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quinta-feira, 24 de outubro de 2013
segunda-feira, 21 de outubro de 2013
quarta-feira, 4 de setembro de 2013
POEMAS
Eu…
sou
aquele
que
pensas que conheces
mas
não me alcanças
quando
caminho sobre o arco-íris
sou
como um rio
tortuoso
fugidio
anjo
ferido
esquecido
nas
tuas preces.
alegoria
imperfeita
ângulo
sem bissectriz.
prescrição
sem receita
embrulho
que se deseja
oferta
disponível
do
optimismo possível
sou o
que quero
nunca
o que querem que eu seja.
dezembro6.2010
Poema
para um amigo ( ALBERTO MONTEIRO-2013Abril6)
1. O
Alberto morreu !
Mas o kiko não sabe.
Pensa que vai continuar a
ladrar
quando ouvir o
inconfundível trabalhar da zundapp.
2. O Alberto morreu !
E não teve tempo
de estofar o assento da mota.
É verdade que sempre foi uma hipótese adiada
ao longo dee vários anos.
3. O Alberto morreu !
Sempre é verdade
que a morte é um lugar estranho para se viver.
4. O Alberto morreu !
E eu não tive tempo
para saber os nomes dos pássaros,
mas sei, porque ele me ensinou
que a cor do céu ao cair do dia
diz-nos como estará o tempo amanhã.
5. O Alberto morreu !
… desta vez apanhou-me desprevenido,
não vamos cumprir
o que combinamos no último abraço
6. O Alberto morreu !
Conhece-lo
foi dos poucos privilégios
que a vida me deu.
7. O Alberto morreu !
Vou sentar-me no alpendre
em frente da estrada
com dois copos de tinto
imaginando as três buzinadelas habituais.
8. O
Alberto morreu !
Olho
para o stop :
se
tens olhos pára !
Como
ele costumava dizer.
junho042013
PODE
Pode
o destino não ter caminho
pode
o rio não beijar o mar
pode
a vida estar ao contrário
pode
o grito ser solitário
pode
o tempo correr devagar
pode
o sonho ser esquecido
pode
o fruto não ser proibido
pode
o leito não ser de morte
pode-se
nascer no lado errado da sorte
pode
a navalha não ter fio
pode
o humor ser adiado
pode
o rico ser desconfiado
pode
o pobre ser certificado
pode
o poema não ser lido
pode
o voo ser cancelado
pode
o sol mentir á lua
pode
a rainha andar nua
pode
o ministro ser sinistro.
PODE
A VIDA SER UM ESTRANHO LUGAR PARA SE MORRER.
mai2013_16
PERGUNTEM Á
ALICE
PORQUE VEJO EU COISAS DIFERENTES
PERGUNTEM Á ALICE
ELA PODE EXPLICAR
EU SÓ TOMEI O COMPRIMIDO
QUE O MÉDICO IMBECIL DIZIA IGNORAR
OS QUE ELE TOMA
NÃO FAZEM EFEITO
DÃO-LHE VONTADE DE CHORAR
VÁ LÁ, NÃO TENHAM MEDO
FALEM COM A ALICE
ELA SABE O SEGREDO
EU SEI QUE ELA TEM
UM COGUMELO QUE VOS VAI AJUDAR
PORQUE VEJO EU COISAS DIFERENTES
PERGUNTEM Á ALICE
ELA PODE EXPLICAR
EU SÓ TOMEI O COMPRIMIDO
QUE O MÉDICO IMBECIL DIZIA IGNORAR
OS QUE ELE TOMA
NÃO FAZEM EFEITO
DÃO-LHE VONTADE DE CHORAR
VÁ LÁ, NÃO TENHAM MEDO
FALEM COM A ALICE
ELA SABE O SEGREDO
EU SEI QUE ELA TEM
UM COGUMELO QUE VOS VAI AJUDAR
2013
NINGUÉM ME AJUDA
Ninguém me ajuda
Os anjos estão no
desemprego
Os ministros andam
com medo
E deus já não
sabe o segredo
Os manuais estão
vazios de intenções credíveis
A maquilhagem é a
mentira evidente
De qualquer modo
toda a gente mente
A proposta é
sempre indecente
O padre já não é
crente
E o sangue por ELE
derramado
Está infectado.
out.2012
godvai
agora
ninguém te pode ajudar
perdes-te a hora
já não tens lugar
O céu
é uma porta fechada
sem partida nem chegada
É como um pássaro a voar
Encoostado a uma árvore
Ele
gosta de te pôr de joelhos
enquanto finge
que ouve os teus pecados
Depois olha-te
como se fosse ternamente
Acaricia os teus cabelos
Diz que lamenta
mas todos os lugares
estão ocupados.
Não entres na igreja :
juro-te
que os santos
te olharão com toda a inveja.
2013agosto23
gerónimo`s
blues
BURY
MY HEART
AT
WOUNDEED KNEE
THERE
IS NO PLACE
WHERE
I WANT TO GO
YOU
STOLED MY SOUL
FROM
MY BODY
NOW
I CAN`T H EARTHE
WIND BLOW
_2013
ELA
SABE...
é duro o
que sentes
quando o
tempo que pensavas ter
chegou ao
fim
quando
qualquer ajuda
é bem vinda
mas ninguém
te estende a mão
quando toda
a indiferença é legítima
disfarças a
angústia
como sempre
do modo errado
ERROS TEUS
MÁ FORTUNA
?
O QUE TE
RESTA ?
Deitar fora
tudo aquilo que és
nada em ti
presta
de nada vale
o sorriso
e o teu
contraditório
está fora
de prazo
Ah,
como eu costumo dizer
a vida é um estranho
lugar
para morrer.
Dead
aNGEL bLUES
EMPTY
DREAMS ON MY GRAVE
DIRTY
FLOWERS ON THE
COLD
STONE
I
JUST WANTED TO BE A
GOOD
BOY
MAMMA
,LOOK WHAT THEY DONE
DON`T
YOU CRY
DON`T
YOU CRY
BABY,
YOU DON`T CRY NO MORE
`CAUSE
I`M JUST A DEAD ANGEL
LOOKING
FOR THE
HEAVEN`S
DOOR
_2013
CARRIS248
despem-se
as sombras
abandonando
assim o corpo
que
já não lhes pertence
sonho
de veias feito
vontade
ausente
beijo
sofrido
abraço
soluçado
desejo
enganado
equívoco
acontecido.
A
ausência
só
serve para recordar.
Agora
que a noite
me
abraça
com
todas as promessas.
Bem-
vinda !
Minha
companheira.
Hoje
começo eu
o
jogo habitual...
mai2013
ANJO
NA AVENIDA CONDE DE VALBOM
vi-te
na rua
a
falar
com
um mundo distante
que
só outro anjo compreende
olhavam
riam
com o
desprezo da normalidade
estupidamente
estampado nos rostos
embrulhei-me
na tua alma
eu
aquele
que
na pele
já
só tem a memória da solidão
imaginei-te
como eu
ou
eu
como tú
mas
agora
já
não tenho a tua bagagem
abracei
a
pena
lágrima
hipócrita
já
não é minha a tua viagem
e o
meu epitáfio
será
apenas
mais
uma palavra de circunstância.
2010nov16
a nossa senhora
Mesmo deus
Já não te pode ajudar
Aquilo que procuras
Já não está no altar
Ele partiu
Cansou-se de esperar
A água benta
Da cor sangrenta
Está esgotada
As hóstias escondidas
Nunca mataram a fome
E as homilias
Continuam a resignar
Um quotidiano miserável
Já ninguém escuta o
padre
E a nossa senhora
Nunca foi boa.
Amén !
Amén para ti também
mar_2013
50
anos
olhei teu beijo em flor
e tu sorriste
sonhei teu corpo em flor
logo partiste
agora choram as gotas
dum coração sem chuva
reclamando
o momento do encantamento
que eu perdi por ti.
já não tenho todas as horas do mundo
e as mágoas correm alegremente num rio
descobriste há muito que o teu tempo já passou
embora partido em mil bocados
o espelho teima em mostrar
todas as faces da tua decadência
ficaste para trás
estás fora de moda
já não apagas aquilo que o relógio faz
os teus modos não são os melhores
já não é apetecida a tua foda.
nunca disse amor
mesmo quando o amor eu fingia.
deixa-me apresentar :
afinal sou um homem de bem
e de alguma cortesia ...
outubro.24.2006
abc do escritório
o
pronto pagamento
da boa
educação
os
resultados líquidos do exercício
as
despesas de representação
o
bónus anual
a
ocupação negocial
a
digestão digital
o
elogio vaginal
o
executivo importante
o
empregado zeloso
o
emprego degradante
o
organigrama tinhoso
o bufo
a
porca
o
parafuso
a
ordem
o
abuso
o
motorista solícito
o cú
reboliço.
eu
sugiro
eu
solicito
que
acabem
acabem
depressa com isso.
14.5.86
agora não
agora
não !
sinto-me
cansado
demasiado
cansado
mesmo
para fingir.
quando
a manhã chegar
talvez
te abrace
com
uma nova promessa
nos
lábios...
3.6.86
agosto
descansa
os
braços nos meus joelhos
tu
sabes como eu gosto
leva
o tempo que quiseres
os
meus dias
têm
o tempo de agosto
ama-me
até
ao
fim do amor
com
beijos escondidos nos lençóis
do
teu corpo
guardarei
sempre o calor
mais
quente que mil sóis
2006out12
Amar... te
amar - te
tanto
até atingires
o céu
para nele
desenhares
vôos de
gaivota
depois dirás
que nada te
importa
e continuarás
a dizer não
como agora
dizes
quando bato à
tua porta.
mar.85.6
américa
(com 1 abraço para ginsberg)
américa!
pés
nús sobre a terra sagrada !
exactamente
a terra que tú manchaste
américa
não vales nada |
américa
não pensas nada !
não
respeitaste as pessoas boas
que
tiveram a coragem de dizer mal de ti.
américa
acabaste com os índios
e
inventaste o ketch up para celebrar a sua ausência.
américa
eu sei que ginsberg deu-te tudo
e eu
ofereço-te todo o meu nojo.
américa
não precisas justificar a tua existência
( eu
sei que a tua estupidez é suficiente ).
e os
teus cowboys nem em filmes me seduziram.
américa
vou matar-te !
e nem
sequer será um acto de coragem.
américa
és uma mentira.
américa
vou segredar-te o meu espólio :
1
bomb in my head
1
bomb in my hand
1
bomb in my mind
with
all this things, i love you américa
i
hope you don`t mind.
américa
ninguém acredita nos teus cenários
ninguém
se ri dos teus palhaços
nem
os cães querem mijar na casa branca
américa
deves aconselhar o teu presidente
a não
comer as cascas dos amendoins (nem os macacos fazem isso).
américa
não aprendes nada
os
marcianos já fugiram
américa
gerónimo derrotou-te
américa
sitting bull gozou-te
e
talvez eu seja um dos milhões de espíritos de
tatanka
yotanka que neste momento solenemente juram que te irão foder.
américa
não te livras de mim
américa
celebrarei exclusivamente para ti
uma
ghost dance
américa
we shall live again !
eu
sei que não vais gostar,
mas o
teu mau gosto nunca me surpreendeu.
américa
! are you talking to me ?
vai
pró caralho !!!
américa!
pés
nús sobre a terra sagrada !
américa
não ouviste a fala do índio
(
sim, bem o sabemos
quando
vós chegais, nós morremos )
américa
tú é que és o manicómio |
liberta
aqueles a quem chamaste loucos
só
porque choraram por ti.
américa
! e os búfalos ? lembras-te ?
claro
!
inventaste
o hamburguer para esconder o seu extermínio
américa
little big horn existiu
enterraste
as tuas mentes brilhantes
na
curva do rio
américa
! merda para o custer para o super homem para o batman e muita merda
para o capitão américa. merda ! toda a merda para os teus heróis
de celuloide.
américa
desiludiste marlon brando.
américa
! sinceramente nunca gostei das tuas torres.
américa
o jazz não é teu.
os
blues choram a tua vergonha
américa
!
amo
desesperadamente aquilo que não te pertence !
américa
o mundo não precisa da tua boa vontade !
eu
sei que vai haver uma vaga no céu :
o
deus em quem tu confias
anda
a portar-se vergonhosamente mal.
américa
fidel é o teu amante ideal.
américa
os teus dolares cheiram a merda
és
uma história sem vergonha
vietnam
bertrand russel
américa
sacco & vanzetti não são assassinos
marylin
nunca foi a tua prostituta
américa
não me interessam absolutamente nada
os
teus constantes esgotamentos
e os
teus delírios já não são segredo
nem a
cia acredita neles
américa!
pés
nús sobre a terra sagrada !
assassinaste
os jovens que pensavam gostar de ti
américa
eu não estou sozinho
américa
eu só quero ser bem comportado
américa
eu só quero não ser respeitado por ti
américa
eu vi-te sentada numa nuvem a espiar a humanidade planeando
ávidamente o método mais eficaz de a destruir
américa
não ouviste o grito
vou-te
enforcar numa cabine telefónica
américa
bob dylan avisou-te :os tempos estão a mudar
a tua
estratégia não convence ninguém
estou
farto dos teus boicotes sistemáticos
da
tua moral sifilítica
da
tua anormalidade política
américa
quanta miséria espalhaste pelo mundo !
guajira
guantanamera
esta
é a nossa terra, terra querida
aqui
los hombres si, yankees no !
pátria
o muerte !
américa
tenho a tua coragem na minha algibeira
eu
sei que não vais mudar
nem
poderás nunca seguir o meu caminho
ainda
não descobriste a razão da tua maldade
américa
todos confirmam o elevado grau da tua insanidade
américa
hoje é um bom dia para te matar
UMA
BOA AMÉRICA É UMA AMÉRICA MORTA
américa
porque odiaste os teus beatniks?
não
me ocorre nada de bom para te falar
a tua
liberdade não passa de uma estátua envergonhada
américa
liberta os tornados para que definitivamente eles cumpram a sua
missão
américa
as tuas guerras são uma farsa
és
um pesadelo sem fim
américa
todos te enganam sobretudo quando dizem gostarem de ti
vomito
nos teus óscares e discursos e no espírito americano e no teu way
of life
américa
estou sempre pronto para te irritar
zappa
tinha razão :
na
próxima vez prometo não vir-me na tua boca (pensando bem não
mereces o meu esperma)
américa
tenho 1 míssil para purificar a tua alma
o meu
ódio é melhor que o teu
juro-te
que a minha raiva é eficaz
embora
me considerem um bom rapaz
os
teus ensaios nucleares não me convencem
as
tuas ogivas são supositórios
e no
teu cú cabem todas elas
américa!
pés
nús sobre a terra sagrada !
américa!
sei
que vais morrer!
e
grouxo marx não te quer no paraíso.
2006setembro
amor
deitado na
cama
deserta
despida
nua
:
compreendo
o real significado
da tua ausência .
Anatomia
dum escritório.
envelhecido
antes
do
tempo
em
cascos
de
merda.
( a todo o
momento ).
asas de desejo
quando
vir
um anjo
com asas de desejo
não sei
se resistirei
à
vontade do beijo .
como de costume
aparecerás em forma de
volúpia
e
eu
como sempre
adormecerei
no nevoeiro do teu
sexo .
até
ao fim
até ao fim
meu amigo
foram penosos
mesmo em demasia
os caminhos que
percorremos
e no entanto
bastava
que a esperança
não fosse
mais do que uma palavra
agredida.
até ao fim
meu amigo
mantivemos a coragem
possível
e desenhamos
os mesmos projectos.
no entanto
bastava
que a amizade
não fosse
mais do que uma palavra
agredida.
até ao fim
meu amigo
prenderam - nos
pelos mesmos preconceitos
e imaginámos
tentativas de fuga
onde tentámos correr
contra o vento
ainda que estivéssemos
amarrados
às amarras da vontade do
tempo.
no entanto
bastava
que a coragem
não passasse de uma
palavra ausente.
até ao fim
meu amigo
permanecemos imóveis
quedos
à tirania
de quem em nós
tentou mandar.
no entanto
meu amigo ,
bastava
que pelo menos uma vez
estivéssemos unidos.
&
isto é o fim, meu amigo
o único e verdadeiro fim
meu verdadeiro e único
amigo.
86.
até
onde me levarão
os
caminhos do desejo ...
daqui
a pouco
mergulharei
novamente
no
sonho habitual
e num
anónimo ritual
recordarei
um a um
os
beijos desejados.
até
onde me levarão
os
caminhos do desejo ...
arde
- me já a vontade
mas
não é deste fogo
que
eu tenho medo.
ser
saudade antes da realidade
ser
dor para além de segredo.
até
onde me levarão
os
caminhos do desejo ?
86ago.
ausência
como de
costume
o
amor passou ao
lado
e derramámos
esperma
para celebrar
a sua ausência.
85mar6.
ausente de mim
fecho os olhos
para a noite que sempre
acaba
olho-me num rio
e imagino-me barco sem
cais
e se as ondas batessem em
mim
ou se eu fosse areia
sempre molhada
mesmo com sabor a sal ?
não sei se estou cansado
ou ansiosamente procuro o
cansaço.
sorrio a mim próprio
mirando-me num espelho de
uma só face
o outro lado sou eu
& a minha completa
desilusão .
volto atrás ! caminho em
frente
com a pressa traiçoeira
do sabor vazio.
TENTO SÓ O QUE QUERO
NEM SEQUER O POSSÍVEL.
espero no desespero
o tempo do desalento
o desejo adiado. e consumo
cenários de mera
conveniência.
& suicido-me em
ficções
& morro as vezes que
não quero
& desejo não desejar
& choro lágrimas
anónimas
& estou bem onde não
posso estar
& estou não sou fui
sou
96.abr.18
balada do chulo
a minha namorada
encostada à esquina
fuma muitos cigarros
cocktails ou laranjada
blue jeans gelados
olha - os felina
e dá grandes passeios nos carros
depois diz que me ama
se com outros vai pr`a cama
é para me comprar um ferrari
oferece - me perfumes
e cigarros estrangeiros
esconde - se de mim
debaixo dos travesseiros
e beija - me na boca
contando onde passou
a última noite
enrola os dedos
nos meus cabelos
olhando - me muito séria
mais uma carícia um beijo
conta - me segredos
e depois dá - me a féria.
balada do
prazer
isso ...
essa carícia
com malícia
o nosso amor é
um tango
dançado
swingadamente
cada vez
melhor
cada vez mais
diferente
adoro o teu
dançar
e ainda sinto
que é pouco
embora me
tornes louco
de tanto te
amar.
sim ...
a língua na
boca
a mão na
côxa
esta alegria
quase rouca
de respirar o
teu olhar .
85mar.6
beijos
deixa
- me
beijar
- te
mas
com todos os
beijos
duma vez
para
que
não me perguntes
quantos
foram
para
que não fique
a
dúvida do talvez .
bestiário
o que
nos resta
depois
de separarmos o que não presta ?
deitar
fora as horas do tempo
para
envelhecer calmamente
embora
se apresse a pressa
de
apagarmos a memória
de
controlarmos o pensamento ?
de
riscar o calendário
desta
batalha perdida
mesmo
antes de ser vencida
à qual
ainda chamamos vida
e que
faz de mim um bestiário ?
e esta
vontade que desafia
e que
programa dia a dia
esta
ausência de revolta
que só
nos dá a derrota
à qual
teimosamente
etiquetámos
de vitória ?
85fev.
blue
abraçar
- te no olhar com o sabor do último beijo apetecido na
vontade de nunca mais acabar
sentir
- te quando nos diluímos nos abraços cúmplices que nos unem então
acontecem as palavras novas que até então não ousávamos
dizer é boa e apetecida esta fadiga
que
não cansa nem limita e as tuas dúvidas são as minhas certezas que
só encontro nesta paixão ardente feita no tempo do nosso
tempo ritmado com sensações de amizade total até ao fim
e os
arco - íris cumprimentam -me contentes
num
claro gesto de cumplicidade
enquanto
uma a uma vou abraçando as suas cores .
então
toco -te sinto - te conheço - me perco - me dentro de ti numa viagem
sempre diferente . Sorrio olhares de mim próprio de ti de nós da
nossa vontade do nosso querer do nosso amor tempestade feito com
beijos de bocas amigas que eu quero desejo até ao fim.
E
atinjo o vermelho do infinito,
o
gosto da ousadia a ternura da ilusão
alcanço
o mundo com a mão
e
choro lágrimas que não têm senão o sabor do teu corpo .
buda
buda tem os olhos tristes
!
( ... da passagem de buda
pelos u.s.a. )
&
a limusine do presidente
continua a brilhar
buda
tem
os
olhos
tristes : não tem
chewing - gumm
não
pode
merditar.
1977
cais
e
fico num cais de ruínas
que memorizam pedra a pedra
o tempo
em que eu ainda acreditava.
deito-me
sobre o som deste rio
sinto-me leve vazio frio
e sorrio
anónimamente
teorias de indiferença
26.5.86
calendário
Uma a
uma
viro
as tuas folhas
atirando
- as ao sabor da memória
deste
tempo gasto em vão.
Para o
ano
farei
delas barcos
e
enche - los - ei com bocados
exactamente
como é feita esta recusa.
entretanto vou adiando
ao
sabor
não
sei de qual vontade
esta
contradição
que me
faz viver a vida
em
permanente tempestade.
Eu
ainda
continuo com a esperança
de
abraçar definitivamente
a
bonança.
cama
deitado na
cama
como poderei
dormir
entre lençóis
com o sabor da
tua ausência
&
sobretudo
reclamando o
teu corpo
?
desculpa -
me
!
esta é a
dúvida que
não
te
perdo
- o .
she`s gone
yes my baby
she`s gone.
out.12.80
caviar
caviar
até fartar
e
champanhe bem gelado
o
dupont sobre a mesa
para
o ar requintado
a
mala de executivo
um
olhar desportivo
outro
olhar muito ocupado
discute
a situação
na
conjuntura actual
é
amigo do ministro
com
quem adora ser visto
especialmente
na televisão
tem
dinheiro na suiça
e
os empregados sem salário
explora
em portugal
e
até tem cartão de empresário.
1984
CELEBRAÇÃO
Complicamos
Tudo o que não devemos
Até a morte complicamos
Mesmo antes de morrermos
Complicamos a vida
Sem sequer a vivermos
Projectamos o destino
Com teorias banais
Dificultamos o tempo
Que não é nosso
E logo achamos que as
horas
São um osso duro de
roer
Complicamos o riso
E toda a sua vontade
Abraçamos o medo
E inventamos armas letais
Que não matam a nossa
triste realidade
Vemos os filmes dos outros
Com enredos que a fingir
Nos fazem doer
Rejeitamos
Ignoramos
Qualquer convite à
felicidade.
Cantando
Celebrarei a morte
Se assim me ajudar
O engenho e a sorte
ago.2010
Cidade suja
( para Ferreira Gullar )
cidade de abutres
porca manhosa tinhosa
cidade triste e alegre
maliciosa
insidiosa
desesperante
frustrante
inimiga do amigo
maltrata o sem abrigo
cidade sem cor
ódio e amor
paixão silenciosa
violenta
tarde cinzenta
não ouves quem te fala
não sorris a quem te
cumprimenta
cidade do frio
não aqueces o rio
não apaixonas quem te ama
louca dos mais loucos
amor apetecido
esquecido numa cama
coração arrefecido
onde se esconde a minha
alma
percorro as tuas ruas
beijo as estátuas nuas
choro o porquê de não
conseguir amar-te
e durmo nos teus jardins
abraçando a estrela que
me acalma
já não consigo pintar
a tua beleza
sei a cor da tua tristeza
mas os meus olhos
já nada querem ver
serei eu a rasgar o teu
véu
de noiva feita puta
que já ninguém desfruta
na alquimia do desejo
finita império
abraça-me no el último
tango:
(
não me queiras
não
te quero
nada
me deste
nada
te pedi
não
te engano
quero
outra
não
creias por isso
que
te traí
o
único beijo que me deste
foi
aquele que não te pedi)
cidade suja
favela chic
zombies junkies
corruptos
corrumpidos
suicídios
violadores pedófilos
doutores neuróticos
mulheres desesperadamente
solitárias
olhares pedintes
carências afectivas
á espera de serem fodidas
sugerindo a dificuldade
mentindo a idade
castrando o desejo
por agora só a intenção
envergonhada
talvez um beijo
e barcos cansados
adormecendo no tejo
virgens arrependidas
santos enforcados
orações ridículas
homens enganados
soluços rasurados
cidade que não é minha
cheia de amantes ausentes
sons de pássaros
menstruados
paixão clandestina
sonhos delinquentes
bebedeiras copos doentes
sombras de fantasmas
envergonhados
cantando a canção do
malandro
espiões
normalizadores do
comportamento social
odores desodorizados
hipocondríacos distraídos
bandidos surpreendidos
sonhadores arrependidos
confundidos
enganos inteligentes
adolescentes
surpreendentes.
traço no espelho
sem risco
leva-me ao riso que eu
gosto
e eu sei que ninguém me
conduz
neste caminho da
felicidade
gostava que estivesses
aqui
comigo
sem o teu medo
não irei contar nunca o
nosso segredo
os golpes na pele do nosso
enredo
as razões não
explicáveis
as alegrias pendentes
os soluços acontecidos
projectos esquecidos
dejectos à mesa servidos
inaptos
fingindo-se sensatos…
ninguém
me ajuda
ninguém
está atento
ao
meu salvamento emocional
e
eu sei que não se pode manter uma promessa .
jun2010
cinzas
as
cinzas
ainda
queimam
ficando
só a
memória
para
recordar
os
passos perdidos
nas
paixões violentas
que
vivemos.
haveremos
de voltar
então
talvez
definitivamente
libertos
de
todos os beijos
comprometedores
.
Como
se fosse rita cadillac
prazo de validade ultrapassado
metida no buraco
a vida é fodida
todas as horas têm o sabor a fel
de nada vale a etiqueta
já nada controlas
muito menos a fantasia
de te ofereceres sem vergonha
e a malícia
não é a tua melhor arma
bem podes fingir
o olhar de pecadora
os santos mentem como tu
e nem sequer usam priadel
agora já não páras
e sabes quanto a tua sombra te detesta
caminhas
sabendo que não chegarás a qualquer parte
entras sempre no mesmo filme
como se fosses rita cadillac
e os dias ficam assim
ao correr da asneira
no tempo
gasto num constante lamber de feridas
sempre á espera do amigo
que não és capaz de ter
e riscas no calendário
todas as alegrias mentidas
2006dez
dá-me
dá - me um bocado do teu sorriso
antes que perca o juízo
e comece a gritar : estou farto te tentar
estou farto de tentar
vem !
dá - me a tua mão
assim caminharemos juntos
sobre este oceano de m` ágoa
até a tristeza se afogar.
estou farto te tentar
estou farto de tentar
... mas ninguém me quer acreditar.
DÊEM FLORES AOS
REBELDES QUE FALHARAM
NADA FICOU POR FAZER
DO QUE FEITO FOI COM
VONTADE
DA NOSSA ESPERANÇA
LUTA CONSTANTE DO NOSSO
QUERER
ACREDITAMOS NA
POSSIBILIDADE
E NUNCA NA GLÓRIA
CASTRADORA DAS NOSSAS INTENÇÕES
NÃO HÁ VIDA DIGNA SEM
IGUALDADE
E NUNCA A LIBERDADE SERÁ
PODER.
Maio27.2010
DEIXA-ME
VIR …
Deixa-me vir
Esta foda é minha e tua
Falamos daquilo que nos dá prazer
Somos sol e lua
Aceitaste o convite
Sem medo de te dar
E neste tempo só a ti eu vou querer
Deixa-me vir
Tu sabes como lambes bem
E já conheces os cambiantes do meu
sabor
Esta noite és a minha conquista
Ama-me sem fim à vista
Molha-me com o nosso suor
Pois é, pois é…
Já sabemos o que fazer
Sempre que nos encontrarmos:
Inventar o prazer
Foder até nos cansarmos.
ago.2010
delicia
deliciosamente
como se fosse urgente
abraçava o teu sonho
no meu sexo morno
quente quente
queimávamos
então
artifícios de amor
embora lá fora
continuassem a afirmar
que toda a esperança é
legítima .
demência
A demência projectada
no estirador milimétrico
a análise demorada
o humor geométrico
no meio do vazio
lambendo o nada
a vontade ancorada
não importa tiro ou
facada
champanhe com sabor a
limonada
eu sei que vou ter sorte
mas a fé não me ajuda
mesmo nada
e os planos para o futuro
e o futuro é a agência
da viagem adiada
a rotina sempre em cima
a monotonia não me larga
a mania sempre a mania
de procurar
procurar sempre outra
estrada.
agosto86.
depois
depois fica o vento
que quando sopra me trás os teus beijos
fica o sabor do momento
feito chuva de desejos
resta o nada que me afoga
e as lágrimas que choram
não sei porque sentimento
depois fica o tempo
que nada sabe de mim
depois fico assim
feito espuma sem dias
sem o fogo que tu acendias
depois perco a alma no teu olhar de ternura
e sei que não foi loucura
embora me reste a dor
vou
dar todo o meu desespero
não
negarei nunca o amor
mesmo
aquele que não foi suficiente
mesmo
a paixão vivida sem tempero
agora
abraço os lençóis dum corpo ausente.
depois
eu sei que tudo entre nós foi diferente
setembro12.2006
Desemprego para o
jantar
chegou a casa
deu a volta
à mesa vazia.
o patrão come lagosta
o operário demagogia.
penhorou a saúde
com a cautela da morte.
que importa
o fim do mês ???
hoje é dia um
e ontem não comeu
outra vez.
DESENHO
Desenho
O
desejo
Em
forma de um beijo
Cobrindo
o teu corpo
Percorrido
Pela
minha língua subtil
Convite
deliquente
Sexo
húmido e quente
Pedindo
que nele eu entre
Entre
palavras e gemidos
Volúpia
dita aos ouvidos
Junho24.2010
desilunão
esta
desilusão
parida
por
uma espera
inútil
esta
cumplicidade
com
sabor
a
baboseira
esta
merda
de
ser útil
nesta
asneira
de
obedecer
ao
dever
da
imposta razão
não
se pode dizer não
não
se pode dizer não
não
se pode dizer não
não
se pode dizer não
não
se pode dizer não
fev/85.
DESPERADO
sexo
na cabeça
bandeira
na cabeça
bomba
na cabeça
relógio
na cabeça
dicionário
na cabeça
código
do direito civil na cabeça
azia
na cabeça
&
...
o
pensamento enlatado
a
imaginação amputada
por
isso,
em
boa verdade vos digo :
deus
não existe !
o
diabo às vezes
esquece
- se de ser mau !
crescei
e multiplicai - vos !
multiplicai
- vos ao ritmo
que a
v. ignorância permite.
a
vossa herança
é a
minha esperança.
unicamente
a
esperança do desespero.
81/jan.
devagar
levantas
- te devagar
a
vontade já é pouca
é
sempre o mesmo acordar
é
sempre a mesma fadiga
que
faz o resto da tua vida
e
maldizes a sorte
com
bebedeiras de morte
e
apagas a memória
com
riscos de loucura
é
sempre a mesma história
sem
herói
sem
aventura.
e
morres devagar
como
se fosse castigo
com
sabor de tortura
que
arrasta contigo
a
vida feita doença sem cura.
86mai06
dias
certos
dias tenho
que
não sei
o que
se passa comigo
a
saudade retenho
mas
não o desejo
de
estar contigo
outros
dias tenho
que
mais me apetece dizer
gostava
de não ter olhos
para
nunca mais te ver
e
quando chego a casa
e
tento esquecer
sorrio
um sorriso cansado
não
sei se do trabalho
não
sei se de viver
e
logo me deito
sem
vontade de acordar
e
aperto este desejo
abusivamente
louco
de te
amar.
mas,
não é nada, não ...
dias felizes
com a
esperança
de
dias felizes
eu
abri um
parêntesis
na
razão nula
da
minha
existência.
74.
dieta
a
dieta sexual
a
crise do hemorróidal
o
tempo de antena no telejornal
o
culto do banal
a
extravagância oral
a
diarreia da assembleia
a
discussão acalorada
do
projecto derrotado
o ministro
o presidente
o deputado
e o
povo a ser enganado.
é
mentira ?
27.5.86
dor
que dor é esta
que trago comigo na
algibeira
que vazio é este
que teimosamente guardo na
carteira
que subversão é esta
tão esquecida tão
palavra
tão dia após dia
abusivamente adiada
que angústia é esta
tão doce e permanente
que ternamente
alimenta esta louca
vontade de ser
diferente
que vida é esta
que martírio
que castigo
o rico demasiado rico
o pobre cada vez mais
mendigo
que corrida é esta
que nunca nos deixam
vencer
que medo é este
que nos faz renegar o
prazer ?
só que amanhã
será um dia diferente
se formos suficientemente
fortes
para apressar a morte.
desculpem !
não percebo.
ainda estão à espera da
sorte ?
84mar.
e eu ainda não sou anjo
Para
os que comemoram aniversários clandestinos debaixo dos
viadutos,ouvindo sinfonias estereofónicas de claxons e que conhecem
de cor as influências dos fluídos do trânsito no comportamento das
pessoas.Para aqueles que ainda têm a coragem de assumir a diferença
cada vez mais etiquetada com heterónimos de loucura. Para os que
rezam em silêncio desfilando entre os dedos rosários de lágrimas e
ajoelhados em soluços de desespero,esperam ainda com a esperança
possível aparições dos anjos do néon.
EU AINDA NÃO SOU ANJO
Para
os que constroiem a poesia com o amargo optimismo de experiências
repetidas e que sobretudo,sobretudo não lamentam ,não invejam a
maldita sorte dos poetas malditos :
Visões do apocalipse
tentações demoníacas
desolação
E EU AINDA NÃO SOU ANJO !
VIVA LA MUERTE !
Os
duendes de somorra invadiram as auto estradas deste inferno com
sorrisos malignos de arco -íris.
Para
aqueles que ignoram as constantes tentações do deus publicidade e
fumam orgulhosamente beatas anónimas marimbando-se nas marcas e
ainda para os que olham as montras sem qualquer laivo de cobiça
manifestando delicadamente a sua indiferença pelo yves
saint-laurent.
Para
os guerrilheiros da angustia que atacam a normalidade com raids
ritmados de swing e destroiem horários com metralhadoras de coragem.
E EU AINDA NÃO SOU ANJO !
Para
os que gastam o tempo antes que o tempo os gaste e sorriem às
estátuas com sorrisos cheios de cumplicidade
Para
os que lavam as horas em retretes repletas de relógios para que o
despertar não tenha o sabor inglório da obrigação digital.
Para
os que se deitam na praia desenhando na areia voos obscenos de
gaivotas e desfilam sonhos de m`água e que compreendem docemente os
queixumes do mar e choram no silêncio soluços da ausência.
Para os que
acordam sempre
do mesmo
lado da mesma
maneira
devorando
avidamente
croissants recheados com perfumes da dior e devoram avidamente o
nosso tédio cuspindo depois as algemas da nossa escravidão.
Para
que os vagabundos tenham pena de nós, da nossa impotência da nossa
burguesia das nossas aspirações dos nossos projectos da nossa
incoerência do nosso medo e sobretudo, sim sobretudo para que
lamentem :
a nossa
falta de coragem que sempre desculpamos com a sorte
porque
gastamos a vida na margem dum rio que se chama morte.
E
NÃO SE ACEITAM RECLAMAÇÕES
!
Talvez
seja tempo de iludir a realidade,fintar a ilusão da vida e com um
golpe de rins salvar o que ainda me resta depois deste naufrágio.
Encharco-me
de álcoois vitaminas venenosas e abraço ilusões com doses
temperadas de desgosto.Esgoto a publicidade com chupadelas ávidas
dum sabor diferente.Piso os caminhos da memória num arco-íris de
delírios e sorrio sofregamente manias de alegria. Onde está a minha
sombra? Valerá mesmo a pena remar contra esta maré sempre vazia
sempre nua e fria,onde afogamos ondas de optimismo? Os sorrisos
cúmplices perdem-se rapidamente nos tragos amargos das derrotas.
Mentalidades
sifilíticas !!!
Orgias
de estupidez abusivamente declarada.
A
vulgaridade deslizando sinuosamente entre coxas de responsabilidade
anónima limitada ao preço dos casacos de peles,da minha pele e do
meu nojo enjoado.Perfumes enganadores.Leites da colónia da cópula.
Publicitem com a devida antecedência a próxima fornicação
celestial.Bilis deliquente : não me bastava ser o meu coração um
guerrilheiro do amor.Envolvimentos misteriosos na sombra da noite,
dos amantes fugitivos.
ANJOS
SAÚDAM-NOS COM OLHARES BENEVOLENTES.
Boa
sorte !
Ela dizia
dizia
que gostava de homens
era
uma malandrinha
falava
que os assustava
julgava
que manipulava
mesmo
quando fingindo se vinha
era
muito desinibida
quanto
baste atrevida
pensamento
liberal
mostra-se
só escondida
mas
os homens não gostavam dela
tanto
quanto ela desejava.
Vivia
a vida numa conversa
Gastando
as horas
Fabricando
a promessa habitual.
Ela
dizia ?
jun2010
elegia a jack kerouac
nasci na página 124
do on the road e
passados cinco minutos
desvirgindei - me fazendo
amor com o
pôr do sol numa praia sem
nome
passei noites dormindo em
latas de sardinha
com um polegar esticado
aprendi a falar com cães
e a
chamar mãe às auto
estradas e aos
vagões de mercadorias dos
caminhos de ferro
amei em bermas de estradas
caguei debaixo de árvores
abracei cães violas
livros
e
mijei nos sacos de
plástico dos
supermercados
lavei os dentes
em cabines telefónicas
enterrei tesouros na areia
em vasos
com plantas
roubei papel higiénico e
bocados de
espelho dos wc dos cafés
e hotéis
troquei fatos por blue
jeans
sujeitando - me às
caricias do cinto
do meu pai (?)
aprendi que o ópio deverá
ser
a única religião das
pessoas
e guardei um pelo da barba
do ginsberg
forniquei dias e noites
seguidos
com a lua e a amante do
nixon
e tive que cultivar a
pénisflor
vi aqueles :
que morreram afogados
pelos ideais
que eles próprios
construíram pensando
na compreensão das
pessoas
e
jesus cristo praticando
budismo
á meia noite em biarritz
e aqueles que apertavam as
mãos aos caranguejos e
davam
autógrafos a camelos com
o
objectivo de angariar
votos para as
futuras eleições
e aqueles que confundiam
estrelas com candeeiros
que
diziam que uma viola é
como uma
mulher
que congelaram o sol
que engarrafaram o cheiro
da manhã
que beijavam flores e arco
- íris
bebiam chuva e liam
revistas
pornográficas deitados
nos sacos de
dormir
e vagueavam pelas avenidas
e jardins
desertos à caça de
homossexuais
aqueles que em viagens
clandestinas
subiram à lua e
substituíram a
bandeira americana por uma
toalha de mesa
e que pensavam fazer um
piquenique sobre
essa mesma toalha
e que morreram fazendo a
barba
com um corta unhas
aqueles que se perderam no
meio
da viagem porque se
esqueceram
da bibília
que fugiram de casa e
voltaram de táxi
que resistiram aos olhares
das pessoas
demasiadamente semelhantes
aos dos
chuís da brigada de
narcóticos
que faziam amor julgando
que este é um jogo de
cama
e ouvi :
freaks
&
pseudo freaks
gurus
&
pais arrependidos
vendedores de gelados
varredores de ruas
carneiros manietados pelo
sistema
budistas que tudo e nada
me disseram
ouvi fidel de castro
declarar - se à marilyn monroe
prometendo - lhe que
raparia a barba
o barulho que salazar
fazia
quando chupava no polegar
da mão
esquerda
o vento batendo à porta
do
banco do jardim durante as
noites
em que eu ainda sonhava
ouvi kissinger pedindo -
me um
charro e conselho para
fomentar uma
nova guerra : ambicionava
ganhar outro
prémio nobel da paz
vozes histéricas de
estátuas coisas
e pessoas durante actos
sexuais
prostitutas adolescentes
dirigindo - se timidamente
a homens
casados complexados para
os quais
ser cornudo é facto que
não podem
admitir
ouvi ouvi ouvi ouvi
ouvi ouvi ouvi ouvi
ouvi vozes protestando
contra a
guerra
o ódio e a miséria
e a quem calaram para
sempre
com paradas e tiros de
metralhadora
e celas onde os ratos
preferiram morrer
ouvi choros de mulheres
velhos & órfãos
que em gritos dilacerantes
perguntavam
qual a razão da fome
e da opressão
e que perderam
definitivamente a
confiança que até então
tinham
nos homens
valquírias sussurrando -
me para
escarrar nas bandeiras
soldados feridos cantando
hinos
nacionais enquanto lhes
aplicavam
medalhas
ouvi lenine & trotsky
discursarem
sempre em pé e durante
longas horas
para peixes vermelhos
bakunine e os demais
verdadeiros anarcas
serem apelidados de loucos
e
inconscientes por rebanhos
de carneiros
cuja posição embora
erecta em nada os
diferenciava dos ursos
peludos das
regiões polares
e
senti :
os olhares inquietantes
daqueles que
por serem diferentes a
sociedade
etiquetou de loucos e
encerrou
em manicómios
as mãos trémulas do cego
acariciando as teclas do
acordeão
sentado nas escadas
de
uma estação de caminhos
de ferro
perante os rostos cansados
das pessoas
que
regressavam do trabalho
e cuja música
confundia - se com as
palavras
e
o
vago tilintar das moedas
caindo
num prato de plástico
amarelo
senti nos ombros
os pés descalços
da criança
cujo sorriso
me magoava
estive numa reunião
do movimento nacional
feminino
onde me serviram sorvetes
que eram tirados dum
soutien
da triumph tamanho 48
estive :
em comícios políticos
onde vendiam
batatas fritas
em manifestações em que
apalpavam
o Cu e os seios às gajas
cujas formas corporais
despertavam positivamente
apetites sexuais.
nasci na página 124
do on the road e
passados cinco minutos e
trinta segundos ...
.73
embrulho
embrulho-me
no nojo
escondo-me
nas esquinas
da
desilusão
dou
corda a um
relógio
que me
mostra
minuto a minuto
cem
horas de solidão
21.5.86
engano
tudo
não
passa
de
um engano
tú
eu
os
olhares que trocamos
e
se
surge
o
desejo
é
para que a paixão
continue
a ser
exactamente
o que é :
uma
palavra linda
e
mentirosa
que
agoniza
lentamente
nas
páginas dos dicionários.
27.5.86
Entretanto…
pedi a deus o céu
para a minha morte não o
incomodar
voei o mais alto que quis
como pássaro desenhado
na nuvem por mim pintada
no meu próprio tempo
de saudade ausente
de ficção inventada
de sorrisos fintados
de caminhos solitários
de moradas artificiais.
invejei a morte
mas nunca reneguei o seu
convite.
Algum dia encontrarei
O que está dentro de mim…
O paraíso só acontece
uma vez.
Entretanto…
Exibindo alegremente
A embalagem dos
comprimidos da minha mãe.
maio2010
epitáfio
2º.
não
vi
não
amei
não
possui
desejei
que
as pessoas
realmente
vivessem
pois
só aqueles
que vivem
sabem
construir
i
m
a
g
e
n
s.
epitáphiu
vivi
aquilo
que
consegui
e
não
o
que
me
deixaram
...
continuo
a
odiar
os
relógios.
espectáculo
a felicidade adiada e mais duas tentativas anónimas e
desesperadas de auto-fornicação
. as vias sacras do inferno e o enforcamento público
das palavras que não ousámos dizer quando clandestinamente fazemos
amor. requiem por todos os amantes incompreendidos cujas almas estão
cheias de sómente boas intenções. imagens púdicas transbordantes
de púbicidade ritmadas com slogans publicitários que aconselham
sobretudo o que não nos convém. a sociedade do espectáculo do
consumo convidativo ao próprio consumo. só ficamos com o sumo que
sabe sempre ao mesmo : MERDA.
21.5.86
espelhos
espelhos
quebrados
reflectem
mil
pássaros de mim.
cem desejos de voar
dez,
talvez
depressa demais
um ,
demasiado lento
ténue
na coragem de tentar.
89fev.
espero
que não te importes
se te beijar
até o sangue se tornar
comum
se te abraçar
até os meus braços
deixarem
se ser fortes
espero que não te
importes .
ESPUMA
este jogo já não me agrada e não quero jogar outro,
que embora diferente resultará justamente como todos os outros que
ganhei e perdi. não me interessa absolutamente nada o que de novo
surgirá depois deste naufrágio no qual as minhas próprias m`águas
navegam. tudo o que acontece dilui-se, não importa a maneira, na
mentira que o tempo não perdoa. será por isso, talvez, que nuvens
de subvida invadem a minha nostalgia e eu continuo a pensar que os
banhos da espuma dos dias resultam. tentarei estar atento às
constelações venenosas que pairam sobre o meu olhar e esfumam a
esperança, a terrivel esperança de qualquer tentativa de sonhar.
palavras ocas continuam a sua função pedagógica para a
normalização dos comportamentos. doses de cinismo instantâneo,
enlatado, servem-se abundantemente temperadas com risos abusivamente
hilariantes – patéticos. eu cumprimento todos os dias o boneco
animado sentado à secretária. até amanhã para quê ? gostava de
ter um relógio digital que não se atrasasse na hora da
gastroenterite. embebedo-me nas conversas de circunstância
automática ausentes de importância e tento tento desesperadamente
desatar os pulsos amarrando-os com o cordão umbilical que me prende
a este mar de descontentamento. como um qualquer marinheiro levanto a
âncora mas a maré já não me leva a parte alguma. não é difícil,
somente basta uma pequena dose e se tiver sorte acabarei por ser
notícia de jornal.
1986
etc...
se
eu
fosse esperma
escolheria
o teu corpo
para navegar.
eu
deixarei
eu deixarei que morra em mim
qualquer desejo de amar
o amor que no meu ser termina.
eu deixarei que o esquecimento
seja o porto do meu sossego
e serei o veleiro com rota feita segredo
num mar que me desatina.
eu deixarei que morra em mim
o ouvir da tua voz
do teu sorriso
dos teus gemidos sem medo.
eu deixarei que morram em mim
todas as estrelas todas as luas
toda a angústia desta tempestade
todas as carícias minhas e tuas
todos os nossos sonhos para além da realidade.
eu deixarei que morram em mim
todas as ausências das madrugadas
todos os poemas lidos
todas as canções cantadas
todos os beijos feridos
eu deixarei que morra em mim
o engano permitido
o abandono acontecido
eu deixarei que morra em mim
esta mania da saudade
parida num amor nunca arrependido
setembro12.2006
eu sei que vou morrer de amar
foi
breve o amor
feito
na alquimia
das
promessas da conveniência
foi-se
o tempo da paixão
nem o
perfume ficou
da
anunciada ausência.
fica
o fumo da memória
do
sonho a serenidade
do
instante a precariedade
dos
gestos insanos e envergonhados
da
imaginada obscenidade.
agora
já não dizemos até amanhã
nem
ousamos a viagem
no
nosso barco sempre preso ao cais
agora
eu sei
tu
sabes
que
amanhã é sempre longe demais.
da
janela do meu tempo
parte
o momento da ilusão
o que
nos falta para amarmos
se
sempre nos matamos
nas
maneiras mais apetecidas ?
resta-nos
o desejo
sempre
acontecido
com
sabores de despedidas.
hoje
quero
tudo menos o banal
amor
raiva ciúme
paixão
violenta animal
angústia
total
quero
um mar sem sal
preto
e vermelho
afinal
as cores da minha alma
quero
o delírio completo
que
esvazia a minha calma
quero
olhar sem ver
estar
sem ouvir as palavras costumeiras
que
me falam do segredo
do
meu desassossego
quero-me
morto
no
sonho do sabor do teu corpo.
eu
sei que vou morrer de amar.
2006jul25
fadiga
SERENAMENTE
GASTAMOS
O MOMENTO
NUM
CALMO E SUAVE TORPOR
AO
RITMO
DE
ORQUESTRAS CELESTIAIS
QUE
LENTAMENTE
TOCAM
A NOSSA CANÇÃO PREFERIDA .
...
COMO
É BOA
APETECIDA
ESTA
FADIGA .
FLAMENCO
O vento
Trouxe-me um sonho
Envolto
em formas de areia
Embrulhei-o
com o
papel da minha alma
O mar deu-me o laço
Perdi
o sono que me cerceia
.
Agora
ouço o seu murmúrio
num choro que me agarra
na voz que me acalma
ilusão parida
no som duma guitarra.
jun2010
Fud(g)i(n)do
Fugindo de tudo
olhas para trás e vês que tudo continua
confuso
ontem eras moda
hoje estás fora de uso
continuas a correr
mais parecendo que estás parado
acerta o passo
não te importes do baço
ele já nasceu estragado
foge
foge para longe
não ouças quando falam de ti
ontem como hoje nada mudou
embora continues a acordar admirado
embora continues a perguntar
o que sou
o que faço aqui.
Fugindo de tudo
falas mas és mudo
o tempo não te ajuda
nunca foi teu amigo
abraças o vento
mas ele foge - te dos dedos
e logo te sentes traído
já só vives com medos
ficas enjoado
já estás farto deste cheiro
olhas para trás
sorris para a televisão
acaricias o copo que tens na mão
e ejaculas- te precocemente
com este pensamento :
quem me dera ter dinheiro.
( afinal dormes acordado !!! )
fúteis
tudo o que fazemos
está certo :
somos fúteis de origem.
E a consciência
não passa de um órgão
cheio de preconceitos,
por nós gerado.
e assim se legaliza
a existência
dos
pseudo
- vivos
73/jun.
a
guerra
a
guerra tem capitães
generais
barrigas fartas
a
guerra tem orfãos e cães
mortos
e feridos em macas
a
guerra tem bocas esfomeadas
que
não comem ,só bebem sangue
a
guerra tem acções
tem
carros e canhões
tem
mísseis balas morteiros
tem
olhos e corações de crianças
choros
de mulher e velhos
tem
tanques e bombardeiros
tem
prostituição e vinganças
a
guerra tem milhares de condecorações :
braços
pernas medalhas de prata e ouro
bengalas
muletas cadeiras de rodas e
bandeiras
de várias cores
por
cima de caixões.
a
guerra tem tesouros
arrepios
e gritos de alarme
73fev.
happening na avenida da
liberdade
Ela
a estátua estava
nua
ele
o polegar
há
trezentos anos
que estava
imóvel
- olhou - pensou - &
tirou uma camisa de
vénus da embalagem
&
enfiou - a
no polegar da
estátua.
- assim se fode
a imobilidade !
HAPPY
BIRTHDAY
feliz
aniversário
para
ti meu amor
este é
o dia
para
celebrarmos a tua morte
não
tens que chorar
a vida
é uma mentira
embora
toda a gente tenha a mania
de
contar histórias com sorte !
esta
dor bebe-se dum copo
enquanto
alguém distraído
continua
a escutar a canção ERRADA !
feliz
aniversário
para
ti meu amor
ABRAÇO-TE
com
estas PALAVRAS
levo-te
no meu segredo
enredo
e novelo
de
angústias FORMATADAS.
Junho20.2010
o hipocondríaco
fartou - se do enfarte
e mandou - o ter com a
cirrose
que estava jogando xadrez
com a tuberculose ,
pois já não dava luta
a puta
da artrose
que só falava bem com a
trombose.
então lembrou - se
que lhe faltava qualquer
coisa.
ah !
( a enxaqueca )
84fev
Hoje...
hoje ele acordou
bastante normalmente
já se habituou
a que nada será diferente
optimismo cancelado
sorriso concludente
comportamento normalizado
diz bom dia a toda a gente
entra no escritório
aperta a mão ao chefe
e logo fica contente
olha pr`a mim
e logo sente
que estou farto dessa gente
discute futebol
de tarde a telenovela
pr`a mulher é o suplente.
Hoje ele acordou
mais ou menos como sempre
abraçou a rotina
com um beijo de aspirina
meteu - se no comboio
sorriu a toda a gente
já não é capaz de pensar
que existe algo de diferente.
ilusão
e se falássemos
da ilusão ?
desta imagem
que ferve na minha cabeça
de
eu te amar
ininterruptamente
até o sol ficar húmido
com o nosso esperma .
depois !
de mãos dadas
percorreríamos arco -
íris cor de rosa .
até que as manhãs
se tornassem menos
dolorosas .
in ( diferenças ) teorizadas
elas
gostam
ou
detestam
...
eu
adoro
ou
sou
indiferente
inesperadamente
inesperadamente
talvez
não tanto de repente
pensou
que era gente
e
começou a respirar.
devagar.
Para
não abusar !
5.3.86
infinita
tristeza
é muito tarde para arrastar o passado não pedi
muito nem mesmo aquilo que precisava não me deste o que tinhas
fiquei com o resto do nada talvez te tivesse desapontado
estivemos próximos mas não somos o mesmo talvez um dia a noite não
me apanhe surpreendido já não resta o amor nas nossas almas
mesmo que não ficássemos satisfeitos não poderemos dizer que não
tentamos será o tempo do adeus ? os nossos sonhos ficaram tão
juntos e esfumaram-se em manuais de angústia agora segredas-me ao
ouvido beijos ainda doces mas continua nos meus olhos a infinita
tristeza poderá todo o meu perdão comprar toda a tua boa vontade
veste a cama de cambraia e cheiros de hortelã de certo estarei
morto na manhã é uma hipótese prevista senta-te longe não quero
que observes o vermelho dos lençóis porque a morte não tem cara
e dança sons de silêncio na minha cabeça num lento escoar do tempo
dói-me o que me resta da vida sem lugar sem saída infinita
tristeza cantada numa canção porque o amor desta vez foi em
vão talvez um dia o delírio não me apanhe surpreendido
talvez o transito não atrapalhe a minha pressa
talvez alguém distraído não responda ao meu adeus
talvez um dia tudo não passe duma promessa
setembro13.2006
já é tarde
aproxima-se
a sombra
não sei se de mim
ou minha
lenta
e envolvente
com o seu rosto paciente
confiante
de que a presa
não poderá escapar.
ingénuamente
escondo-me
em vontades transparentes
e tento
mas só tento
deslizar
por entre
as minhas próprias defesas.
contra
a vontade
mostro a fragilidade
da minha coragem
e fecho os olhos
na tentativa do sonho.
então aparecem
anjos
cavalgando angústias
carregadas de desolação.
então
digo não
digo não,
mas já é tarde !
( como de costume
)
26.5.86
Já
falaste com o sintoma ?
(resposta
à Carmo)
NÃO !
Ele não me liga nenhuma !
Pouco ou nada isso me importa.
E não é culpa minha
Se a minha insanidade
Me obriga a fazer guerra
À vossa realidade.
Já falaste com o sintoma ?
JÁ !
Ficou em estado de coma.
mai
e jun 2006
JÁ, NÃO ...
Já não há ponte para o
resto do caminho e nota - se claramente a angústia no voo dos
pássaros.
Ao acaso, porquê sempre
ao acaso, caminho anonimamente com a responsabilidade limitada, que
me empurra célere para a frequência imoderada de ritmos hilariantes
causados por gases sem graça alguma ?
Rasgo cometas da sorte na
palma da mão e a chuva que acontece não me traz qualquer estrela.
Então divago ausências fingidas e rio para mim próprio numa maré
cheia de vazio condicionado.
O OCEANO NÃO CHEGA PARA
ME AFUNDAR ?
Eu não passo dum naufrago
de banda desenhada.
Vendo - me facilmente em
fascículos com 24 horas de página. Comestível como um hamburguer
sou devorado com doses excessivas de ketch up. Quando acabarei a
subida desta montanha conspurcada de vícios ? Sei, que impaciente. o
voo da águia aguarda o que me resta da coragem. Que planos eu tenho
para surpreender o optimismo com raids surpresa de angústias. Corro
para o nada levando sempre a pressa que retarda a vontade.
QUE ESTRADA É ESTA QUE
ESTÁ SEMPRE A ENGANAR - ME COM ILUSÕES FALSAS DE PRAZERES
INATINGÍVEIS ?
Restam- me os lamentos
sussurrantes das vielas da agonia.
O dia morre lentamente
despedindo - se do sol com frágeis sorrisos dourados. Chegam as
sombras, estas sombras que não param de acariciar - me com beijos
maliciosos e abraços enganadores. Fatídico não é o destino, mas a
ambiguidade dos caminhos.
Não me digam nada !
não quero ver ninguém
feliz perto de mim. Metem -me nojo os sorrisos e enraiveço
facilmente com os projectos que teimam ainda em preencher o meu
pensamento.Basta ! Quero fixar definitivamente o meu olhar no nada
que desenho na minha solidão. Esvaneço, não sei qual a maneira,
neste rascunho mais que rasurado que constitui a minha talvez coragem
de tentar.
ESTOU FARTO DOS
DIAGNÓSTICOS. Mesmo daqueles com 90% de possibilidades de certeza
absoluta.
Habitualmente cumprimento
o meu ego, que covardemente nunca me dá a angústia pretendida.
Escondo - me num coral de mágoas e
O OCEANO NÃO CHEGA PARA
ME AFUNDAR.
Consumo - me numa
sociedade que não faz senão gastar - me inutilmente em bebedeiras
de espectáculo. envelheço em cascos viciados em merda. Mostram -me
oásis e proíbem - me qualquer tentativa de liberdade. Inventaram as
pousadas da felicidade mas elas só existem num catálogo sempre
disposto a causar - me inveja.
Não sei para que escrevo
isto, talvez porque estou farto desta caneta ou ainda penso que tenho
uma letra bonita para enforcar passarinhos.
A identidade não passa
duma mentira, mas, mais enganador é o seu cartão.
87nov01
jogo
sempre me disseram
que eu era um perdedor
que não passava dum
falhado
...
mas não é culpa minha
de não sentir a dor
de nunca vencer
esse jogo viciado ...
2006mai22
lá longe
para além do mar
há uma terra bonita
que só em sonho eu
conheço.
tentei tanto navegar
contra uma voz que me
disse
perder -te -ás no
caminho
que não tem mais
regresso.
solitário
na paz do jardim das
árvores felizes
colhi a rara rosa branca
que perfuma as palavras
verdadeiras.
estou cansado.
entrarei agora
no bosque das sombras
distantes
onde o sol dourou
o longo sonho das águas.
o ouro novo beijará
o sereno frio do mármore.
“ e perder -te -ás no
caminho
que não tem mais
regresso. “
2006mai22
labirinto
labirinto absinto o que
sinto
se não uso cinto ?
pinto ‘ minto ? tinto ?
reflexão ? introspecção
? inspecção.
a sensação da ilusão de
sentir a tua mão
dizer não
da exaustão
do telefonema do esquema
do eczema do cinema
da azia da bacia vazia
que não fez mas que fazia
da atenção da tensão
do tesão
da necessidade da solidão
do sorriso compromisso
comprimido
medido calculado
catalogado
etiquetado menstruado
rotulado
fabricado enganado
enganador
do amor sem calor
congelado
na memória não mais que
recordação
da derrota ?
da vitória ?
do erro do medo
do fantasma do plasma
do antidiálogo do
antitudo
porque nada terá de ser
como é
da mudança da dança
da inconstância da
importância
do porquê do crer do não
saber
e continuar a querer
viver para morrer
esperar até fartar
não se sabe de quê
se da utilidade da
insanidade
da impotência mesmo
mental
da visita necessária ao
psiquiatra
que já se tornou normal
direi mesmo elementar
embora aborrecida como
pagar isto e aquilo
mais o imposto a aumentar
da mensalidade do
trespasse da casa de passe
passe por favor estou com
pressa
o porquê não interessa
talvez para continuar a
ensaiar a decorar
esta miséria do
quotidiano
este quotidiano miserável
que teimamos chamar de
vida
sabendo dia após dia
que não passa duma peça.
fev.84
lacónico
olhei - te
atónito
e logo pensei :
era capaz
de ser cómico
se ...
eu tivesse um pénis ...
atómico .
lágrima
pensa
em mim
como
se fosse a lágrima
que
foge dos teus olhos
eu
sou aquele
que
não viverá de novo
aquela
noite especial
agora
os meus fantasmas são heróis
pintando
as ruas com graffitis celestiais
e
o meu sonho
só
viaja num tapete
voando
nele um deus que não se levanta mais
serenamente
observo
o tempo partindo
na
viagem dos dias
que
são sempre as despedidas do meu olhar
já
não conheço esta cidade
nem
os seus falsos marinheiros
que
choram as pedras dos seus caminhos
,
nem o pintor da rua
sem
memórias para colorir.
penso
em mim
sem
vontade de beijar a lágrima
que
foge dos meus olhos
serei
eu aquele
?
ou
um epitáfio que ninguém lê
?
2007jan02
lágrimas
às vezes
as lágrimas que rolam no chão
também têm bocados de mim
e eu sei que nada disto te importa
( para a chave que tens
já mudei a fechadura da minha porta ).
desta vez disfarçado d`anjo
no comboio da meia noite
vou fugir-te na minha cabeça
vou tentar vou sonhar
esperar que isso aconteça
jun022006
lamento
gostaria
que isto não ficasse
com o sabor
duma promessa
porque sabemos
que hoje em dia
um romance
pouco dura.
gostaria
que o fracasso
ficasse
apenas entre nós.
a culpa
não é minha
nem tua.
afinal
um lamento
é sempre uma recordação
que o tempo envelhece
mas não cura .
27.5.86
Lenta_mente
lentamente
escoa-se
a
esperança
num
passador
chamado
tempo
Tempera-se
a
urgência
( com
muita
muita
paciência )
com
sangue
raiva
e
suor.
Ferve-se
brandamente
a
vontade
juntando-se
pouco
a pouco
lágrimas
de desespero.
Acompanha-se
com
melodias de paixão
e
serve-se de preferência
com o
sorriso habitual
da
usual conveniência.
leonor
DESCALÇA
VAI PARA O COMPUTADOR
LEONOR
PELA ALCATIFA
VÊ
- LA ASSIM É UM AMOR
COM
AQUELE ANDAR DE CALIFA
NÃO
VAI FORMOSA NEM SEGURA
NÃO
É JEITOSA E TEM LARGA A CINTURA
MAS
USA CINTA E SOUTIEN
E
PENSA QUE É DESEJADA
OFERECE
- SE MAS NÃO SE DÁ.
AS
UNHAS NÃO QUER SUJAR
JÁ
LHE BASTA A MERDA
QUE
TEM NA CABEÇA
POIS
ESSA NÃO PODE LIMPAR.
LIBIDINOSA
OLEOSA
MOSTRA
A SUA DENTADURA
ESTÁ
CONSTIPADA E RANHOSA
HÁ
MUITO QUE ISSO DURA.
BAMBOLEIA
- SE DESEJOSA
DIANTE
DO OLHAR QUE
A
PERFURA.
SET84.25
língua
A minha língua
conhece a tua
boca.
toda.
e as minhas mãos
já sabem de cor
os caminhos para
onde
as tuas côxas me
levarão.
os meus olhos
são os teus olhos
e o tempo
o nosso tempo
apenas uma questão
de espera.
deitamo - nos lado
a lado
habitualmente sós
com o vídeo
climatizando a
nossa solidão
choramos abraçados
a recordações rugosas
soluçando
lentamente
melodias de
desespero.
lisboa
perco - me
nestes passos em
volta
neste perfume de
fumo
ou nas ruas que
piso
propositadamente
com a intenção de te
violar .
meto - me dentro
de ti
sem o medo
de me inundares
com este banho de
multidão
cumprimento as
tuas putas
observo as tuas
gaiolas
e mijo no teu rio
beijo - te na boca
e fico sempre com
a certeza
que já não te
consigo possuir
o teu odor
persegue - me até
ao manicómio
em que te
transformaram.
85fev.
loucura
A
loucura
anda por aí à solta
já
se vende o desespero
já
se convida às
mil e
uma tentativas de suicídio
e já
se publicita a revolta.
Tudo
convenientemente domesticado.
Tudo
se apaga com o tempo
porque
o tempo
já
nada muda.
Porque
a ilusão
já
não é fuga
e,
como sempre
a
solidão apanha - nos desprevenidos.
A
solidão não existe ...
somos
pássaros feridos
mesmo
antes de tentarmos
o
primeiro voo.
Já
nos dão pastilhas para o enjoo
mesmo
para o enjoo da vida
já
nos preocupa o local da chegada
sem
sabermos o dia da partida
meia
dose de tudo
uma
mão cheia de nada
o
tédio e o absurdo
e a
fome bem aviada
...
A
loucura
anda por aí à solta
a
subversão limita - se aos recitais
os
poetas continuam vivos
e
ainda estão por morrer
os
intelectuais
tudo
se apaga com o tempo,
principalmente
o desejo da mudança.
Temos
medo
cada
vez mais medo da memória
e
somos a polícia
do
nosso próprio pensamento.
porque
a ilusão já não é fuga
e a
nossa segurança está entregue
a
companhias de seguros,
somos
pássaros feridos
incapazes
de sair desta gaiola com :
prisões
hospitais manicómios
asilos
infantários escritórios
fábricas
escolas exércitos
muros
muros
e
mais muros.
...
O
fantasma de deus
da
ordem
da
obediência
do
bom gosto
da
decência
continuam
por aí espalhados.
A
revolução
continua
à espera
asilada
na nossa cabeça.
Por
isso existem
governos
exploração
opressão
repressão.
a
poesia
está
em convalescença.
toda
a esperança
está
climatizada
e
qualquer suicídio
é
perfeitamente legítimo.
resta
- nos
a
tentativa de ser feliz.
inútil.
demasiado
inútil !
abr.84.2
madrugada
NA MADRUGADA
ONDE ACONTECE
O DESEJO
OLHO - TE
DEITADA
E
CUBRO - TE O SONHO
TODO NUM SÓ BEIJO
mãe
sentado na sua campa teso
como de costume
lembro-me de muitas conversas e do modo como aceitava as
minhas mudanças de humor eu sei o que vale uma flor agora que só
posso falar com a sua ausência passo o tempo numa peneira plena dos
seus sorrisos e de alguns planos para o futuro sou o que sou e mais
que ninguém você o sabe alguma coisa a morte levou mas lembro-me
perfeitamente quando se despediu de mim com um olhar apressado para a
viagem sentado no frio do mármore
não consigo chorar tudo o que pretendo mais que ninguém você
conhece o que poderão significar as palavras que me levam até si
desta vez não vou mentir a verdade é que não me tenho portado bem
talvez porque saiba que já não se pode preocupar hoje vou ler-lhe
um poema daqueles que por vergonha minha nunca cheguei a mostrar
sentado na sua campa
teso como de costume
ainda não consigo lembrar tudo o que pretendo
não sei quando me vou libertar mas já vi o arco-íris
na minha janela eu sei que todos os prognósticos são reservados e
as funções vitais são uma grande treta respeito a coragem mas você
sabe como odeio a resignação e o tentar terá de ser sempre uma
obrigação sentado na sua campa
juro que não tenho vontade de abraçar o mundo este silêncio tem o
som da conveniência e a minha melancolia não é obrigatoriamente
triste o céu é um lugar onde nada acontece embora toda a gente
acredite na sua festa sentado na sua campa
só como de costume revejo imagens que me vestem e você sabe que eu
sou um optimista descaradamente teimoso mãe você sabia que o cheiro
dos meus cigarros era diferente e eu nunca toquei em nada que me
fizesse mal á cabeça nem mesmo os cogumelos e quando eu ficava a
ouvir todos aqueles blues você desligava o aspirador para escutar a
música triste mãe eu continuo a ouvir essa música e dou-lhe
inteira razão uma perda nunca é alegre sentado
na sua campa olho o tempo do tempo soletro
horas com hábitos de felicidade que já só têm o cheiro da
despedida mãe continuo maluco daquela maneira que você sabe mãe
continuo à espera daquele modo que você entende agora deixo-lhe os
meus poemas
esperarei por si no clube dos poetas mortos
até logo
setembro12.2006
mal ainda …
mal ainda eu vim
ao mundo
já me chamam
vagabundo
já me mandam
trabalhar
o patrão está à minha
espera
não houve tempo pr`a
escola
não houve tempo pr`a
brincar.
mal
me quer
quando poderás compreender
que a dor
do amor
nunca é em vão ?
continuar
de maõs dadas
após tentativas desesperadas
de enganar a ilusão ?
assim
canto-te no meu fado
apático
como se fosse destino
e não sei se fico triste
de ainda acreditar
que ás vezes ainda sou o menino
a quem tú sorris-te
não sei
se por engano.
mal me quer
bem me quer
tú
ou outra qualquer.
26.5.86
malgrado
malgrado o punhal com que me agrides
e os gestos com que me feres
mantenho firme esta secreta esperança
de que um dia tudo será diferente.
um dia talvez possamos percorrer juntos
a mesma alegria abraçar a mesma confiança
e beber o gosto de gerirmos o nosso próprio destino.
talvez um dia os dias serão felizes
e o perfume que deles exalará
torna - se - á então entendível. regaremos
para sempre a nossa vivência com o néctar
consagrado pelo nosso amor. sim !
para que o amor deixe definitivamente de ser
experiência. para que deixemos de ser
cobaias desta batalha programada no laboratório
da SUBVIDA.
a coragem correrá nas nossas veias
e passeará livremente pelas ruas da cidade.
dançaremos bailados de alegria com
coreografias de liberdade e as bandeiras
só serão necessárias para limpar o suor
desta festa permanente.
levanta - te ! ergue o teu desejo ! o medo já não te
assusta : agora sabes que não estamos sós.
a meta é a mesma. embora os caminhos possam
ser diferentes.
e sobretudo não esperes que o governo
resolva o teu problema
porque é quem te governa
que te faz viver neste dilema.
7.3.85
manhã
clandestina
nestes
beijos á solta
encontro
a tua ausência
nesta
ausência de revolta
depressa
vem
de qualquer maneira
que
este fogo já arde
na
fogueira dos teus abraços
e
espera-nos o despertar sereno
da
clandestina manhã ,
na
quietude dos nossos cansaços.
5.3.86
mania
a tua imagem
não passa de uma mania
e só o teu sabor
( que eu ainda não provei )
me obriga a tentar.
já sei de cor este verso
esta forma de contar
abusivamente decorada
com histórias de alcova
jogos de ócio
e alquimias de dor.
a tua imagem
não passa de uma mania
talvez mesmo minha fantasia
mas só a ti eu sorria
se contigo eu pudesse voar :
meu amor .
1985
manifesto
na
minha cabeça há uma cidade
no
meu quarto uma cadeia
nem
aquilo que odeio
consigo
destruir.
não
falo de coragem
mesmo
quando maliciosamente
me
bates com o baton
&
nem
miró
teria
cores
para
pintar os teus olhos.
não
quero mudar nada
nem
mesmo o sótão da minha
memória.
nem
mesmo este sorriso
com o
qual
tanto
te desejo
como
te odeio.
desta
vez,
vou
fazer o meu inventário :
57
kilos de má disposição
½
litro de esperma tipo h2so4
um
metro e sessenta e 6 de
decadência
100
anos de solidão
hálito
duvidoso
sorriso
nuclear
não
sei se a minha equivalência
em
lixo vale um saco de adubo
da
pior qualidade.
kilómetros
e kilómetros de apatia
cinquenta
doses de fingimento
um
milhão de desgostos
ritmo
normal de ejaculações
coração
em 2ª mão
fígado
emprestado
olhar
cansado
memória
fresca
pensamento
muito pouco usado
inteligência
não acreditada
sangue
misturado
futuro
? nenhum
solução
? nenhuma
soluços
? poucos
quase
sempre menstruado
orgão
genitais para a troca.
antitudo
mas
contudo
a
mordidela não é venenosa.
as
restantes intenções
são
pacíficas.
note
bem :
estes
dados
foram
emprestados
com a
convicção que o meu
equilíbrio
instável permite.
por
favor :
embrulhe
- me
e
leve
- me consigo.
81jan.
matei-te
matei-te
desta vez nem tiveste tempo
para disfarçar o teu sorriso patético
não conseguiste esconder o teu olhar de vaca imbecil.
Disse-te que sabia
onde param as putas.
A traição nunca é bem programada
e é sempre consequência da estupidez
eu sei que nem sempre o prometido
é para ser cumprido
principalmente as palavras ditas por ti
agora vai brincar com os outros meninos
eu sei exactamente o que vais fazer
facilmente previsível
estupidamente contraditória
mostraste a indigência
tudo é menos triste
quando o sentimento da perda não existe
e as manhãs submersas
não terão obrigatoriamente de acabar com os dias
felizes
o amor não poderá valer
nunca o tamanho de uma mentira
ou mesmo o desenho dos planos para o futuro
matei-te numa morte
várias vezes anunciada
explicada com exemplos concretos numa promessa cumprida
matei-te num perfume feito de fragâncias de
angústia
agora posso esquecer a tua surpresa
nada ficará
nem sequer um rosto inacabado
um nome um beijo de despedida
agora podes brincar com os outros meninos
enganar as tuas contradições
naufragar na tua demência
não há dor
nada para explicar
não há saudade nem ausência
nada para lamentar
este foi o meu tempo
gasto em bebedeiras perdido em delírios
desperdiçado em tentativas
matei-te na minha pele
já não me custa a derrota
de não ter conseguido libertar-te
és boa para nada
já não quero o resto
o embrulho não é bonito
não gosto das flores do teu jardim
nunca serás importante para mim
vai brincar com os outros meninos
enganar-te nos jogos de cama
confundir-te nos abraços mentirosos
foi-se a memória
só resta o vazio que já não ocupa espaço
eu sei que és um circo
no qual eu nunca serei palhaço
serás sempre uma pessoa em 2ª mão
usada abusada gozada
fútil inútil
mente conspurcada
tentativa falhada
blague mal parida
ausência acontecida
um caso isolado
projecto inacabado
orgulho sem razão de ser
auto consolação mentida
estupidez sem medida
suicídio adiado
défice contínuo
situação mal resolvida
uma constante despedida
matei-te
ninguém me vai prender
o mundo não fica mais pobre sem ti
no pain
no name
nothing to explain
nothing to blame
setembro152006
matemática
por-te
de quatro
todas
as vezes ou mais
eu
faço
depois
subtraio
o cansaço
multiplico
o desejo
adiciono
o beijo
2006jun02
matiné
no arquivo
passo
as
matinés
neste
manicómio
embrulhado
em
papéis de merda
embora
os caros perfumes
não
consigam fazer esquecer
os
constantes queixumes
do
meu tédio condicionado
justamente
como
o ar que respiro.
1986
A
MATINÉ NO CINEMA OLÍMPIA
o
homem casado entra no cinema .
com
ar desconfiado .
olha
para todo o lado .
escolhe
um bom lugar .
geme
baixinho .
observa
espantado .
imagina
. .
ivagina
.
e
pensa na puta que lhe sorriu à esquina .
sente-se
molhado .
levanta-se
antes do fim .
para
que ninguém o reconheça .
passa
por ela .
atira-lhe
um olhar .
e
fazem à pressa .
como
fizeram na fita .
chega
a casa .
como
sempre cansado .
e sem
vontade .
mesmo
sem vontade de fingir .
maldita
sorte .
maldita
.
ME
GUSTAS BABY!
Desculpa a pronúncia
mas sabes... a minha língua
não é boa para este género de coisas.
TE QUIERO, SUGAR!
Não importa o amargo
que poderá ficar
na eternidade do instante.
Tu sabes o sabor do meu abraço
e de mim todo o restante
e mesmo as fraquezas do meu cansaço
não conseguem pôr-me de ti distante.
ME GUSTAS BABY
2006jun29
MELIDES
1 .
Eu sei
Que o
mar ouviu
As
ondas ladrarem à lua
Espalhando
a espuma
Na
areia dos nossos corpos
2. O
mar está triste
Canta-me
Canções
da tua ausência
Olho
todo o horizonte
Nuns
olhos que já não são meus.
Então
Fecho
lentamente
A
vontade de voltar a ser feliz.
3. A
música do bar
Bebo-a
num copo
Cocktail
de mágoa
Alguém
continua distraído
Escutando
sempre a canção errada
Abraço
as palavras que posso
E sei
que as minhas lágrimas
São o
som daquela guitarra.
4. Lua envergonhada
Escondida
Tímida
Cara
de gata
Egoísta
Porque
não finges
Que és
a minha namorada ?
Vejo
perfeitamente
O teu
sorriso trocista.
5. Como
sta la luna?
La
luna como sta?
Soon
over babaluma
Como
sta la luna?
jul.2010
menina
era
uma menina muito bem
fazia tudo como deve ser
às vezes esquecia-se
de tapar a boca
e toda a gente
toda a gente a ouvia
gemer
ela então tentava
tentava disfarçar
mas havia algo que a não
ajudava
e esse algo era o olhar
esse olhar tão
penetrante
com que ela pensava
cativar
só durava o instante
o instante que ela
conseguia enganar.
27.5.86
meteorologia
nuvens arrependidas
anticiclone distraído
depressão generalizada
vento envergonhado
temperatura condicionada
queda de anjos nas regiões
tristes
… o sol vai permanecer
magoado.
mai2006
mictório
8 horas menos um
quarto
metido neste
escritório
já estou mais que
farto
deste cheiro a
mictório
fechado neste
aquário
acompanha - me a
depressão
berro grito e
choro
e apresso a pressa
deste horário.
... mas nada
importa ao patrão.
1984
minuto
um minuto
apenas
um minuto
eu queria
conhecer
para saborear
um segundo de felicidade
estou á espera
nesta paragem
para a viagem
que nunca acontece .
até
quando
terei de mostrar
a foto do meu passe
social
a
alguém
que não me conhece ?
27.5.86
monologotonia 1.
três escudos
de desodorizante por dia
a dose de azia
um olhar gozador
no comboio a mania do bom
dia
sempre o obrigatório
o sorriso vertical
o vómito matinal
&
aquele colega tipo
supositório
a monotonia do escritório
a conversa habitual
as mãos sujas do jornal
um desejo de amor
um corpo aborto cheio de
calor
um pensamento sexual
tipicamente vaginal
&
como de costume
isto está mal.
o regresso cansado
de um comportamento
normalizado
o sorriso distante
de um cérebro estante
ejaculando nuvens de
poeira
maldita 2ª feira
um gin gelado
de má vontade pago
a troco da esperança
de amanhã existir
a mesma canseira.
boa noite.
79jul.
monologotonia
- 2
todos
os dias
o
mesmo lugar
as
mesmas perguntas
os
mesmos desejos
a
mesma vontade de amar
os
mesmos gestos
que
já não são lestos
os
mesmos complexos
o
mesmo andar
os
mesmos ataques sintéticos
a
mesma marca de pensos higiénicos
os
mesmos beijos
despejos
anémicos
a
mesma alergia
a
mesma mania
de
pensar
que
tu existes
mas
eu tenho de mudar
eu
vou mudar
...
todos
o dias o mesmo caminho
no
meio da multidão sinto - me sózinho
a
mesma maneira de sonhar
a dor
no coração
a
hora marcada para arrotar
a
mesma recusa de chorar
a
mesma ausência
&
a
falta de paciência
para
te aturar
mas
eu tenho de mudar
eu
vou mudar
...
todos
os dias
a
mesma cama
o
mesmo vazio
o
mesmo frio
a
mesma esperança
o
mesmo acordar
mas
...
eu
tenho de mudar
vou
mudar.
jul.2/79
Mostra-me
poderás mostrar-me o caminho de volta agora que provei
o mel do teu pesadelo e naveguei nas tempestades da tua insegurança,
agora que já sei o porquê do teu medo poderás mostrar-me o cenário
onde representas este naufrágio.
agora compreendo a razão porque lamentas a sorte com
bebedeiras de azar. hoje não estou na disposição de aceitar
qualquer razão que não seja a minha. hoje não me levem a vontade a
pouca vontade que me resta de animar com palavras velhas o habitual
descolorido, dorido a que todos os dias sou obrigado. hoje não me
levem o sorriso o pouco sorriso que me resta e que faz as pessoas
pensarem que perdi o juízo.
eu !
eu que sei da solidão dos muros de tanto neles caminhar
peço que me deixes recordar-te tu que vives no enlevo das horas
sagradas.
eu !
eu que sei da solidão dos vagabundos e da angústia do
seu olhar peço que me deixes recordar-te nestes tristes e pobres
versos. quando se bebe e vive amargamente a própria solidão ficam
as palavras as palavras solidárias que nos impedem de morrer.
25junho1986
na campa de
marilyn
sinto - me como um
milionário
pescando balões no tamisa
e
lembro - me do teu pôr do
sol
que raramente acontece
às 6 da manhã
disputo - te todas as
noites
sonhando com a volúpia
de um colchão dourado
e fico
maravilhado
beijando as imagens
que a roda da tua saia
constrói
na tua campa marilyn
sinto - me louco
possessivamente
abusivamente
descaradamente
louco
por isso a desflorei
enquanto
os anjos
jogavam xadrez no
poor boy club
em amesterdam
na tua campa
peguei na viola e
percorri maliciosamente
a escala
como se do teu
sexo
se tratasse
depois vomitei
o sémen de um corpo
finalmente
liberto
na tua campa
perdi demasiado tempo
lendo os anúncios das
etiquetas
que propositadamente
colaram
nos teus seios
deliciosamente solúveis
deambulantes
justamente como a minha
última moeda no fundo de
um
copo com m`àgua
marilyn oh marilyn
deusa diabo
flor que nunca chegou a
abrir
pois o sol nunca amou
hollywood
e agora lastima -se
cortando ele próprio os
seus raios
com uma tesoura
cujas pontas têm gravadas
o
teu nome :
marilyn a mulher
afinal : forma de
comércio
como
outra
qualquer....
dez.75
nada !
nada
acontece
para
além de limpar
o
hálito nesta vidraça
onde
o momento passa
e
a memória
permanece.
e
o meu relógio digital
digere
o tempo
num
compasso automático
rotineiro
onde
a certeza
se
desvanece.
nada
acontece
quando
a memória
se
esquece
de
lembrar
de
manter este sorriso cúmplice
misto
de raiva e ciúme
com
que compro
doses
congeladas de optimismo.
85.fev.
não
presta o que fica
o meu
nome
nada
significa
o
futuro perdeu-se
na
vontade de tentar
não
presta o que fica
na
angústia das veias
o 1º
golpe não custa nada
o 2º
é para habituar
outros
acalmam a calma
o
último é para gostar.
Não
presta o que fica
ninguém
foi convidado para este banquete.
Peço
desculpa por esta ilusão :
a
necrologia segue dentro de momentos.
maio2006
não
tens
não tens que aquecer o meu fogo
não tens que ser o meu desejo
não tens que ser o meu problema
não tens que fazer parte do meu sistema
não tens que ocupar a minha noite
não podes desligar a luz
não tens que dizer se estou certo ou errado
não serves para nada
não ocupas o meu sonho
não guias o meu pesadelo
e eu não me importo
não tens que ficar
e o meu tempo é sempre
o tempo da tua despedida
não tens que bater á porta
não tens que perguntar
realmente não tens que chorar
é violenta a distância entre nós
mas eu só amei o que podia
só matei o que devia.
nunca serás importante para mim
setembro.2006
não vale a
pena
não vale a pena
continuar
a olhar
o teu retrato
na palma da minha mão.
hoje
refugio-me
em recordações
optimistas.
amanhã
voltarei a acordar
com a solidão.
27.5.86
néctar
se hoje te falo do néctar
deste amor inventado
que tento possuir
neste sonho acordado
qual sombra de cristal
deste coração de papel
dividido em paralelos
é porque ainda me dói
manter este brilho nos olhos
esta mania de sorrir.
e é com nojo que te o digo
enquanto gasto esta vida castigo
este horário que me deram
esta herança que me deixaram.
NEM SEMPRE
nem
sempre
o
que procuramos
aparece
por
isso deus
(
distraidamente )
criou
a palavra
insistência
para
tornar
menos
penosa
a
paciência
com
a
qual
o
homem
ainda
padece
2006.03.13
néon
Deus
não passa de uma palavra cheia de néon.
Os
fantasmas constroem apartamentos nas nossas cabeças e por isso
diz-se que cada pessoa é uma floresta de betão. Pintaram o riso de
cinzento e a imaginação desliza folgadamente através dos esgotos.
Não passamos de cadáveres amestrados e condicionados a ritmos de
consumo. A puberdade cresce abusivamente nos nossos lábios. Estou
farto de ser louco sem ninguém tentar compreender-me. Desfloro as
minhas ideias, uma a uma , em busca de um prazer desconhecido.
Oferecem-me trampa enlatada. Eu sou um anjo do sexo louco tentando
fazer amor com o arco íris . Estou farto de dar pontapés no caixote
do lixo perante o olhar anémico e desconfiado dos vagabundos.
Devem-me mil e um anos de felicidade e quatro séculos de liberdade.
E eu quero-os ! Já ! Tenho um ferrari escondido no forno do fogão !
Por favor , não duvidem da minha honestidade. Aspiro a ser um louco
nada exemplar!
E
rezem :
Por
todos aqueles que injectam coca cola que têm longas conversas com
estátuas simpáticas que adormecem beijando o sabor da solidão nas
auto estradas do desespero com a viagem cheia de esperanças e que
festejam as ausências debaixo de viadutos, aquecendo-se na fogueira
das ilusões.
Deus
é a alucinação dos pobres ! Os profetas da loucura invadiram os
pronto a vestir e andam espalhados pelas cidades mascarados de
manequins, gozando libidinosamente com a curiosidade das pessoas. Eu
irei até até ao jardim da celeste e farei aparições transformado
no anjo da desolação. Avisarei o público em geral numa conferência
de imprensa que terá lugar no clube dos vagabundos celestiais.
Não
sei nada,
Mas
afirmo solenemente
Que
hoje comi um iceberg ao pequeno almoço.
Fev.18.83
noite
tranquila
Espero já
A noite tranquila
Cansado de adormecer
pedindo.
É o tempo
Do regresso em mim
De todas as possibilidades
Das angústias formatadas
Do futuro fugindo
De todas as tranquilidades
Dos anúncios mentirosos
Expectativas enganadoras
Perspectivas desleais
É o tempo
Em que tudo o que me dão
Já não me faz falta.
Espero já
A noite tranquila
Do sonho absurdo
Do copo distraidamente
vazio
Onde bebi a calma
pretendida.
jul.2010
da imposição e sobretudo da conveniência
da normalidade.
… o mais difícil é tentar compreender certos
comportamentos das pessoas, pois temos uma grande, vaginal e quase
necessária preocupação de catalogar esses mesmos comportamentos.
Porém existe um factor deveras importante, que sempre nos escapa :
essa mesma catalogação não é imparcial pelo simples facto de
estar directamente ligada e sobretudo limitada pela conveniência das
nossas próprias limitações. Assim continuamos a gastar a nossa
existência arquitectando muralhas, que iludindo a nossa própria
realidade e subvida, não defendem mais que a construção da ilusão
que abusivamente mantemos do direito à diferença.
Só que ... o despertar acontece todos os dias, e ,
ainda temos a coragem de esperar que o sol adormeça no parapeito da
janela do nosso quarto.
fev.84.9.
nunca
nunca feches
os olhos
para que o desejo
não se esfume
em vão
na palavra mentirosa
que se chama
esperança.
e
se vires
estátuas sorrirem
não te admires
pois até elas
raramente
mentem.
mas sobretudo
não acredites
nos segredos do vento
ainda que eles
falem abusivamente
duma palavra bonita
que se chama ternura.
poderás então
cavalgar
nos sonhos da aventura
provar o beijo
da loucura.
CORAGEM ?
a estritamente
necessária.
13.3.86.
o amor do poeta
talvez
um dia
te
fale de amor
embora
com os lábios secos
mostrando
a ausência dos teus beijos
talvez
um dia
te
escreva um poema
em
forma de dor
mas
com o sabor
dos
meus desejos.
hoje
falo
- te
da
esperança
com
as palavras possíveis
dos
poetas mentirosos.
jan85.
O BURGUÊS
vai
ao psiquiatra
já
não pode com o tédio
embora tenha a mesa farta
o sonorífero é o remédio
só tem um problema
a falta do tempo para gastar o tempo.
a televisão é tão cahata
o whisky já lhe faz mal ao fígado
a carteira recheada
de manhã toma a gemada
depois uma mamada
e passa a tarde no cinema.
coitado. tão rico.
tão bem parecido
e vive com tão grande problema.
amanhã vai trocar de carro.
que azar. é a 4ª vez
este mês.
coitadinho do burguês.
gosta muito de lagosta
mas só pode comer uma de cada vez.
mas que raio de modo de vida
ele havia de arranjar ! !
NÃO de pode INCOMODAR !
Não se deve INVEJAR !
31jul85
O caminho da angústia
onde me levará esta angústia esta falta de paciência
esta falta
de tudo e sobretudo a tua constante demência
?
quantas vezes terei ainda de chorar
envergonhado e sorrir fingidamente
ao teu sorriso deprimente
?
e este gosto amargo
?
e este perfume de tédio
?
e o nojo
?
quantas vezes terei ainda de acordar sem vontade para te
aturar ? encosto-me à minha própria vaidade construída com soluços
e abafo silenciosamente esta vontade de ser louco.
até o amor já me sabe a pouco. aqui neste espaço e ao
sabor deste naufrágio, perco-me sempre no mesmo lugar. e esta
auréola de desilusão teimosamente emoldurando a minha vontade de
mudar ? esta cadeia à qual chamam vida e esta fadiga este hábito de
sonhar ? estou para além da ficção. só me resta a memória das
coisas, e mesmo assim vou esquecendo pouco a pouco as etiquetas. será
possível ? e o que é possível ?
HOJE QUERO VIVER.
O nosso olhar
O nosso olhar
Tinha encontro marcado
A tua boca : o perfume do
meu sorriso
O teu beijo : a fascinação
da promessa
Intimo suspiro
Do amor feito sem pressa
Seca-me a língua
Do teu corpo em dois
percorrer
Chama antiga
Feita vontade de te beber
Infinita fogueira
Onde acabamos sempre um no
outro.
O nosso olhar
Era um verbo adiado
O nosso olhar
É um orgasmo anunciado.
2010ago23
o que fazer ?
O que fazer
com esta fúria de viver ?
ignorar este tempo
que passa lento demasiado
lento
lento na vida
apressado no morrer.
o que fazer
com este sorriso ?
sempre igual
traiçoeiro
que sorri quando eu não
quero
embora no desespero
ele seja verdadeiro.
o que fazer
com esta espera ?
que de tanto ter de
esperar
já desespera.
aniquilem - me !
aniquilem - me por favor.
que me importa esperar
se o tempo já roeu a
esperança
embora digam
( e eu não acredito )
que quem espera sempre
alcança .
até quando ?
até quando poderei manter
este optimismo ?
esta máscara
já pouco me ajuda
já molda no meu rosto
a tristeza
embora com a subtileza
que lhe é peculiar.
até quando continuarei a
fingir ?
que eu existo ?
fingir que poderei falar
contigo !
porque não matar - te de
vez
para que não penses que
eu minto
10.03.86.
.
o
que não sou
embora
me julguem
o
que não sou
embora
pensem
o
que não me interessa
embora
digam
o
que nada me diz
arrependido
ainda
não estou
de
apressar a pressa
de
ter feito o que fiz .
1986
odeio
ODEIO
ESTE RITMO
ONDE
O TEMPO É MARCADO
E
A ESPERANÇA BALANÇA
NUM
AMONTOADO DE MEMÓRIAS
EM
BUSCA DA VITÓRIA
QUE
NUNCA SE ALCANÇA.
DEPOIS
DÃO-NOS O PASSAPORTE
PARA
AS FRONTEIRAS DA DESILUSÃO
COM
BILHETE DE IDA E VOLTA
NESTA
VIAGEM SEMPRE IGUAL
ANGUSTIADA
DE CONVERSA PLÁSTICA.
JÁ
CONHEÇO ESTA HISTÓRIA
E
SEI DE COR O SEU FINAL.
olhar
com
esse
teu
olhar
eu fico
sempre a pasmar
não
sei
se de
pensar
ou
de
tanto
desejar
que o amor
também
não
fosse
feito
de
ausências .
86mar.19
Onde
é a auto estrada esta noite?
nem eu às vezes sei porque fecho todas as portas e
prometo a mim próprio que desta vez a fuga será definitiva. tenho
sorte, ouço as canções apetecidas e sinto-me como um maestro
dirigindo as músicas do meu desassossego. invento-me, viro-me ao
contrário, escondo-me no velho armário esperando a hora da partida.
e lembro-me daquilo que antecipadamente sei que não quero. sentado
abraço as angustias habituais. continuo a ser o viajante solitário
nesta auto estrada só minha.
nem eu sei porque às vezes não encontro as
portas e nada prometo a mim próprio. maldita sorte ter memória e o
trabalho que ela me dá. definitivamente não sei até onde esta
viagem me levará.
ONDE É A AUTO ESTRADA ESTA
NOITE ?
às vezes sinto-me como os dias às vezes sinto
que não me sinto às vezes corto-me delicadamente e transpiro os
desejos inventados. molho-me na minha ficção nos sonhos espancados
caçando o meu sonho.
às vezes sou criterioso manhoso raivoso furioso amoroso
às vezes sou subtil fútil inútil útil
às vezes consigo ser eu
2006jul10
ondulante
ondulante
no néon perturbante
da avenida de roma
e o olhar matreiro
não sei se de puta
ou paneleiro
como um anúncio digital
que constantemente
convidava :
não prove ...
coma .
e o cigarro
colado aos lábios
ejaculando o fumo
perturbado
que amestravas com gestos
sábios
e as ancas a abanar
o peito a espreitar
mais um espelho pr`a mirar
a carteira a pedir
& como sempre
há sempre um parvo.
ondulante no néon
perturbante
no passeio d`avenida
já sei de cor
o preço de fazer amor
contigo já cantei
essa cantiga.
nem mesmo
o teu olhar com malícia
com promessa de carícia
faz - me hesitar
hoje não , tou com pressa
amanhã não , que não
posso
talvez nunca hei - de
voltar.
ondulante
perturbante
num néon hesitante
talvez te visse num
instante
numa qualquer avenida ...
86ago
optimismo
o meu
único optimismo resume - se apenas na esperança de um futuro,que
por já o ter sido, não passa de uma palavra. Sim, tenho um projecto
de vida : ser louco, mas à minha maneira. Afinal, aquela que vocês
teimam em não aceitar.
P.
adeus
amor
já
não posso sofrer por ti
só
tive aquele tempo
não
me deste o momento
para
aquilo que te prometi.
do
resto fica o desejo
o
adiado beijo
a
ideia em flor
e a
triste intenção
que o
medo matou.
ai
meu amor
o que
eu faria por ti
se me
tivesses dado o tempo
ou
apenas o momento
para
o sonho que não vivi.
ai
meu amor
o que
eu não fiz por ti
mas
não tive o momento
nem
sequer o tempo
na
vida que morri.
eu
sei
que
não me deste o momento
ficará
o lamento :
tu
sabes que não te menti.
jun2010
Para
não dizerem que não falei das flores
inútil desenhar sonhos, pintar sorrisos e evitar
olhares.
Lembro-me de tudo o que quero e logo desejo que a
memória não fosse senão uma vaga ideia. Olho-me e revejo tempo
passado em obrigações plásticas que preenchem o vazio que sou. Não
sei remar nesta maré e odeio a teimosia com que o meu barco me leva
sempre ao mesmo ancoradouro. Derroto-me com sabores de vitórias e
abusivamente optimista espero. Aguardo dias diferentes emoldurados
com flashes de recordações. Ausento-me. Despeço-me sem partir,
chego sem nunca estar presente. Jogo o mesmo jogo num projecto de
vida que não passa dum casino (e aviso que o meu cú não é uma
slot machine). sou violado observado controlado analisado etiquetado
limitado.
lentamente
como se o vento fosse meu amigo, escondo-me em sorrisos
de circunstância.
Caminho ao acaso no meio de gente ausente.
Solitário, na paz do jardim das árvores brancas decoro
epitáfios e sorrio solidários ás flores de plástico.
Pele & ossos !
Uma mão cheia de tudo a outra cheia de nada : esta
imagem não me é estranha.
Tú, tú que sabes tudo da solidão do mar
tú
tú que sabes tudo da tristeza e dos seus sabores,
... ajuda-me a encontrar o caminho das flores.
Fecho este lugar sem portas, abraço o cheiro das suas
ausências beijo memórias e guardo guardo secretamente lágrimas de
raiva.
Perdido nestes passos sem volta,
adio a viagem desejada. Atento á traição das
palavras, alheio-me frequentemente do seu significado. Finjo que ouço
mas não esqueço.
Então, acontecem as memórias que se
estendem pelo mar da desilusão.
o oceano não chega para me
afogar !
Respiro
naturalmente o
meu
próprio nojo. Sorrio
risos
cúmplices e
cansados
com hálito de
tabaco
e álcool. Hesito
sem
convicção e não
resisto.
Agarro a
vontade,
pego na caneta
e
ritmo palavras ao som
do
flamengo proveniente
to
teclado.
COMO
SE FOSSE POETA ...
95.AGO.08
Para
o Zé de Várzea
temos o tempo
vivemos
o momento
sem
saber a medida
deitamo-nos
com as horas
e
descansamos o relógio do nosso pulso.
gastamos
o desejo
no
instante que conseguimos.
nós
gostamos
rimos
e choramos
cantamos
todos os medos
estivemos
olhamos
sentimos
consentimos
o abuso:
não
temos culpa
que a
morte nos dê uso.
a
partida é sempre
a
viagem que nos espera!
os
epitáfios deveriam respeitar
a
nossa opinião.
a
nossa memória
não
será nunca uma conveniência alheia.
quero
que a morte
me
apanhe desprevenido
e que
as minhas cinzas
desenhem
no ar
uma
única palavra :
amigo.
Maio27.2010
De preferência para ser lido no WC
fui
apalpada no metro
um
pombo cagou-me em cima
ia
sendo atropelado por um autocarro
levei
82 encontrões
20
vezes me perguntaram as horas
engoli
o fumo do costume
vi um
cardume de camisas de vénus boiando no tejo
comi
no mesmo sítio
caguei
no mesmo lugar
os
sapatos levaram-me ao mesmo cansaço
onde
me transformo em mais um palhaço
ouvi
as mesmas estúpidas piadas do chefe
a sua
preocupação pelo meu bem estar
e,
eu,
com
vontade
com a
habitual vontade
de o
mandar cagar.
parábola do bom trabalhador
perco
gasto o ano
á espera do aumento
tal como um jumento
e
sorrio para o patrão.
sou organizado
disciplinado
obediente
e consciente
da minha obrigação.
cumpridor
trabalhador
para eles merecedor
do prémio da produção.
só que :
como um jumento
usado
e abusado
tal e qual
um instrumento
perco
gasto o ano
à espera do aumento.
Paranóia
à quinta feira
hoje é quinta feira
não sei porquê mas adoro
as quintas feiras
há menos pessoas na rua
vejo menos óculos e menos
olhos
que me dizem sempre o
mesmo : nada
( talvez esteja aí a
maior prova de que
realmente existe deus ...
)
quando era miúdo, ao
falarem -me de deus
contaram que ele queria
que todos nós
fossemos iguais. ( penso
que era comunista )
observo as pessoas
quando não posso beber um
gole de whisky
ou fumar ou pensar ou
falar com um rafeiro
ou ler a página da
necrologia do
diário de notícias
( quando morrer gostava
que também
me incluíssem nessa
página )
hoje
talvez seja 5ª feira ...
não !
não gosto desta quinta
feira porque chove.
se quiser andar tenho de
atravessar uma
floresta de
guarda-chuvas-também não
gosto deles : são todos
iguais !
atenção !
pela primeira vez penso em
transformar - me em guarda
chuva ( apaixona - me
a ideia de qualquer pessoa
poder
transportar - me ).
anuncio :
jovem de boa posição
social.
elemento mal integrado.
solteiro e educado.
procura cientista culto
que o
transforme em guarda
chuva.
resposta com curriculum.
guarda - se sigilo.
merda ! hoje é quinta
feira e os
cientistas não trabalham.
apetece - me fumar !
vou pedir boleia
apetece - me o poema, vou
ler :
agarro na lista
telefónica.
porra ! tem mau aspecto
...
estou no pigalle.
fazem - me imensa confusão
os nomes
das garrafas expostas nas
prateleiras.
mas hoje é quinta feira
é dia santo e talvez
mesmo eu
acredite em santos.(
quando morrer
gostava de ser santo )
olho para a rua.mais uma
vez o sol. (digo
isto porque as pessoas
adoram o sol
pr`a se bronzearem ).
hoje é quinta feira e as
pessoas
não mudaram de fato.
fumam mais
pensam mais lêem mais
olham mais
e estão mais nervosas.
hoje é quinta feira e o
frasco da
mostarda continua amarelo.
gostava de
ser mostarda ou empregado
de café para
meter um pingo de cancro
em tudo
aquilo que me pedissem.
hoje é quinta feira : dia
mau muito mau
para o marketing : para
ganhar a vida :
para a pesca : dia
optimamente bom
para fumar.
hoje é quinta feira e vou
à praia.
nb:
pela primeira vez penso em
ser
rímel ou base : agrada -
me a
ideia de contribuir para a
máscara colectiva.
as pessoas falam alto -
cada vez mais
alto - ainda mais alto ...
e isso irrita - me.
hoje é quinta feira e são
14 horas e
10 minutos.
o sol ainda não apareceu
! ( ontem
deitou - se mais tarde :
esteve a ouvir
bach com um amigo ).
hoje é quinta - quinta -
feira ( 5ª feira )
bom dia tás bom ?
olá tás porreiro ?
o que estás a fazer ?
paga - me uma bica
queres ir ao cinema ?
empresta - me uma moeda
pró telefonema
o que estás a ler ?
adeus miranda.
hoje é
q - u - i - n - t - a - -
f - e - i - r - a ...
confirmo !!!
as perguntas os olhares
as respostas os sorrisos
- NÃO MUDARAM !
74abr11
parece
Até parece que a
felicidade existe.
Climatizar a conversa
francamente não me apetece. Percorro - me gulosamente à procura do
alibi habitual: E zango - me por ter esquecido o lugar onde o
escondi. Então ligo - me a chave da ignição e ignoro qualquer
tentativa de desarme da parte do costumeiro adversário, e viajo
anonimamente através dos corredores sorridentes dos sorrisos
plastificados das pessoas. Por vezes mergulho no aquário da solidão
e falo com o peixe atrevido que ainda não se fartou de cuspir nas
minhas botas. Ou então penteio a monotonia com o risco ao contrário.
Ou então visto o smoking corajoso e logo me tratam de maneira
diferente.
Já é difícil fazer
entender às pessoas que não estou interessado na última moda no
penteado no sorteio do totoloto do azar do número ao lado. Então
olho - as enjoado fico até mais que gago e falo - lhes de uma
maneira assim como quase estóica acerca da repressão sexual nos
aviários, da função do orgasmo das cápsulas nas garrafas de leite
vigor. Ou então consolo a angústia alheia com confortos de
ausência, seguidos de dissecações sobre o direito à preguiça. E
espalho o meu sorriso optimista em forma de spray, e ao qual é
proibido resistir.
Até parece que a
felicidade existe !
se não parece, parece.
18.
8.
1986. 5
_____ ___
2012 5
( está certo !)
pássaro
ferido
Lá
longe
para
além do mar
existe o
lugar
onde eu
morrerei
cansado
de
procurar encontrar
o sonho
ousado
que na
minha ousadia
sonhei
Longe
onde
a vida
não
passa dum
velho
armário
que
eu só abro
para
arejar
a
coragem
Ando à
procura
dum
barco
não
importa se
fantasma
que me
leve
p`rá
outra margem
Quando
o apelo
da luta
faz -
nos lembrar
uma
palavra chamada
coragem
a minha
cabeça
flutua
numa
tempestade
de
dúvidas
e eu
fecho os olhos
na
esperança
de que a
revolta
se
esqueça de mim
Hoje
por hoje
nada
me serve de troca
nem
quero o meu corpo
enrolado
numa
bandeira
Situo
- me
em
longínquos
delírios
e
afinal
o meu circo
não
deixa de ter
os
mesmos palhaços
Por
vezes
acho -
me um acrobata
do non
sense
e não
exijo
qualquer
silêncio
para
os voos
que
pareço realizar :
a rede
está lá
embora
eu caia
sempre
para o mesmo lado
Hoje
por hoje
a
situação mantem- se
e nem
o habitual
anticiclone
me faz
desconfiar
da
arrogância
com
que às vezes
ainda
penso
( a
humildade não foi a minha
companheira
ideal )
Acabarei por adormecer
bastante depois do sonho pretendido e sorrirei habitualmente à hora
habitual
do modo habitual na
circunstância habitual. Hoje por hoje
tudo é como é : abracei
a mesma angústia
continuei
o mesmo pássaro ferido.
set.86.
perdida
amar - te
ternamente
e a minha flor
entalada na tua liga.
e
a
minha língua
a percorrer o teu corpo
meu amor
até ficar perdida .
perfume
via-te
caminhando
pelos meus passeios
e pensava que existias
hoje
embora cruzemos o mesmo olhar
e
os passos sejam os mesmos
com que iludimos esta ilusão
por favor
não fiques admirada
se os meus olhos
tiverem o perfume
próprio de só agora saber
que tu fingias
86
PETIT
JOURNAL_PARIS
st.
james infirmary
escorria
pelos copos de cerveja
temperando
o suor da banda
armstrong
piscava-me o olho
e eu
de pé em cima da mesa
mostrava
orgulhoso
a
minha camisa de veludo vermelha
comprada
no marché aux puces.
como
era bonita a minha bandeira !
o
jazz só acaba
com o
acontecer da manhã
e
depois, cansado
vai
dormir com o sol.
parker
o pássaro
voa
em todas as caves
e
miles chora abraçado á sua trompete.
não
são necessárias palavras
para
se ouvirem os grandes poemas
e lá
fora piaff
continua
a prender-me nos seus braços
e
brel escreveu nuvens no céu
onde
se podia ler
ne me
quitte pas.
vou
dar todos os meus beijos
a
quem encontrar no bois de bologne
numa
valsa com todos os compassos.
e eu
sei que a solidão
ás
vezes não existe
2006dez28
O
Poema
do
amor
nosso grande amor ainda não aconteceu .
talvez não fôssemos audazes o suficiente para abraçar
o quase limite que ali estava tão perto.
”quando se bate á porta pergunta-se quem é,
não quem foi”.
quem nos poderá esconder as lágrimas que inundam as
rugas dos nossos sorrisos?
algum dia isso terá de acontecer. sugiro que o façam
durante o sonho que irá acabar por me adormecer. As usual procurarei
não estar atento, basta-me a dívida da minha certeza e o suficiente
nunca foi a minha ambição preferida.
Insinuo o desejo, imagino o real e definitivamente sou o
que sou não importam as vírgulas com que tentam inventar aquilo que
de certeza não pretendo.
Meu deus ! Meu deus! :
como é infinito o amor que não sinto por ti.
Alípio swinga
o sax grita
a viagem está á minha espera. chegaram os profetas
que me acompanharão na auto estrada deste apetecido inferno. Desta
vez partirei com o arco íris completo e o pôr do sol terá a
palete dos vagabundos celestiais.
Meu deus ! Meu deus!
: como é infinito o amor que não sinto por ti.
Ainda bem que não me conheces-te. é óbvio que não
me mereces.
2006mai30
poema para che guevara
ter - se - ia rubens
esquecido de pintar
todos os pássaros de vermelho ?
oh !
talvez hoje
não existissem
gaiolas.
2004fev20
poema para harpo marx
Harpo morreu !
Olhem para as lágrimas
Rolando pelo chão !
Dizem que é chuva caindo .
Não!
O
Céu
Está
Chorando .
poema realista de
amor
dá - me :
uma veia
uma lágrima
uma lâmina
a mão
um sorriso
um olhar
uma flor
amor
e :
quando acordares
lembra - te que ainda
não nascemos.
porque
choram o amor
quem
poderá dizer
porque
choram o amor ?
eu
não consigo compreender
eu
contei-lhe todas as mentiras
dediquei-lhe
todas as carícias
ás
vezes com beijos obrigatoriamente fingidos
no
som dos gemidos
:
sonhei
alegre
e triste fiquei
mas
eu contei-lhe todas as mentiras
não
apenas as suficientes
sorri
risos ausentes
mesmo
o seu ego com o esperma inundei
dividi
o meu coração em tiras
mas
ninguém nelas pegou
mas
eu contei-lhe todas as mentiras
não
apenas as verdadeiras
amei-o
de todas as maneiras
mesmo
com palavras traiçoeiras
mas
ele a mim nunca amou
porque
choram o amor ?
eu
permiti-lhe toda a ficção
todas
as ausências
e
abusivamente chorei os sons do seu silêncio
os
sonos espancados
caçando
os meus sonhos
perseguindo
os meus medos
confiei-lhe
todos os segredos
provei
mesmo o sabor da sua dor.
porque
choram o amor ?
2006jul31
porque
esperas ?
porque
esperas ?
não
deixes que a vontade
te
escape
agarra
essa força
toda
toda
numa mão
é teu
este combate
é teu
este dever
de
dizer não
para
que a palavra mais bela
não
seja saudade
não
seja ilusão :
liberdade
21.5.86
Porque
hoje é? natal
porque
hoje colhi
todas
as lágrimas do céu
e o
vento finalmente levou
todas
as promessas mentirosas
olho
só os que os outros olhos querem ver
porque
hoje continuam todas as ausências
e já
ninguém ouve os gritos mudos
porque
hoje continuam todos os desesperos
e
alguém sem saber
vai a
caminho do cemitério
perante
a indignação fingida
de
quem ainda não foi convidado
porque
hoje continuam todas as indiferenças
todas
as fomes
todas
as guerras
e
alguém como sempre
mentirosamente
preocupado
lê
homilias cínicas
tentando
lembrar o rei dos palhaços
porque
hoje alguém continua sozinho
apesar
de toda a boa vontade
porque
hoje continuam todas as impotências
e não
há bomba que acabe com elas
porque
hoje pintaram-se
todas
as memórias
embrulharam-se
todos
os manicómios
porque
hoje iluminaram-se
todas
as angústias
confundindo-as
com as luzes da cidade
porque
hoje é um dia chamado natal
porque
hoje não se preenchem formulários
para
o desemprego
porque
o filho da pauta continua igual
a
minha autópsia pode esperar
e a
brigada de trânsito
dizem
controla o perigo
porque
hoje dei um cigarro a um sem abrigo
porque
hoje também não vou dormir descansado
porque
hoje alguém ainda vive com medo
porque
hoje há o natal do hospital
mesmo
com taxa moderadora
nota-se
mais o sorriso da doutora
e a
compreensão da assistente social
e a
menina do guichet
dizem
que lavou os dentes no bidé
está
muito solícita
e a
cretina das informações
com
muito boa vontade
mas
como sempre nada explícita
porque
hoje
também
não consigo enganar o meu sorriso
2006dez17
Posologia
Leia com atenção antes de me
tomar.
Não se esqueça que eu fui
receitado apenas para si.
Não me dê a mais ninguém.
COMPANHIA RESPONSÁVEL PELA COLOCAÇÃO NO MERCADO :
FABRICANTE : ®
COMPOSIÇÃO
:
PORQUE É QUE FUI RECEITADO ?
Especialmente indicado
COMO ACTUO ?
Descubra você mesmo
O QUE DEVE SABER ANTES DE ME TOMAR :
Escolha a canção apetecida; a
posição não importa
EFEITOS SECUNDÁRIOS :
Nenhuns ou aqueles julgados
convenientes
COMO TOMAR :
Sempre que apetecer, de
preferência acompanhado com beijos , sonhos e paixão
O QUE FAZER EM CASO DE DOSE EXCESSIVA :
Repetir
O QUE FAZER EM CASO DE ESQUECIMENTO :
Aumentar o stock
DURANTE QUANTO TEMPO TOMAR ?
Rasgar o calendário
CONTRA INDICAÇÕES :
não aconselhável a pessoas
banais ou imbuídas de comportamentos normalizados
OUTRAS INFORMAÇÕES :
“ si ti apanho com outro ti
mato, ti mando algumas flores e dipois mi escapo “.
maio2006
1ª MORTE
E ….
Maldizes
a sorte
Passando
ao lado da vida
Hoje
É
a primeira morte
Do
resto desta fadiga.
4.março.86
promessa
lembrar
o quê ?
Sorrisos fictícios
de amor
feito á pressa
carícias medrosas
feitas de mentiras
mentidas num amor
que não passou
de promessa .
27.5.86
promessas
promessas
tudo o que prometes
não passam de mentiras obscenas que tentam enganar
as boas intenções da minha alma
. hoje dizes
que não me voltarás a magoar
que tudo
jamais será como dantes
e
passados breves instantes
eu tenho a prova
demasiado irrefutável
de que a mentira continua a mesma
valerá
mesmo a pena tentar?
esperar
que esse delírio constante
que faz de ti palhaço
e de mim figurante
se esconda
nas palavras mentirosas
com que mentes
aos meus desejos ?
21.5.86
prostitutas
empregadas de escritório senhoras finas e de moral
ai estas prostitutas
senhoras finas
e de moral
olham -me felinas
com ar parvo natural
se não lhes digo bom dia
mesmo que esteja de azia
logo levam a mal
ai estas senhoras finas
empregadas de escritório
com bocas de pia
inteligência de
supositório
com ares jactantes
com vinte - um ou mais
amantes
ostentando casacos de
peles
comprados com dinheiro
reles
fruto das suas vendas
ai estas conversas
destas senhoras finas
e cheias de moral
ai os abortos clandestinos
os enredos das
telenovelas
a crise dos intestinos
a inflamação dos
ovários
o cumprimento dos
horários
as montras do centro
comercial
o atraso do período
o stress e o expediente
o incómodo do penso
higiénico
a pedra do dente
o vestido da colega
a marca do perfume
o sorriso com sabor a
ciúme
ai o penteado para o fim
de semana
ai este olhar de
indiferença
o
quarto da pensão
o amante à espera
se chegar a casa cansada
e sem disposição
o marido não notará a
diferença :
já está habituado.
e o telefonema
para combinar o esquema
Ai a respeitabilidade
a família a posição
este ar de ingenuidade
a vagina ganha pão
o rosto pintado
a idade para ocultar
uma certa liberdade
na conveniência do falar
a ida ao cinema
a bebida no bar
mais uma semana :
sempre o mesmo para
contar.
Ai quem me dera ser
pássaro
para nas vossas cabeças
cagar..
nov.21.80.
púbis
por
muito tempo
que
viva
jamais
poderei
esquecer aquela imagem
!
...
não
sei
se
eram cuecas pretas
ou
tal
seria
a cor da sua púbis ?
5.3.86
quant ... ?
Quanto me faltará
resistir a esta vontade de cuspir toda a raiva duma só vez e este
nojo sintético de feitio amorfo e este tédio difícil de fornicar
malgrado o meu empenho em continuar a sonhar.Ignorar até quando? O
conhecimento das coisas? E os nomes? Sim a merda dos nomes que nos
colam,tornam banal qualquer tentativa do direito à diferença.Dou
corda a um relógio e atraso a memória? E a memória que não me
deixa que me come e tortura que me prende e me serve de desculpa para
a minha impotência manifestada embora com alquimias de sorrisos
surrealistas.E o que me interessa a vossa realidade se não sou eu
que a construo? Recordações de conveniência registadas no meu
vídeo climatizado. Balanço a cabeça e as ideias saltam-me para as
mãos mas eu não tenho tempo para tudo e mesmo deus ignora o meu
problema. Xutos e pontapés ar condicionado que condensa num só
novelo de poeira,uma a uma,todas as tentativas de fuga.
Autoembrulho-me num saco de plástico,autocoloco-me na prateleira do
supermercado e mesmo com etiqueta cor de rosa,ninguém acredita em
mim. Vias lácteas gelatinosas percorrem esta crucificação
quotidiana adoçada com o perfume desodorizantíaco do manequim
publicitário que não pára de olhar para o meu pénis pele e osso.
EU ? Não acho absolutamente qualquer piada que as pessoas mordam os
meus calcanhares. Os tomates enlatados do executivo nas vaginas
paranóicas das menstruadas secretárias. Circulo levianamente pelos
olhares atrevidos das putas e travestis da avenida, embora não
saibam que eu sou um espião do amor. Quente ou frio,serve-se de
preferência em bandejas temperadas de afrodisíacos.
NÉON ! NÉON !Os
profetas andam pelos passeios vestidos de néon e embora possuam
estômagos digitais não são afectados com as dolorosas digestões
dos manjares de glória.
GLÓRIA ! Aluga-se ! À
hora ao dia mas nunca para toda a vida. SIM,porque a glória não é
uma prostituta qualquer !!!!.
Anjos da malvadez fazendo
amor em ancoradouros distraídos, que pacientemente tornam públicas
as suas apaixonadas e apixonadas, chegando mesmo a mostrar cenas
eventualmente chocantes de bailados sexuais com as habituais e
famosas bailarinas afro -CU banas. Ritmos alucinantes ejaculações
precoces idílios amorosos
confirmados em promessas de bacanais intemporais.
AVÉ
VIDA,os que vão morrer saúdam-te. Os que ficam ainda se vão
arrepender.
quem sou eu ?
original
não é a pergunta
conveniente
não é a ocasião
às
vezes dizem-me filho da puta
mas
não tenho culpa
de
não ter actualizado
o manual de instruções
e
seguramente determinei
o fim
do colóquio
sobre
as minhas qualidades
geralmente
sou aquele
que
tu perguntas quem é
quando
falo as palavras que te cansam
(é
apenas um pormenor
que
não vou emendar)
não
dou conselho
ofereço
sugestão
já
nada quero mudar
sou
um fora de moda
na
merda da modernidade
aquele
que quer
o que
não quer
mar
em constante tempestade
bonança
alcançada no desejo duma mulher.
ninguém
me pode ajudar.
Malmequero
Bemmequer
?
2006jul05
quero
Quero que um dia as
estátuas
se curvem ao meu passar
e digam
aqui vai um poeta
e não lamentem
a minha coragem de correr
ao encontro da aventura
quero que um dia
celebrem numa grande festa
a ousadia
a ternura
da minha loucura
quero ainda que não
limitem
esta mágoa que me é
querida
de viver a vida num
momento
e só depois o tempo
que gasta a vida.
quietude
e
é nesta
quietude
que
amiúde
me seduz
que
apago
a tua
imagem
para te
amar
na
contra - luz .
Refeição nua
de nada valeram as boas intenções
as palavras daquelas tardes
envoltas em sorrisos de coragem
o nosso encontro
foi uma refeição nua
hoje percorro a memória desse tempo
e rio para mim
anormalidades anónimas
desprezos sem endereço
e caminho nas ruas do acaso
sentindo o cair das pedras dos seus muros
toda a gente se magoa
construindo assim toda a crueldade do mundo
leve corre a espuma da tristeza
nela navegando o que resta da desolação
paixão violenta
amor sem nenhuma certeza
lágrimas limpas a seco
flor dum louco agosto
apodrecida na minha mão
tudo acaba
nem sempre no tempo apetecido
quase nunca na forma adequada
flores sujas na minha sepultura
o resto do menu inacabado
duma refeição nua
paraíso artificial
criado até á exaustão
no entanto todas as intenções eram pacíficas
e nenhuma esperança possível
e os beijos trocados
tinham sempre o adeus nos olhos
e as palavras faladas a conveniência da mentira
por isso o caminho das pedras
foi um convite sempre recusado.
longe foi o mais perto
que conseguimos estar.
outubro20.2006
requiem por pablo neruda
os
olhos
do poeta
são
vulcões
que eruptem
a
cada
golpe de machado
sentido
nas
palavras
as
palavras são setas
e
o seu
significado
a
sua
direcção
a
sua
força
nem
pedras
nem
ventos
podem
impedir.
a voz
do poeta
nem
a
morte a calará.
porque
o mundo
é a
pátria do poeta.
Requiem
por todos os poetas descalços
nada
para além
dum bolso
repleto de sonhos
duma prática
quotidiana
abusivamente
condicionada
a um certo
ritmo de consumo
de posições
motivadas
pelo próprio sistema
ou
uma traição consciente
mas sempre
traição a mim mesmo.
não !
não quero ser
dos que ficaram pelo
caminho.
o poema ...
o poema é a pena
de eu não ter pena
de escrever o poema.
mas ...
não te chateies :
eu
sou
o único poeta
que
pode mijar
na tua algibeira.
RIDERS
ON THE STORM
Toda a gente devia saber que apenas precisas dum amigo.
Bom dia sussurras gentilmente ao meu ouvido mas não te
posso prometer que estou de volta. Devo esperar a demora que o tempo
leva a fazer todos estes erros.
O que digo ou faço não importa .
Não é ainda a hora de derramar o choro destas lágrimas
instantâneas.
Dizes-me isto e aquilo mas nunca o que eu quero ouvir.
Serás mais um dos anjos perdidos ?
Ás vezes poderei ser aquele que bate à tua porta.
Mas não me dês chave nenhuma : eu quero mais, sem
ousar transformar a tua vida num inferno igual ao desassossego que me
é realidade.
Preciso de alguém que não necessite de mim.
Outras vezes sou uma serpente à procura da pele
esquecida.
Boa noite, JIM .
Agora vou abraçar todos os cavaleiros da tempestade.
2006jun01
saudade
bebo
deste
copo com` ágoa
enquanto
o gosto se dissolve lentamente
neste
carrossel d `angústia.
já
posso dizer
que não
me é estranho
o sabor
da tua ausência
e
escreverei nos muros desta cidade,
embora
com traços de amargura
o teu
nome :
saudade.
85.
Se hoje …
e
se hoje
estou triste
a culpa não é
só minha
é porque te vi
abraçando a lua
enquanto os meus
braços
soluçavam
a urgência
dos teus abraços
1986
se
os teus olhos te vendessem
eras
tão bonita
e já
te não quero
it`s
all over now
i`m
in the blue
you
must know, my rainbow
is
not for you
eras
tão bonita
e já
te não quero
procurarei
ser digno
embora
saiba que esses delírios
te
perderão num caminho sem volta
não
és a maré que o meu oceano abraça
nem a
paixão que poderá remar o meu barco
não
há culpas nem desculpas
já
nada existe para além disso
não
sou rio onde possas navegar
nem
tu a bela barca que me surpreendia o acordar
fomos
um fracasso total
o que
te dei
o que
me deste
não
passou de uma mentira banal
mentiras
hesitações contradições insinuações
déja
vu não assumido
ninguém
pega em ti ao colo
embora
te ofereças como um produto num supermercado
hoje
sinto-me doente
mas
há alguém que verdadeiramente o está
a
necessidade não explica tudo
e a
solidão merece mais respeito.
se os
teus olhos te vendessem
eras
tão bonita
e já
te não quero
como
poderei ser teu amigo ?
sozinho
é sempre diferente de solitário.
estupidez
é a asneira repetida (lembras-te ?)
escutamos
as mesmas músicas
mas
não ouvimos as mesmas canções
dark
clouds rollin`
i`m
in trouble with myself ...
(eu
já sabia)
se os
teus olhos te vendessem
eras
tão bonita
e já
te não quero
it`s
all over now
baby
i`m in the blue
you
must know, my rainbow
is
not for you
eras
tão bonita
e já
te não quero
definitivamente
nem o meu yô-yô já sou
assim
como a amplitude das palavras nunca me assustou.
jogo
sempre o jogo que me propõem
sempre
até á última veia
corto-me
quando é preciso
vou
até ao fim
do
fim possível
não
tenho pena de mim
olho-me
revejo-me
acalmo-me
e só
vomito o estritamente necessário
não
sou vencido nem vencedor
não
me divido quando estou
quero
tudo e o tudo eu dou
sem
troca
sem
contrato
com
paixão
com
loucura até ao fim
até
ao fim
desta
vez não conseguimos ir
embora
eu saiba que nunca é fácil
desta
vez ficou a tentativa inútil
dum
sonho mal acordado
poemas
clandestinos
traduzindo
o meu optimismo descarado
palavras
de circunstância
desta
vez o amor passou ao lado
e
derramamos esperma
para
celebrar a sua ausência
it`s
all over now
i`m
in the blue
não
te preocupes :
este
arco-iris é só meu
eras
tão bonita
e já
não me gustas baby
embora
penses o contrário
eu
não sou um estruturado
não
gosto de guerras perdidas
de
intenções mal paridas
do
esquema planificado
nem
da estratégia da segurança social
gosto
dos olhos nos olhos
das
palavras fodidas
que
te cansam e dizes fazem-te mal
agarro
o desafio sempre de forma consciente
aceito
o problema porque procuro a solução
o que
assumo depende sempre de mim
envolvo-me
até á medula
mas
não ponho o pescoço no cepo
sou
ainda mais difícil assim
não
vou tirar nada
daquilo
que dizes te dei
guardo
sempre as memórias
não
revejo fotografias
não
colecciono recordações
NÃO
CELEBRO OS SOBREVIVENTES DO SEU PRÓPRIO FALHANÇO
se os
teus olhos te vendessem
eras
tão bonita
e já
te não quero
dark
clouds rollin`
i`m
in trouble no more
you
know you can`t find me baby
please
knock on another door
já
não me gustas baby
2006ago
SEDUÇÃO
abraças
os medos do costume
o
sorriso de uma veia
todos
os teus pesadelos
são
a realidade que afastas
qualquer
dor é o teu sentido
e
mostra-te o caminho que não sabes percorrer.
todos
os dias
deviam
ser de sedução
todas
as noites têm de ter amante
e
a intenção do amor uma prioridade constante
às
vezes sentes-te confortável
talvez
sejas uma lágrima
que
escorre dos olhos do deus por ti inventado
todos
os momentos deviam ser inevitáveis
todos
os beijos oferecidos
e
o prazer que sempre recusas, fatal.
todas
as teorias são banalidades
todo
o desejo devia ser legalizado
todo
o convite não recusado
todo
o comportamento não normalizado
todos
os destinos não comprometidos.
jun2010
sémen
Acaricias a viola
como se de uma mulher se
tratasse
e ejaculas melodias
que humedecem as
fronteiras
deste desejo
escrito nas pautas
com semifusas de êxtase.
e beijas a música
sofregamente
abraçando escalas de
prazer
enquanto libidinosamente
as cordas enlaçam o teu
sexo
até este se tornar
ternura.
neste compasso
a sinfonia inundará o teu
corpo
transformando em perfume
o nosso sémen.
sentir
sentir
as tuas mãos
no meu corpo
e eu perder - me nos teus beijos
até que os lençóis
digam de cor
um a um
o nome
dos nossos desejos .
separar
SEPARAR
- ME DE TI
TODAS
AS MANHÃS
AINDA
É A MINHA DOR
MEU
AMOR
e
EMBORA
CHEIO
DE REVOLTA
PONHO
A MÁSCARA DA ROTINA
e
NESTA VIAGEM USUAL
PEÇO
SEMPRE BILHETE D`IDA e VOLTA .
4.3.86
SER-SE
O
SER
É
SER-SE
DIFERENTE.
she´s
gonne
chorei
as mais tristes
despedidas
dos dias
quando
o sol sabia
que
não me podia abandonar.
porque
o amor não é alegre
e a
paixão tem sempre marcada
o
tempo da partida
e eu
não quero perder-te
na
ânsia de te libertar
escrevo
com as palavras possíveis
a
alegria até então vivida.
hoje
vou sonhar com o teu sabor
hoje
vou beijar
a
ausência acontecida.
She`s
gonne
yeah
my baby she`s gonne.
amanhã
amanhã
o rio continuará
a
chorar
entre
as margens que o apertam.
2006jul10
sinal
estarei
atento
a um qualquer sinal
da tua PARTE
para escrever
no teu peito
palavras de veludo
pintadas com as cores
da volúpia do teu olhar.
o teu sorriso
servirá de moldura
a um quadro ainda incompleto
que fiz com a palavra :
amar-te
26.5.86
sinfonia
olho -
te
quieto
e vejo -
te cavalgar
sonhos
que sei
não são meus
e
apareces
para
colorir
os meus
fins de tarde
feitos
sinfonias incompletas .
serenamente
o meu
rio
vai - se
enchendo com o teu sorriso
e as
palavras que tu falas
são os
barcos que nele navegam .
então
eu deixo
de ser o
marinheiro do desassossego
e o teu
corpo
é o
porto
onde
começamos
a viagem
.
SINFONIA DA DESILUSÃO
sou
filho da guerra do ódio
da
miséria e do pecado
que
não fiz.
minha
irmã é a noite
que
nunca mais termina
é a
dor inventada
e a
boca asquerosa
que
não pensa nem sabe o que diz.
minha
vida são as grades
que
eu como os covardes
não
consigo quebrar
meus
barcos são tenazes
que
apertam os meus desejos
e
destroiem a minha ânsia de amar.
os
meus olhos são a alegria simulada
de
uma ambição frustrada
que
eu teimo ainda em pensar
meus
beijos são despejos
manias
fumos exibição
o meu
pensamento é tempo é o vento
é a
vida que eu ainda não vivi.
oh
!!!
eu
sou homem objecto
sou
produto para consumir
sou
futuro sem presente
sou a
negação do existir.
solidão
O
que se sabe da solidão o que é que nos acompanha na tristeza, o
vazio acontece quando o mar enche e nem sempre sabemos flutuar..
Estendo - me ao comprido nas posições possíveis das marés
preguiçosas da memória e as ondas que me atingem têm todas o sabor
salgado de uma outra história. Ergo - me, não tão depressa como me
impele o desejo, em busca de apetites não sei se sonhados. Resta -
me a possibilidade sempre a impossibilidade do sonho de pensar que
sonho o sono que me derrota.
Que
guerreiro sou eu ?
Hesito
sempre na procura da arma mais eficaz.
Gasto
- me em batalhas imaginárias em tácticas de perspectivas invertidas
com assaltos de estratégias globais ; guerreiro comodamente
instalado em sofás e tento compreender ( porque não para minha
conveniência ? ), atentados que vitimam burgueses tão burgueses
como eu.
Ao
que me leva a ilusão .
Marco
passo
marco
tempo
construo
ficções
sempre
ao ritmo dum relógio ao qual nunca me esqueço de mudar a pilha.
Acordo, penso que o contrário seria a maior maravilha.
(
Solitário !
no
jardim das árvores sagradas em cujos ramos repousam os pássaros que
me contam histórias de encantar.
Como
gostaria de encontrar os bosques distantes das florestas com sorrisos
celestiais. )
O
que nos acompanha na solidão o que sabemos da tristeza é que o
vazio é o mesmo . a traição das marés. E sobretudo nem sempre
damos à costa da mesma maneira, estende-mo - nos ao contrário mesmo
com posições impossíveis nas vagas enganadoras do passado.
E
os escombros que nunca passam ao lado, não têm mais o sabor, o
sabor sempre apetecido da aventura.
Caio.
Lentamente
Assim
me ordena a vontade
Farto
de sorrir à futilidade resta - me o acordar tentar viver acordado
para sonhar o impossível, sempre a possibilidade de acordar de
sonhar que acordo do sonho que me vence.
Que
covarde sou eu ?
Nem
tento sequer
A
minha liberdade.
88maionum
dia qualquer
Solidão
revisitada
só te resta o teclado & o monitor
e alguém estranho diz-se igual a ti
é a solidão revisitada
sem alma nem cor
é a lágrima queimada
numa vela apagada
que nunca soube os cambiantes do amor
é a mentira forjada
que tu falas na noite acordada
quando custa mais a dor
o outro lado faz-te sentir importante
logo pensas que não és a única
adias o problema
para o amanhã que julgas distante
e jogas os desejos envergonhados
fabricas outro dilema
agora a felicidade está garantida
se és loura também podes ser morena
envias a fotografia fora de prazo
e o manual de instruções para seres fodida
agora tens mais um caso
afinal tinhas razão
como é bom ser apetecida
estás a começar a ter sorte
hoje adiaste a morte
só te resta o teclado & o monitor
e alguém estranho diz-se igual a ti
é a solidão revisitada
contínua ausência de amor
outubro27.2006
sombra
Vigia a tua sombra
existe ainda um fantasma
dentro de ti
a liberdade chegará
malgrado a vontade nula
que ponho na minha
sobrevivência.
É chegado o momento
de encararmos as coisas
com a frontalidade
possível.
Façamos da incoerência
a nossa amada e tão
necessária
coerência
e,
sobretudo
continuemos a evitar
as perguntas
perturbadoras.
É urgente
a paixão ardente
o amor violento
que emane
sem margem para
quaisquer dúvidas
a nossa malvadez
o nosso gentil ódio.
Sim,
a liberdade chegará
e, embora sem sermos
capazes
de compreender a sua
presença,
escreveremos o seu nome
nas
paredes,
soletra - lo - emos
letra a letra,
pelo que ela não deixará
de
ser aquilo que sempre foi
:
uma palavra agredida
pela nossa futilidade.
Perdoa - me ! perdoa - me
1000000
de vezes
pôr não ter
um filho teu.
mas tens de admitir
que a vida é dura
quando um homem
só tem
aquilo que deus
lhe deu !
( e deus não existe ! )
Vigia !
vigia a tua sombra
há sempre um fantasma
dentro de ti.
Vigia !
vigia o teu fantasma
há sempre uma sombra
dentro de ti.
Não fiques intrigado
com o teu próprio jogo :
os trunfos que podes
deitar
são o espelho da tua
versatilidade
joga com a cautela
que te é usual
assim, não perdes o que
podes
ganhar
( recuperas sempre o que
perdes )
porque a vitória
só é possível num jogo
viciado.
O que nos une,
e é necessariamente
urgente
que disso
tenhas consciência,
é o nosso fracasso
árduamente conquistado,
conseguido gota a gota
falhanço a falhanço
pela nossa imbecilidade
pela nossa cretinice.
Tomai
e bebei
do meu cálice !
e, que
o veneno seja
assaz
eficiente !
perdoai
a minha coragem
assim como eu
não admito !
não aceito !
o vosso bom comportamento
a vossa boa disciplina
a vossa boa organização.
Tomai
e bebei todos
este meu ódio
permanente
este néctar
que deliciosamente
derramo
sobre os vossos
pensamentos
sobre os vossos sorrisos
que,
abusivamente
têm o gosto
amorfo do tédio !
Há um fantasma
dentro de mim
que ocupa o néon do meu
corpo
há milhares de sombras
sorridentes
que preenchem a minha
imagem.
Vou !
vou esconder - me
esconder - me bem
pôr - me fora de vista
a policia do sexo
anda pôr aí espalhada !
( alguém lhes disse
que tinha no frigorífico
as mãos da minha
namorada ! )
Como é difícil de
explicar a dificuldade do amor !!!
Corações ardentes
paixões violentas
milhares de humanidades
refugiadas
no medo da solidão,
embora fecundem o desprezo
a nulidade da
personalidade
e toda a tentativa
individual
DO DIREITO À DIFERENÇA .
(Como é diferente
ser - se diferente . )
Tomai e bebei todos !
este é o veneno do meu
corpo
para vossa glória
por mim derramado.
Dão - vos um yô - yô
e com ele brincam à
felicidade.
E depois dizem -me :
assenta bem os pés no
chão !
então
como poderei tirar as
calças ?
( evitemos
as perguntas
perturbadoras ... )
assumamos
de uma vez por todas
a conveniência da comum
conveniência.
Consumamos
consumamos a necessidade
de ser necessário
consumir.
Consumamos até á
exaustão
a necessidade da
ignorância,
dos prazeres consentidos
pela legalidade
legalizada.
( amor : que jogo mais
estranho ! )
Vou escrever
uma carta apaixonada
antes que aniquilem esta
vontade louca que tenho de
ser feliz !
corações violentos
paixões ardentes :
enterrem
a minha paixão
na curva
do rio.
Haveremos de viver !
o homo sapiens
usa perfume penetrante
bebe coca cola
e encharca o corpo
com desodorizante.
Assim,
tudo ! tudo não passa de
reclame
iluminado pelo néon
da nossa estupidez.
Amen !
Desolação !
Sou um anjo da desolação
!
estou farto de lutas
Árduas conquistas e
Principalmente
do herói de celulóide
que aconselha a pasta
dentífrica
que devo usar.
Resta - nos esperar
pela imortalidade da morte
porque
as pessoas diferentes
acabarão por realmente
VIVER !
84.jan
Soneto do AMOR AUSENTE
De ti me fica a lembrança
Do amor por nós não entendido
Do tempo sempre sofrido
Passado nas ausências da esperança
Nesta estranha forma de dança
Mais do que eu, triste é o meu fado
Que se perde no beijo desesperado
Escorrendo do tempo a mudança
Foi-se a hora da paixão
Gasta nos abraços clandestinos
O que nos uniu foi o fracasso
Feito no engano da ilusão
Nos abusados desatinos
Num amor tão breve e escasso
jul03/2006
soneto para um BEIJO
Volta para o meu beijo
Nunca o deixes esquecido
Onde se finge o amor apetecido
Diluindo-se o tempo num desejo
Deixo-me viver o que me resta da vida
Nas horas dum ritmo sem tempo
Na lembrança que só dura o momento
Nesta angustia sempre acontecida
E quando este beijo acabar
Beijarei outro novamente
Nesta paixão que já é saudade
Feita no engano do verbo amar
Num amor sempre diferente
Chorado na ausência da felicidade
jan3/2007
sonho
se no meio
do meu sonho
o teu nome eu grito
é porque te amo meu amor
embora me custe a dor
de acordar aflito
e só fico cansado
quando te sinto a meu lado
neste nosso amor renovado
com o qual vivo e
acredito.
Como poderás pensar
que o nosso amor acabou
se ele é mais forte ainda
do que quando começou
e só a ti eu prometo
que quando este beijo
acabar
dar - te - ei um outro
novamente
será sempre o mesmo beijo
nunca um beijo diferente.
fev.85.
sorriso
esse sorriso
lindo
lindo até ao céu
que tu ofereces
sem nunca chegar
a ser meu
que me faz
perder o juízo
de riso
até beijar
o teu.
27.5.86
sorte
gastas
o tempo
fazendo
a saudade
depois
dizes que é tarde
que
já não tens idade
para
sorrir
atas
as amarras
que
te prendem ao cais
só
te resta a vontade
mas
como sempre não vais
beijas
a fadiga
como
se ela fosse gente
dizes
mal da vida
quando
és tú quem mente
escorres
a vida
lavando
a canseira
a
sorte é tua amiga
só
não sabes qual a maneira .
.86
SUBLIME
Acendemos
o vulcão
Que
nos queima
Da
maneira mais apetecida
Cama
chama chão
Suor
enrouquecido
Inventamos
a manhã húmida.
Neste
tempo só nosso
Nada
foi banal
Não
há salvamento emocional
Tentativas
surreais
Expectativas
desleais.
Todas
as possibilidades
Foram
propostas
Todo
o desejo tornado real.
Maio27.2010
sultões
Caminhamos
caminhos separados
que
nos
fizeram fora-da-lei.
Cumprimentava-nos
nos bares
bebendo
anónimos cocktails de néon
enquanto
um endiabrado sexofone tocava
ao
acaso a nossa música preferida.
beijamo-nos
como
duas lâminas gémeas
procurando
ocultar
a
necessidade que tínhamos um do outro.
( as
gotas cheiravam ao sabor do nosso desejo )
.
Descobrimos
que o
guarda chuva
que
nos molhava
não
era senão
um
arco íris embriagado.
Desprezamos
o sorriso inquestionável
das
pessoas que nos olhavam
como
se realmente nos vissem.
OS
SULTÕES DO SWING RITMAVAM OS NOSSOS BEIJOS.
talvez…
talvez
um
grito chegasse
para
acabar de vez
com a
angustia
deste
meu eu solitário
que se
dissolve
no
tempo do próprio tempo.
como
se o desejo de ser contrário
com o
qual vivo solidário
não
bastasse ...
85fev.
talvez um dia
talvez
um dia consiga pôr fim a tudo inclusive à memória gasta por este
tempo dorido e que faz de mim mais um trapo deste manto de merda a
que chamamos humanidade .
estou
húmido seco frio e rouco.
rouco
de gritar com raiva o teu nome :
liberdade
.
Técnica mista
Algumas
vezes
Sinto-me
como um arco-íris
E espalho
as minhas cores no céu.
Alguns
chamam-lhe técnica mista
Com
colagens de angústias
Tristeza
derramada sobre tela
Choro
disfarçado de aguarela.
Ninguém
vê o que sou :
Sorrisos
acrílicos.
Ironias
em pastel |
2009
telegrama
recebi
hoje
a angústia
do teu telegrama
regado
com dolorosos
filigranas
com a forma do teu nome :
ausência.
até quando meu amor
continuarão
a separar - nos ?
agora
quero um telex
com todos os códigos do
amor .
amar - te
como eu te amo
ainda me sabe a pouco.
mesmo depois de tanto
te desejar
até
ficar
louco.
TEMPO DE ANTENA
Eu sou o candidato que
promete tudo mais barato
Não se vai arrepender
quem em mim votar
Casas para todos
escolas para todos
Telenovela ao almoço e
jantar
Emprego ?
Só para quem tiver
vontade de trabalhar
Eu sou o vosso candidato
Não estou aqui para
enganar
Quero votos quero votos
quero governar
Quero ser o vosso
presidente
O vosso amigo permanente
Eu só vos quero ajudar
Vocês não podem viver
sem o poder
Obedecer obedecer
obedecer
Obedecer sem saber
É o vosso único dever
Eu sou o candidato
O óptimo candidato que
nunca se atrapalha
Falte a carne ou falte o
pão …
Comigo o povo até come
palha.
Senhores
telespectadores:
O
programa preenchido por este espaço de tempo, é da inteira
responsabilidade da associação dos inválidos que nos governam,
assim como daqueles que poderão vir a causar-nos os mesmos danos.
comentário :
O
GOVERNO É COMO UM PENICO :
MESMO
VAZIO OCUPA ESPAÇO.
TENHO
UM SEGREDO
Tenho um segredo.
Que não posso contar
Quem eu conheço
Não sabe escutar
É só um segredo
Nada mais para além disso
Não fala de medo
Não condiz com o riso
É só um segredo
Não posso contar
Talvez fale duma estrela
Que me põe a voar
É só um segredo
Que ninguém quer ouvir
Fala de alguém que está sempre a
fugir.
Tenho um segredo…
Não tenho juízo.
ago.2010
totomorte
dormimos à pressa
comemos apressados
e vivemos com o ritmo
de quem só sabe ser mandado.
:temos sempre a desculpa de que a sorte
passou ao lado.
até quando meu amigo?
até quando ?
passa o tempo
passa a vida
e só ficamos com esta espera
que nos cansa
e nos castiga
e que já nos desespera.
: é a sorte que é megera …
totoloto totobola lotaria
totomorte totosorte
que jeito faria
totoulouco
muito ?
pouco ?
trabalho
não
posso deixar de
pensar
neste
caminho
tão
conhecido e estranho
onde
ainda me perco
não
obstante o espento
com
que me encontro
no
meio de tanto nada .
hoje
resolvi
fechar os olhos
e
caminhar
embora
soubesse
que
os meus passos sempre iguais
me
levariam ao mesmo lugar :
TRABALHO.
(
naturalmente ) !
1986
tudo
tudo vai
bem ou mal
só mais tarde, ou não, saberemos
hoje
quero um sorriso total
quero um dia diferente
sem programas estabelecidos
sem prazos determinados
sem vontades limitadas.
hoje
quero lavar-me em ti
e perfurmar-me
com o nosso suor.
26.5.86
UMA MÃO CHEIA DE NADA
MEIA
DOSE DE TUDO
UMA
MÃO CHEIA DE NADA
DEPOIS
… BEM …
O
TÉDIO O ABSURDO
E
A … DEPRESSÃO BEM AVIADA,
já
gastei tanto a memória
de
tanto tentar recordar
que
já só quero é ser feliz
ter
todo o tempo para te amar
já
dormi com o desespero
forniquei
mesmo a saudade
a
minha esperança
é
tão velha
que
já não sei se tem idade
já
bebi toda a loucura
até
a vontade se evaporar
cara
ou c`roa tanto faz
para
quem atira a sorte ao ar.
Vaga
no céu
vai haver uma vaga
no céu !
Deus anda a
portar-se mal !
maio2006
vento
vagabundo
e
quando
me surgem
na
memória imagens
que
eu já não penso
apago-as
com
riscos
de
vivências amargas
deixando
o seu
significado
ao
sabor de qualquer vento vagabundo .
1986
Viagem
(peyote effects)
o
que
sinto
é tão bom
que não sei dizer
o
que penso
já pensei
o que quero
não me preocupa
o
que gosto
afinal ainda
existe.
1976
V I V E R ?
SÓ SE FOR
COMO DEVE SER.
vontade
esta
vontade
que
arrastamos
e que
desagua
na
nossa teimosia
neste
barco sempre à deriva
que
nos transporta
sempre
ao mesmo lugar
e
também este desejo que flutua
neste
oceano de vaga alta
em
que navegamos
como
passageiros clandestinos
embora
as marés
continuem
a orientar
os
portos de escala
nesta
rota sem destinos
neste
cruzeiro
feito
num veleiro
que
nos vela a vida
e a
vida é um naufrágio
e os
cânticos das gaivotas
apenas
o presságio
de
que brevemente possuiremos o nada
sendo
tudo aquilo que nos falta.
mas,
pouco
a pouco
as
amarras
vão
cedendo ...
85fev.
Who´s
gonna tell you baby
Who´s gonna tell you baby
As horas convenientes para amar
Quando poderei assassinar o teu vestido
E tu já sabes que o meu corpo
É um monstro insanamente conduzido
A dor não existe
O paraíso como sempre está ocupado
Vou beijar as gotas do teu véu.
Who´s gonna tell you baby
Who´s gonna tell you now
O sol voltou a brilhar ...
maio2006
You can allways get what you want
não
foi um dia de merda
nem trabalhei como um
cão
hoje fiz o que me
apeteceu
:
mandei foder o patrão.
2006mai22
YÔ
- YÔ
até então nada sabia acerca da angústia e lambia o
tempo ruminando sorrisos de circunstância. depois percebi que o
yô-yô que me ofereceram dançava sempre para o mesmo lado.
e as palavras ?
as palavras enganadoras
com que enganamos a ilusão ?
e
o futuro adiado ?
a
revolta
domesticada
embalada
em sprays coloridos
com que
pintamos as paredes desta cidade
cada vez mais
ausente ?
27.5.86
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