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terça-feira, 30 de setembro de 2014

VILA CHÃ_2014SETEMBRO

                                                                  MUNDO DIFÍCIL


                                            O mundo está difícil
                                            Vai-se perdendo a esperança
                                            Mitigando as ideias...

                                            Não há hipóteses para somar
                                            As cartas estão todas viciadas
                                            A roleta já não é só russa
                                            Enrolam-se os projectos
                                            Diminuem-se as tentativas
                                            Afia-se ainda mais o gume da faca
                                            A aposta já não vale nada.
                                            Alguém só quer
                                           Que percorramos os caminhos
                                           Permitidos pelo passe social.
                                           Nada é fácil !
                                                                Mas o difícil também acontece.

2014.antóniodemiranda

O TEMPO DO INSTANTE

O TEMPO DO INSTANTE
 
 
Só sei do amor
Aquilo que minto.
Dois corpos juntos...

Às vezes não passam
De 2 grãos de areia.
A pele queima
A solidão sobrante
A espuma será então
O tempo do instante.
Fica a ideia
Pendurada numa corda
Onde se traçam os nós.
Não há dor que não doa
Memória que o tempo não queime.
O tempo do instante
É aquilo que nos sobra
Para adormecermos
Com a inútil esperança
De não estarmos sós.
.2014aNTÓNIOdemiranda

CRÓNICAS DE VILA CHÃ (1) : 2014set20

Gosto do sorriso do Rogério. Olha-me com toda a sinceridade e respeito e pensa com os seus poucos botões, é pá! Este gajo é um grande maluco. Conta-me aquilo que só para ele tem valor: coisas da sua vida. Gosto sempre das suas visitas, e sobretudo da sua simplicidade verdadeira. Do seu modo de viver o tempo. Gosto de ouvir, quando na despedida diz-me para ficar com deus. Hoje disse-me muito timidamente para eu lhe fazer um favor: ó senhor ...miranda, deixe de fumar. Vai-se embora, amparado pelo seu bordão. Não me custa nada a acreditar que seja ele o seu único e inseparável amigo. Conta-me que a vida para ele nunca foi fácil e há uns anos para cá que não dorme uma noite completa. Mas, porquê? São problemas.
Falamos geralmente á noite com palavras molhadas por uns copos de tinto. Vou sabendo, melhor conhecendo, muitas coisas que sem ele me passariam ao lado.
Continuo com nefasta e inevitável certeza: uma manifesta falta de solidariedade entre pessoas que sendo tão poucas e que conhecendo-se ao longo de tanto tempo, teimam em não assumir aquilo que é o único modo de se sentirem menos sós: tentarem estar juntos. As pessoas são difíceis, mas sei perfeitamente que há muito tempo que até os “burros” desistiram de puxar a corda pelas pontas.
Não sabemos o dia de amanhã, dizem-me. Eu pergunto :hoje fizeram alguma coisa diferente de ontem?
Não me lembro! A inevitável resposta.
Resignar a uma vivência melhor, significa a demissão da aceitação de uma condição digna.
As pessoas estúpidas têm amigos imaginários.
Obrigado amigo Rogério.
 
antóniodemiranda

CRÓNICAS DE VILA CHÃ (2) _ 2014set

Vou esquecer algumas coisas, não que me incomodem, mas somente porque não tenho tempo para pensar que gosto delas.
Nada é mais simples do que passar a angústia propositada no passe vite. As horas mornas conservo-as eclesiasticamente na arca de congelação! Devidamente etiquetadas para não haver a mínima hipótese de erro na hora da distribuição....

Gosto de gente feliz, embora habitualmente isso não me diga respeito. Não gosto de meter o nariz, sobretudo para aquilo a que sou chamado.
Gosto deste silêncio ritmado pelo som do relógio pendurado na parede, onde continua acampado um quadro com a última ceia. Qualquer deles me olha avidamente com um convite que ainda não aceitei.
Gosto destes tragos de nada e daquela estrela incendiada , que, ano após ano não pára de cintilar.
Gosto destas noites agora só minhas onde procuro fingir um qualquer cansaço.
Vem ter comigo a memória amiga que me trás aquilo que me apetece. Debaixo da mesa, o meu cão ressona para não me deixar cair na tentação do sono.
Amanhã vou ao quintal apanhar uvas para o meu sumo matinal.
São estes os dias! Calmos …preenchidos com a ausência da futilidade.
antóniodemiranda