Talvez seja tempo de iludir a realidade,fintar a ilusão da vida e com um golpe de rins salvar o que ainda me resta depois deste naufrágio.
Encharco-me de álcoois vitaminas venenosas e abraço ilusões com doses temperadas de desgosto.Esgoto a publicidade com chupadelas ávidas dum sabor diferente.Piso os caminhos da memória num arco-íris de delírios e sorrio sofregamente manias de alegria. Onde está a minha sombra? Valerá mesmo a pena remar contra esta maré sempre vazia sempre nua e fria,onde afogamos ondas de optimismo? Os sorrisos cúmplices perdem-se rapidamente nos tragos amargos das derrotas.
Mentalidades sifilíticas !!! Orgias de estupidez abusivamente declarada. A vulgaridade deslizando sinuosamente entre coxas de responsabilidade anónima limitada ao preço dos casacos de peles,da minha pele e do meu nojo enjoado.Perfumes enganadores. Leites da colónia da cópula. Publicitem com a devi antecedência a próxima fornicação celestial. Bilis deliquente : não me bastava ser o meu coração um guerrilheiro do amor.
Envolvimentos misteriosos na sombra da noite, dos amantes fugitivos.
inútil desenhar sonhos, pintar sorrisos e evitar olhares.
Lembro-me de tudo o que quero e logo desejo que a memória não fosse senão uma vaga ideia. Olho-me e revejo tempo passado em obrigações plásticas que preenchem o vazio que sou. Não sei remar nesta maré e odeio a teimosia com que o meu barco me leva sempre ao mesmo ancoradouro. Derroto-me com sabores de vitórias e abusivamente optimista espero. Aguardo dias diferentes emoldurados com flashes de recordações. Ausento-me. Despeço-me sem partir, chego sem nunca estar presente. Jogo o mesmo jogo num projecto de vida que não passa dum casino (e aviso que o meu cú não é uma slot machine). sou violado observado controlado analisado etiquetado limitado.
lentamente como se o vento fosse meu amigo, escondo-me em sorrisos de circunstância. Caminho ao acaso no meio de gente ausente. Solitário, na paz do jardim das árvores brancas decoro epitáfios e sorrio solidários ás flores de plástico. Pele & ossos ! Uma mão cheia de tudo a outra cheia de nada : esta imagem não me é estranha. Tú, tú que sabes tudo da solidão do mar tú tú que sabes tudo da tristeza e dos seus sabores, ... ajuda-me a encontrar o caminho das flores.
Fecho este lugar sem portas, abraço o cheiro das suas ausências beijo memórias e guardo guardo secretamente lágrimas de raiva. Perdido nestes passos sem volta, adio a viagem desejada. Atento á traição das palavras, alheio-me frequentemente do seu significado. Finjo que ouço mas não esqueço.
Então, acontecem as memórias que se estendem pelo mar da desilusão.
o oceano não chega para me afogar !
Respiro naturalmente o meu próprio nojo. Sorrio risos cúmplices e cansados com hálito de tabaco e álcool. Hesito sem convicção e não resisto. Agarro a vontade, pego na caneta e ritmo palavras ao som do flamenco proveniente to teclado.
hoje é quinta feira não sei porquê mas adoro as quintas feiras há menos pessoas na rua vejo menos óculos e menos olhos que me dizem sempre o mesmo : nada ( talvez esteja aí a maior prova de que realmente existe deus ... ) quando era miúdo, ao falarem -me de deus contaram que ele queria que todos nós fossemos iguais. ( penso que era comunista ) observo as pessoas quando não posso beber um gole de whisky ou fumar ou pensar ou falar com um rafeiro ou ler a página da necrologia do diário de notícias ( quando morrer gostava que também me incluíssem nessa página ) hoje talvez seja 5ª feira ... não ! não gosto desta quinta feira porque chove. se quiser andar tenho de atravessar uma floresta de guarda-chuvas-também não gosto deles : são todos iguais ! atenção ! pela primeira vez penso em transformar - me em guarda chuva ( apaixona - me a ideia de qualquer pessoa poder transportar - me ). anuncio : jovem de boa posição social. elemento mal integrado. solteiro e educado. procura cientista culto que o transforme em guarda chuva. resposta com curriculum. guarda - se sigilo. merda ! hoje é quinta feira e os cientistas não trabalham. apetece - me fumar ! vou pedir boleia apetece - me o poema, vou ler : agarro na lista telefónica. porra ! tem mau aspecto ... estou no pigalle. fazem - me imensa confusão os nomes das garrafas expostas nas prateleiras. mas hoje é quinta feira é dia santo e talvez mesmo eu acredite em santos.( quando morrer gostava de ser santo ) olho para a rua.mais uma vez o sol. (digo isto porque as pessoas adoram o sol pr`a se bronzearem ). hoje é quinta feira e as pessoas não mudaram de fato. fumam mais pensam mais lêem mais olham mais e estão mais nervosas. hoje é quinta feira e o frasco da mostarda continua amarelo. gostava de ser mostarda ou empregado de café para meter um pingo de cancro em tudo aquilo que me pedissem. hoje é quinta feira : dia mau muito mau para o marketing : para ganhar a vida : para a pesca : dia optimamente bom para fumar. hoje é quinta feira e vou à praia. nb: pela primeira vez penso em ser rímel ou base : agrada - me a ideia de contribuir para a máscara colectiva. as pessoas falam alto - cada vez mais alto - ainda mais alto ... e isso irrita - me. hoje é quinta feira e são 14 horas e 10 minutos. o sol ainda não apareceu ! ( ontem deitou - se mais tarde : esteve a ouvir bach com um amigo ). hoje é quinta - quinta - feira ( 5ª feira ) bom dia tás bom ? olá tás porreiro ? o que estás a fazer ? paga - me uma bica queres ir ao cinema ? empresta - me uma moeda pró telefonema o que estás a ler ? adeus miranda.
hoje é q - u - i - n - t - a - - f - e - i - r - a ... confirmo !!! as perguntas os olhares as respostas os sorrisos - NÃO MUDARAM !
os olhos do poeta são vulcões que eruptem a cada golpe de machado sentido nas palavras as palavras são setas e o seu significado a sua direcção a sua força nem pedras nem ventos podem impedir.
a voz do poeta nem a morte a calará. porque o mundo é a pátria do poeta.
quem poderá dizer porque choram o amor ? eu não consigo compreender eu contei-lhe todas as mentiras dediquei-lhe todas as carícias ás vezes com beijos obrigatoriamente fingidos no som dos gemidos : sonhei alegre e triste fiquei mas eu contei-lhe todas as mentiras não apenas as suficientes sorri risos ausentes mesmo o seu ego com o esperma inundei dividi o meu coração em tiras mas ninguém nelas pegou mas eu contei-lhe todas as mentiras não apenas as verdadeiras amei-o de todas as maneiras mesmo com palavras traiçoeiras mas ele a mim nunca amou porque choram o amor ? eu permiti-lhe toda a ficção todas as ausências e abusivamente chorei os sons do seu silêncio os sonos espancados caçando os meus sonhos perseguindo os meus medos confiei-lhe todos os segredos provei mesmo o sabor da sua dor. porque choram o amor ?
Tenho um segredo. Que não posso contar Quem eu conheço Não sabe escutar É só um segredo Nada mais para além disso Não fala de medo Não condiz com o riso É só um segredo Não posso contar Talvez fale duma estrela Que me põe a voar É só um segredo Que ninguém quer ouvir Fala de alguém que está sempre a fugir. Tenho um segredo… Não tenho juízo.
Eu sou o candidato que promete tudo mais barato Não se vai arrepender quem em mim votar Casas para todos escolas para todos Telenovela ao almoço e jantar Emprego ? Só para quem tiver vontade de trabalhar Eu sou o vosso candidato Não estou aqui para enganar Quero votos quero votos quero governar Quero ser o vosso presidente O vosso amigo permanente Eu só vos quero ajudar Vocês não podem viver sem o poder Obedecer obedecer obedecer Obedecer sem saber É o vosso único dever Eu sou o candidato O óptimo candidato que nunca se atrapalha Falte a carne ou falte o pão … Comigo o povo até come palha.
Senhores telespectadores: O programa preenchido por este espaço de tempo, é da inteira responsabilidade da associação dos inválidos que nos governam, assim como daqueles que poderão vir a causar-nos os mesmos danos.
Tomara
Que a minha alma
Me traga sempre
O teu sabor
Ai
Quão difícil
É o meu existir
Esta vontade de partir
Dividir o céu
Estar
Voltar
Fugir
Tornar a ser eu
Beijar
Esta lágrima
Vertida num cálice
Exangue de dor.
Foi só um beijo Que já é saudade A ambição descansa Num canto divino Que a alma me alcança Foi só um beijo Com sabor a erva santa Ouve-se o gemido Tapa-se o grito Hoje tudo continua Com a mágoa permitida Silêncio na noite Golpe na vida Mal vivida Poesia inventada Veia mal cortada Mas a intenção Era pacífica
Vale a pena A tua vida tão pequena Feita renúncia repetida Beco sem saída Sem lugar para a viagem Receita assistida Não te enganes na embalagem Tudo com contrapartida Inteligência desistida Realidade discutida Estabilidade social não garantida Só a felicidade permitida Emoção escondida Vale a pena a tua vida ? Mal resolvida Repartida Vã tentativa.
quando quero palavra mal dita falada desespero mato-te com o x-acto no sitio certo golpe exacto palavra sem sentido acto dorido momento sofrido grito fugido das tuas teias corto-te num golpe que esvazia as tuas veias corre morre abraça a liberdade que tanto receias. Set01.2010