente
À amplitude
Do meu não estar.
1 Incómodo somente
A divagar num sofá
Com o couro adormecido
Pela minha constante
Frequência.
Uma sensação habitual
Tão estranha
Como o tempo
Em que não sou
Presente.
1 Encosto repartido
Encolhido
Num grito distante
Perto do tempo
Onde caiem todos os lamentos.
Apenas sonhar
1 Verso
Sempre presente
E um sorrir
Sem préstimo algum
Às vezes
Como se fosse
Gente

2016,12aNTÓNIODEmIRANDA



MORRER É UM JOGO COMPLICADO


(com um abraço para o João Pedro Viegas )



Morrer é um jogo complicado.
Queima a flor que tanto nos entonteceu,
e não há rega para a sua ausência.
É um arrefecimento a pronto pagamento
depois de tantas prestações pagas a um tributo
que sempre nos ignorou.
Mas a vida, de cada vez que a respirámos,
é uma traição ignóbil,
sempre pronta a roubar aquilo que gostámos.
Depois os dias que sobram,
fazem de nós os invernos,
onde enroupados nas fotografias,
contemplamos memórias que definham
o correr do nosso tempo.
E é tão lindo o que gostámos
e de tão querido,
embrulhámos no lenço da saudade,
todos os momentos que nos fazem felizes.
Esta realidade é uma conspiração abrasiva,
abusa sempre de nós,
aqueles que sempre acreditam
que este jogo sempre será
a mais miserável das batotas.
Eu também já não dou ao tempo
a importância que ele não me merece.
Estou farto do seu modo de me cansar!


 
2016,12/12aNTÓNIODEmIRANDA_01,30h



EMBRULHO

Há luas

           Em que o sol

Não dorme.

          Vou embrulhá-lo



           Para

Te

           Aquecer

2016,12aNTÓNIODEmIRANDA

ÚLTIMA MORADA

Para sempre estarás no meu prefácio.

Rua 2.

Cacifo 47.

Gaveta 01.

Cemitério
Dos anjos
Não consignados.

2016,12aNTÓNIODEmIRANDA

BONDADE…

Fazer o bem

Sem olhar a quem.

Nunca os vi

A ajudar

Alguém.

2016,12aNTÓNIODEmIRANDA

DIGITALIZAÇÃO

Caiu-me 1 anjo na cabeça.

                        Digitei-lhe

                       Um efeito contrário

                       À sua intenção.

Tenho regras

                     Tão fora de jogo

                     Que

                  Continuo



A

Não

Perdoar.

2016,12aNTÓNIODEmIRANDA


O MEU SABER


 É            FEITO



         DA                   VONTADE



                 DE               APRENDER !


2016,12aNTÓNIODEmIRANDA

COMO SE A ESTUPIDEZ FOSSE UM FILME PASSAGEIRO

Penúria desenfreada
tempestades cerebrais
ramalhetes de conveniência
adjectivos consignados numa adulação patética
movimentos em câmara ardente
improvisos previamente preparados e
ejaculações deslizando no balcão da vaidade
como se a estupidez fosse um filme passageiro.
Foi só um mal-entendido
mas a vida será sempre mais
do que um polegar estendido
para intenções demasiadas vezes grávidas.
Há que resgatar a consciência
antes que esta se transforme num fait divers
exposta numa ementa escrita noutras línguas.
O cheiro da poesia,
Só pode embrulhar poemas,
Abraçar os poetas,
Embalar os sonhos
Que eles teimosamente
Continuam a chorar

2016,12aNTÓNIODEmIRANDA




sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

LÁ FORA, AGORA JÁ NADA LHE ERA ESTRANHO

É vegetariana distraída.
Muito ela falava da assiduidade fundamental.
Transporta na mala o suave Channel N5,

não veste peles de animais
e a vistosa echarpe que exibia
era feita com cápsulas de coca cola reciclada.
Abandonou a pobreza que nunca conheceu.
Usa agora,
em tons de azul claro, fora de estação,
uma boquilha com ansiolíticos naturais
criteriosamente supervisionados
pelo seu consultor de normalidades.
Deitada no sofá,
tenta agarrar nuvens para esconder a confusão.
Olha de soslaio os ténis dourados,
imaginando pénis que gostaria de ter na mão.
Hum... desta vez correu muito bem,
dizia-lhe abotoando a bata o doutor.
É bom que assim se sinta.
Da próxima não traga a cinta.
Quero fazer-lhe uma fodagradia como deve ser.
Foi para casa no mercedes contente.
Falhou os piscas habituais.
Confiante, enfiou no whisky os comprimidos usuais
só para ficar dormente.
Adormeceu abraçada à lingerie com todo o
cuidado para não se lembrar do amor.
Lá fora,
agora já nada lhe era estranho.



2016,12aNTÓNIODEmIRANDA

Little Joe Lee - Lucky Lou

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

JOSÉ CARLOS ARY DOS SANTOS


LÁ FORA, AGORA JÁ NADA LHE ERA ESTRANHO

É vegetariana distraída.
Muito ela falava da assiduidade fundamental.
Tansporta na mala o suave Channel N5,
não veste peles de animais
e a vistosa echarpe que exibia
era feita com cápsulas de coca cola reciclada.
Abandonou a pobreza que nunca conheceu.
Usa agora,
em tons de azul claro, fora de estação,
uma boquilha com ansióliticos naturais
criteriosamente supervisionados
pelo seu consultor de normalidades.
Deitada no sofá,
tenta agarrar nuvens para esconder a confusão.
Olha de soslaio os ténis dourados,
imaginando pénis que gostaria de ter na mão.
Hum... desta vez correu muito bem,
dizia-lhe abotoando a bata o doutor.
É bom que assim se sinta.
Da próxima não traga a cinta.
Quero fazer-lhe uma fodagradia como deve ser.
Foi para casa no mercedes contente.
Falhou os piscas habituais.
Confiante, enfiou no whisky os comprimidos usuais
só para ficar dormente.
Adormeceu abraçada à lingerie com todo o
cuidado para não se lembrar do amor.
Lá fora,
agora já nada lhe era estranho.


2016,12aNTÓNIODEmIRANDA


PUTOS E MENINAS

Encontram-se em                      Gemes Sessions .
Em Paris é diferente                  Diz o intelectual inteligente.
Trocam fotos de si,                    a preto e branco
Prova evidente                          Que os grandes fotógrafos
estão mortos                             Escrevem obedecendo
a um manual                             de suposições cristalizadas.
Nos intervalos                           entretêm-se a dourar auréolas
de um mau gosto                      narcisista.
Chupam imperiais                     como se fossem champanhe
e arrotam postas de pescada   low coast e mal congelada.
Não falham a apresentação      e recitam a sopa de feijão vermelho
como se fosse um ex-libris       da ciber-cú-linária.
Em Paris é que é bom.             Continua a dizer o intelectual morcão.
Pobre malária.                          Tão incultamente calcificada.
Sempre preocupados               com a sua ânusrabilidade,
insurgem-se em grupo             contra quem enferrujou a sua talha oxidada.
Tende piedade de mim.
Eu que só sei                           ser assim, quieto, no meu modo sereno,
rejeitando mortalhas                sem qualquer sapiência.
A história                                  é um acto repetido.
A pretensão                             é um dejecto mais que cagado.
Estou fora.                               Devagar. Apressadamente devagar.
Vagarosamente                       apressado.
Só fico                                     onde desejo estar.
Já não ouço tudo.                   E há muito que não entendo
aquilo que não                        me interessa.
Vou assim,                              Cortando curvas,
Endireitando a estrada           Devagar
Calmamente                          Saboreando só a minha pressa.
Porque o resto,
São putos e meninas.

2016,12aNTÓNIODEmIRANDA

FINANCIAMENTO COLABORATIVO

Vivo    por    vezes    um cansaço
tão    pesado    que   no caminho
para    a cama
imagino    o abraço
com    o tamanho    de todo o meu mundo.
Tapo    as orelhas
para    não    constipar    o sonho bom.
Baixo    o   som    do colesterol,
envio    o    mail   usual
para    o   destinatário   habitual
e   depois    se    não    houver amanhã
convictamente    vos digo,
isso    não    é comigo.
Gosto    destas    contas.
Oportunamente    irei activar
um    crowdfunding,    claro está,
numa    offshore    lá    para os lados
do    Panamá.
Depois    vou embora
sem    saber    a porta
que    irei abrir.
Há    desencontros
que    me esperam,
nas    curvas
da    encruzilhada
que    me irá
acontecer

2016,12aNTÓNIODEmIRANDA

CARNE PICADA

Enrola-me pela manhã
docemente até ao fim do dia.
Quero que me mates
até os ossos
se tornarem fiambre.
Ama-me no chão,
faz de mim o mais vil tostão
um chá de um Judas pestilento,
canta-me numa canção de
azar,
só para acreditarem
que gostas de mim.
Enrola-me num cartucho
como se guardasses a
mais preciosa iguaria.
E oferece-me sofregamente
quando te apetecer.
Estou aqui,
abaixo do zero
mais que finito
com arpejos do bolero
onde uma loura sem vergonha,
cavalgou nas minhas ancas
arfando palavras
roubadas dos meus poemas.
Enrola-me de manhã
mesmo só um bocado,
no mais fino brocado
para fingir a alegria.
Enrola-me agora,
pela noite fora
até fazeres das minhas costas
um ossário defeituoso.


2016,12aNTÓNIODEmIRANDA

MAS NÃO ESTOU PREOCUPADO!

Se estivesse preocupado com a tese da minha vida
seria uma azáfama do catano. Não sei podar uma vontade
nem sequer calcular geometricamente a profundidade
da minha sepultura tal como as comodidades inerentes
à minha maçada corporal. Brinco às escondidas
na biblioteca da faculdade onde só ia para mijar
na sopa previamente paga. O self service nunca foi uma adesão
que respeitasse a minha decência. A professora tinha uns olhos bonitos,
de tão vaidosa encomendou umas molduras. Nunca estivemos de acordo
e não foi por causa dos seus collants. Se estivesse preocupado
com a azáfama da minha vida, escolheria uma tese pré fabricada
e solicitaria ao estafeta das pizzas
que não se enganasse na morada.
Não tenho pressa para atender chamadas
com prémios antecipadamente pagos.
Mas a minha tese é simples.
Vão entesar-se fora dos meus ouvidos.
Mas não estou preocupado!
Não me interessa estar dentro da sanidade exígivel.
A tese da minha vida arrefece no fundo da panela

desligada de um cozinhado feito em câmara lenta,
sangrada em tulipas onde ardem malmequeres.
Há um cunho pessoal neste guisado
nem sempre esquisito e paira no ar
um sabor queimado pelo vento.
Enfarinho as ideias com um fermento oferecido
lá para os lados do natal.
E fervo lentamente a minha alma de escuteiro,

juntando-lhe uma porção minúscula, aromatizada
com um qualquer português suave.
Há que ser cuidadoso.
Não vá o mar ficar trabalhoso.


2016,12aNTÓNIODEmIRANDA

TENDE CUIDADO!

1.
Um outro tempo com um mundo diferente sem
mentiras arrepiadas nem uma qualquer solução
alcalina para afagar a pele dos sentidos.
Um choro descarnado da dor, um sussurro tenro,
amigo de uma paz não apaziguada em cocktails
que não fervem.
Talvez uma esperança permanente e um grito um
só grito infinitamente eficaz como se fosse altura
sem arreios para a desenfrear
2.
Escrevo-te com todos os erros que me roubaram
nesta ortografia corrigida com as estrelas
que agora caiem nas minhas mãos.
Não gosto deste arrastar sem som,
nenhum paladar procurando um crédito acessível,
num código sempre pronto para me abusar.
A primeira noite depois da despedida
é a mais verdadeira.
Os dias seguintes prometem um descanso
que irá ao longo do tempo temperar a saudade.
Aceito a morte.
Aquilo que ela mais tarde me transporta
é um relógio que não consigo acertar.
Mas as palavras só valem o que valem.
Todas as lágrimas inventadas
escorregam na gentil indiferença da tampa do caixão.
Vamo-nos gastando porque vivemos o tempo
que nos convém para celebrar angústias nesta panela.
Só há uma escolha:
respeitar a dignidade daqueles que sem querer
nos abandonaram.
E isto implica sempre uma obrigação.
Nada de desculpas.
Só amo aqueles que me respeitam.
3.
Outro mundo que me escreva boas notícias.
Com açoites para as nuvens que me enganaram
e suspiros cor-de-rosa para entupir as artérias
da horta biologicamente certificada.
Um dissolvente inteligente que queime
a intenção das disposições estúpidas.
Um circuito magnetizado nunca desconfiado
da cabidela dos maus fígados.
Uma fotografia sem ausências
e um relatório colorido anormalmente identificado
e com todos os pormenores
da nossa continuada avareza.
Tende cuidado!
Agora mais do que nunca.


2016,12aNTÓNIODEmIRANDA

OS SONHOS DOCES SÃO FEITOS DE AÇÚCAR

Vem como és.
Sê o que sabes.
Tal como um sorriso escondido.
A única estrela apetecida.
A cura da minha ferida
Abandonada.
Vem como és.
Sê o que sabes.
Talvez assim
Encontres a minha lágrima.
Só tu é que sabes
Da minha partida.
E eu também sei,
Que sempre preciso
De ti.
Toma o tempo que quiseres.
Eu
Agora
Tenho
Outras
Horas.
Mas

Quero
O
Teu
Momento.

2016,12aNTÓNIODEmIRANDA

The Doors and John Lee Hooker - Roadhouse Blues | Tomem lá Blues!

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

O senhor Lead Belly


The Doors - Cars Hiss By My Window Lyrics (HQ) | Tomem lá Blues!

La Llorona | FRIDA KAHLO



FRIDA KAHLO

Às vezes
Falo com os
Teus espinhos....
São flores que choram
Mesmo a cantar.
Tenho agora
Lágrimas que correm
Para o rio
E facas espetadas no dorso.
Ventos que gelam
O meu corpo frio.
Frida,
Tapa-me a tristeza
Sem a tua dor.
Cobre-me com o teu calor de mulher
Feito de amor martírio.
E
Eu
Pensava
Que só ias dormir
O sono quieto
Do lírio
Negro
Amoroso.


2016,12aNTÓNIODEmIRANDA

domingo, 4 de dezembro de 2016

A MADAME DO ROLLS-ROYCE

Mais medonho que a sombra
É o medo que nos encurta a coragem.
Enfeita-nos o tempo com malabarismos
Só para ruminarmos fantasias
Como se fossem aqueles bombons
com que a madame do Rolls-Royce
Tenta fazer-me inveja.
A inveja é um dos 7 pecados peniais.
Praticante assumido,
Não provarei nunca os bembons.
Mas eu sou um mero pecador,
Consumido nas termas do esquecimento
E mesmo não confiando neste alento,
Proclamo que aquilo em que não peco
Nunca será um bom exemplo.
Tende então cuidado
Porque haverá outras maneiras
Para não fugir à tentação.
Abracemo-nos então,
Com mais um abraço,
Não diferente dos demais.
Mas peço-vos:
Um pouco menos desconfiado.

2016,11aNTÓNIODEmIRANDA

Obrigado, Miguel Martins!


Obrigado, Nuno Moura!