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domingo, 27 de setembro de 2015

NUNCA LAMENTAREI A FALTA DE SORTE

A exiguidade das emoções que constantemente me são propostas, 
não passam de anomalias patológicas, gargalhadas congeladas 
em postas de má tez e configuração. Ínfimos zeros que só atrapalham uma boa relação aritmética. Análises sucessivas a um colesterol previamente envenenado, sangue tirado de veias ulcerosas. Tanto sorriso injectado, mal intencionado, medidas mal tiradas, vontades preguiçosas numa lua de mel adoçada com fel. E o mundo lá fora, a arder. Alguém erradamente calculou a volumetria do desejo, estrangulando o seu vigor numa embalagem fora de moda. O conhecimento académico cansa-me o fígado, causa-me eczema, ninguém atende o meu problema, dizem-me que  112 está constipado. Aleluia! É meio dia! Desta vez o relógio não se enganou. Nunca lamentarei a falta de sorte. Sobrevivo com o oneroso azar de a ela chegar sempre tarde.
Há fados piores. Aqueles que as guitarras não cantam.





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CONVERSAS

NA MINHA TERRA NÃO SE FALA MAL. 
NEM DOS MORTOS NEM DOS VIVOS.
QUANDO ESTAMOS DISTRAÍDOS, 
PERDEMOS ALGUM TEMPO 
COM A MERDA QUE NOS RODEIA.









2015aNTÓNIODEmIRANDA

TZERO

O mundo é um TZero. Também é verdade que nem todos 
os motores a diesel, trabalham da mesma maneira. 
Dizia-me o Carlos taxista.
Retorqui: a estupidez intelectualizada continua a ter 
como objectivo único não compreender esta verdade.
Os doutoramentos são como rolos de papel higiénico. 
Cagamos as folhas e lavámos as mãos para 
justificar a nossa desconfiança.
Quem vive neste quintal admite 
os muros que confinam esta ideia.
Louvados sejam aqueles. Que apesar de tudo, 
continuam a pensar que nada disto lhes diz respeito.
Sejamos simples. Se tal não acontecer, será melhor não fingir.
As ecografias podem ser terríveis.
A minha médica desconfia que sou maníaco antidepressivo.
Receitou-me bífidos antigos.
Os coletes de salvação não são de fiar.
Vamos com kalma.
Podem usar o pau do segurança e ajustar a câmara 
para tirar a selfie espontânea.
Não me dou bem com a preparação prévia.
Nova corrida, nova viagem. 
É grátis p`ràs ladies e as senhoras não pagam.
Por favor, tirem os pés do estribo.
Não amachuquem as granadas.





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quinta-feira, 24 de setembro de 2015

AMALIA RODRIGUES -"Povo Que Lavas No Rio"








POVO QUE LAVAS NO RIO


Pedro Homem de Mello


Povo que lavas no rio
Que vais às feiras e à tenda
Que talhas com teu machado
As tábuas do meu caixão,
Há-de haver quem te defenda,
Quem turve o teu ar sadio,
Quem compre o teu chão sagrado,
Mas a tua vida não!
Meu cravo branco na orelha!
Minha camélia vermelha!
Meu verde manjericão!
Ó natureza vadia!
Vejo uma fotografia...
Mas a tua vida, não!
Fui ter à mesa redonda,
Beber em malga que esconda
Um beijo, de mão em mão...
Água pura, fruto agreste,
Fora o vinho que me deste,
Mas a tua vida não!
Procissões de praia e monte,
Areais, píncaros, passos
Atrás dos quais os meus vão!
Que é dos cântaros da fonte?
Guardo o jeito desses braços...
Mas a tua vida, não!
Aromas de urze e de lama!
Dormi com eles na cama...
Tive a mesma condição.
Bruxas e lobas, estrelas!
Tive o dom de conhecê-las...
Mas a tua vida, não!
Subi às frias montanhas,
Pelas veredas estranhas
Onde os meus olhos estão.
Rasguei certo corpo ao meio...
Vi certa curva em teu seio...
Mas a tua vida, não!
Só tu! Só tu és verdade!
Quando o remorso me invade
E me leva à confissão...
Povo! Povo! eu te pertenço.
Deste-me alturas de incenso.
Mas a tua vida, não!
Povo que lavas no rio,
Que vais às feiras e à tenda,
Que talhas com teu machado,
As tábuas do meu caixão,
Pode haver quem te defenda,
Quem turve o teu ar sadio,
Quem compre o teu chão sagrado,
Mas a tua vida, não!













Pedro Homem de Mello

OUT OF DREAM


Fora do sonho
É aquilo que me proponho
Para então voar...
Nas asas do desejo.
Voltar ao princípio
Sem prévio aviso
Sem fim obrigatório.
Cair sem sentir
Numa nuvem sem-abrigo.



2015aNTÓNIODEmIRANDA

A TENTAÇÃO


Fia-te na virgem
E não morras.
Não cuspas ...
No muro das lamentações.
Rasga o véu
Queima a burka
Não resistas às tentações.
Reza de joelhos
Se te aprouver
Nada é pecado
E eu por acaso
Poderei ensinar-te bonitas orações.
Se te apetecer,
Há tantas coisas boas
Que poderemos fazer.



2015aNTÓNIODEmIRANDA

HARMONIA DOS DESIQUILÍBRIOS


1_ Não é importante eu não gostar de todas as pessoas.
     Fundamental é elas não me chatearem.
+
2_ Há demasiada gente a quem a dor dos outros nunca dói.

= Nada peças a um rico.
   A dificuldade que ele tem em dar a infíma parte daquilo que nunca lhe fez falta,
   Será sempre infinitamente maior
   Que a tua necessidade de receber.


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segunda-feira, 21 de setembro de 2015

A visita da Mariana Gomes. E a minha árvore preferida.



CRÓNICAS DE VILA CHÃ (4) “COMO POSSO DIZER” - 2015set14

Curiosidade mórbida e a realização de cenários de quem nunca está presente. Ouvi dizer, diz-se por aí, é a constante permanente numa ideia infinitamente menor. Côa-se assim o tempo, desperdiçando a vida sem ter desta qualquer lembrança. Só baixo de nível com a eloquência da estupidez absoluta. Não há remédio para esta fatalidade. Mantenho comigo uma frequente possibilidade de aprender. Se calhar já escrevi isto, mas se calhar vocês não leram. Os dias passam tranquilos na minha cabeça cheia de boas intenções. É bom ter esta possibilidade de anualmente repetir certas leituras. Estou mais sossegado na minha calma, mais acessível à minha atenção, com menos desprezo pelas coisas mais simples, que há muito tempo passavam despercebidas. A cidade grande surge depressa demais para confirmar qualquer intenção de me lembrar. Sou só, sem qualquer anomalia proveniente do lamento. Passo os dias com ritmos tão subtis envolvendo todas as hipóteses aptas para serem impressas nas paredes da minha memória. Humedeço os sentidos com esta tranquilidade ausente de todo o sentimento de fraqueza, e enleio a minha satisfação com amplos sorrisos e gargalhadas encharcadas de contentamento. Não me contento com pouco, juro-vos! Mas, não me levem a mal, sou dono da minha plenitude. A vida não é simples e incautos serão os caminhos que nem sequer admitem essa possibilidade. Deixemos correr o tempo sem termos a ínfima intenção de tingir a sua dignidade. Sou tão difícil como a mentira em que ninguém deve acreditar. Não sou rima para agradar, e pequei tanto que o andor tombava para o lado da minha não imprecação. As velas queimavam cinicamente os dedos, e os crentes indiferentes saboreavam entremeadas previamente benzidas. Eu seja louvado! E como não sou invejoso, que o outro venha logo atrás.
Sou tão ilógico que a lógica tem de mudar de pilhas. Os leds anotaram esta evidência com um ar de mercedes condicionado e filtros plenos de satisfação. Incrédulo mas receptível á inovação, mandei-os á merda com todo o cuidado, tirei os dedos da ficha, desliguei o motor, abri a porta da marquise, informei a mulher, avisei a empregada, telefonei para a porteira, raspei a raspadinha, ignorei a vizinha, atei a trela ao pescoço, meti na boca um osso, adiei a caganeira, paguei o imi, cheguei á cama arrasado. De nada me lembro. Dormi com o mesmo lado.
Aviso: este texto nunca poderá ser incluído em qualquer manifesto eleitoral, assim como na posologia de qualquer coisa intencionalmente prescrita com o propósito da normalização da loucura. Admitirei a possibilidade da sua utilização na confecção de collants e num restrito modelo de copas de soutien. Bom, a hipótese de pára-choques, poderá eventualmente ser discutida.




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CRÓNICAS DE VILA CHÃ (3) “PERIGOSO”, O CÃO - 2015set12

É sabido que quando dois gagos se encontram, ainda ficam mais gagos. Esperam-nos então conversas mais demoradas. Recordo aquela noite na adega do Agostinho, onde molhámos a palavra com vários, isto é, muitos copos de vinho, na companhia do inevitável Rogério. Na mesa um queijo e um apetecível naco de presunto. Tudo de boa e fidedigna proveniência. Mordisquei umas fatias de presunto e como não sou apreciador de queijo, para não fazer desfeita, consegui com a ajuda da broa ainda quente, comer alguns bocados. Então Agostinho, não comes? Óóó Miranda, olhando-me com ar de enfado, estou farto disso. Continuava a sacar da embalagem batatas fritas. O Perigoso, o seu cão, ouvia-nos atentamente lambendo as feridas que tinha espalhadas ao longo do corpo. Faltava-lhe quase metade da orelha direita, e coitado, cheirava ao produto para curar as mazelas. Tinha todas as marcas de um ferido de guerra. O que é que lhe aconteceu? Óóó Miranda, este doido andou maluco para montar uma cadela e os outros cães deram-lhe cabo do canastro. E se queres que te diga, duvido de todo que ele tenha provado o pito! É sempre assim, mas ele não deixa de tentar. O que se pode fazer? Ele gosta! É como o dono! O sexo, quer dizer a tentativa, para este cão é sempre perigoso.

A última coisa que me lembro, é de ter subido as escadas da entrada da casa de gatas.


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ANJOS CAÍDOS

Tocam-me essas asas com voos de angústia tão ausentes de serenidade sempre esquecidos no sumário dos telejornais. Os analistas distraídos com a sua pretensa sabedoria ignoram a sua importância. Sondagens absurdas tentam convencer-me que faço parte dum filme com um enredo que não me respeita. O meu voto está escrito desde sempre no papel com que limpo o cú.
Lembro-me sempre de ti e conservo o máximo respeito quando carrego no botão do autoclismo. Bendito sejas. Não duvido! Está escrito na parede do wc. Eu, aquele que nasceu no tempo indevido, na hora esquisita, tenho a honra da desdita que navega num rio sem cais.






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BABY, I DON`T CARE


Não me importo
Com o futuro que alguém
Inadvertidamente escreveu para mim.
Não me importo
Com a inconstância
E a falta de relevância
De qualquer intenção
Que continua a não me dizer respeito.
Da minha janela, eu sou o parapeito
É tão simples a ideia
A aranha tece a teia
A lua embrulha-me o sono
Com nuvens de sorrisos de arlequim.
Transporto o sonho
Com um som que me acompanha,
Ébrio de sabores
Que cabem todos em mim.
Não me importo
Com o pleno conforto
Como se fosse fronteira
Que nunca se alcança.
Sou eu, sou agora
Sou eu em mim
Numa calma maturada
Piar de mocho na madrugada
Luz tão grande
Com cores de uma tranquilidade
Ainda agora começada.
O sino da igreja
Anuncia uma hora repetidamente badalada
É o tempo que acompanha a solidão.
Baby, I don`t care.
Desapertar o teu baby-grow
Com uma promessa inteira.
A importância
É uma coisa não inerente
Á minha identidade.


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2015set17 CRÓNICAS DE VILA CHÃ (5) “A CARLA DO GPS”

Sofre-se em segredo num enredo sem tratamento. Diz-se habitualmente que partiu em paz transplantando-se olhares onde nada da importância foi retirado. Há galas onde se exibe silicone estilizado, apresentando-se um novo penteado e as rachas do vestido rasgadas até á falta de carácter, só poderão ser interessantes na perspectiva de um reality show eivado da total imbecilidade. É crucial saber que o júnior foi salvo da morte por um criminoso arrependido. Entretanto alguém ficou com o ordenado em atraso, miseravelmente cortado. Como sempre os amigos não sabiam. Há apostas pornograficamente fortes na falta de dignidade. A vida morreu na mesma forma. Pneumonias não democráticas fazem desaparecer pessoas fantásticas. Retiram-nos o tutano, abusam a todo o momento da nossa bondade e desdenham da lembrança da nossa memória. A carla do gps, na sua imensa sabedoria, diz-me para voltar atrás. Mas eu há muito tempo que perdi o seu caminho. Não sou assim tão obediente a tanta tecnologia. Doses prolongadas afectam a minha actividade cerebral. O talento nunca falta ás pessoas estúpidas. Reconheço-lhes sem a mínima dificuldade esse exclusivo. Esta gente emagrece-me a vontade de gostar delas. É completamente automático. Mas também não é perigoso. Acredito que qualquer psicólogo atento, escreveria uma tese conveniente. As teorias e sobretudo as biologicamente aferidas, estão á disposição numa qualquer cadeia de supermercado. Durante esta campanha as grades estão incluídas no preço. O iva só se paga na volta. O número de contribuinte é imprescindível! Aumenta o tamanho da factura para não cagar os dedos quando a ela limpamos o cú. Nós temos a solução! Estejam atentos! Mas, com a devida consideração, não acreditem nela. Poderão acompanhar o desenvolvimento deste texto no programa da próxima sexta-feira em fm de alta definição 70 para as 7. Irão acontecer milagres (provavelmente não combinados), de acordo com as suas necessidades, com o grande, o carismático, o único, a verdadeira espécie de camafeu, o inoxidável pastor tadeu. Voltamos dentro de momentos. Não saia daí. Só vou mudar as pilhas do papagaio.

Há por aí uma pimba que gosta de lavar a ameijoa. Já não era sem tempo. Tenho ouvido considerações nada abonatórias acerca da sua higiene íntima.

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

MUDAS A FOTO, NÃO ENGANAS O PERFIL


Preocupam-me todos os sistemas totalitários, e sobretudo não quero que me gele a vontade de brindar com sangue a morte de todos os monstros do mundo. É infinita a distância que nos separa. Estes ideais inquietos, causam-me a angústia de que nada vai mudar. Estão mais altos do que nunca, os velhos muros do ódio. Tenho gravadas nas mãos, as marcas de frias grades onde escorrem poemas com o sabor do tempo. O que falta? O único minuto, deserto, sempre deserto de esperança. Serão agora ainda mais difíceis os sorrisos que ancoravam com toda a cumplicidade, vagas não exageradas de optimismo. De nada valeram os gestos ensaiados. A mentira mais fingida foi sempre maior que o cenário disponível. Toda a evidência encharcou a metáfora. Talvez não custasse muito destilar outras frequências. O tudo e o nada será sempre a medida exacta. Aqui a dúvida não passa de um intercâmbio de palavras. Apostamos a fatalidade numa bolsa com o crash há demasiado tempo preparado. Há ainda quem pense que o dow jones foi o primeiro guitarrista dos rolling stones. Eu diria: é preciso não acreditar na inteligência do ar condicionado. Garanto-vos a inexistência de cobardias honrosas, e, as verdades que nos querem impingir não passam de uma imitação adulterada de pechisbeque. Não há ponto razoável para acreditar em virtudes tísicas. São sempre indigestas as discussões estéreis. Olhamos para o céu mentindo copiosamente na vontade de lá chegar. Há imaginações com demasiada cinza.

.2015aNTÓNIODEmIRANDA